sábado, 9 de novembro de 2013

Noam Chomsky: mente sensata, mente brilhante, mente ignorada...(pela grande mídia)

Parece uma Lei universal (mas não é): quanto mais uma pessoa enxerga e sente e pensa, mais difícil é a inserção de seus pensamentos e opiniões na sociedade. Isso é muito claro ao analisarmos a História e observarmos as inúmeras injustiças humanas cometidas contra pessoas de todas áreas, muito à frente de sua época: Arquimedes foi morto pela impaciência de um centurião romano, que se recusou a esperar que o cientista terminasse uma linha de raciocínio; Galileu foi ignorado pela Igreja ao apresentar sua nova teoria astronômica; Albert Camus foi sistematicamente rejeitado pelos intelectuais da época por ter uma mente mais livre que a média; Beethoven sempre esteve numa condição financeira ruim por não se curvar à Nobreza e Igreja; e por aí vai. Os casos são inúmeros. E hoje em dia, apesar dos ataques serem menos bárbaros (não se pode mais condenar alguém à fogueira por acreditar ou pensar em algo pouco usual), a "defesa" da sociedade contra as mentes inovadoras continua firme. Podemos encaixar Noam Chomsky nessa categoria de gente.

Chomsky. Olhar introspectivo.
Abraham Noam Chomsky é uma personalidade muito peculiar. Desde a mais tenra infância esse judeu descendente de ucranianos apresentou uma sensibilidade social aguçada aliada a uma capacidade intelectual (muito) acima da média. Em vários campos.

Aos 10 anos escreveu um artigo (isso mesmo, um artigo) sobre a Guerra Civil Espanhola que ocorria do outro lado do Atlântico. Desde essa época ele já tinha uma compreensão madura do que eram coisas como autoritarismo, capitalismo, socialismo, comunismo. E compreendia os fenômenos político-sociais ocorrendo, sempre se distanciando da visão propagada pela mídia. Analisa, reflete e pondera. Algo muito raro em nosso mundo. É graças a ele que mantive minha postura de defesa ao socialismo libertário (comumente conhecido como anarquismo). Graças aos seus textos claros, inteligentes e atuais pude compreender o que de fato é o anarquismo - infelizmente ainda muito associado à desordem.

Chomsky se especializou em linguística no MIT, instituto onde leciona há mais de 40 anos ininterruptamente após obter seu doutoramento. Mas ele vai muito além da sua área, escrevendo artigos (e participando de Fóruns) sobre sociedade, política, ética e psicologia. É uma pessoa completa. E moralmente elevada, independente de sua crença ou não-crença.

Não é à toa que as influências de Chomsky são personalidades que construíram grande parte do mosaico que é seu ser. São mentes igualmente brilhantes, cujas formas de pensar, atuar e sentir são semelhantes a dele: Bertrand Russell, Mikhail Bakunin, Adam Smith, George Orwell, Alan Turing, Karl Marx, John Dewey, entre outros.

Interdisciplinaridade é algo que permeia a mente de Chomsky. Essa característica inclusive está cada vez mais presente nas mentes mais criativas que, além (ou em conseqüência) disso, melhor sabem administrar sua vida pessoal e profissional. É como se estivéssemos voltando a uma era pré-industrial, na qual floresceram pessoas que dominavam várias áreas do conhecimento e relacionavam as coisas. Só que melhor. Agora a especialização parece cada vez mais ganhar aspecto de ter sido apenas um surto de uma Era (industrial) que, uma vez atingida a maturidade, tende a dar lugar para uma nova Era (pós-industrial).

É triste perceber que desde o início de seu trabalho extracurricular, Chomsky sempre foi ignorado e boicotado pela mídia e grupos corporativos poderosos. No entanto, pensando bem, isso é bom, pois demonstra que suas reflexões estão muito próximas da verdade (o maior medo dos poderosos é ver a verdade se espalhar e ser compreendida pelo povo...exatamente o que esse grande lingüista vem tentando fazer há décadas de forma magistral).

Dentre suas obras mais impactantes se destaca "O Lucro ou as Pessoas?", uma análise profunda sobre a insustentabilidade do modo de operação (da maioria) das grandes corporações, e sua constante tentativa de se apoderarem dos bens constitucionalmente garantidos aos povos do planeta - de forma muito discreta e lenta, vale ressaltar. Através dessa obra esse grande pensador contemporâneo traz à tona o tema do autoritarismo, revelando que essa forma de administração está mais forte do que nunca. Foi revitalizado pelo meio privado, que se adentrou no aparato estatal. Aparato este que se tornou altamente permeável a interesses particulares em detrimento do bem público. Hoje mais do que nunca. Mas imperceptível para o cidadão que recebe a educação regular.

Em "Notas sobre o Anarquismo" existe uma análise que vai na mesma linha de "O Lucro..." mas dessa vez o foco está no esmiuçamento de um sistema de auto-gestão que na prática nunca se concretizou (houveram pequenos surtos como o arraial de Canudos, em 1898, e a Comuna de Paris, em 1870). O livro é uma entrevista. Uma entrevista muito interessante na qual vão sendo lançada as perguntas mais comuns e ferozes contra qualquer um que esboce um pensamento favorável a doutrina anarquista. E Chomsky rebate cada ataque serenamente e com muita racionalidade. Uma racionalidade à la Bertrand Russell. Quando cheguei ao fim de minha leitura me dei conta de que um sistema desse tipo só não foi implementado até o momento porque a humanidade está num nível intelecto-moral muito abaixo para assimilar algo do tipo.

São poucas as pessoas dotadas de paciência e vontade em compreender o mundo. Por isso Chomsky está "perdendo". É uma mente muito à frente de seu tempo, que só encontrou um pouco (um pouco) de refúgio justamente no local com maior tolerância aos diferentes: o MIT. Mas ele está além.

Dentro de mil anos, quando (espero) a civilização estiver num novo patamar de desenvolvimento, historiadores do futuro irão ver em Noam Chomsky uma personalidade de seu tempo.

E aí a justiça será concretizada.

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