segunda-feira, 30 de julho de 2018

Miracolo non ci aspetta - si crea

Por muitos séculos estamos interpretando erroneamente os acontecimentos mais profundos narrados nas escrituras sagradas. Lemos as narrativas sobre algo miraculoso feito de forma simples, sem esforço algum, por parte de um ser de natureza (considerada) distinta, e a partir daí uma parte da humanidade se apropria do feito histórico e cria uma religião: o cristianismo. O mesmo se dá com todas as outras religiões. 

O processo de apropriação é uma característica enraizada no subconsciente humano. Seja seita, grupo, partido, igreja, doutrina, corrente filosófica ou ramo científico, bebe-se sempre de alguma fonte - em algum momento - para incrementar a força de seu grupo. Apenas usa-se o fato histórico. Não há preocupação em compreendê-lo e perceber qual é o seu 'mecanismo' de funcionamento. Quais são as engrenagens interiores a serem acionadas para que se execute tal feito por mim? Para acioná-las, que tipo de sensibilização psíquico-nervosa devo eu adquirir? Como me sensibilizar: Lendo? Estudando? Vivendo? Experimentando? Essas questões passam longe do imaginário humano, e como resultado cria-se uma barreira entre um acontecimento miraculoso (sobrenatural) e as possibilidades de cada ser humano diante de seu cotidiano miserável - em todos aspectos.

A miséria é uma palavra muito ampla, que requer esclarecimentos. 
Partindo do (dicionário) Michaelis 

miséria
mi·sé·ri·a

sf
1 Porção diminuta de qualquer coisa; bagatela, insignificância.
2 Estado de pobreza extrema ou de total falta de recursos; desgraça, indigência, penúria, piranguice, tormento.
3 Situação que inspira compaixão ou piedade; lástima.
4 Economia sórdida; avareza, mesquinhez, sovinice.
5 Característica do que é moralmente indigno ou vil; infâmia, torpeza.
6 Imperfeição inerente à natureza humana; defeito, fragilidade.
7 Qualquer coisa de qualidade ruim; porcaria.

Porção diminuta é pouca quantidade. Pouca quantidade pode se referir a carência de generosidade, resiliência, paciência, capacidade de reflexão, etc. Logo, trata-se também de miséria de qualidades, muito mais digna de piedade do que a miséria quantitativa (falta de recursos, ausência de títulos, família pequena, pouca saúde, etc). 

Se libertar interiormente faz do reprodutor
um criador. Erguem-se novas possibilidades.
Caminhos novos que levarão a formas de vida
diversas, mais plenas e potentes.
Inimagináveis para muitos ainda.
Estar preso a rituais e rotinas que exigem uma grande quantidade de tempo, energia e recursos é uma miséria das mais grandes. Quando se conscientiza disso percebe-se que na humanidade dificilmente encontrar-se-à uma criatura sem miséria em sua vida. Trata-se de um conjunto de fragilidades que em seu exercício cotidiano geram uma sensação confortável e de inclusão social, mas que ao longo da vida evidencia uma existência destituída de significado, sem construção de valores. Isso se torna claro nos momentos mais difíceis, como a morte própria, de parentes ou amigos, a velhice, a perda de uma amizade, uma separação e outros males existenciais. É nesse momento, quando o choque vem de todos os lados, com todas as forças, que sentimos inconscientemente a 'verdadeira força', isto é, a fraqueza de nossa personalidade perante as questões mais críticas - e naturais - da vida. O que fazemos? Ignoramos enquanto podemos.

Eu nunca compreendi questões do sobrenatural muito bem. Lia um pouco sobre elas mas não via sentido em seguir grupos que se apoiavam nelas - entre outras coisas - para formar seu conceito de mundo e propagar sua visão relativa do mundo. Para mim não era possível seguir sem plena convicção grupos. Absorver ideias apenas se meu íntimo as confirmasse por algum meio. E assim passei meus primeiros 25 anos de vida. 

Estudei, me formei. Muito cinema. Poucos amigos - porém, todos(as) pessoas de valor, sem espírito de julgamento. Leituras apenas que me diziam algo. Era um adolescente muito parado. Lento para alguns. Poucas coisas me interessavam, o que levou alguns a pensarem que se tratava de um jovem medíocre, sem ideias, com pouco ânimo. De fato, meu ânimo para o que excitava o mundo era menor. O consumo incessante pouco me dizia. O barulho me incomodava. Sacrificar meu tempo, meus recursos, meus princípios para obter em troca coisas cujo prazo de validade era pequeno não me parecia um bom negócio. Num mundo de sociabilidade eu estava descobrindo a sensibilidade social. Num mundo de praticidade concreta eu, antes de usá-la, estava em busca da teorização abstrata que orientasse todas as habilidades de mundo que eu vinha adquirindo a uma velocidade crescente, com picos de conquistas mais intensos. 

Foram anos de tentativas de buscar um consenso - um acordo com o "centrão" da humanidade - para não entrar em choque com o grosso da humanidade. Mas sempre me via em minoria. Até mesmo em grupos restritos, de pessoas diferentes (digamos a parcela do décimo), percebia à medida que me expandia, desenvolvendo minhas visões de mundo. E através de meus hábitos, começava a me destacar. Se para o melhor ou pior, não sei dizer. A questão era esse descolamento.

A miséria está no consumo insano, na indiferença afetiva,
na inércia mental, na falta de humildade em admitir que
somos apenas ferramentas humanas que podem
executar obras formidáveis. 
Me é desagradável falar de mim, mas o objetivo não é centrar na minha pessoa, e sim destacar o processo que me levou - ou melhor, está me levando - a construir minha verdadeira personalidade. Uma personalidade mais profunda, mais plena, capaz de se manifestar de forma mais eficaz e se calar sem se incomodar - por saber seu lugar e seu momento neste mundo. Uma personalidade dinâmica, capaz de se destruir e reconstruir a cada grande passo, se lançando a empreitadas fora do comum. Apenas vivendo conscientemente, constatando e assimilando, é possível ter matéria-prima para forjar novas possibilidades e afirmar o que o mundo nega - por falta de crença. 

O milagre é algo incomum. É um acontecimento admirável (mirare), espantoso que não se espera, ou seja, fora do conjunto do natural, do cotidiano. É uma pequena exceção inserida em meio ao reino das regras consolidadas. É algo que não se explica através das leis da natureza - conhecidas. 

milagre
mi·la·gre
sm
1 Fato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis da natureza.
2 Acontecimento admirável e espantoso.
3 Fato que causa grande admiração e surpresa.
4 REL Qualquer manifestação ou intervenção da presença divina na vida humana.
5 Sinal dessa manifestação, que se caracteriza por uma alteração repentina, insólita e fora do comum das leis naturais.
6 Figura em madeira ou cera, oferecida aos santos, em cumprimento de uma promessa; ex-voto.
7 HISTTEAT Espécie de drama na Idade Média, encenado para contar e louvar a vida de um santo.
A intervenção da presença divina na vida humana se dá a todo momento. A questão é que apenas considera-se divino aquela manifestação que impressiona os nossos sentidos. Se o raio vertical divino toca o âmago do mundo e o abala de forma imprevisível, admite-se o miraculoso. Caso contrário, não se considera que haja contato divindade-humanidade.

Mas meu íntimo me afirma: "Deus é tudo e tudo é Deus. Mas Deus é mais do que tudo." Se ele é tudo e além, estamos conceitualmente inseridos em seu seio. Logo, sua atuação é permanente, a cada momento. Dessa forma pode-se considerar que tudo é um milagre. A vida é um milagre! A planta crescer; o bebê sorrir; as pessoas se manifestarem; o gênio criar sua peça, sua sinfonia, sua teoria; o santo criar um novo conceito de vida; o filósofo lançar uma corrente de pensamento revolucionária; o inesperado das relações se dar; a gênese de sistemas políticos, econômicos, tecnológicos...Tudo é obra do divino manifestada através de canais - sejam eles humanos ou infra-humanos. 

As leis se tornam naturais à medida que compreendemos seus mecanismos. Antes eram sobrenaturais. Quando compreendemos podemos usá-las a nosso favor, de forma utilitária - pelo menos no curto prazo. Logo, o conceito de natural é dinâmico e se fortalece à medida que a evolução se dá. O psiquismo humano começa a fazer aproximações não apenas conceituais mas de vivência nessas questões. Isso é fantástico e evidencia um princípio evolutivo dentro de cada ser. 

O milagre não está em tudo. Ele é tudo. A diferença é que
alguns deles já foram assimilados pelo humano como natural -
e paradoxalmente deixamos de nos encantar pelas maravilhas
da vida. Vida em busca de evolução. Evolução para retornar
ao seio de Deus.
A vida humana se torna cada vez mais incerta e sem grandes aspirações. A alienação aumenta e com isso a violência e intolerância. Ao lidar com questões simples deixamos de perceber o aspecto essencial de cada relativo humano. Com isso nos perdemos num mar de análises e conjecturas. Criamos métodos e sistemas sem se ater à sua sustentação. Seguimos correntes de pensamento e repetimos-as, por estarem mais adequadas ao nosso contexto, história e personalidade. E quando tudo dá errado, alguns esperam por milagres. Outros esquecem e desistem. Mas todos permanecem no mesmo patamar, combatendo os males de nosso plano com métodos de mesmo nível. Eu creio que seja preciso erguer uma vertical em direção a outro plano. 

Se esperarmos por milagres não teremos nada exceto uma fila de espera recheada de bolinhos e distrações na sala de espera. Esperamos incessantemente. "Quando isso se der, aí vai ocorrer.". "Quando a conjuntura for favorável, eu me aliarei." "Quando ele ceder X, eu concedo Y." e aí por diante. Fazemos isso até perante os menores problemas, nos recusando a dar um salto de fé em regiões desconhecidas. Esse salto demanda uma dose de estofo espiritual fora do comum. Pouquíssimos dão esse salto. E se dão precisam de um pequeno empurrãozinho para efetivá-lo. 

Apenas um homem deu o salto de forma consciente, por si só, neste mundo, desde a mais tenra infância. Esse homem é conhecido como Jesus, o Cristo.

Outros deram por conta, mas precisaram de décadas para se conscientizarem. Esses são o Príncipe Siddharta, o Buda, Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Pio de Pietrelcina, Blaise Pascal, Mahatma Ghandi Pietro Ubaldi, Eduardo Marinho, entre outros. As vidas são variadas. Diferentes épocas, profissões e missões. Mas uma única meta: edificação do ser.

Eu nunca cri em milagres porque para mim tudo é natural. Se não o é, por que ocorre? Assim me coloquei diante de um dilema. Não sabia me posicionar perante a questão. A mim interessava apenas resolver o meu problema: estar em paz comigo mesmo e desenvolver coisas (habilidades) que se encontravam latentes. 

A esperança não cria nada exceto uma sensação de conforto presente que se arrasta pela linha do tempo. Ela é um medicamento bom para casos de desânimo profundo, mas em doses diárias que se tornam parte da dieta pode significar o engessamento da personalidade - que culmina na eliminação das possibilidades coletivas. Isso é um horror quando se vê seu real significado. 

Ele veio mostrar que nós podemos fazer não apenas
igual, mas ir além. Pois a substância divina permeia o
universo. Devemos nos conscientizar disso.
Baseada em expectativas cultivadas dia-a-dia, gera-se como efeito complementar o medo, que nada mais é do que uma anti-expectativa: a esperança de que o bem não ocorra. E vice-versa: pessoas que levam vidas baseadas no medo acabam gerando a esperança de que algo ruim não ocorra. No fundo, leva-se uma vida medo-esperança que nada mais são do que expectativas que colocam a responsabilidade num agente externo. Eu percebo isso em mim e vejo em todos lugares. Cada atitude humana é imbuída com uma certa dose de medo-esperança. Assim somos movidos por expectativas cuja concretização e consolidação dependem exclusivamente de agentes externos.

Cremos na superficialidade externa de alguém imensamente mais do que na profundeza interna de nós mesmos. Todos agindo assim, e gera-se um mundo paralisado, ideal para aqueles que possuem o controle e o poder (diga-se, donos da grande mídia, dos bancos, dos sistemas de saúde, educacionais, megacorporações, etc). Estes sabem exatamente como trabalhar para fazer as pessoas executarem planos com esquemas complexos mas fins simples em favor de seu pequeno grupo. 

Colocando as expectativas a respeito de nossas aspirações em um agente ou grupo externo nos torna uma ovelha no grande rebanho sofredor intitulado humanidade. Não creio que nossa missão no mundo seja essa. 

Os últimos 7 anos foram os mais decisivos. O período que engloba dos meus 26 aos 33 anos, quase coincidente com o quinto septênio de minha vida (28-35 anos), foi aquele que trouxe mais desdobramentos na personalidade do que a soma de todos os outros elevados a enésima potência. O que ocorreu? Uma persistência num caminho diverso, apesar de todas as resistências - via ameaças dolorosas ou recompensas prazerosas - apresentadas pelo mundo. Até os mais próximos e queridos resistem ao ímpeto evolutivo de um ser quando tudo parece dizer "isso é loucura". Contra todas probabilidades, contra todo histórico, contra todas as regras da astúcia, eu segui um caminho que me levou a um estado de desespero agudo, cujo ápice foi uma martelada fatal, abraçada como um feliz acontecimento. Sentia que, apesar de tudo, estava sendo sincero. 100% sincero. Pensando no meu Eu divino mais do que no meu ego humano. Aceitei de corpo e alma o meu destino. 

A minha postura diante do acontecimento continuou firme. Acreditei sem sabê-lo com plena consciência de suas implicações reais. Talvez essa atitude firme e convicta tenha sido a chancela final. A partir daí, a Lei inicia a atuar com precisão matemática milimétrica, dia após dia, de forma silenciosa, forjando acontecimentos inesperados por mim - e pelo mundo. Bastava eu seguir meu caminho naturalmente, sem recorrer à minha (pouca) inteligência. Do vale abissal em que eu me encontrava, fui alçado a alturas maiores do que as que anteriormente estava - e o mundo tanto ambicionava. Agora o efeito do impulso fica mais fraco. Já ultrapassei o pico anterior em muito. Mas posso ser mais (ser, que é causa...não fazer, que é consequência).

A exaustão do impulso miraculoso que está ocorrendo é natural e ainda faço proveito dessa ascensão. Proveito em sentido de uso para me melhorar - jamais para aproveitar a posição. 

Para ocorrer o milagre devemos criá-lo.

Para criar o milagre devemos desbastar a nossa personalidade, deixando a luz individual do espírito mais intensa.

Esse processo de criação é complexo e envolve um estofo moral fora do comum. Ele conduzirá o ser a um desespero crescente. Poucos o compreenderão. Ninguém o apoiará nem irá explicar o que ocorre. Algumas vidas relatadas se tornarão o único refúgio. Pouquíssimas cenas de raros filmes apontados para outros mundos servirão de combustível espiritual. 

Quando se está sozinho e nu diante da Realidade mais profunda inicia-se o acontecimento miraculoso. 

Nós somos co-partícipes na criação de Deus. Somos os canais humanos que devem manifestar a substância divina, seguindo o ímpeto interior que nos faz livres e criadores.

Força intelectual e Fé intuitiva.