"Pensamento fácil"... sempre me fascinei com o tema. Desde a adolescência, à medida que o tempo passava, eu jamais deixei de me incomodar com a "praticidade" de grande parte da humanidade. Os jovens prontamente aprendem a adquirir a esperteza que leva a ganhos. Os adultos também - só que considerando problemas um pouco mais complexos. No entanto, as diferenciações só estão na superfície: cada fase da vida tem suas preocupações, seus problemas, seu modo de agir, suas convenções. E para a grande maioria (para os normais), à medida que o tempo avança e as tendências surgem e se consolidam, tudo o que as pessoas fazem é adequar-se a elas, sem muito questionamento, conformando a sua existência a uma realidade que se impõe. Uma realidade que se impõe porque parece temer a manifestação de outra Realidade - mais potente, mais vasta, que projeta no longo prazo, que oferece perspectivas completamente novas, e não vê na dor do momento motivo para desvios de conduta.
Cresci e me tonei adulto. Por um tempo, na faculdade, me silenciei por fora. No entanto, por dentro, apesar de todo silêncio, percebia uma atividade constante operando em meu Ser. Longas horas de reflexão. De busca por coisas que pouco interessavam a muitos. E se interessassem, interessavam por pouco tempo - pouquíssimo. E nesses momentos de intenso interesse - por parte de poucos - pouca coisa era percebida. Muito menos realizada. E a partir daí me dei conta de nossa miséria humana. Miséria em entrar em contato com uma realidade capaz de solucionar os Últimos Problemas. E cuja solução era se trabalhar internamente, com cada instante da vida, relacionando tudo e todos, e sofrer, e ser sincero consigo mesmo - mesmo que isso significasse demissão, exclusão, dor física, afetiva ou perseguição. SER acima do TER. A partir daí faltava a experiência.
As constatações levaram a consequências práticas. Estas levaram a novas constatações. A paciência ajudou a resistir aos momentos de alta tensão. E com isso pude comprovar a validade de uma Lei, mãe de todas as outras, que tudo rege e coordena harmoniosamente. Mas sinto que isso tudo é apenas o começo. Porque há muito a fazer - mas poucos meios para fazê-lo. É um mundo involuído, com uma forma mental em franca decadência, que sustenta uma lógica cada vez mais pequena. O Ser pede por mais e faz ensaios ousados. Mas as regras atuais pouca liberdade permitem. Trata-se da luta entre o Anti-Sistema e o Sistema que Ubaldi descreveu. Luta de conceitos e de orientação. Luta constante, que assume várias formas em vários tempos e vários lugares. Luta presente em cada fase da vida.
Luta presente no corpo, na mente e no espírito.
Nos instintos, no raciocínio e na intuição.
No sub-consciente, no consciente, e no super-consciente.
Entre uns e outros, dentro e fora.
Fora por haver dentro. Dentro por haver fora.
Dor -> Constatação -> Experimentação -> Maturação -> Despertamento -> Evolução
Uma lógica suprema a ser adotada. Cada etapa demora e não traz resultados na forma. Tudo se constrói com o tempo, no sofrimento, na experimentação, na simplicidade, no silêncio...
Nada se pode esperar, tudo se deve buscar...
"Nada pode o mundo pode esperar daquele que algo espera do mundo.
Tudo o mundo pode esperar daquele que nada espera do mundo."
Huberto Rohden
Nessa cadeia suprema, nessa supra-lógica (que a mente hodierna vê como vã loucura) reside a Solução. Infelizmente muitos, ao se depararem com a dor, - por menor que seja - muitos recorrem às soluções oferecidas (estabelecidas por consenso) pelo mundo: consumo, barulho, criação de ideias e teorias para culpabilizar minorias, maiorias, ideologias, nações, povos, áreas do saber, etc. Rarissimamente absorvemos o golpe e entramos em contato com a essência dos fenômenos - através dessa dor. Pietro Ubaldi fez isso. Blaise Pascal também. Sócrates igualmente. Jesus, o Cristo. Buda. Francisco de Assis. Assim como outros iluminados e sábios.
"É este entusiasmo febril que impede o começo da crítica, de modo que qualquer um que a inicie é rapidamente taxado de atrasado, retrógado e reacionário."**
Senti isso em diversos momentos da vida. Imagino que muitos também. No entanto, passei anos e anos persistindo na dor. E criando ideias e conceitos sobre o porquê disso. Vi que todos somos suscetíveis a entrar nessa corrente coletiva de pensamento, que eriça as sobrancelhas a qualquer sinal de contestação. Não se quer retomar conceitos apresentados por ideologias passadas. Como se estas tivessem dito tudo. Como se a humanidade tivesse experienciado a forma final dessas. Como se não houvesse um transformismo que nos possibilite dar novas interpretações. Um transformismo que reconfigura por completo o mundo, fazendo brotar novas possibilidades.
"Este entusiasmo é a expressão mais acabada de uma época que, acossada pelo consumismo astuto tem uma sede insaciável por tudo que se apresente como novo. "**
No entanto o autor afirma que não advoga que devemos abandonar a internet como local de realização de debate político.
"A essência de nossa crítica não estava em apontar o desuso, o abandono dos meios virtuais, mas pensarmos os usos para não cairmos em uma prática mecânica e ingênua. "**
Ser original por simplesmente ser, a qualquer custo, é deixar-se conduzir a uma lógica dominante. Uma lógica que cada vez mais tende para o irracional, nos tornando autômatos e controláveis. Controláveis pelo que temos de mais infantil e baixo e restrito.
"Em suma, propomos uma prática que seja seguida do pensamento crítico, que não seja cega, que não caia nas armadilhas do espontaneísmo e do voluntarismo." **
Indo além, o autor destaca que a lógica de nossa vida "real" (física) é replicada no mundo virtual (internet, na rede, nas mídias sociais):
" Se segundo o discurso da liberdade e da criatividade do indivíduo empreendedor “você pode ser seu próprio patrão”, no virtual tem prevalecido uma lógica semelhante, de você estar livre para ver e ouvir o que quiser, e gerar você mesmo a própria informação, de acordo, claro, com sua criatividade. Desse modo, é forçoso admitir que a internet repõe no campo virtual, aos seus usuários, aquilo que a lógica do livre mercado impõe cotidianamente ao mundo."**
Desconecta-se o indivíduo da coletividade - e esta daquele. Percebam: isso vai na contramão do que a Teoria de Sistemas Complexos Adaptativos vem estudando e revelando ao longo dos últimos anos. Ou seja, o Neoliberalismo usa a Ciência e a Razão apenas nos aspectos que lhe interessa, de modo a difundir certas descobertas e ignorar outras. Cria-se uma explicação do porquê disso caso haja algum teimoso que questione e demonstre alguns detalhes (importantes).
Percebam: existe tanta informação disponível que a "única alternativa" (aspas!) é fazer tudo segundo o critério da facilidade.
"Sem Dor não há Salvação..."
Não devemos sofrer por sofrer, por vaidade. Devemos nos conduzir pela nossa consciência, que nos leva, forçosamente, por muitos caminhos de sofrimento. Porque o mundo, em seu sono de ignorância (a ser despertado!), fará de tudo para se manter na situação de conforto, se armando contra agentes de transformação.
"A time line da rede social será melhor vista, isto quer dizer, mais rapidamente vista, quanto mais fáceis forem as coisas que se apresentem. Nesta faceta, a internet mostra-se muito mais conformista que revolucionária."**
Raríssimos são os indivíduos que "perdem seu tempo" num texto longo. Não é por erudição que deve-se lê-los. Nem para melhorar sua instrução. E sim porque eles podem ser um meio eficaz que desperte algo dentro dos outros. O objetivo final é viver o fenômeno, se integrar ao Universo, à Vida. Nesse aspecto a humanidade, refém de algo que desconhece, desperdiça o que se lhe apresenta na rede.
"E todos aqueles que objetivam ganhar e aumentar visibilidade devem assim proceder, não importa a direção política que sigam."**
Faz-se por aparecer, por ter, por se distrair.
Não somos capazes de, no silêncio, criar valores intrínsecos que nos possibilitem compreender e dominar as forças que nos arrastam, tornando-nos mestres do nosso destino - e emitindo um sinal para outros na mesma busca.
Estamos nos tornando preguiçosos para a evolução - apesar de nos ocuparmos completamente com empregos que são, em sua grande maioria, destituídos de significado real. Queremos o emprego, o trabalho pouco importa. Porque este geralmente nada remunera ou pouco remunera. E aquele remunera adequadamente. E com isso passamos a viver em função do que o mundo nos impõe.
Questionar é muito doloroso. Exige renúncias, criatividade, paciência, persistência, se reinventar. Então seguimos o script e criamos teorias para justificar nossa conformação e desistências.
Continuemos com as ideias do autor:
"Acostumando-nos, por meio do hábito excessivo, com o critério da facilidade como algo natural, tendemos a expandir este critério para tudo. Qualquer ato que possa demandar um maior tempo e esforço é, de imediato, rechaçado, posto que se identifica com a encarnação da chatice."**
E chega-se aos afetos:
"Assim, são os nossos desejos, afetos e pensamentos que também devem se acomodar ao critério da rapidez e da facilidade."**
Complexidade não significa complicação. Ela baila com a simplicidade, se originando dela, e voltando a ela. Como ciclos de expansão e contração.
A complicação surge por desorientação.
A complexidade surge por evolução.
O que REALMENTE significa essa cena? Eu descobri... |
Isso é só um texto. De nada adianta lê-lo, compreendê-lo, questioná-lo, se não estamos prontos ainda para senti-lo. E de nada adianta sentir se não formos viver sua realidade. No dia-a-dia.
Em cada instante a Lei de Deus se faz presente.
Em cada momento da vida podemos ordenar ao coisas conforme quer e Lei.
Trata-se de um trabalho de 24 horas por dia.
"Conformando-se aos tempos informacionais, o pensamento fácil abole a barreira entre o simples e o simplório. Trabalha com definições curtas, como na lógica do estabelecimento do número máximo de caracteres."**
Simples não é (necessariamente) simplório, assim como complexo não é (necessariamente) complicado.
"Aquilo que demora por se fazer entender é identificado como que possuindo uma falha congênita, por isso mesmo deve ser excluído, marginalizado. "**
Idéias captadas pela intuição dificilmente são transmissíveis. Como nosso mundo não gosta de enrolação, descarta-se o indivíduo que tenta captar e transmitir algo que tente ir além. Marginaliza-se sob várias formas.
Mesmo passando para o papel, o Ideal já se corrompeu.
Do Infinito para a mente há uma degradação.
Da mente para a palavra escrita (ou falada) há uma segunda degradação.
Por mais intenso que seja o contato entre Receptor e Emissor. Por melhor que seja a sintonia, haverá sempre uma impossibilidade em transmitir um conceito além do que se conhece - no presente. Ubaldi exercitou isso ao longo de sua Obra de 24 volumes.
A Grande Sìntese foi a captação de noúres***. Não provêm de um ser humano. Isso conclui quando li esse tratado cósmico da Vida. "Um ser humano não consegue escrever assim". Jamais conclui isso lendo nada. Nem poemas, nem obras famosas, nem tratados científicos ou artigos ou etc. Nunca vi igual...
Já disseram sobre essa Síntese: Igualá-la é difícil. Superá-la, impossível...
Escarafunchemos mais a fundo o momento atual:
" Ao se conformar ao informacional, o pensamento fácil demanda um tipo de transparência absoluta dos enunciados, que não devem possuir qualquer opacidade, devem ser privados de qualquer sentido que não seja o aparente. Desse modo, também a linguagem, as capacidades expressivas são alteradas pelo critério da brevidade, que é a regra linguística do pensamento fácil."**
E há consequências dessa pensamento simplista:
"Ora, o pensamento fácil enseja algo ainda mais negativo. Por acomodar as coisas à superficialidade simplista, ele contribui para uma visão naturalizada dos problemas histórico-sociais. " **
Naturalizar problemas histórico-sociais significa abdicar da tarefa de lidar com a questão humana. É deixar de construir com orientação, para reproduzir por ostentação e satisfação.
O pensamento fácil não consegue penetrar nas contradições. É incapaz de desvendá-las. Prefere ignorá-las.
"O pensamento fácil trabalha com generalizações, e por isso é propício à criação dos bodes expiatórios."**
E confirmando o que eu sempre sentia e disse há pouco aqui:
"Se também nós nos acomodarmos ao pensamento fácil, cada vez mais perderemos a capacidade de realizar a crítica do presente, pois enquanto nos dão a facilidade como regra, o mundo se complexifica, nos pedindo cada vez mais o forjar de alternativas novas. Estas demandam sempre esforço, pertinácia e tempo. "**
Um indivíduo que já nasceu com alto grau de consciência, aqui no Brasil, e pode nos apontar algumas setas para o Infinito, é EDUARDO MARINHO.
Ele VIVE o Transformismo.
Referências
* de Fran Alavina [Outraspalavras]
** http://outraspalavras.net/uncategorized/a-internet-e-as-artimanhas-do-pensamento-facil/
** correntes de pensamento elevadas
Nenhum comentário:
Postar um comentário