Woody Allen (1935- ) |
Desde
seus primórdios, Allan Stewart Konigsberg (que posteriormente adotou
o nome artístico Woody Allen), revelou talento natural para a
escrita. Aos 15 anos já começou a escrever para colunas de jornais
e frequentava programas de rádio. A escrita estava em sua alma e
fluía livremente, juntamente com as piadas irônicas e sarcásticas,
sempre permeadas de um viés filosófico. São famosos seus livros
"Adultérios" e "Cuca Fundida". Mas sem dúvida
sua marca mais notável tenha sido no Cinema.
A
transição da escrita para a Sétima Arte se deu naturalmente. Seus
dons de escrita foram importados para a tela. Muitos dos filmes
dirigidos por ele tinham o roteiro assinado pelo próprio. Além
disso, devido ao seu grande talento, não era difícil arranjar
financiamento para seus filmes, cujo orçamento era muito modesto
comparado às faraônicas produções hollywoodianas. Isso garantia a
Woody controle sobre toda sua obra. Ele podia escolher livremente as
histórias de seus filmes, o modo como ela seria contada e filmada, o
elenco, a música - sempre marcante e com referências a Cole Porter,
Louis Armstrong, Billie Holliday e músicos desse calibre. E sem
dúvida foi essa liberdade que permitiu a esse ser pequeno, magro,
neurótico, de aparência acronológica, criar as maiores obras de
todos os tempos como "Manhattan", "Noivo Neurótico,
Noiva Nervosa", "Crimes e Pecados", "Zelig",
"A Rosa Púrpura do Cario", "Poderosa Afrodite",
"Match Point", entre outros.
Poderosa Afrodite (1994) |
Todos
temas existenciais do indivíduo foram abordados em seus filmes:
relacionamentos, mortes, crimes, desejo, riqueza, pobreza,
família,...O próprio Cinema era constantemente auto-referenciado,
com seus nomes mais famosos e cenas mais memoráveis. Inclusive um
filme inteiro foi feito com esse intuito: "A Rosa Púrpura do
Cairo", com Mia Farrow, sua esposa na época. Nele vemos o
Cinema como um refúgio de uma jovem que deseja algo a mais da vida -
algo que só as telas podem dar.
Foi
Woody Allen quem revelou Mira Sorvino ao mundo na forma de uma
deslumbrante prostituta ("Poderosa Afrodite"). Ele
igualmente abordou uma das questões mais controversas do ser humano
ao dialogar com a obra "Crime e Castigo", de Dostoievsky,
em seu longa "Match Point". Nele vemos um indivíduo que
vai levando duas vidas paralelas: uma com uma bela e aventureira
moça, mas de classe média baixa e dificuldades em se inserir no
mercado artístico; e outra com uma mulher de classe alta, que é
capaz de lhe prover todo conforto material do qual ele tanto gosta,
mas que ao mesmo tempo não lhe atrai. E é esse duplo caminho
seguido simultaneamente que vai lhe gerando um desgaste crescente que
culmina num evento esperado - porém de conseqüências inesperadas.
O Escorpião de Jade (2003) |
Woody
Allen é um daqueles diretores que possui flexibilidade natural e não
se deixa consumir por seu "métier". Ele toca trompete uma
vez por semana, assiste aos jogos de beisebol quando lhe dá na telha
e curte a vida cultural e urbana de sua cidade natal, Nova York. Mas
talvez seja esse comportamento que lhe permita ter seus "insights"
e gerar suas histórias. Mesmo assim ele é capaz de nos brindar com
uma média de um filme por ano. Ano após ano. Quase sempre com
qualidade e inovação nos temas. Quase sempre com uma observação
inteligente e irônica.
Os
caracteres de seus letreiros são constantes (sua marca). As trilhas
sonoras de seus filmes são um convite indireto a um mundo que vem
caindo no esquecimento: o da música preocupada com o sentimento -
não com o comércio. Cada cena já revela o autor da obra. É sua
assinatura.
É
impossível assistirmos a um filme desse grande cineasta e não nos
identificarmos com um de seus múltiplos personagens e seus dilemas.
É alguém que consegue se manter fiel às suas idéias e ao mesmo
tempo se renovar constantemente.
Os
cinemas comerciais deviam exibir toda sua filmografia. São filmes
engraçados, inteligentes, emocionantes, com elenco sensual.
Woody
Allen prova que lazer e inteligência podem andar lado a lado.
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