Tenho
uma singela simpatia por pessoas que apresentam timidez. É uma
identificação natural. Porque eu mesmo já fui muito tímido.
Aliás, ainda sou. Não exatamente tímido, mas introvertido.
Existe
um livro muito interessante cujo título é “O Poder dos Quietos”,
escrita por uma mulher introvertida chamada Susan Cain que, ao se
encontrar em sua introversão, decidiu realizar um estudo profundo
que culminou com a publicação desse livro esclarecedor. Se lido com
a devida atenção, é capaz de energizar os introvertidos e abrir a
mente dos extrovertidos.
O livro de Susan Cain |
A
sociedade Ocidental sempre valorizou muito os indivíduos falantes,
de “ação”, presentes (pelo menos em corpo), agressivos e sempre
capazes de trabalharem em grupo – mas nunca ou raramente sozinhos.
Enquanto quem escuta mais do que fala, lê mais do que vai a festas,
se aprofunda ao invés de ser prático é considerado menos
(importante e legal) e comumente é deixado de lado em estudos,
trabalhos, times e coisas do tipo. E – ao contrário do que se
imagina – quem perde mais nessa segregação insensata é o
falante, incapaz de perceber as potencialidades de seu colega que lhe
complementa.
É fácil
chegar à conclusão que, para iniciar projetos, coordenar equipes,
agilizar a comunicação e amenizar eventuais conflitos precisa-se de
alguém extrovertido. No entanto, muita gente parece se esquecer do
outro lado da moeda: para mantermos e melhorarmos esses mesmos
projetos, para desenvolvermos ideias e para gerarmos estabilidade e
sustentabilidade num ambiente precisamos da antítese: gente
introvertida.
Algumas
coisas precisam ficar claras antes de prosseguir. Primeiro:
introvertidos não são mais inteligentes que extrovertidos (apesar
de suas formas de atuação serem taxadas de “inteligentes” e /ou
“estranhas”). Segundo: a meu ver, uma sociedade capaz de fomenar
o desenvolvimento dos dois tipos de personalidade (extrovertido e
introvertido) ao máximo e sem colocar uma em conflito com a outra
(competição), e sim em cooperação, é aquela que podemos chamar
de desenvolvida. E terceiro: extrovertidos não se comunicam
necessariamente melhor que seus opostos. Eles simplesmente acreditam
nisso porque tem a habilidade de atuação (muito) mais desenvolvida
do que a sensitiva.
Quando
alguém é incapaz de captar e compreender uma mensagem importante
que lhe é direcionada objetivando o bem do receptor, esta se passa
por inexistente ou ruim. Nesse caso a perda pode ser grande, ou mesmo
catastrófica, para o receptor. Esse é um caso clássico de
comunicação entre um introvertido (mensageiro) e um extrovertido
(receptor).
Na
sociedade Ocidental as escolas, as empresas e a maioria das famílias
tendem a “corrigir” os “defeitos” das crianças e jovens
introspectivos, moldando-os tendo como referência seus colegas
falantes e sociáveis “bem-sucedidos”. No entanto, o contrário
não é implementado. Como se a introversão fosse uma doença.
Resultado: perda de boas ideias, preconceitos de ambas partes,
retração dos quietos. Em suma, desgaste.
O que
sou incapaz de compreender é a (falta de) razão que leva os
indivíduos com poder de atuação a radicalizarem as coisas,
buscando colocar todos no extremo extrovertido e – se e enquanto
não forem capazes disso – submeterem os introvertidos a um tipo de
exclusão. Um tipo de segregação sem sentido que infelizmente
permeia grande parte da sociedade.
Por que
não se ensina os falantes e atuantes a desenvolverem sua
sensibilidade? Quem sabe assim eles poderiam captar muitas ideias
boas que estão por aí à espera de alguém capaz de detectá-la.
Algo que
me interessa na civilização Oriental é justamente essa
carcterística de respeitar a introversão. E isso fica claro ao
estudarmos os modos de fotografar: se alguém comparar fotografias
tiradas por um ocidental e um oriental de suas pessoas, perceberá
que o ocidental tende a preencher toda imagem com sua pessoa,
centralizando tudo nele, ignorando o ambiente à sua volta, enquanto
o oriental capta o ambiente ao redor, sendo ele uma pequena parte do
todo. Ou seja, existe uma noção de conjunto.
E
continuo insistindo: diferenças não são defeitos.
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