sábado, 25 de novembro de 2017

Desenvolvimentos explosivos

É muito difícil compreender as (reais) causas dos males. No entanto, a maioria sente-os, direta ou indiretamente, pela vida que levam. Dia após dia há uma enxurrada de eventos que demandam todo nosso esforço humano. Dispendemos tempo e depositamos nossas emoções nas atividades que "fatalmente" nos foi dada pelas forças das circunstâncias. E assim vivemos, dia após dia, levando as tarefas da forma como nos foi ensinada. E no tempo que resta - dito "tempo livre" - cuidamos de outras atividades essenciais, que se impõem através das férreas leis materiais às quais estamos presos. Subtraindo tudo isso de uma existência, o que realmente temos para nós, sem nenhuma obrigação, é um lapso de tempo. Um lapso atirado ao vento e enterrado com distrações que nos iludem. Assim se passam vidas...

Desde o momento em que alguém nasce neste mundo, existem duas garantias: a de que haverão dores - nas mais variadas formas, advindas da ilusão - e um fim material. Certezas férreas deste mundo, sem dúvida. Mas serão elas as únicas certezas da vida? Será essa dupla (morte e dores) a única realidade da existência neste mundo? Essa foi minha busca. E agora, em posse da certeza de que essa realidade é um átimo dentro de uma lógica muito mais vasta, poderosa e além do concebível, me prostro diante do abismo da incerteza. O que fazer? O que fazer?...

De dentro para fora.
Sempre que inicio a escrever não faço nenhum planejamento. Faço apenas o que o sentimento me impele a fazer, à seu modo, em momento inesperado, da forma que posso. Tento acompanhar esse sentimento, essa inspiração, essa visão à medida que escrevo. Mas as palavras sempre esmorecem diante da substância que quer ser revelada através das mesmas. O mundo, a matéria, o homem, quando se lança a tentar compreender realidades superiores, que escapam aos sentidos e à mente, se vê impotente desde o início, quando os primeiros passos são dados. Se alguém vê, chovem risadas, humilhações e piadas. Veem um pobre ser. Enganado pela utopia de grandes visionários. Despido materialmente pela sua bondade. Ignorado pela cúpula do saber e prudência. Visto como não-sério. Esse é o início da jornada. E diante desses sinais, o ser logo percebe que, se deseja continuar em paz, deve ser altamente seletivo [1]

O verdadeiro desenvolvimento da personalidade não se dá quando o ser assimila os conceitos passados pelo mundo - sociedade, família, instituições, valores. Seu início ocorre quando o ser se emancipa das ondas psíquicas que regem o funcionamento do mundo, de modo a abrir fendas em novos territórios, desvendando mistérios e aprofundando verdades. Quando é acionado um sentimento sincero que se une a uma reflexão profunda ocorre uma forma de atuar que intensifica a reação do entorno. O ser, ao insistir, prepara uma horda de invasões. Os assaltos do mundo levarão-o à tentação. Tentarão desesperadamente lançá-lo diante de atitudes e atos que podem desqualificar por completo sua busca, e assim confirmar a (triste) realidade da vida no plano humano-animal. Isso é o que a atual lógica do mundo faz com aqueles que começam a ameaçar seu império. Um império poderosíssimo e impiedoso. Até mesmo aqueles que compartilham sua visão e anseiam por uma transformação, param em certo ponto, deixando-o cada vez mais só, desacompanhado, desprotegido...Por vezes até ocorre resistência. Esse abandono pode levar ao colapso psico-físico. Mas é justamente aí, num vale lamacento e desprezado, que pode se dar a catarse.

Esse blog é produto de uma série de acontecimentos concatenados harmonicamente, sem os quais ele jamais teria ocorrido. Cada ideia, palavra, frase, montagem de figura, diagrama, representa uma vontade imaterial que deseja existir. Tornar-se concreta. Ou melhor, elevar a matéria, aproximando-a um pouco mais do espírito, tornando o convívio destes dois mundos menos áspero e mais sincero. Pelo bem do mundo, e não do espírito, diga-se. Pois este já é, enquanto aquele ainda o será. A evolução dos textos nada mais representa do que o amadurecimento do autor, que se torna cada vez mais transparente e ágil ao transmitir conceitos que estão no íntimo das almas. Conceitos pouco tratados, pouco vividos, e por isso transformados em meros objetos de distrações em raros momentos. Distorce-se o Alto para diversão ocasional. Mas de fato, ao esfregarmos nossa matéria no sagrado, no ideal, no espírito, condenamos a nós mesmos, atestando que desejamos ficar presos a uma realidade triste, que se faz a cada dia mais intensa, deixando-nos cada vez menos espaço (físico e metafísico) para atuar e viver plenamente. Triste cegueira do homem iludido pelo império da razão! E é desse ponto que começamos a descer às aplicações práticas dessas teorias (aparentemente) desligadas da vida cotidiana. 

Quando afirmei alhures [2] a respeito do desenvolvimento de minha personalidade (o verdadeiro desenvolvimento!) me arrisquei enormemente. O processo iniciou-se em 2011, justamente após o período mais tranquilo de existência, momento em que tudo parecia estável e dali pra frente a vida seria muito suave. Ledo engano. Engano terrível. Deu-se o inesperado, que levou a outra cadeia de eventos inesperados. Golpe após golpe, o desespero fluiu em progressão crescente de modo a levar todas fibras de meu organismo à loucura, resultando num efeito de retroalimentação: quanto mais me interiorizava com minha dor, mais o mundo repelia-a (e a mim) na vã expectativa de me ver melhor. E assim progredi na queda...

Chega um ponto em que se atinge o vértice inferior, e nada mais lhe agrada. Isso é perigoso. Mas no caso de minha experiência, ao invés de buscar uma simples retomada pelos métodos do mundo, afirmei interiormente: "Quero uma verdade que me rasgue. Me encante. Me deixe prostrado. Uma verdade que alimente minha alma sedenta de explicações e conforto. Uma verdade que englobe todas verdades e supere esta triste realidade, que não é apenas minha, mas de todo mundo. A diferença é que eu encarei esta realidade, sem levá-la na brincadeira, sem fugir dela, até à raiz, no momento de dor mais intensa, quando todos abandonam a dor e se voltam ao mundo, iludindo-se à medida que se aliviam. E creem estar curados! Creem ter superado essa doença terrível chamada desânimo e depressão. Ledo engano! Tudo que sinto me diz que as almas continuam imersas numa ignorância. São superações superficiais. A ferida não foi regenerada, mas apenas tapada e tratada com artificialismos. Quero saber se há algo a mais! Quero nada esperar nem possuir. Apenas quero compreender a essência dos fenômenos, mesmo que isso me destrua. Eis a minha ardente e sincera vontade diante de Ti, Ó Senhor. Errei ao tentar traçar o caminho da bondade e do ideal. Não estava preparado e paguei tomando o amargo cálice da dor. Eu, um inerme. Meu destino está em Suas Mãos!" 

A parir da nova atitude ocorreram fatos banais ou interessantes. Mas eles em si não eram o mais interessante. O que impressiona é o momento, o tempo de duração e o modo como ocorreram. Formou-se uma sequência que levou um evento a reforçar outro. Coisas boas intercalavam-se a coisas ruins. Mas a cada golpe, ao invés de me afogar na sociedade, no consumo, na alienação laboral, decidi mergulhar no meu Ser e conhecer a realidade fenomênica através dele. E assim iniciou-se a atuação de várias forças, que se materializaram em vários fatos bons, que sustentam minha vida em todos aspectos, e ajudam minha personalidade a se desenvolver cada vez mais. O mundo classifica tudo isso como "acaso". Eu sinto a Lei de Deus. Lei que atua para todos, se cada um souber tomar rédeas de sua dor e assim forjar um glorioso destino. Destino que, antes de ser concretizado, deve ser batizado por dores abissais. Destino que, durante sua gloriosa edificação, deve prestar contas ao Alto, trabalhando em prol do Espírito, não cedendo às tentações do mundo. Varando as ilusões que se lhe apresentam, como um raio e luz. Reprimindo, naturalmente, como um trovão, qualquer convite a compactuar com o mundo que quer permanecer como mundo - e jamais se superar. Eis um pequeno fragmento de ascensão, que dá uma parca ideia do que pode significar superar o plano atual.

Ascensão.
A mudança profunda desse ano provavelmente se relaciona à saúde. Foge-se de uma realidade cruel para se abrigar em outra, menos cruel - mas ainda longe, muito longe do ideal. Para quê? Para ter mais tempo, condições e paz. Para quê? Para continuar nessa batalha perpétua (Grande Batalha) pela difusão da verdade, da vivência intensa, da criação de novos conceitos. Para adquirir coragem para - quem sabe - um dia dar um passo mais ousado. Inteligentemente ousado [3]. Um passo que seja mais do que simplesmente compreender, refletir e otimizar dentro dos limites da realidade atual. Porque o espírito anseia mais do que a mera eficiência e conhecimento. Ele anseia pela superação efetiva de uma realidade triste, com prazo de validade. A superação de uma forma mental que sustenta um sistema incapaz de atender necessidades fundamentais. Um sistema que opera, atualmente, na base da distração e intensificação de superficialidades para criar uma casca grossa em solos férteis. Solos nos quais a semente do espírito foi semeada há muito tempo. Solos que são corações e mentes sedentos pela superação, mas que carecem da ousadia potente. O medo ainda domina - mas não será para sempre...

O fato da maioria da população desconhecer como é a realidade global, e como a nossa História foi construída (pelos poderes), torna-a cega às causas. Marcha-se em nome do fim da corrupção. Mas coloca-se atores piores no poder, no mesmo sistema, que continua com pleno controle. No fundo deseja-se apenas extravasar sentimentos de ódio calcados em verdades de superfície. Verdades que desmoronam tão logo começamos a aprofundar as ideias e expor experiências que sejam contraponto àquilo defendido ferreamente. Eis a "potência" das manifestações sociais - especialmente aquelas de 2015, que nada tinham de sinceridade - apesar de serem permeadas de imbecilidade...Diga-se: não se trata de defender um grupo, pois sabe-se que as forças da vida estão muito além e aquém dos grupos humanos, e a estes só é conferido certo poder enquanto eles cumprem certa finalidade, sendo varridos logo após isso. 

O ditado popular diz: "o buraco é mais embaixo." Eu diria: ele está muito abaixo do que imaginamos. E justamente por isso tudo torna-se tão desesperador para quem vê a lógica deste mundo. 

O preço do custo de vida sobe a uma progressão geométrica. Ganhos de trabalho, - especialmente aquele verdadeiramente útil - se crescem, seguem uma progressão aritmética. Saúde, moradia e educação. Direitos universais cada vez mais inacessíveis para uma parcela. Contraditoriamente, vê-se um crescimento da riqueza per capita gerada no globo [4]. Para os pobres, jamais haverão serviços essenciais, sendo seu sofrimento uma "fatalidade". Para aqueles mais "afortunados" da classe média, pode-se sentir um esmagamento com o passar do tempo. Uma realidade na qual, por mais que se esforce e se crie e seja otimizado o modo de vida, o custo de vida corrói os ganhos, sobrando cada vez menos para o futuro - e nada para ajudar o próximo. A automação não encarece, mas barateia (a médio e longo prazo). Logo, pode-se perguntar: o que está ocorrendo de fato? No caso do Brasil, ignorar uma simples realidade [5] pode dizer muito a respeito do porque nossa indignação ter pouco efeito. Ela está calcada na superfície. Ignora que fenômenos como corrupção são sistêmicos e partem do ser e da lógica, pensamento, que inunda o planeta. 

A lógica hodierna centra a finalidade da vida no lucro. Diz-se que este irá trazer conforto. E assim, em todas decisões, ponderamos quais serão nossos ganhos e perdas, optando pelo melhor. Mas é justamente aí, em cada decisão, que perdemos a noção do que é realmente certo e errado. Porque operamos num horizonte cego, de ganhos e perdas imediatos, deixando sempre para o lado a construção do porvir. Não o porvir externo, mas o interno. Tão desprezado pelo homem. Tão ansiado pela alma. E o consumo desenfreado começa a ser visto como uma doença - abandonando sinal de status e progresso. Minimizar o consumo, se atendo ao que realmente é essencial, começa a ser tratado como questão séria [6] por pessoas que já perceberam que o acumulo de objetos obstrui canais de conexão com aspectos importantes da vida.

DICS: Dados, Informação, Conhecimento, Sabedoria.
Um plano domina o outro (de baixo) e é guiado pelo
subsequente (de cima).
Estar apegado a itens supérfluos consome tempo, desvia energias, traz preocupações desnecessárias com segurança, aguça o sentimento de que alguém quer algo seu, entre outras enfermidades psicológicas. Talvez aí esteja o primeiro passo para superar a realidade. E a desintoxicação inclui  se desprender de jornais, revistas, redes sociais, televisão, checar emails regularmente, entre outras coisas. Passa-se criar um "espaço vazio" que traz consigo a sensação de limpeza. Ele poderá ser preenchido com atividades úteis, ou mesmo reflexão. A ideia é não crer que se está perdendo, e sim se livrando. A informação se tornou uma faca de dois gumes. A mídia que chega fácil aos nossos olhos, ouvidos e mentes é de superfície, cobrindo eventos e nada mais. Ela não adentra no terreno do comportamento - muito menos na questão da estrutura. Isso deixa as pessoas em constante estado de consternação diante dos acontecimentos da vida. O modo como tudo é apresentado (e sempre repetido) dá uma sensação de impotência diante das forças que controlam o mundo. Nos tornamos meros espectadores. Inconscientes sobretudo...

Esse progredir da personalidade envolve o desprendimento de tudo desnecessário. Bens, serviços, informação e falatório. E evitar repetições. O desenvolvimento do ser é dinâmico, ardente, impulsionado. Morre-se para renascer. Conceitos são superados por outros mais vastos, que dão maior sensação de liberdade. Vivências capazes de suportar mais restrições e enfrentar mais reveses de forma elegante. É um metamorfosear-se, deixando tudo para trás, sabendo-se que no fundo nada foi abandonado, mas adquirido. Fluem quantidades, cresce qualidade.

Nossa humanidade possui conhecimento mas carece de sabedoria. Conhecimento é da mente, do intelecto, da razão. Sabedoria é do sentimento, da intuição, da síntese. Mesmo fora do superconsciente, somos guiados pela consciência universal. E assim será até descobrirmos em nós essa nova inteligência, capaz de ir além do pensamento comum, de ponderação e argumentação. Já desenvolvi alhures as limitações desse tipo de lógica [7].

A vida canta um canto silencioso e eu percebo que estamos muito longe das soluções. Progredir além implica em deixar para trás o terreno da solidez ao qual nos aferramos tanto. Implica em novos inícios e não repetidos continuísmos. Implica em compromissos com seu íntimo - e nada mais. Implica em estar disposto a ir até o fundo em suas buscas. Sermos verdadeiros cientistas, plenos de fé. E verdadeiros religiosos, munidos de ciência. Porque a unificação, no íntimo, fala mais alto e liberta. Um conceito universal, arrebatador, que impressione e inspire.

Rumo à Verdade.

Referências
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/01/11-12-14-17.html
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html
[4] http://slideplayer.com.br/slide/1265505/
[5] https://www.cartacapital.com.br/sociedade/combatida-no-exterior-corrupcao-privada-nao-e-crime-no-brasil
[6] http://outraspalavras.net/destaques/adeus-ao-consumismo/
[7] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/10/racionalismo-em-cheque.html









segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Massa Crítica

Massa crítica de um material fissionável é a quantidade necessária para manter uma reação nuclear em cadeia autossustentada. Essa massa (crítica) depende das propriedades nucleares (do núcleo) e físicas (elétrons), sua forma e pureza. Mas não é sobre física nuclear que quero falar - pois pouco sei a respeito.

Os conceitos do mundo físico se aplicam aos do mundo bio-físico e psico-bio-físico. Mas dos fundamentos às ramificações específicas da vida das plantas, dos animais e dos seres humanos, com suas sociedades organizadas (?), deve-se perceber os fenômenos de forma diversa. À medida que nos elevamos da esfera material, realizando ensaios para vencer as leis determinísticas do universo físico, começamos a fazer uso do psiquismo inerente à vida, e com isso a matéria inorgânica se transforma em orgânica (fotossíntese das plantas); os seres sentem e se locomovem para satisfazer instintos fundamentais (animais); e o homem criar ferramentas exosomáticas, criando a tecno-economia - indo além do mundo biológico dos animais, cujas ferramentas são seus próprios corpos, ou seja, endossomáticas.

O mais curioso no fenômeno "homem" reside justamente nessa característica de criar ferramentas, máquinas, processos automáticos, teoria científica, sistemas políticos, econômicos e tecnológicos e - ainda mais! - sistemas de crenças, de valores, conceitos filosóficos e éticos. Mas isso é apenas um aspecto relativo. Um conjunto de criações nessa jornada multimilenar. Um momento na história universal, permeada de mistérios fantásticos. Mistérios que nos deixam encantados nos momentos de busca incessante e sinceridade - e apavorados diante de longas existências de desorientação e puro raciocínio. Mas nada escapa a isso. Logo, deve haver mais, sempre mais, a ser descoberto (pela intuição) e assimilado (pela mente). Eis que invade-nos o senso de vazio perante forças titânicas que dominam nossos destinos, partindo a alma daqueles próximos, inundados de vontade de superar o plano de existência que ainda governa sua mente, seus sentimentos e - especialmente- seu corpo. Nasce daí a consciência: o senso de Espiritualidade, da Intuição, do Amor, da Verdade, da Simultaneidade. Nada é mais arrebatador do que chegar ao cume do desespero e ainda assim negar as alternativas de salvação (alívio de dor) oferecidas pelo mundo. Dispor-se a morrer e sofrer, repetidas vezes, de repetidos modos, pelos motivos mais incompreendidos - que às vezes nem a própria pessoa compreende - é uma provocação ao mundo, sem dúvida. Mas por outro lado, pode ser um grito intenso. Um grito que exprime uma busca infinita num mundo finito...


O livre-arbítrio é o meio a ser usado pela consciência.
Há vários caminhos para superar o plano de vida
atual. Aqueles que superam mais rápido evitam
dores inomináveis. 
Assisti a muitos vídeos interessantes já. Conheço diversas visões. Combino pontos de vista. Estendo conceitos teóricos de um campo, aplicando-o a outros. Mais: estendo-os a um plano superior. Do fisio-químico ao biológico; deste ao psíquico; e daí por diante, a um universo permeado de puro pensamento...Quando isso ocorre o tempo voa ou cessa. Não interessa. Deixa de existir em termos conceptuais. O espírito voa além das barreiras do espaço-tempo. O corpo, que prende a mente, (e esta, que segura o espírito) é menos influenciado pela passagem do tempo. Com isso as preocupações se reduzem - mesmo que momentaneamente. Estamos um pouco mais próximos do S. Levitamos, deixando por um tempo o AS [1]. Este olha abalado, preocupado, sem compreender de fato o que está se passando. Quer puxar a criatura de volta para a faixa da normalidade, considerada tão prudente, tão sensata, tão boa,...Mas eis que a vida vibra e me cutuca, afirmando, à seu modo, que a prudência será o melhor até certo ponto. Que ponto é esse?, podemos nos perguntar. Não se sabe ao certo. A subjetividade começa a ter um peso maior do que a objetividade. O interior começa a deslizar mais. O exterior, a engessar. E voilà! Adentra-se num campo dominado por uma lógica diferente, apenas tratada de forma artística, informal, esporádica, mística pelo ser humano deste mundo. A Ciência, a (nossa) lógica, os métodos formais, não dão um passo em direção a esse novo terreno. Relegam à arte, ao misticisimo, ao amor - e até mesmo ao setor da ciência que denominamos humanidades. 

A ciência cinde-se quando passa-se do mundo bio-físico ao mundo psíquico-social. Não considera mais como escopo, uma vez que entra uma variável chamada "livre-arbítrio", de complexidade tão grande que nem sequer os poderosos métodos lógico-matemáticos podem criar representações adequadas. Estamos diante das limitações do suprassumo da Ciência: a matemática. Ela deixa de ser ferramenta-protagonista para ser ferramenta-auxiliar. E aí a pergunta nos invade: quem seria a nova ferramenta-protagonista? Beira-se um abismo que não conseguimos superar - com a mentalidade presente. Urge a gênese de novos métodos e ferramentas. Mas estes só podem ser concebidos por um novo Ser. 

Que Ser é esse?

Cristo, vértice do conhecimento e do sentimento, pode dar-nos algumas pistas. Sua passagem pela Terra alterou algumas almas como Pedro e João (os apóstolos). Mas outros, igualmente conectados com a essência crística, puderam realizar trabalho tão ou mais potente do que aqueles que viram a essência crística encarnada no personagem humano de Jesus. Isso é potência. Isso é intuição. Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Pietro Ubaldi - dentre outros - tiveram essa capacidade hiper-psíquica e compilaram os ensinamentos, em sua essência. Os modernos, com o mesmo espírito místico, re-compilaram de forma moderna, adaptando os conceitos aos tempos atuais, sem no entanto abandonar o sublime que permeia a escrita. A Grande Síntese revestiu o Sagrado com a couraça da Ciência, gerando uma obra que une Ciência e Espírito, de uma forma que ninguém é capaz de desprezar. Vê-se isso no volume Comentários [2] - compilação de opiniões diversas sobre as obras transcritas por Ubaldi. 

Disse tudo isso para puxar o(a) leitor(a) a um campo em que ele queira ser mais do que isso. Convido-o a atravessar o no campo da pesquisa e da reflexão. E com isso colocar o pé no mundo do sentimento e aplicação dos conceitos. 

De nada servem estes escritos se não foram escritos com sentimento de ascensão desesperador. As palavras são tão mais cadáveres quanto mais exprimem conceitos elevados. O ponto de contato entre Erudição e Sagrado só pode ser um não-campo. Uma captação de conceitos elevados, livres, para fixá-los no terreno do mundo, aprisionando-os na forma, nos vocábulos, nas teorias e métodos. O misticismo é traduzido pobremente, para que o mundo tenha uma ideia do que se trata. Não estamos diante de mera erudição ou distração. O obstáculo que se antepõe entre nossa alma e a tão almejada felicidade perpétua é a incapacidade de nos sintonizarmos com vibrações de alta frequência, que exigem um estado de permanente tensão e controle da mesma. Apenas um grau de consciência capaz de superar o senso de prudência tem chances de conquistar uma nova forma de vida. Isso admitimos do fundo de nossos corações. Mas paramos por aí. Os místicos, os heróis e os gênios que deem o passo crucial. 

A humanidade é um amontoado de seres, como o universo determinístico do átomo. Mas estes possuem qualidades diversas. O ponto é "livre-arbítrio", que é uma liberdade advinda do despertar do espírito na forma de psiquismo. Com ele começamos a superar a dimensão espacial, típica da matéria, nos tornando senhores dela ao invés de simples servos de suas leis. Usamo as leis físicas para cumprir leis mais elevadas, concebidas pela mente, indo além da repetição férrea. Mas essas tentativas, ao mesmo tempo que são liberdade, implicam em responsabilidade e (consequente) perigo. Os métodos da mente - isto é, da ciência, da razão - são lentos, por tentativa e erro. Sistematizações geram métodos, que necessitam de ferramentas, que por sua vez estimulam a mente a usar as teorias já existentes para desenvolver. Somos diversos. O homem atravessa um deserto árido que se expande até atingir uma amplitude que desperta o senso de orientação. Assim, da análise multiplicadora de divergências passa-se à síntese unificadora das mesmas [3].
Interconexão é condição necessária para criar massa
crítica. As quantidades devem ser ordenadas e se
auxiliarem. "O todo é maior que a soma das partes"
A massa crítica, em termos humano-coletivo, é a quantidade de almas mínima necessária para atingir um processo autossustentado. Um processo de transformação. Mas quantidade em si não basta, como no mundo atômico. Entra o fator sistêmico de interconexão. Sem ele não é possível explicar certas coisas, como a lentidão das almas justas e sinceras em imprimir suas ideias e métodos no mundo.

Imaginemos que haja uma quantidade suficiente de pessoas conscientes para fazer força tanto para abalar a estrutura do modelo atual, acelerando seu fim, quanto para criar uma nova estrutura (lógica) que possibilite uma convivência minimamente harmônica na espécie. De nada adianta possuir essa quantidade se as interconexões entre estas (irmanadas pelo espírito) é fraca. Essa fraqueza pode ser justamente devido à configuração do mundo atual. Podemos ter uma afinidade muito grande com uma pessoa que não pertença à nossa classe social ou tenha uma ocupação muito diferente (local, horários, etc). O contato será mínimo. O intercâmbio de ideias também. Criar espaços de convivência que façam brotar essa interação é dever de algumas instituições - e proposta de outras. Mas esse dever é pouco cumprido. Trata-se do espaço público, com liberdade. Se as pessoas conseguirem atingir conexões (relações) intensas, sinceras e duradouras, forma-se o núcleo angelical que permite o progresso. Se essas conexões são difíceis, nada nos impede de apresentar essa ideia sempre que possível, seja em nossas profissões, em nossos blogs, em nossos papos, com nossa família, em nossas pesquisas. Há possibilidades sim. É um caminho árduo, em que vive-se uma vida sem colher nada. Mas a consciência se torna mais leve a cada ano. A sensação de dever cumprido é ímpar. O inútil, por vezes, se mostra útil com o progredir do tempo. Não se sabe se o que se fez adicionou ou não - só se sente bem ou não por fazê-lo, independente do que o mundo vê ou não. Estamos nos antípodas do mundo.

Até hoje o mundo não conheceu um processo revolucionário consciente. Mas esse é o futuro. A força de dizer "não" ao que lhe é apresentado, de todas formas, como certo (para a economia se manter, para as famílias crescerem, para você conquistar "o que deseja") é esmagadora quando é dita com sinceridade e determinação. Já se viu essa potência na vida pública de Cristo, do Santo de Assis, de Gandhi e de inúmeros místicos, gênios e estadistas. O mundo, com sua psicologia, quer um grito de "não" ao sofrimento individual. Mas sua lógica cria sofrimento coletivo, que transborda nas vidas de cada indivíduo como avalanche de infernais infestações de inutilidades. Consumo ilimitado; falatório incessante; prazeres intensos; gozo atrás de gozo. E para quem não consegue, oferece-se ódio a um segmento. Esse circuito, se não for quebrado no interior, jamais será superado. 

Trata-se de atitude firme e permanente. Independentemente de sua posição hierárquica, pouco pode ser feito. Deve-se: (1) conscientizar; (2) adquirir atitude firme; (3) difundir a visão, aberto para críticas e dúvidas; (4) buscar meios de ligação; (5) formar núcleos cada vez mais ousados. A ousadia buscada é inteligente [4], orientada por forte sentimento de possibilidades. Superam-se os limites presentes para reforçar a linha da História com a marca das impossibilidades possíveis.

Escrevo esse ensaio em momento de tempestade interior. As perspectivas são as piores. Não por males individuais, auto-causados. Mas males coletivos da humanidade, que hoje, passando por purificação, deve expiar todas dores acumuladas. Processo sem o qual passa-se para um mundo de regeneração. E a dor será intensa, tanto para as almas demoníacas quanto para as almas angelicais. Não há nada a fazer a não ser suportar o peso da cruz. A humanidade assim deve cumprir seu destino.

Os Santos veem ao mundo mas sofrem. Assim como as almas atrasadas. Porque os males coletivos atingem todos. E enquanto não houver um único inconsciente na face da Terra, ainda haverá justos sofrendo. Não basta você, por si só, viver de forma consciente, se traduzindo em eficiência (no consumo), ponderação (na fala), orientação (nos estudos e pesquisa), discernimento (no trabalho) e diálogo (na família). Os golpes ainda virão - e serão muitos, dilacerantes. 

Vivemos atualmente num mundo no qual as capacidades econômicas produtivas (bens e serviços) são capazes de atender plenamente requisitos humanitários (erradicação da fome, doenças infecto-contagiosas, educação de qualidade universal, moradia, saneamento, aquecimento) elaborados em meados do século passado (ONU). Economistas renomados sem prisão mental ideológica já afirmam que o Brasil tem condições de eliminar a miséria [5]. A questão é a lógica que constrói a circulação de bens e serviços. Ela está orientada para lucro e ilusão, em larga medida. Isso trava os objetivos centrais de uma humanidade em busca de harmonia. É justamente nossa neutralidade face a essas questões que permite a perpetuação de um modelo excludente, que gera crises constantes, que são canalizadas para os mais vulneráveis. Isso só muda com atitude diversa.

Muitos já sabem, em linhas gerais, o caminho. Devemos buscar meios para unir essas visões. Espalhar a ideia já um começo, assim como viver plenamente de acordo com princípios fundamentais - mesmo que isso implique golpes do mundo. Se alguém souber como posso dar um passo a mais, me avise.


Observações e referências

[1] Recomenda-se o estudo aprofundado dos conceitos contido na Obra de Ubaldi.
[2] Trata-se de um volume que reúne opiniões e impressões de especialistas dos diversos ramos do conhecimento humano, desde Albert Einstein e Enrico Fermi, até Monteiro Lobato, Carlos Pastorino, Ernesto Bozzano e outras grandes almas da ciência, da metapsíquica, da religião, da linguística, do governo, da arte e da filosofia.
[3]https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_27.html?m=0
[4] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html
[5] https://www.youtube.com/watch?v=j3z8ApTrxGc







sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O Faraó Monista

Pode-se viver uma vida inteira e jamais chegar a uma visão mais profunda da realidade. Pode-se mesmo viver várias vidas e ainda assim não se atingir uma visão da fenomenologia universal verdadeiramente digna - das necessidades de nossos tempos. A Verdade, para a imensa maioria da humanidade, atinge-se gradativamente, caminhando aos poucos, passo-a-passo, com experiências variadas e repetitivas. É a técnica dos automatismos*. Para alguns, mais à frente, há saltos quânticos que apenas parecem surgir repentinamente devido a não-observação da maturação interior, feita durante longo período de tempo, de forma orientada, a qualquer custo. O que ocorre então? Há o surto de gênios, governantes, místicos que, cada qual a seu modo, transbordam seu ser de uma vivência diversa. Vivência que se prolifera sem necessidade (ou preocupação) de propaganda. 

As maiores verdades, universais, inclusivas, já foram compiladas há muito tempo. Você pode chegar a formular ideias fantásticas, exprimir frases inesquecíveis, praticar atitudes revolucionárias. Mas perceberá que, há muito tempo, essas ideias já foram lançadas - quiçá até de forma mais criativa; que essas frases já foram ditas, reunidas, ordenadas e compiladas em obras Sagradas do mais alto valor metafísico (Bhagavad Gita, Evangelho, Tao Te Ching); e que essas atitudes foram praticadas até suas últimas consequências por seres iluminados, cada qual no seu nível, nos mais diversos campos. A única originalidade - se é que assim podemos denominar - consiste em atualizar esse oceano sagrado à sociedade atual, seja no campo da compilação e vivência individual conceptual (Ubaldi, T. de Chardin,...) ou na atitude política mística (Gandhi, Abbé Pierre,...). Trata-se de trabalho titânico face às impiedosas obrigações que o mundo nos impõe desde o berço. Obrigações em larga medida sem um fundamento. Atos repassados geração à geração, sem o menor questionamento. Internalizados ao sistema de crenças e valores sem muita resistência. E assim vive-se a morte contínua do corpo sem construir a vida eterna do espírito. Mas isso está prestes a mudar, e o momento histórico atual tem oferece todas as condições para uma mudança radical na forma de concebermos a vida.

Akenáton o Faraó monista.
Reinou de 1352 a 1336 a.C.
Cada vez me impressiono menos com as coisas do mundo. Mas não há motivos para preocupação. Trata-se de algo mui diverso de um sintoma depressivo. Ao contrário: o tempo que permaneço sozinho, ou a falta de atenção que me é dada em certas ocasiões, em nada abala o meu impeto interior em levar a cabo as minhas atividades, sejam elas referente à minha pesquisa, ao meu trabalho, aos meus textos, aos meus projetos e à minha vida pessoal. É uma desconexão apenas em superfície - pois na profundidade trata-se de uma conexão forte. 

Percebo que o tempo que tenho livre é utilíssimo. O tédio que assoma (e assombra) aqueles que tem tempo suficiente para se entediar mas não o suficiente para gozar inexiste em meu cotidiano. Antes ele é oportunidade de dar avanços frutíferos em minhas pesquisas pessoais (do espírito e do mundo) e me exercitar, contemplar, assistir filmes, ouvir música e dialogar com amigos e família - um círculo muito pequeno, mas aberto. Essa necessidade de sempre iniciar e manter assunto pelo simples imperativo da conveniência e sociabilidade** é o que reforça o lugar-comum e gera desperdício de tempo e conhecimento. A preocupação com a horizontalidade social é tamanha que nada (ou pouco) de trabalho, em substância, é realizado na verticalidade do sentimento, gerando nada mais do que uma "realidade" em constante ruptura e subsequentes conflitos (internos e externos, intensos e extensos). Dizer isso, mesmo que delicadamente e ponderadamente, deve trazer interpretações distorcidas, gerando rancores num mundo já pleno destes. Por esse motivo aqui é o único espaço para isso - aberto, dificilmente acessível, pois há uma dupla muralha: a da concentração na leitura carregada de terminologia difícil, e da compreensão da realidade espiritual.  Quando se percebe o poder da Realidade (a intangível), a autonomia passa a ser uma postura natural do ser. Isso não necessariamente indica em que ponto ele está, e sim a sua orientação à meta comum - o Absoluto, para se integrar ao Sistema***. 

Há algumas semanas, nesse tempo livre, assisti um filme clássico (1954) intitulado "O Egípcio" [1]. Ao contrário dos épicos Ben-Hur, Os Dez Mandamentos e Lawrence da Arábia, o filme não cativa pelo tipo de produção. A música não se compara; o elenco não é formidável; o roteiro não se desenvolve plenamente. E, até certo ponto, chega-se a criar um desdém pelo filme. Em especial por Sinuhe, protagonista da história, médico, em busca de algo que nem imagina o que é. Essa busca é permeada de desespero, ódio, riqueza, pobreza. Desilusão odiosa que acaba gerando exclusão à força. E depois, quando tem-se um panorama geral e uma visão mística, desprendimento glorioso e exclusão natural - para uma inclusão, em outro campo...no reino de uma consciência iluminada...

Sinue e Akhenaton - transbordar do infinito pelo
canal finito.
Sinuhe, o médico, é personagem fictício - pelo que se sabe. O faraó Aquenáton [2], por outro lado, existiu - apesar de todo esforço da alta cúpula dos sacerdotes em eliminar por completo sua história, legado e essência. Trata-se de um dos personagens mais enigmáticos da História. Duplo vértice de seus tempos: da consciência universal e do poder global. O primeiro ser, pelo que se tem notícia, altamente consciente e com poder no mundo. O faraó monista [3]. Ou, do ponto de vista do mundo: o faraó rebelde [4].

A história de Sinue é apenas contexto para a circulação de uma corrente de pensamento das mais altas esferas. A consciência monista, como a de Cristo, 13 séculos antes da aparição deste. Não se trata de redefinir o "fundador" do cristianismo - mesmo porque Cristo nunca se considerou fundador de nada (gênese de instituições humanas, atrasadas para os verdadeiros místicos), mas "apenas" despertador de consciências. Trata-se de revelar que surgiu neste globo um ser humano advindo das mais altas esferas, como a mais alta autoridade, que foi ganhando consciência à medida que sua vida se desenrolou. Isso influenciou profundamente, por um curto período - no qual foi Faraó - o mundo. Mundo este que, da parte de seus mandantes, se sentiram abalados até a medula - e por isso acabaram por eliminar aquele que jamais poderia sê-lo. Estamos diante de um abismo capaz de destroçar as mentalidades de superfície. Apenas quem deseja atingir uma verdade mais vasta pode embarcar nessa viagem - que é a jornada multimilenar da humanidade rumo à consciência suprema [5].

É pouco explorada o desenvolvimento da personalidade do faraó ao longo de sua vida. Seu personagem aparece pouco. Dessas cenas, pode-se perceber difusamente como evoluiu sua visão da Divindade e do Universo. Mas na cena de sua morte, antes de ceder, profere as palavras mais poderosas jamais ditas num palácio. Palavras breves, mas que dizem muito. Infinitamente mais do que todos outros dizem (e compreendem...). Aí vemos que, no leito de morte, havia atingido a consciência de um Deus não apenas único, mas que é e não é a própria criação, estando além de todo Universo físico (espaço-tempo), englobando-o com o seu simples ato de pensar (espírito).

Ele (Akhenaton) inicia sua vida como monoteísta, adorando um único Deus, que considerava como sendo o Sol (Áton). Visão antropomórfica, mas muito à frente do politeísmo praticado na época, com mais de dois mil deuses, cada qual fonte de domínio de poucos sobre muitas almas, mentes e corpos. Parece que 17 anos de reinado e incompreensão trouxe um despertar imenso a esse homem. Em tal ponto que, ao findar sua breve vida, sua concepção de Deus atinge um vértice que até hoje quem a possui continua sendo considerado progressista. Isso é, para quem compreende do que se trata, algo assombroso.

Toda nossa vida é guiada por um princípio fundamental próprio, subjetivo, que nada mais é do que a nossa capacidade de compreender a Verdade (Absoluta), situada fora de nosso plano - mas que o domina e guia por completo, majestosamente. Esse princípio evolui no tempo universal, "espaço" no qual se dão as experiência bio-psíquicas. Experiências cada vez mais sutis, adequadas à nossa sensibilidade espiritual.



Assistir o filme. Revê-lo. Pesquisar sobre seus personagens. Sentir os ciclos históricos, com seus personagens revolucionários. Elaborar ensaio sobre. Tudo isso é parte de uma jornada longa e sofrida, bela e intensa, que deve se ordenar harmonicamente consigo mesma - para depois se irmanar com outros caminhos, igualmente sedentos daquilo que saciará a sede eternamente. E assim, uns poucos seres, formando uma massa crítica [6] altamente consciente, terá a oportunidade de forjar o destino de toda a espécie, toda a vida, todo o planeta, todas as religiões, filosofias e ciências, orientando-as, formando um ambiente verdadeiramente colaborativo - que atualmente só existe no discurso.

Amém.

Referências

[1] https://www.youtube.com/watch?v=6QGrqYm4GVs
[2] http://www.bbc.com/portuguese/geral-40602931
[3] https://en.wikipedia.org/wiki/Akhenaten
[4] https://www.youtube.com/watch?v=hPlHwTXi7tk
[5] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[6] Referência a futuro ensaio.

Observações
* Modo de se construir os instintos (subconsciente), desde o nível biológico até o puro psiquismo.
** Já diferenciei "sociabilidade" e "sensibilidade social" em outro ensaio, revelando que ambos são, geralmente (não totalmente), inversamente proporcionais. Link: http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/02/sensibilidade-social-versus.html
*** Para mais detalhes deve-se estudar as obras fundamentais de Ubaldi, em particular, A Grande Sìntese, O Sistema, Queda e Salvação, Deus e Universo. 

sábado, 11 de novembro de 2017

Silêncio e Solidão

O mundo moderno está imerso num oceano de sons que não se harmonizam. Ao invés de uma sociedade unitária polifônica, um amontoado de sons que se interferem reciprocamente, gerando um caos multivariado em sua forma. Decorre daí um desperdício de tempo e recursos que torna a vida desgastante, extraindo até o último centil de energia - até daqueles que buscam harmonização. Vive-se o cotidiano de choques, permeado de inúmeros problemas que poderiam ser resolvidos bastasse todos adotassem os mesmos princípios fundamentais, fincados no íntimo de cada alma. 

Das premissas estabelecidas poder-se-à seguir o curso, construindo, desmontando e reconstruindo nossos sistemas - de valores, culturais, econômicos, políticos, tecnológicos,... - de acordo com os anseios da alma humana. Estabelecer-se-ia a harmonia entre os anseios espirituais do universo interior com as necessidades materiais (reais) do mundo exterior. As barreiras causadas pela ilusão tendem a se tornar mais transparentes. A opacidade da ignorância derrete com o calor da consciência. E com isso a luz se torna mais visível, atingindo mais almas com maior intensidade. Como ativar essa geração de calor?

Aqueles que mais refletem menos falam. Quando falam, muito dizem
Aqueles que menos refletem mais falam. Quando falam, pouco ou nada dizem.

Refletir não é pensar analiticamente - apesar de ambos poderem se relacionar. Trata-se de sintonia entre sentimento e pensamento. É um não-pensar, superando a barreira do puro pensamento humano, analítico, para adentrar no pleno pensamento total, sintético. Esse é o destino que a evolução nos reserva. Glorioso destino. Mais cedo para alguns, mais tarde para outros. O processo depende da vontade de cada um. Sua determinação (libertação de vícios desgastantes); sua compreensão da realidade (abordagens variadas); sua capacidade de atuar considerando o longo prazo (paciência e construção); sua disposição a evoluir (aprofundar conceitos). Todo esse trabalho é um não-trabalho do ponto de vista terreno. Uma perda de tempo. Para muitos, entrar num estado de sintonia com algo mais profundo se traduz em doença, loucura, raiva, rancor. Faz-se de tudo para atrair o elemento para perto. Torná-lo mais "participativo". Deseja-se não apenas ouvir, mas ouvir o que lhe agrade, no momento "certo". Estamos diante da psicologia no Anti-Sistema, da qual todos devemos fazer um esforço titânico para superar. Nada é mais árduo do que essa superação. Os atordoantes processos intelectivos da ciência, da técnica, dos sistemas humanos, nada mais são do que aspectos de superfície comparados aos fenômenos da natureza humana, ainda pouquíssimo abordados pelas instituições. 

Alegoria da experiência pela qual o autor passou. O cenário é
ilusório, imposto pelo mundo. Superá-lo implica em antes
sentir as forças do imponderável agindo. Consciência tranquila
é fundamental.
A constatação deve ser contínua, assim como a retenção das experiências substanciais. Assim é possível traçar com exatidão a sua verdadeira trajetória - e descobrir o verdadeiro significado de cada vida que cruzou com a sua, cada evento que lhe golpeou, cada sentimento despertado. Tudo neste mundo começa a parecer menos importante por estar mergulhado numa ordem divina, que martela continuamente nas almas sensíveis. Mas não se abandona o mundo. Vive-se nele, mas de outra forma. Forma estranha, forma sem sentido...

significa fidelizar, no sentido de entrar em sintonia. Com uma fonte, que emite antes do advento do espaço-tempo, e após a extinção deste. Uma fonte situada em outro plano, além do espaço e do tempo, no campo do super-concebível para a imensa maioria. Criar um ambiente para receber inspiração implica em silenciar sua boca e mente, mergulhando em regiões desconhecidas. A solidão vem junto, como parceira inseparável. Pois quem é silencioso afasta os sedentos por barulho, por fofocas, por piadas, pelo burburinho, pelos processos sistemáticos. A simples atitude gera o ambiente. 

Pessoas que encontram força e inspiração no silêncio e solidão já compreenderam a finalidade da sua existência. A sua consciência já é monista, buscando além das palavras - penetra-se nos conceitos contidos em cada vocábulo, cada frase, cada vida, cada teoria, cada som, gesto, toque. A forma dá lugar à substância. 

No início da Grande Síntese, no capítulo I (Ciência e Razão), a Sua Voz deixa claro:

"Ouvi-me, pois. A razão por vós utilizada é um instrumento que possuís para prover o essencial, as necessidades mais externas da vida: conservação do indivíduo e da espécie. Quando lançais este instrumento no grande mar do conhecimento, ele se perde, porque, neste campo, os sentidos (que muito servem para vossas necessidades imediatas) somente esfloram a superfície das coisas, e sua incapacidade absoluta de penetrar a essência vós a sentis. A observação e a experiência, de fato, deram-vos apenas resultados exteriores de índole prática, mas a realidade profunda vos escapa, porque o uso dos sentidos como instrumento de pesquisa, embora ajudado por meios adequados, vos fará permanecer sempre na superfície, fechando-vos o caminho do progresso."
(grifos meus)

Continuando, no capítulo II (Intuição), revela-se gradativamente o que ela quer dizer com "a realidade profunda vos escapa":

"Deixareis de lado, para uso da vida prática, vossa psique exterior e de superfície, a razão, pois só com a psique interior, que está na profundeza de vosso ser, podereis compreender a realidade mais verdadeira, que se encontra na profundeza das coisas. Esta é a única estrada que conduz ao conhecimento do Absoluto. Só entre semelhantes é possível a comunicação; para compreender o mistério que existe nas coisas, deveis saber descer no mistério que está em vós."
(grifos meus)

E no capítulo VI (Monismo), após o trabalho anterior, Sua Voz vai pontualmente ao significado da obra que se inicia - um verdadeiro tratado da fenomenologia universal:

"Farei desse mundo, que pode parecer caótico a vossas mentes, um organismo completo e perfeito. A complexidade que vos desanima será reconduzida e reduzida a um conceito central único e simples, a uma lei única, que dirige tudo.

A isto podeis chamar de monismo. Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou uma palavra. E o conceito é este: como do politeísmo passastes ao monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antropomórfico, pois realiza uma criação fora de si), agora passais ao monismo, isto é, ao conceito de um Deus que é a criação. Lede mais, antes de julgar. Farei que lampeje em vossas mentes um Deus ainda maior que tudo o que pudestes conceber. Do politeísmo ao monoteísmo e ao monismo, dilata-se vossa concepção de Divindade. Este tratado, pois, é o hino de Sua glória."
(grifos meus)

A alma é capturada pelas palavras, transbordantes de significado (para os que buscam conscientemente) e mistério (para os que buscam inconscientemente). Ainda são poucos estes. Muitos, se percorressem as páginas, veriam apenas palavras bem colocadas - ou incompreensíveis. São os céticos, negadores ou (pior) zombadores, dos quais o nosso mundo está repleto. Não falo isso para menosprezar, ofender ou me elevar. Apenas constato que a assimilação desses conceitos podem trazer a revolução mais efetiva e portanto sustentável na humanidade. Em todos os níveis e esferas. A vida assim me demonstrou, através de experiência concreta, impossível de negar. Diante do desconhecido que lhe salva só resta à alma gratidão e profundo senso de dever perante a lei única que rege tudo e todos.

É mister ser sincero, mesmo que isto implique em adotar palavras fortes e desagradar muitos. Não se busca flores e reconhecimentos - tão comuns nas instituições, de todos tipos. O ímpeto é um só: se aproximar gradativamente do Absoluto (atração). E com isso transmitir uma experiência profunda para aqueles já dispostos (dever). Deve-se buscar experiências com qualidade cada vez maior. Por isso esse blog, para quem o acompanha, só deve servir até o ponto em que a pessoa seja capaz de continuar seguindo por conta própria - chegando às grandes almas, com suas grandes obras.

Nada é mais libertador do que a sensação de paz por ter sintonizado a sua vontade com a vontade divina. Todas as forças negativas do mundo irão se afastar gradativamente. E as forças da vida, que visam a evolução, sempre irão garantir o melhor para sua jornada. Jornada de silêncio e solidão, que é cada vez mais intensa interiormente e pacífica exteriormente. 

sábado, 4 de novembro de 2017

A Questão Econômico-Social parte da Consciência - e não da mente

Por mais interessante que pareça para os entusiastas bem intencionados, existem muitas armadilhas em certos tipos de ideias. Armadilhas que podem não se revelar no aspecto central da ideia, mas que, devido à sua solução superficial, não é capaz de solucionar problemas fundamentais humanos. 

Nos últimos meses li alguns artigos sobre o conceito de Renda Básica Universal (RBU). Me pareceu bem interessante. Primeiro porque, de fato, ao que tudo indica, é um programa viável*. E é realmente bem-intencionado: livrar as pessoas de ocupações desagradáveis, insalubres, que não adicionam nada de substancial à cultura, à ciência, ao meio ambiente, à consciência. E por vezes nem são economicamente interessantes. 

Quantas pessoas, nesse exato momento, estão em milhares e milhares de lojas de artigos de luxo ou bugigangas, cumprindo uma função, à espera do fim do dia para poder fazer o que lhes apetece? Estão lá porque necessitam de uma ocupação. As causas podem variar, mas destaco as principais: 

(a) necessidade de pagar contas / sustentar família; 
(b) adquirir experiência para galgar algo melhor futuramente; 
(c) foi lhes imposto que deve-se aceitar qualquer coisa, o mais cedo possível - pois outra oportunidade pode não vir e o futuro tende a ser pior. 

As três se relacionam e podem gerar outros motivos. Mas o ponto central é saber se os empregos disponíveis gerados pelo sistema atual, centrado numa lógica econômica férrea, que se calca numa natureza humana supostamente inalterável (apenas controlável), estão de fato auxiliando a nossa espécie a se tornar melhor em todos aspectos. Eu diria que sim, se muitos fizessem uso da dor impingida diariamente pelas incompreensões e humilhações - de todos tipos - para gerar novas concepções, elaborar ideias, aumentar a confiança em seus discursos e buscar construir sínteses  mentais poderosas, passando a orientar melhor a própria vida. No entanto, pouquíssimos ainda o fazem. Estamos diante de proporções que beiram o milésimo na melhor das hipóteses. Os exemplos realmente formidáveis estão no grupo do milionésimo. Dessa forma, o progresso ainda é lento.

Por outro lado temos aqueles com poder. Estes, com suas emissoras de TV e rádio; com seus jornais e revistas; com seu dinheiro e terras; com suas empresas e bancos, poderiam, caso se associassem em comum acordo, conduzir o mundo para caminhos mais honestos, menos procrastinadores - e consequentemente com menos conflitos psicológicos, econômicos e bélicos. Mas isso não ocorre. O que vemos é: aqueles que detêm o poder se corrompem pelo mesmo, passando a ser servos da matéria. Alguns em níveis baixos (reality shows de celebridades, por exemplo). Outros em níveis mais sofisticados (criação de empresas para suprir buracos no mercado, como planos de saúde, por exemplo). No entanto, tanto um quanto o outro são ocupações que se aproveitam do estado calamitoso da espécie, imersa no torvelinho das sensações superficiais e ocupações repetitivas. 

Àquele que mais possui mais será cobrado. Quem teve estudo, cursou excelentes universidades, teve tempo livre para se capacitar e fazer o que gosta, possui uma estrutura familiar sólida, saúde (e acesso a ela!), entre outros privilégios**, tem a obrigação de construir um organismo supra-nacional capaz de conduzir não apenas a nação, mas toda a humanidade, ao lado de todas formas de vida, e todo ambiente terrestre, a um estado de consciência e harmonia mais elevado. Se isso não é feito, a culpa recai sobre quem mais teve. Os que menos possuem tem culpa, pois em qualquer posição é ´possível fazer algo de positivo. No entanto, os maiores culpados são aqueles que não o fazem tendo todas condições.

Por que isso ocorre? 

Os instintos são muito fortes. O ser humano, com o despertar da razão, se elevou acima do animal no nível psíquico - mas permaneceu exatamente igual no nível biofísico. Este sempre puxa a mente para torná-la nada mais do que um acessório cuja função é servir da melhor forma. Servir a natureza inferior, mas jamais transformá-la através da superação. Esse é o grande dilema. E quanto mais se tem (corpo belo, saúde, "amigos", acesso a bens e serviços, empregos bem remunerados, parceiros belos,...) e se ouve apenas o que se deseja, mais forte é o campo magnético que arrasta a alma para o inferno do relativo, segregando e repetindo verdades relativas de forma cada vez mais intensa, mais violenta. Eis porque tornar-se rico, belo e inteligente é o maior dos desafios - e quase sempre, o pior castigo. Não e usa a matéria para elevar o espírito. Se reproduz a matéria e usa-se o espírito a seu favor, puxando-o para baixo. Degradação é o processo. Dor é o destino. Até quando, não se sabe...

Voltando à RBU. Decidi escrever sobre ela porque li um artigo [1] que coloca justamente a questão: seria ela, de fato, a solução? E aí é preciso tomar muito cuidado.

Quando me ponho em posição cética diante de questões desse tipo, não o faço porque quero manter o estado das coisas. É óbvio que libertar o ser humano de ocupações destituídas de sentidos - que inclusive degradam a pessoa no consumo conspícuo e destroem o ambiente - é ótimo. Nisso a RBU tem meu apoio. Mas pergunta-se: será que isso iria resolver o problema da desigualdade (de oportunidades, de renda, de acesso a bens fundamentais, à cultura, etc)? Será que isso acabaria com os monopólios das mega-corporações? Será que isso reorientaria as pessoas, tornando-as partícipes de um movimento muito maior, para construírem a si mesmas, fazendo-as superarem certos instintos? No artigo supracitado o autor desenvolve esses temas, mostrando que o buraco deve ser mais no fundo. E aí me convenço cada vez mais que ler e estudar coisas do mundo, - por mais sofisticadas que sejam - vindo de fontes de estudiosos bem-intencionados, pode ser uma armadilha de forças invisíveis para continuar reproduzindo a lógica de exploração - de outra forma.

Eu já achava estranho quando Scott Santens, grande entusiasta e estudioso da implementação da RBU, atestava que "o rico não ficaria menos rico" e "todos teriam um mínimo de renda". E percebi, pelos gráficos e números apresentados, que a diferença continuaria. O princípio novamente pode ser bom: não-agressão a um conceito fortemente arraigado no subconsciente da imensa maioria - jamais impedir que alguém possa ficar rico atuando pelas regras "legais" vigentes. Mas às vezes é necessário admitir que, sem uma redistribuição dos recursos, a pobreza é absoluta. 

A diferença entre quem tem e quem pouco tem (e não tem) está apenas no tipo de miséria: os pobres se digladiam para subirem e praticarem o que a classe média possui. Esta se sufoca para reproduzir patrimônio e se reafirmar. E os ricos planejam como farão para manter o domínio. Mas todos são miseráveis. Quem tem tem pavor de perder. Quem não tem quer ansiosamente ter, para se apavorar em sustentar aquilo. Há casos em que a miséria interior é tão grande diante das maiores satisfações exteriores, que ocorre uma ruptura, e gera-se novos conceitos de vida. Assim nascem os santos, os místicos e os gênios. 

"Having a collective conversation about basic income without talking about income inequality is dangerous. If you want to talk about social injustice, you must eradicate income inequality that threatens capitalism, democracy and human rights themselves." [1]

A RBU não é mais geral do que a democracia e direitos humanos. Ela é, por excelência, algo do domínio econômico. Justamente por isso não tem a potência de transformar a humanidade efetivamente. Ela poderá ser uma consequência de um despertar interior, que levará a uma reforma nas ciências humanas aplicadas (política e sociedade, psicologia profunda), que por sua vez irá elaborar uma ferramenta do tipo. Mas ela como item fundamental, acionador de outras virtudes, não é possível.

Apenas das concepções metafísicas pode brotar uma existência física agradável - ou não. É nesse campo que devemos atuar. É questão de orientação.

O gráfico abaixo [1] revela que a porcentagem da renda nacional indo para o 1% mais rico aumentou em todos países pesquisados. Nesse ponto é de se perguntar como uma distribuição iria auxiliar a desmontar relações de poder que são extremamente violentas - especialmente no campo psicológico e econômico.

"Would a $1,000 make much of a difference to our spirit and sense of empowerment? Or is receiving a UBI like accepting an NDA to remove ourselves from all serious discussion of social inequality in the future?" [1]

A implementação da RBU pode "aliviar" as pessoas de continuarem debates, questionamentos e estudo em torno na desigualdade (de todos os tipos). Isso é passado como algo bom por muitos. Se sabem ou não da questão fundamental, não sei. Mas é bom começarmos a ir mais à fundo nas ideias para não corrermos o risco de cair em - mais uma - armadilha de nossa mente. 

Parafraseando Rohden, 

"Deseja-se um novo início - não um velho continuísmo."

E o autor continua:

"We know that millions of jobs will be lost due to automation, but we don’t know what the solution is. We aren’t just not preparing for a world governed by Artificial Intelligence, we are creating the economic systems that might imprison us further, under the guise of social justice."

Entre outras questões, eu poderia perguntar:
  • Como ficaria a questão da saúde? Eu não seria capaz de pagar um convênio de qualquer forma. Logo, não se toca em pontos nevrálgicos;
  • Aqueles que ganham relativamente bem e/ou precisam sustentar família não teriam tanta liberdade a mais com a RBU, e considerarmos que para empregos "melhores" ela representa uma fração dos ganhos (10~15%);
  • A questão ambiental seria melhorada? A poluição atmosférica, os carros ineficientes, a alimentação industrializada e pesada, o consumo excessivo de energia, a extinção de espécies de grande importância para nossa alimentação (ex: abelhas)...como ficariam? A RBU toca nesses pontos?;
  • As pessoas buscariam cultura - ou apenas entretenimento?
Dessa forma busco me redefinir e voltar solidamente ao terreno dos grandes conceitos, situados no imponderável, muito mais capazes de gerar uma ideia nova.

Continuo mais mergulhado na Grande Sìntese, na Gita e conceitos de Ubaldi, e Rohden, cuja abordagem nos indica o caminho que levará à transformação.


Observações:
* Já existem projetos piloto aplicados em várias localidades do mundo. A Finlândia iniciou um programa do tipo com um número de pessoas; a Nigéria teve uma experiência bem-sucedida; o Alasca possui uma estrutura do tipo; e vários programas governamentais aplicaram parcialmente esse princípio com muito sucesso em erradicar a pobreza extrema - como o Bolsa Família. 
** estes deveriam ser direitos humanos fundamentais, conforme declarado pela própria ONU há mais de 6 décadas.

Referências
[1]https://medium.com/@Michael_Spencer/is-universal-basic-income-really-a-solution-c0d6d95f100e