terça-feira, 29 de abril de 2014

COMPETIÇÃO GERANDO DOR, COOPERAÇÃO GERANDO EVOLUÇÃO

Nossa ânsia em competir parece não ter limites. Esse é um comportamento que sempre fez parte da grande maioria da humanidade. Mas apenas nas últimas décadas, com o (suposto) fim das ideologias – e incremento de um poder invisível, propagando por grandes grupos que possuem um forte controle sobre decisões que deveriam ser teoricamente populares – é que a competição foi elevada ao status de religião.

Quando digo “elevada ao status de religião” me refiro a algo imposto, sem relação alguma com espiritualidade e moral. Trata-se de um culto. A inserção num altar de um modo específico de sentir, pensar e agir.

Parece contagiante. Por toda parte, os meios de comunicação, os governos, as corporações e a sociedade parecem dizer em uníssono que essa tal de competição é o único modo de atingir a felicidade. Poucos são aqueles que ousam questionar esse modo de pensar. E para seus questionamentos logo se contrapõem INÚMEROS exemplos de pessoas bem sucedidas que atingiram reconhecimento e sucesso que agiram justamente sendo extremamente competitivos. Com tantos exemplos visíveis, a questão parece resolvida. Mas...

Mas não é possível deixar de perguntar se esse sucesso não é efêmero. Se ele não é algo que exige de nós, em nossa busca por aceitação nos grandes grupos, – nas altas rodas, nos grupos “legais”, “bonitos”, etc – uma renúncia. Uma renúncia a princípios íntimos que fazem parte de todos nós, como o desejo de sermos verdadeiramente felizes (não maquiadamente felizes...).


Pietro Ubaldi sempre tangencia a questão do sucesso e do fracasso em suas obras. Quem vibra de acordo com a média obterá sucesso. Mas aqueles que vislumbram e procuram por algo diferente, que percebem que atitudes que hoje são aceitáveis ou glorificáveis mas amanhã serão absurdos e barbaridades, serão perseguidos e mal-vistos e humilhados, na grande maioria dos casos. Apenas aqueles que sabem e se calam – ou se manifestam timidamente – podem garantir relativo sossego (mas não sucesso) em suas vidas num mundo cuja fase evolutiva é primária.

A meu ver, falta a todos nós uma clara noção de UNIDADE que permeia o Universo. Com essa noção consolidada em nossas almas, notaremos cada vez mais que a competição nada mais é que uma auto-mutilação, e a COOPERAÇÃO uma garantia de sobrevivência e evolução.

Conforme eu escrevi anteriormente em outro artigo (do DNA social), o funcionamento do nosso corpo depende da cooperação de todas suas células, por mais diferentes que elas sejam, para que sobrevivam e permitam a evolução do nosso ser. Nossa família, comunidade, cidade, planeta, galáxia e universo, também funcionam da mesma forma. E se somos as células do planeta, devemos agir de acordo com nossas células internas. Nos inspirar nelas. Bio-inspiração para atingirmos um sistema político, econômico e social mais justo. Mas isso (eu confesso) é difícil de ser percebido.

Precisaremos errar muito antes de tomarmos o rumo certo. Parece inerente ao ser humano. Mas os efeitos da competição são efêmeros, e a solidão de hoje de alguns será a comprovação de sua evolução num futuro (distante para os mais à frente, não tão distante para aqueles um pouco à frente).

Portanto, cuidado com os slogans corporativos sedutores induzindo hordas de seres rumo à competição. Essa pode parecer a solução final, mas definitivamente não está gerando efeitos que comprovem isso.

Talvez devêssemos escutar um pouco mais nós mesmos, ou aqueles estudiosos ou “vagabundos” estão tentando ver e fazer diferente. Claro, alguns podem estar errados. Mas não devemos jamais excluir sem antes PENSAR.

E é por causa de não pensar que hoje estamos engolindo muita coisa desnecessária.

Ubuntu!*






[*http://www.significados.com.br/ubuntu/]

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A BUSCA DE UM DNA SOCIAL


Uma das características mais interessantes do estudo está no fato de que as áreas do conhecimento - por mais diversas que sejam – revelam estar cada vez mais relacionadas à medida que nos aprofundamos nelas.

A relação entre diferentes saberes é uma ponte que se revela cada vez mais forte à medida que nos aprofundamos na ciência, na filosofia, na teologia ou na arte. E essa característica, essa unidade, é, a meu ver, o laço unificador que é responsável por aproximar diferentes pessoas preocupadas em diferentes saberes - isto é, se elas forem capazes de perceber essa ponte.

Porém, existe uma outra vantagem nessa unidade: podemos usar uma ciência para apoiar (ou inspirar) outra. E é justamente isso que pretendo fazer nas próximas linhas.

Sou uma pessoa muito preocupada com a questão social. É um assunto que permeia minha mente há alguns anos. Antes de forma superficial – o que me fez chegar a conclusões equivocadas. Agora, de forma mais profunda. E me dei conta de que essa questão, o nosso eterno problema de injustiça social, talvez (talvez) possa começar a ser solucionado se nos inspirarmos na biologia. Sim. Exatamente. Na ciência que estuda a vida orgânica.

Essa ideia de estudar a sociedade como organismo biológico não é nova. Durkheim [1] talvez tenha sido um dos primeiros pensadores a estabelecer essa abordagem. E o raciocínio central é o seguinte: o indivíduo está para a sociedade como a célula está para o organismo. Trata-se de uma analogia muito interessante, que tende a aumentar – ou criar – interfaces entre essas duas ciências.

Dessa forma podemos estabelecer a seguinte relação de similaridade:

CÉLULA →TECIDO → ÓRGÃO → ORGANISMO [BIOLOGIA]

INDIVÍDUO → COMUNIDADE → NAÇÃO → PLANETA [SOCIOLOGIA]

Muito bem. Sabe-se que existem vários tipos de células: neurônios, embrionárias, do sangue, tronco,...Com cada tipo especializada numa função específica, que leva ao funcionamento do sistema (circulatório, respiratório, nervoso, hormonal,muscular,...), que por sua vez interage com outro sistema, e estes, em COOPERAÇÃO, possibilitam que o organismo opere adequadamente, com suas máximas potencialidades – internamente e no nível material. Assim temos um organismo sadio.


Quando um grupo de células de um tipo não opera de acordo com sua natureza os órgãos, e consequentemente o sistema, tende a não funcionar adequadamente – por exemplo, o sistema circulatório, caso falhe, não poderá alimentar as células do organismo, mesmo que o seu vizinho, o sistema respiratório, opere a 100%. Consequentemente a pessoa adoece e morre. Podemos experimentar essa situação para qualquer grupo de células e o resultado final será o mesmo: falência dos órgãos e morte do organismo.

Agora vamos assumir que o nosso planeta seja um grande organismo e que cada um de nós, seres vivos, somos as células.

Cada um de nós possui uma individualidade. E pessoas diferentes, mas com semelhanças em suas funções, – digamos, profissões – podem ser vistos como operários aptos a edificarem o conhecimento de uma determinada forma. E assim com cada grupo de pessoas com função específica. Dessa forma temos coletores de lixo, engenheiros, arquitetos, jardineiros, professores, médicos, cientistas, filósofos, artistas, entre outros. Todos trabalhando a seu modo e (teoricamente) em prol de um ideal comum: o progresso da sociedade. Ou melhor, do planeta como um todo. Pelo menos assim deveria ser, se nos inspirássemos na biologia.

Somos diferentes. No entanto, devemos ter um ideal comum se desejamos progredir. Pois estamos todos INTERCONECTADOS. Diversos estudos de diversas áreas demonstram essas conexões, seja esse o seu objetivo ou não. É cada vez mais difícil negar essa (bela e consoladora) relação.

A sobrevivência do planeta significa a nossa sobrevivência. Nós dependemos desse grande organismo vivo. Aliás, nós somos constituintes desse imenso organismo! Tijolos de uma grande casa.

Segundo os físicos a Terra “nasceu” há 4 bilhões de anos.
Nós, como espécie, há 4 milhões.

Ela (a Mãe Terra) é 1.000 vezes mais antiga do que nós.
E sempre se virou muito bem sem nossa espécie.

Nós, por outro lado, sempre dependemos dela e nos aproveitamos de seus recursos – por isso MÃE Terra. No entanto, dada nossa capacidade de criar, temos a possibilidade de crescer com ela e mantê-la saudável. E ela nos retribuirá se agirmos de acordo com o bom senso. Mas para cumprirmos essa tarefa é necessário que saibamos antes ser COOPERATIVOS entre nós mesmos.

Nossas DIFERENÇAS são naturais.
Não devemos COMPETIR devido a elas mas COOPERAR por causa delas.

Por que?

Porque quando viramos para o lado e lutamos entre nós estamos reduzindo a possibilidade de trabalharmos por um grande ideal comum (a sustentabilidade, um sistema econômico mais humano, a democratização, etc). Matamos a nós mesmos e – consequentemente – o SER que nos sustenta: Terra.

Quando tomarmos consciência de que precisamos de um ideal social (e depois ecológico e espiritual),

de que devemos ter um sistema que propicie liberdade para cada indivíduo exercer ao máximo suas capacidades intelecto-morais;

de que devemos ter um sistema que não permita uma pessoa ou grupo de pessoas explorarem outro grupo;

de que devemos ter um sistema que seja capaz de escutar TODOS, até que cada um tenha revelado todas suas ideias, sonhos e pensamentos, e que saiba fazer uso inteligente dessa riqueza;

de que devemos ter um sistema que não negue o básico a ninguém, isto é, que opere com base a Lei da Caridade,

Quando isso ocorrer teremos um DNA social.

E assim poderemos dar o próximo passo rumo à Evolução.


[1] http://sociologiass-unesp.blogspot.com.br/2012/05/durkheim-sociedade-como-organismo.html