Um dos
sociólogos mais famosos da atualidade, Zygmunt Baumann, define
nossos tempos como "líquidos", em contraposição a um
passado recente tido como “sólido”.
No mundo de
2, 3 ou 4 décadas atrás as relações (de trabalho, pessoais,
afetivas, gostos, etc) tendiam a se transformar lentamente, – se
sofressem transformações – respeitando a dinâmica de nossa
mente e organismo. Havia uma estabilidade. Hoje, ao contrário, – e
cada vez mais – as mudanças estão se dando de forma cada vez mais
rápida, de forma que uma geração apenas seja capaz de perceber
mudanças radicais em sua própria vida e no mundo com apenas poucos
anos de vida.
Não tenho
nada contra a eficiência. Nem (contra) a velocidade. Pelo contrário:
sou uma pessoa que sempre procura fazer mais e (sobretudo) melhor.
Para mim e para os outros. No entanto, parece que nós como
indivíduos e sociedade estamos tentando competir com a tecnologia
que nós próprios desenvolvemos e continuamos a desenvolver.
Mas...nós não podemos competir com algo que é um acessório.
Do meu ponto
de vista, o terreno de nossos tempos está fértil para desorientar
as pessoas cada vez mais, salvo em poucos focos nos quais podemos
encontrar verdades e sinceridade e amor ao conhecimento e coisas do
tipo. Para mim esses lugares são parques, centros culturais, ruas,
cafés, bibliotecas, institutos de pesquisa, cursos livres e mesmo
até no ambiente de trabalho – se a pessoa tiver a chance e souber
escolher. Provavelmente alguém possa citar outros ambientes. Mas
deve se assemelhar a essa amostra.
Muita gente
se desespera ao buscar algo ou alguém especial na vida. E recorre a
todos tipos de artifícios “mágicos” oferecidos pelo mercado.
Mutilam seus próprios corpos e almas para agradarem pessoas que
muitas vezes não se importam. E julgam que fazendo isso estarão
agradando a si mesmos. Cria-se um círculo vicioso. É triste.
Devemos
buscar a nós mesmos antes de tudo. Ao fazer isso a probabilidade de
nos sentirmos em paz aumenta. Mas essa é uma atitude que deve ser
trabalhada TODO dia. Em toda atitude. Uma verdadeira reforma
interior. Depois de um tempo (longo, diga-se de passagem) essa
atitude se incorpora ao nosso ser e passamos a nos guiar por esse
descobrimento interior inconscientemente.
Segundo
Bertrand Russel, um dos pré-requisitos da felicidade é sermos
capazes de nos interessarmos por coisas que não tem uma aparente
utilidade prática. E faz sentido. Porque – e veja só que luxo! -
se encontrarmos um oásis de divertimento numa ocupação tida como
deserto para muitos, teremos à disposição uma riqueza inestimável
ao nosso alcance. E sem problemas de competição.
Aprenda
jardinagem. Aprenda música. Aprenda pingue-pongue. Aprenda poesia.
Escreva. Dance. Leia livros. Faça exercícios. Questione
elegantemente. Escreva suas ideias. Aprenda ciência, religião,
filosofia. Filosofe! Sozinho ou com alguém. Treine coisas básicas
como escutar os outros. Aprenda a admirar o céu. Fite-o por diversos
minutos num dia em que ele se encontrar especialmente moldado para
agradar ao máximo seus sentidos. Tudo isso e muito mais está ao
nosso alcance.
Aqui e
agora.
Ali e
depois.
Sempre.
Sempre. Sempre.
Toujours!
A riqueza
cósmica está em nós e não é tangível. Por isso é tão difícil
percebê-la. Dentro de cada criatura viva está todo combustível
necessário para mover mundos e almas. É um campo ainda não
explorado. É uma área que nosso mercado alienado e engessado é
incapaz de detectar. Muito menos explorar. Muito menos usar
corretamente. Porque ele tem como foco os nossos vícios e fraquezas.
Não nossas forças e virtudes.
Mas já
percebo a verdade vindo à tona em alguns lugares. Sendo desenterrada
aos poucos. E com isso as riquezas cósmicas vão se revelando. E é
um caminho irreversível. Firme e irreversível. Como deve ser o
fluxo da vida.
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