quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Retratos da Vida (de Claude Lelouch)

Retratos da Vida (1981)
Cada diretor tem um modo diferente de imprimir seu ponto de vista através da tela grande. O de Claude Lelouch, autor de "Un Homme et Une Femme", era simples e profundo, espetacular mas introspectivo, musical e real, mas sempre agradável de ser visto. Talvez um de seus grandes méritos tenha sido o de conciliar a realidade dos fatos da vida com a suavidade e delicadeza das cenas. 


Em "Retratos da Vida" a consequência da estupidez dos governos e de suas infindáveis guerras é retratada na vida das pessoas comuns: homens e mulheres que estudam, trabalham, se apaixonam, se separam, amam, odeiam e morrem. Vidas dão reviravoltas inesperadas enquanto Estados tomam grandes decisões – e quero destacar que quando digo "grande" me refiro a magnitude do estrago causada por estas decisões, e não pela inteligência destas. 

Ano: 1936. Quatro países, quatro famílias, quatro realidades distintas que serão unidas pelo destino. O filme se inicia com uma maravilhosa cena de dança na qual vemos um bailarino dançando ao som do famoso Bolero, de Maurice Ravel, num plano fixo longo. Trata-se de um espetáculo realizado em público nos dias atuais (da época), na sempre bela Paris. Diversos personagens estão presentes. E pum! Num flash-back o diretor retorna 45 anos no tempo e inicia a construção de seus personagens.

Moscou, Paris, Berlim e Nova York. Eis os cenários onde as tramas irão se desenvolver. Os conflitos bélicos europeus irão culminar com a Segunda Guerra Mundial, cujos efeitos se repercutem no mundo inteiro. Para alguns de forma trágica e sofrida, para outros com mais suavidade. Mas a vida de todos será afetada.

"Retratos da Vida" não se preocupa em criticar diretamente os conflitos. Seu objetivo é muito mais sutil. Ele “apenas” deseja mostrar como as famílias se formam e como elas reagem aos acontecimentos do mundo. A música é um grande elemento nesse aspecto, sempre presente, seja em espetáculos, eventos, marchas militares ou festas, o que é característico das obras de Lelouch. A musicalidade permeia toda sua obra, dando uma certa magnanimidade à sua mensagem.

A transição entre uma história e outra ocorre na medida certa. O espectador pode acompanhar os acontecimentos, as tragédias e conquistas dos personagens, e se emocionar, sim...se emocionar, como se aquelas pessoas, aquelas vidas, estivessem relacionadas com a nossa própria. Poderiam ser nossos amigos, nossos familiares ou até nós mesmos. Esse é o mérito de Lelouch. Ele consegue emocionar sem ser piegas ou excessivamente sentimental.

O fim se dá quando todas essas vidas se entrelaçam. Cada um tem um papel na grande apresentação final. O Bolero toma conta da cena e voltamos para o início, a continuação do que nos foi apresentado. Agora é possível entender a dor de cada personagem – e as conquistas!

Vemos quatro décadas de história no rosto de cada um deles. Não é um desfecho triste nem alegre. Isso depende do ponto de vista de cada um.
Mas uma coisa é certa: o final é bonito.


Link para cena de abertura do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=zKTwvo8gx68

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