No ensaio anterior foi definido o monismo substancial, identificando-o com o 'monismo de caráter dual' de Peter B. Todd. Foi visto que esse monismo parte do monismo neutro, porém é diferente deste porque consegue integrar o dualismo em seu seio - sem no entanto deixar de colocar o aspecto unitário como aquele dominante em nosso universo. Dessa forma foi possível afirmar as verdades relativas de todas outras visões de mundo, ideologias, teorias científicas e religiões - e excluir os resíduos que negam a Verdade e o Absoluto. Ou seja, foi nos apresentada uma arquitetura (framework, em inglês) capaz de inserir todos os relativos dentro de si - logo, algo que inclui tudo, matéria, energia, vida, psiquismo, espírito...até Deus. Trata-se de algo que pode orientar a ciência em sua busca por uma explicação satisfatória de toda fenomenologia universal, unir as mais distintas religiões e doutrinas, coordenar as correntes filosóficas, irmanar os povos, as culturas, os indivíduos.
A partir dessa cosmovisão, há muito a ser feito. Uma busca infinita num mundo finito.
O próximo passo é adentrarmos mais à fundo no conceito, observando evidências em nosso mundo e através das últimas perquirições da ciência, abandonando temporariamente o seu aspecto teológico e filosófico. Faremos isso baseado nas pesquisas e interpretações dos mais renomados físicos, biólogos, cosmólogos e demais personalidades do campo da ciência, do início do século XX à segunda década do século XXI. Isto é, traremos os fatos e as construções do campo racional, baseado na mais pura lógica e observações, com o intuito de demonstrar que tudo que vem sendo feito aqui, há quase dez anos - uma década! - não é mera divagação e/ou desabafo de um ser, mas um conjunto de afirmações profundas sobre os princípios gerais de funcionamento do universo. Trata-se de um domínio que, uma vez aberta uma brecha, nos permitirá conduzir nossas vidas de modo orientado (verdadeiramente orientado, não aparentemente).
Por quê?
Porque a reencarnação será percebida como fenômeno concreto; a informação, campo de atuação da consciência, será estreitamente jungida ao nosso universo quadridimensional de espaço-tempo; a consciência será percebida como uma dimensão superior, que em sua forma pura, é intrínseca, não-vibracional; a moral terá o mesmo valor que a inteligência, sendo cada competência (inteligência e bondade) uma asa que deve ter sua contraparte para que possamos alçar o voo evolutivo.
Comecemos essa jornada citando um trecho de um paper escrito por Peter B. Todd no "Australian Journal of Parapsychology, ISSN: 1445-2308 Volume 17, Number 2, pp. 147-169".
"In evolutionary panentheism, mind and matter exist in a relationship of complementarity where neither is reducible to the other, while God is immanent in nature although also transcending of it. Thus the universe and the divine are not ontologically equivalent."
(grifos meus)
"No panenteísmo evolucionário, mente e matéria existem numa relação de complementariedade, na qual nem uma nem outra é redutível à sua contraparte, ao passo que Deus é imanente na natureza, apesar de também transcendê-la. Portanto, o universo e o divino não são ontologicamente equivalentes."
Livre tradução (grifos meus)
Mente e matéria seriam complementares e co-existem sempre, em todos lugares, a todo momento, de vários modos, para que a Realidade possa se manifestar e o nosso Universo (nós incluso) possa evoluir. E Deus estaria presente em toda natureza, desde o início do tempo até ao seu término, animando as coisas e os seres a partir de um impulso íntimo. mas Deus, ao mesmo tempo, estaria além de toda relatividade, não sujeito ao transformismo evolutivo, ou seja, no domínio total 'localizado' no Infinito e Eterno, Reino do Absoluto.
Resumindo:
1°) Deus É transcendente e imanente.
2°) Matéria e Espírito seriam manifestações extremas de uma substância única.
Continuemos nossa pesca (de evidências) no terreno científico.
As Edward Kelly notes, in the book Beyond Physicalism, which he co-edited with Adam Crabtree and Paul Marshall (Kelly, Crabtree, & Marshall, 2015), the “physicalist consensus … rests upon an outdated conception of nature, deriving from Galileo, Descartes, Newton, and Laplace, that began its career by deliberately banishing conscious human minds from its purview!” (Kelly, 2015, p. 32).
TODD, Peter B. (grifos meus)
Conforme Edward Kelly destaca, no livro Beyond Physicalism, co-editado com Adam Crabtree e Paul Marshall(Kelly, Crabtree, & Marshall, 2015), o “consenso fisicalista… se apoia numa concepção defasada da natureza, derivada de Galileu, Descartes, Newton e Laplace, que começaram suas carreiras banindo deliberadamente a mente consciente humana de suas análises!” (Kelly, 2015, p. 32).
Tradução livre (grifos meus)
Percebam: não se trata de desclassificar os feitos da mente racional-analítica nos últimos três séculos. Não se trata de jogar no lixo a mecânica newtoniana e suas derivações nos mais diversos campos do conhecimento; nem o método científico; nem a observação e a objetividade; nem nada do tipo. Trata-se de ressaltar que os métodos consolidados se revelam incapazes de fornecer novas explicações do mundo.
Frente às novas descobertas da Mecânica Quântica (o observador afeta o observado, ou a consciência interfere na realidade física...e vice-versa, como já se sabe), toda a realidade deve ser re-descoberta. Para isso é necessário incorporar uma nova dimensão às pesquisas científicas: a consciência, cuja 'morada é um domínio não-local e atemporal. E com isso serão carreados todos os objetos direta ou indiretamente relacionados a ela: livre-arbítrio, Deus, o Absoluto, o campo Akáshico, a informação, reencarnação, evolução, ressurreição, Queda do Espírito, etc. A ciência se transforma. Logo, seus métodos mudam radicalmente.
Da objetividade sensória passa-se à subjetividade íntima. Do pensamento sequencial passa-se à visão direta. Do estudo exaustivo, complexo e gélido passa-se à vivência intensa, singela e transformadora. É sem dúvida a maior revolução pela qual a nossa espécie irá passar. Não há nada igual na História humana.
Wolfgang Pauli, um dos expoentes da Física Quântica, trocou ideias com Carl G. Jung, um dos expoentes da Psicologia Analítica, durante muito tempo trocaram
Pauli, having collaborated with Jung, thus enriching archetypal psychology with insights from quantum physics, argued for a relationship of complementarity between mind and matter, as well as a worldview which embraced both rational understanding and the mystical experience of unity or holism.
TODD, Peter B. (grifos meus)
Pauli, tendo colaborado com Jung, e portanto enriquecendo a psicologia dos arquétipos com vislumbres da mecânica quântica, clamou por uma relação de complementariedade entre mente e matéria, assim como uma visão de mundo que albergasse tanto a compreensão racional e a experiência mística de unidade ou holismo.
Tradução livre (grifos meus)
Estamos apontando a fala de um cientista célebre do século XX que nos deu o Princípio de exclusão, que estabelece que nenhuma partícula pode existir no mesmo estado quântico. Pois bem, essa mente brilhante 'clama' por uma visão de mundo capaz de incluir tanto o aspecto racional-analítico, constituído de sistematizações e estudos, quanto o intuitivo-sintético, norteada por visões e vivência.
Quanto mais se vive mais se sofre. Quanto mais se sofre, mais se persiste nos caminhos errados - num primeiro momento. Isso leva ao cansaço. Repetições levam a um despertar ligeiro. A partir daí se sofre conscientemente. Quanto mais se sofre desse modo, mais se sente a necessidade de compreender a realidade. E assim inicia se a busca pelo conhecimento - e depois, a vivência deste conhecimento.
Compreender não é entender.
Entender tem a ver com saber o funcionamento de leis de superfície. Tem a ver com estudo, memorização, aprendizado de superfície. É acúmulo de informações e erudição. É reproduzir sofisticadamente e argumentar até vencer.
Compreender tem a ver com ter ciência do porquê as coisas serem como são, e o mecanismo íntimo de funcionamento das coisas. Tem a ver com vivenciar todas as leis (superiores e inferiores, das espirituais às físicas) com todas fibras de seu ser. É conhecimento e atitude. É criar incessantemente e convencer através do exemplo.
O assunto é simples, porém profundo. Vamos continuar.
Entre 1932 e 1958 Pauli e Jung colaboraram estreitamente no sentido de integrar de modo forte o fenômeno físico com o psíquico. Ou seja, o alvo de ambos era o "problema psicofísico". O interessante é que essa relação jamais teria se iniciado se o jovem Wolfgang não tivesse sido abandonado pela mulher (apenas um ano após o casamento!), uma cantora de cabaré. E foi ficar com um químico - o que o deixou muito perplexo, considerando que ele, um físico dedicado a desvendar os mistérios do mundo subatômico, era um 'objeto' de relação muito mais interessante - dentro do campo dos profissionais da ciência. Não, ele não se conformou. Se a mulher tivesse o abandonado por um lutador de boxe ou coisa do tipo, teria sido compreensível, e talvez até pouco doloroso.
Vamos voltar ao que interessa.
Pauli estava fascinado com esse novo mundo quântico, em que toda a física clássica ruía diante das incertezas do comportamento da matéria. O que parecia determinístico em escala humana, com incontável número de elementos, passou a ser imprevisível, não-sistematizável, não equacionável, ou seja, parecia não haver uma lei que determinasse o comportamento da matéria a partir de uma escala muito pequena. Como o reducionismo científico partia do pressuposto que os blocos fundamentais formavam a realidade sensória, isso era claramente um soco no estômago na ciência materialista, reducionista, mecanicista, local e temporal. Foi dado o impulso inicial para o desenvolvimento de um movimento profundo que irá abalar as bases da humanidade. Isso está muito além da ciência - ferramenta de busca humana.
E Jung. Carl Jung estava igualmente maravilhado. Só que com o mundo mental. A psique. A metafísica. Um domínio intangível, porém com repercussões profundas, que abalam as atitudes humanas e levam pessoas a fazerem coisas concretíssimas. Assim como Pauli, Jung estava fazendo uma revolução no seu campo. E à medida que os dois avançavam em seus objetos de estudo, mais próximo eles ficavam...
A relação se iniciou sem planejamento por parte de nenhum dos dois: Pauli chegou até Jung como um paciente. Um paciente quebrado, arrasado, deprimido, destruído. Um paciente muito, muito, mas muito mal. Que não entendia a lógica do mundo. E seu médico seria a pessoa ideal para lidar com tudo isso.
Nascido em 1875 na cidade de Kesswil, Suiça, Carl Jung passou uma infância regada de conexões religiosas. Tudo indicava que ele seguiria o sacerdócio. Porém, sua inclinação acabou pendendo para a medicina e psiquiatria. Isso no entanto não significa que sua carreira e sua obra não teriam significado transcendente. A influência religiosa serviu de base para seu espírito já antenado imprimir um aspecto mais profundo em sua profissão, permitindo-lhe dar contribuições fantásticas no campo da psicanálise.
Não irei me aprofundar no trabalho entre os dois aqui. Mas vocês podem se aprofundar aqui.
O que gostaria de terminar falando é sobre o John Polkinghorne. Esse homem atuou tanto no campo da Teologia quanto da Ciência. Professor de física matemática na Universidade de Cambridge de 1968 a 1979, quando abandonou a cátedra para estudar para o sacerdócio, que acabou conquistando em 1982, tornando-se sacerdote da Igreja Anglicana. O homem chegou muito próximo da cosmovisão ubaldiana. Ao mesmo tempo, apesar de não ter visto o panorama mais geral de que tenho notícia, ele fez observações muito interessantes a respeito de nossa existência, de Deus e da re-organização de nosso universo.
"Regarding our eternal life as embodied beings, Polkinghorne shows that we are not mind and body. We are a unitary entity with both mind and body being essential aspects. That means, contrary to a belief in a bodiless spiritual existence, our destiny is a future with a resurrected body. Jesus’ resurrected body is a model of the properties all resurrected beings will demonstrate. As to how our personal identities survive death, he equates our essence to information patterns or code which are stored in the mind of God awaiting the final time of the restoration. This is not a re-creation, but restoration of the created cosmos. As we store data and programming in the cloud and can move these from device to device, so the resurrection serves as a “hardware upgrade,” with our existing bodies — like Jesus’ which bore the unhealed wounds of crucifixion — upgraded to a physical body suitable for living in a restored creation."
Fonte: BARON, G.R. (grifos meus)
Parece que nossa consciência armazena as informações essenciais de nossas passagens terrenas na 'mente' de Deus, que pode ser o Campo Akáshico tão estudado por Ervin László. Polkinghorne destaca que a ressurreição se dá no final do processo evolutivo. E que após nos tornarmos o nosso máximo (Espíritos Puros), teremos restaurado nosso estado original. Trata-se de restauração, não de recriação. Esta já foi feita no seio do Absoluto (Sistema). A restauração se dá no ponto culminante de nossa existência nesse universo (Anti-Sistema), quando 'saímos' dele e adentramos o Reino de Deus (Sistema).
Ubaldi e Polkinghorne usam terminologia diferentes. Vão por caminhos um pouco distintos. Mas fazendo uma leitura profunda, percebemos que estão dizendo a mesma coisa.
E esse inglês, interessantíssimo e muito determinado em sua busca, conseguiu encaixar o conceito de 'informação ativa' de David Bohm e aplicá-la à imanência de Deus - ou envolvimento ativo no cosmos em processo de regeneração. E mais: destaca que acaso (cegueira do ser, ignorância) e necessidade (impulso para ascender, fragmento do conhecimento originário) estão na base dessa imanência.
Polkinghorne takes David Bohm’s “active information” concept and applies it to the question of God’s immanence or active involvement in the cosmos. Chance and necessity have been identified as the foundation of all that is and that happens. Chance, we now see, plays a part in quantum activity as well as in all complex systems through chaos theory. The assumption of physicalist science is that the indeterminate is fully random. Is it? Must it be? How would one know if actions were fully random or influenced in some small way, but with immense consequences?
Fonte: BARON, G.R. (grifos meus)
As incertezas não são de origem integralmente aleatória. As incertezas ocorrem nas bordas (=escalas extremas de tempo e espaço). A Mecânica Quântica e a Cosmologia Relativística lidam com essas incertezas (de formas diferentes). Na escala humana, no mundo da Física Clássica, não há mistérios, complexidades. Ao adentrarmo-nos na essência das coisas nos deparamos com a indeterminação. É no reino subatômico que a luta entre Sistema e Anti-Sistema é mais acirrada. Mas a indeterminação apenas se manifesta nos extremos porque há duas forças em jogo (S e AS), impossibilitando ordem total. Mas a tendência é o progredir para a ordem. É desintegrar-se, é morrer, é extinguir-se num plano inferior - para renascer num superior, mais sutil, belo, livre e portanto independente. Isso é maravilhoso e deve encantar o ser humano mais evoluído. Ser humano pronto para habitar um mundo mais desenvolvido.
"The ability of God to act within the reliable laws put in place without resort to miracle can be seen in the contingent facts of the history of the cosmos and life, but also in our individual experiences. It is credible, then, to pray to a God who acts in this world, and still be a strong believer in what science has demonstrated to be true."
Fonte: BARON, G.R. (grifos meus)
Deus age em nosso mundo sem necessidade de desrespeitar as leis conhecidas pelo nosso (parco) conhecimento. Ele atua no íntimo, como diz Ubaldi. Ele jaz nas profundezas. Está velado ao ignorante egoísta. É revelado ao conhecedor bondoso. É uma força contínua, sutil e ativa que opera incessantemente pela regeneração de tudo e de todos. Alinhando-se a essa força, nos tornamos invencíveis. Nossa jornada se torna mais significativa (reforça a si mesma) e significante (influencia outros).
Antes de terminar este (já longo) ensaio, gostaria de falar sobre o unus mundus.
"The Unus Mundus, as we have seen in all versions of it we reviewed, is outside of space and time. Called “pregeometry,” “prespacetime,” “holomovement,” and “the Absolute” it is of necessity neither held within space or time."
Fonte: BARON, G.R. (grifos meus)
O Unus Mundus está 'fora' do espaço e do tempo. Pode ser denominado por pré-geometria, pré-espaço-tempo, holomovimento e Absoluto. Todas essas definições de encaixam perfeitamente na do Sistema de Pietro Ubaldi.
Podemos associar a 'mente' com que os estudiosos trabalham como um aspecto da fase 'energia' (ver A Grande Síntese), já que no ensaio de Baron ele considera o Espírito como distinto da mente. Ele chega inclusive a aventar a possibilidade de haver o spiriton ('partícula' do Espírito). Algo que o Gilson Freire (se não me engano), em seu último livro A Física do Espírito, também faz.
E ainda há ainda a questão da necessidade de adicionar dimensões extras ao nosso estudo para a compreensão do universo.
Mas isso ficará para um próximo ensaio.
Até lá.
Referências
BARON, Gerald B. Dual Aspect Monism: "Amphibians", the soul and immortality. Link: <https://medium.com/top-down-or-bottom-up/dual-aspect-monism-amphibians-the-soul-and-immortality-581ba2689ac1>.
BARON, Gerald B. Personal reflections on the concept of dual aspect monism. Link: <https://medium.com/top-down-or-bottom-up/personal-reflections-on-the-concept-of-dual-aspect-monism-95500891b97c>
TODD, Peter B. Dual-Aspect Monism, Mind-Matter Complementarity, Self-Continuity and Evolutionary Panentheism. "Australian Journal of Parapsychology, ISSN: 1445-2308 Volume 17, Number 2, pp. 147-169".