Há fenômenos muito interessantes na natureza. Ao estudar para ensinar as disciplinas de engenharia, vou me inteirando de detalhes que numa primeira passagem pareciam invisíveis - à nossa percepção. Imperceptíveis à nossa varredura sensorial do ambiente. Mas eles sempre estiveram aí, como Deus sempre esteve no imo de Santo Agostinho - que O encontrou após muito percorrer por estradas dúbias e lamacentas.
São ciclos. Um ritmo universal de contração e expansão; sístole e diástole; involução e evolução, que dá tom ao transformismo do ser. É, em seu aspecto mais geral, o grande ciclo de Queda e Salvação da criatura. No entanto, ao contrário do que parece, esses ciclos são repetições num aspecto e progressões em outro - dando no geral uma trajetória espiralada aos fenômenos de nosso universo.
Sempre que passamos por uma experiência repetida (seja tópico de estudo, abordagem de uma nova metodologia, conversa com amigo, um fracasso ou vitória, um livro, escutar uma música ou ver um grandioso filme, entre outros), ela não é igual em todos aspectos. Há um delta (um diferencial) que dá todo um novo significado àquilo. Há uma interpretação ligeiramente diferente daquilo. O conceito, a teoria, a ideia, a expressão, se torna mais palatável. Nos familiarizamos com ela. No caso da engenharia, percebemos a lógica por trás de todos aqueles cálculos e conceitos. Porque segue-se um determinado método e quais seus limites? Como ele surgiu? A partir de que situação grandes almas contribuíram para formalizá-lo?
Para amadurecer, é necessário contrair. Os regressos, por mais desagradáveis que sejam, são um fato e como tal devem ser compreendidos em sua natureza. Devemos seguir o ritmo do transformismo evolutivo imposto à substância em nosso universo para sermos capazes de ascendermos com o mínimo de sofrimento possível. É preciso se libertar das amarras das convenções para avançar em outros planos. Sim: nos libertarmos. Isso não significa desrespeitar normas e práticas consolidadas (=bom senso), mas superar os formalismos extenuantes que se tornaram um ritual moderno, com roupagem lógico-argumentativa, que embala - ou melhor, engessa - a ciência.
Se você sonha um pouco e se vê em perigo devido a isso, está na hora de mudar: sonhe demais! Sonhe o tempo inteiro! Mas sonhe sinceramente e seriamente. E relacione seu sonho com a realidade mais árida, amarga e impiedosa.
Por toda minha vida sempre esperaram que eu cumprisse o papel 'destinado' a mim. Devido a configurações genéticas, classe social, tendências neurológicas e fisiológicas, meio em que cresci e cultura do meio. E sempre que eu vinha com ideias diferentes, que transcendiam a triste realidade que nos arrasta (e afoga), me diziam (e ainda me dizem): "Cuidado com o que você fala rapaz...Isso é perigoso...". E essas mesmas pessoas que davam esses 'sábios' conselhos vivam de um modo contraído. Seres Infinitos encolhidos em conchas diminutas, moldáveis pela quantidade do meio e sem uma orientação suprema. Seres com capacidade de operar no campo da Eternidade, numa segurança e paz Infinitas, mas que optaram pelas restrições dos cronogramas, das convenções, das opiniões dos 'superiores' e dos 'especialistas', tendo suas vidas completamente definidas a cada momento - o que provavelmente dava a eles grande segurança em meio ao oceano das quantidades barulhentas.
Mas e diante dos grandes dilemas da vida? E quando reina o silêncio? E quando a incerteza do mundo quântico se revela a base de toda nossa realidade fenomênica? E quando estamos diante da doença e da morte, e da traição, e do abandono? E quando percebemos que o tempo e o espaço não são absolutos, mas sim relativos, e ainda por cima estão jungidos numa estreita interconexão? E quando não sabemos como lidar com uma situação que nos abraçará cada vez mais forte, inexoravelmente nos envolvendo num amplexo de dor? E quando, com toda essa tecnologia e informação e parafernalhas e gozos materiais, nos vemos impotentes para resolver os problemas mais fundamentais de nossos irmãos (e nossos)? Fome, violência, poluição, catástrofes, acidentes tolos, deslocamentos desnecessários, fofocas viciantes e coisas do tipo.
Nesses momentos os 'sábios conselheiros' fogem. Eles lançam mão de todos seus aparatos, de todos barulhos, para escapar das grandes questões, dizendo que se tratam de coisas distantes. Ou seja, que não tem relação alguma com nosso mundo caótico e em perpétuo estado de alucinação.
Quando ia visitar parentes sempre reparava que, assim ao adentrar em seus recintos cavernosos - por mais dinheiro e aparência que houvesse em alguns casos - era um movimento quase automático (eu até diria irresistível) o apertar de botões para acionar equipamentos. Som, celulares, televisão, rádio...Todo o conjunto das últimas novidades eletroeletrôncias formando uma cacofonia sem igual. Era perturbador...
Que diabos tudo aquilo significava, eu pensava? Será que eles não conseguiam viver com menor ruído? Ou se ao menos fosse um som mais agradável (boa música), e programas que nos fizessem pensar ou sentir um pouco sobre a condição humana. Mas não...eram coisas de nível baixo. Meu espírito sempre se sentia perturbado. E eu não sabia exatamente o porquê.
Mas talvez não fosse apenas isso. Se tratava de uma incapacidade de conviver com o semelhante num grau que fosse desfraldar novos horizontes. E assim a caminha a humanidade, aos trancos e barrancos, num manancial de dores e dissabores infindáveis - pois a todos momentos são recriados e realimentados.
A partir de um ponto comecei a me distanciar desse mundo (mas não do mundo). Comecei a trilhar um caminho que inicialmente parecia arriscado, com resultados incertos. Os atos era frouxos, pois o que via do Absoluto era difuso. Estava seguro da realidade factual do Princípio da Incerteza (causado pelas forças caóticas e egoístas do AS), mas estava titubeante quanto ao aspecto ascensional, ordenador e unificador, revelado pelo Princípio da Certeza (forças ordenadoras do S).
Assim caminhei pela Sétima Arte (Cinema), pela apreciação musical, pela escrita e pela contemplação na (e da) natureza. Estudava mas não entendia o porquê exatamente. Emprego? Dinheiro? Títulos? Bem-estar? Reconhecimento social? Um potencial consumidor. Me parecia vazio e sem sentido a partir de um ponto - que se situava nos primeiros passos. Parecia que o mundo queria introjetar em minhas veias uma mentalidade que era insuportável para mim.
Eu queria o quê, afinal de contas?
Sonhar...Mas o sonho sem concretude, sem a coragem de se expressar e de enfrentar o mundo, nada valia. Mesmo enfrentando e caindo, era preciso se reerguer - de forma cada vez mais potente, bela e eloquente. Para ir reforçando o sonho, dando-lhe um estofo espiritual e uma couraça material. Então percebi eu que o único jeito de viver os meus sonhos era sonhar continuamente e integralmente (com a realidade).
Esses sonhos foram alimentando minha vida. Cada ato de meu quotidiano seria um ato em homenagem ao Absoluto - e portanto registrado com louvor na Eternidade. Um ato de Amor a um Princípio Superior. E assim comecei a ser embalado por outros princípios. E comecei a sentir as coisas de forma diferente. Gratidão invadia meu Ser. E em certos momentos, em cumes de criatividade e gratidão combinadas, atingia o Inefável, tendo a visão de Seu Reino. E nesses breves momentos saboreava as excelsitudes do Sistema, louvando as maravilhas da Lei de Deus.
Eu queria me entregar e ser entregue, de corpo e alma, a esse sonho abstrato que sentia como a mais concreta realidade. Era um Ato de Entrega ao Absoluto.
Deliver me, from all of the madness.
Deliver me, courage to guide me.
Deliver me, strength from inside me.
Wishing there was someone just like you.
Now that you're here, now that I've found you,
I know that you're the one to pull me through.
"Em meu sistema, o comando supremo é apenas o trabalho da função suprema, correspondendo à máxima capacidade psíquica e volitiva, com responsabilidade, perigo e peso máximos. Em meu conceito, a posição de mando só é tal enquanto é posição de dever, como obediência aos princípios dirigentes da Lei. As hierarquias humanas são apenas uma pequena zona de uma estrutura que, ultrapassando os limites humanos mínimos e máximos, prolonga-se além da Terra."
AGS, Cap. 96 (grifos meus)
É isso. Agora só nos resta absorver esses magníficos conceitos embalados por esplendorosa visão (advindas de sonhos sublimes).
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