É
difícil encontrar uma pessoa cuja vida seja um mar de rosas. Se
houver alguém que aparente ter uma vida assim, posso assegurar que
se trata de uma sensação temporária ou ilusória. Porque mesmo que
se trata de alguém bem humorado e otimista, sempre haverão
sensações de angústia inexplicáveis e inesperadas que permeiam
momentos nos quais essas mesmas sensações são aparentemente
inexplicáveis.
Tendo
que conviver a maior parte de nossa existência num mar de espinhos –
e, com sorte, com pequenas ilhas de verdadeira felicidade – é de
grande utilidade saber como atuar de forma que possamos suportar
períodos econômicos, sociais (e afetivos) áridos.
A
espécie humana tem a particularidade de reconhecer sua
insignificância diante do Universo. Ou melhor, ela pode não ser a
única (espécie) a reconhecer isso – intuitivamente. Mas
aparentemente é a única que consegue perceber isso através da
racionalidade – no entanto isso não significa que muita gente seja
humilde e se julgue o centro dos cosmos. E essa característica de
perceber sua pequenez diante do todo lá fora (e do outro todo aqui
dentro de nossas almas), ao contrário do que possa parecer, talvez
seja o melhor remédio para a superação dos maiores males que
aflijem a s pessoas diariamente – sem dó ou hora marcada. Males
que incomodam todos no campo social, laboral, educacional, afeitvo e
econômico. Males que levam as pessoas a depressões, sucídios,
consumo desenfreado, homicídios e coisas do tipo.
A linha
de vida de uma pessoa demonstra de forma bem clara como é difícil
visualizar momentos bons ou ruins que estejam prestes a ocorrer.
Imagine
que no momento sua vida esteja relativamente tranquila
(relativamente). Agora, retroceda no tempo e escolha, ou melhor, se
lembre, de um período ou situação breve que lhe pareceu uma
eternidade devido ao incômodo ou raiva ou tudo isso causado por essa
situação – acho difícil uma pessoa honesta consigo mesma não se
lembrar de algo do tipo. No momento parece que o tempo passava muito
devagar, certo? E às vezes, num período (podem ser dias, meses ou
anos), dia após dia, uma realidade que lhe desagrade muito pode
perdurar tempo suficiente para que você acredite que as coisas
sempre foram e sempre serão desse jeito. E independentemente de seu
desespero ou esforço, nada mudará. Mas esse momento acabou um dia,
certo? (não se preocupe, se ainda você passa por um momento assim,
te garanto que ele vai findar). Isso é fácil de perceber quando
observamos os acontecimentos do passado. Mas é difícil – quase
impossível – de perceber quando passamos por algo ruim no
presente.
Muito
bem. Minha receita é tão simples quanto exigente de perseverança
(na verdade outros caras já diziam a mesma coisa). Trata-se de,
sempre que alguém passar por um período ruim de sua vida, observar
ele como um instante de perturbação certa num oceano de
possibilidades incertas – e que portanto podem ser boas. Expanda as
fronteiras cronológicas e pense nas milhões de criaturas que com
certeza devem estar passando ou passaram ou passarão por algo
semelhante ou pior. E como viver o presente só é saudável se o ser
estiver orientado para o futuro e consciente do passado (eu disse
orientado, não aficionado. e consciente, não melancólico),
pode-se deduzir que quanto maior a amplitude sensorial de alguém,
maiores as energias para suportar as dores do presente e encará-las
como um breve sofrimento.
Tem dias
que eu me deparo com as estrelas do céu e fico observando os
detalhes. Bolas de gás quentes (quentíssimas) explodindo a bilhões
de anos-luz, com mundos orbitando esse imenso corpo celeste. E são
milhões e bilhões de estrelas, cada uma com alguns mundos. Cada
mundo podendo ser maior que o nosso. E por mais difícil que seja
agregar condições necessárias para a vida da forma que conhecemos,
o número suplanta a dificuldade. E nessas horas eu penso: “Pode
ser que em algum desses mundos tenha uma pessoa olhando para o
infinito e filosofando da mesma forma.” “E que nesse mundo essa
pessoa pode ser eu daqui a milhões de anos. E que essa pessoa daqui
a milhões de anos tenha uma vida feliz (em relação a nossos
padrões). E que o Universo é tão grande e diverso que nunca iremos
nos deixar de nos encantar com a sua capacidade de mexer com nossa
imaginação.”
Quando
começamos a pensar de forma restrita e departamentalizada,
entristecemos.
Quando
começamos a pensar de forma abrangente e interdisciplinar, nos
tranquilizamos.
Nossos
ânimos se renovam sempre que nos abrimos para sentir a vastidão do
todo.
É
possível que muitos acontecimentos ruins do passado tenham sido a
principal causa de nossos momentos felizes agora ou futuramente. “Há
males que vem para o bem.” diz o ditado. É preciso passar por
desvios dolorosos para chegarmos a destinos mais elevados. É a Lei
da vida que devemos aceitar (religião), para não nos desgastarmos;
estudar (ciência), para não ignorarmos os segredos que permitam
nossa melhoria; questionar (filosofia), para sabermos qual a
finalidade dela; e sentir (arte), para sempre nos divertir durante
essa eterna jornada.
Isso é
o que tenho a dizer por hoje.