Às
vezes a vida pode ser muito dura para o tipo sensível. Especialmente
no campo afetivo, no qual - teoricamente - a sensibilidade deve ser
mais valorizada em sua essência. E quanto mais sensibilidade uma
pessoa tem, seja homem ou mulher, mais sozinho essa pessoa se
encontra neste mundo. Sozinho afetivamente e verbalmente, pois a
comunicação também se torna limitada para esse ser, cuja percepção
dos fenômenos é completamente diferente da média geral. Média
aparentemente feliz e que sabe lidar com os problemas da vida.
Aparentemente...
O
comprometimento é uma característica marcante do tipo sensível.
Ele se compromete muito mas que a média num relacionamento e espera
- sem contudo forçar - que a outra parte se comprometa na mesma
proporção. Especialmente se demonstrar interesse. No entanto, o que
comumente se vê é uma parte tendendo a predominar sobre a outra,
não respeitando os gostos e vontades do outro, e julgando normal a
adequação deste à sua rotina.
Existem
três modos de desenvolver um relacionamento afetivo (qualquer que
seja a sua natureza). E apenas um deles é o que garantirá sua
continuidade.
Eis como
vejo cada um deles:
O
primeiro modo é a falta de comprometimento das duas partes. Neste
caso, se ambos tem consciência do que ocorre, as coisas podem fluir
naturalmente sem grandes conflitos. No entanto, se um dos dois
apresentar qualquer desejo de aprofundar a relação, e ir
demonstrando isso, as coisas podem se complicar, e atritos irão
surgir. A grande desvantagem desse tipo de relacionamento é que ele
é incapaz de se tornar algo significativo. Trata-se mais de um
passatempo.
No
segundo modo existe falta de comprometimento de uma das partes. Isso
pode ser identificado logo no começo da relação, e será melhor
que aquele com tendência a ser mais prejudicado (a pessoa
comprometida) seja quem perceba isso - e tenha a coragem de pular
fora dessa arapuca. Se a relação continuar é muito provável que a
pessoa descomprometida exija cada vez mais tempo e disponibilidade da
outra - sem no entanto dar nenhuma em troca - assumindo uma posição
cada vez mais autoritária se sua vontade não for atendida. Vai se
edificando assim uma relação unilateral, com atitudes unilaterais,
cuja conseqüência final só pode ser desastrosa. Um dá e não
recebe; o outro recebe e não dá. Sem equilíbrio não há
possibilidade do desenvolvimento saudável.
O
terceiro modo ocorre quando ambas as partes estão comprometidas em
sua vida a dois. Ou, de modo claro: cada um respeita a vida do outro.
Seu espaço, seu tempo, sua aparência, suas idéias, seus ideais,
seus sonhos, seus amigos, etc. Não quer segurar a outra parte em
benefício próprio. Se deseja mudar algo no outro (que julga um
vício) faz isso através da persuasão, do diálogo, da inteligência
e do exemplo. Nesse caso é possível que exista o que eu denomino
por AMOR. E digo que é possível porque o COMPROMETIMENTO é um
pré-requisito do amor.
É
desesperador saber que o terceiro modo de relacionamento é ainda
raro. Muitos deles APARENTAM ser desse tipo, mas não o são de fato.
Existem camadas infindáveis que disfarçam a verdadeira natureza dos
relacionamentos que eu e você enxergamos nas ruas, nos parques, nos
livros, e etc.
Mesmo
pessoas simpáticas, legais, com boa condição social e
comunicativas são passíveis de serem egoístas nos relacionamentos
que decidem assumir. Seja a pessoa bonita ou não. Se comportam de um
jeito e esperam que o outro compreenda. Mas quando o outro se
comporta do seu jeito natural e ao mesmo tempo isso não corresponde
às expectativas da outra pessoa, esta passa a nutrir uma certa
indignação por dentro. Como se o mundo orbitasse em torno dela. E
falar com elas sobre isso é muito complicado. Poucos são capazes de
ouvir a opinião de um amigo sobre sua conduta e procurar observar
seus próprios atos. Poucos. Então - e infelizmente - se uma pessoa
está descompromissada e cobrando compromisso numa relação, ela
provavelmente irá deixar o outro "porque não está se
comprometendo o suficiente". Só que o comprometimento cobrado é
desproporcional. E esse descaso é muito comum por parte de quem está
numa situação "vantajosa".
Um
estudo interessante divulgado há tempo numa edição da revista
Superinteressante revela que pessoas bonitas tem tendência a serem
mais egoístas. Isso diz muito sobre a desintegração de muitas
relações calcadas pura e simplesmente na beleza do outro. Dessa
forma a beleza exterior pode ser um grande obstáculo para a
sustentabilidade da relação. Então, dessa forma, fica evidente
que é imprescindível a busca de atributos intangíveis no outro se
se deseja cultivar uma relação duradoura e sincera.
Do meu
ponto de vista, o comprometimento deve ser na medida. Isto é, ele
deve estar equilibrado com o outro (de seu parceiro). Esse consenso
pode (e deve) ser atingido naturalmente. E para isso é necessário
que cada pessoa tenha sensibilidade. Deve incorporar momentaneamente
os sentimentos da outra - ou pelo menos se colocar no lugar dela.
Isso é difícil? Sim. Muito. Muito mesmo. Mas é o único - e mais
eficaz - caminho para alguém conquistar a tão almejada felicidade.
E não é preciso ser um gênio para se dar conta disso. Bastam
alguns anos de experiência e observação. Experiência e
observação.
O
comprometimento é ingrediente fundamental em muitas coisas. Está
relacionado ao amor. Quando amamos alguém ou algo (uma atividade,
uma matéria, uma pessoa, etc) nos comprometemos mais ou temos mais
predisposição a nos comprometermos com ela. Não existem
fronteiras. Tudo pode ser construído, melhorado, explorado,
compreendido tendo como norte o objeto de afeição. Não medimos
vantagens e desvantagens. Não existe dinheiro e tempo "gasto"
em relações verdadeiras. Muito pelo contrário: quanto mais
"gastarmos", melhor. Temos prazer em ceder todos nossos
recursos - sejam eles poucos ou fartos - para a pessoa que gostamos.
É ainda
difícil encontrar gente comprometida. Mas quando encontramos alguém
assim, é muito gratificante.
É o
comprometimento que demonstra que temos um motivo para viver.
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