Assim como as plantas sentem uma irresistível atração pela luz, maximizando sua exposição ao nosso Sol, o ser humano sente, em seu imo, uma irresistível atração para Deus. Em outras palavras, podemos dizer: as plantas sofrem de um heliotropismo - nós padecemos de teotropismo. Mas essa tendência - que alguns julgam ser deletéria - não é algo a ser obliterado, mas sim adequadamente elaborado.
Todos os povos primitivos já tinham em suas práticas culturais essa noção de que existe um criador que se situa além. Esse além foi encarado - por muito tempo - como um distanciamento espacial, com sua correspondente envergadura temporal, sem fim para o ontem e o amanhã.
A criação dos mitos cosmogônicos é marca dos povos e muito serviu para explicar o porquê de certos fenômenos ocorrerem. Mesmo que essas explicações carecessem de um embasamento lógico, elas davam um certo conforto e permitiram às pessoas desenvolver sua vida pessoal e em grupo, enfrentando dificuldades e desafios na longa esteira do tempo. Mas com o advento da civilização, esses mitos foram ganhando forma mais elaborada e preparando o terreno para uma evolução conceitual que temos da divindade. Eis que Índia e China, além de outros povos, elaboraram seus mitos cosmogônicos e serviram de berços às revelações mais sublimes: a Gita e o Tao. Desde aí a humanidade já possui as diretrizes do monismo. No entanto o ser humano necessitou reduzi-lo a crenças politeístas para assimilar tamanha vastidão de princípios e visões. Após isso, ascendemos ao monoteísmo. Mas com um Deus ainda antropomórfico - isto é, semelhante a nós, com a maximização de nossas virtudes e forças. Depois, com o advento do evolucionismo espiritualista, esse Deus passa a se deixar de ter forma, conforme o espiritismo bem demonstra:
1. Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”
O que é - e não quem é.
Mas ainda assim, permanecemos no dualismo: somos (segundo a doutrina espírita), "centelhas de Deus". Ou seja, tem-se uma ideia de que somos apartados do Criador, apesar de sua imaterialidade e grandeza ter se expandido enormemente com a terceira revelação. Mas é preciso tomar cuidado e ler em profundidade o Livro dos Espíritos para perceber que, apesar de não satisfazer o anseio das almas mais adiantadas, já profundamente imersas no oceano monista, a compilação Allan Kardec deixa a questão da evolução em aberto, apontando que "infinito" não é um acúmulo incontável de finitos (seja de tempo, espaço ou conhecimento racional), e sim um quid cuja apropriação se encontra no íntimo do ser - quando superarmos evolutivamente a barreira espaço-tempo-racionalidade.
2. Que se deve entender por infinito?
“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.”
O mau espírita estaciona no que a institucionalização de sua doutrina lhe diz ser verdade absoluta.
O bom espírita percebe que "nem toda verdade foi revelada", sendo a doutrina evolucionista - e portanto passível de reorientações e adições.
O século XX traz profundas transformações no campo da ciência - que acaba por trazer repercussões mais profundas na filosofia do que na técnica. A Física quântica desmaterializa a matéria, mostrando-a como mero campo de probabilidades. A onda pode se comportar como partícula - e vice-versa. A não-localidade aponta para um outro universo (o Sistema de Ubaldi) do qual o nosso se originou. Um universo que não será encontrado nos confins do espaço nem nas vastidões do tempo...Um universo que não se "toca" através da mente racional, segregadora, classificadora, sistematizadora, calculista e fria. Um universo que Cristo nos revelou através de seu exemplo.
O girassol aponta para a luz física. O humano aponta para a luz metafísica. Ambos apontam para o Alto - cada qual à seu modo... |
A relatividade "transforma" o que era absoluto em relativo. E mais: relaciona-os. Percebemos que nas fronteiras de nosso saber, cai por terra a nossa capacidade de assimilação: a mente analítica é impotente; as ferramentas são insuficientes; as medidas são inúteis. O ser clama por uma transformação.
Os avanços da biologia retomam o vitalismo. O DNA é decifrado, mas percebe-se que ele não é causa e sim mero coordenador dos princípios genéticos da vida orgânica. Elaborar as bases nitrogenadas, replicando-as, não constituiu inteligência genética mas sim reprodução ordenada e precisa. Há algo que é responsável por esse mecanismo. O princípio diretor manifestado em toda forma de vida, compatível com o potencial de cada uma, é o grande mistério.
Com tais avanços da Ciência, a Religião não pode permanecer com a mentalidade dualista. O neocriacionismo científico clama por uma correspondente arquitetura espiritual avançada, capaz de absorver integralmente as novas descobertas e - mais! - orientá-la rumo ao infinito.
Eis que surge Pietro Ubaldi...
Uma vida cuja trajetória seria comum a qualquer outra - de quem nasce no conforto e no poder - espanta o mundo, causando reações das mais variadas. Cada julgamento diz mais sobre quem julga do que sobre aquele que está na cadeira dos réus. Assim, ao longo de oitenta anos de vida consciente, vemos um homem que era tudo (para o mundo) anular seu ego, reduzindo-se a um mero professor ginasial, sem posses, com parco rendimentos, desprezado pela sociedade, incompreendido pela família, condenado pela Igreja, ignorado pelos poderes e usado por aqueles que se acreditavam estar mais avançados na prática do "ama o teu próximo como a si mesmo". Um homem que passou quarenta anos sofrendo a incompreensão do mundo, maturando seu íntimo, progressivamente e orientadamente, até chegar a uma explosão conceitual: daí saem os 24 volumes, escritos ao longo de outros quarenta anos. Escritos captados inicialmente por alta inspiração - e posteriormente embalados pela mesma. Escritos que são a tradução de uma vivência profunda - e não um mero verniz cultural ou ardor cerebral. Escritos sublimes e científicos. Precisos e coerentes. Poético e lógico. Materializa-se a arquitetura monista.
Com a Obra do apóstolo da Umbria a humanidade está começando a se voltar novamente para Deus. Estamos passando a admitir a realidade do pós-vida, da reencarnação, de um Deus imanente e transcendente,...O sincretismo criacionista-evolucionista possibilita a irmanação daqueles que se consideram inimigos (cristianismo e espiritualismo) e a complementação entre ciência e religião.
Iremos passar por uma profunda transformação...
"Devo definir desde logo meu pensamento, para não ser mal interpretado e posto na mira dos ansiosos de destruição e agressividade humana. Não venho para combater nenhuma religião, mas para coordená-las todas, como diferentes aproximações da verdade, UNA, e não múltipla como quereríeis. No entanto coloco no mais alto posto da Terra a revelação e a religião de Cristo, porque é a mais completa e perfeita dentre todas. Esclarecido este conceito, prossigo e verifico o fato inegável de que nenhuma de vossas crenças hoje levanta, abala e verdadeiramente arrasta as massas."
A Grande Sìntese, Cap. V.