Desde a década de 80 ou 90 as relações sociais vem mudando. Mais por necessidade de adaptação - devido às alterações naturais da mentalidade político-econômica. A tecnologia se torna cada vez mais influente, e a informática é o grande carro-chefe do momento, junto com a eletrônica. A vida dos jovens nas escolas, dos adultos no trabalho e dos idosos na sua desocupação é permeada cada vez mais com aparatos. Abraçamos o novo mas não aprendemos a usá-lo de forma a manter o controle de nossas vidas.
O excesso de velocidade nos desorientou. E as técnicas e a lógica e a ciência contribuíram com isso. Recebemos muita informação, impossibilitando nossa capacidade de processá-la (somos limitados organicamente). Ao mesmo tempo, existem aqueles que creem terem vencido esse problema recorrendo a teorias estatísticas e científicas. Buscam elegantemente, com ares de sapiência, impor suas verdades baseados em provas (aparentemente) irrefutáveis. São números e planilhas e vocábulos e teorias impressionantes que parecem mais converter do que convencer. Anexar ao invés de libertar. Mas uma observação paciente desmistifica o pseudo-absolutismo dessas verdades estáticas, tornando-as relativas e dinâmicas.
Jesus, o Cristo. O mundo está prestes a iniciar o processo de assimilação. |
O pseudo-absoluto demanda engessamento.
O relativismo demanda movimento.
O pseudo-absoluto é o absoluto humano. É imperfeito, ilusório e nocivo a partir de um ponto. É assim que sistemas vistos como "a última solução" caem por água abaixo. Por mais "triste" que isso pareça para alguns, - ou muitos...- é assim que funciona a dinâmica evolucionista do Universo. Um Todo que na sua ordem absoluta aceita as desordens relativas. Porque o mais compreende o menos, enquanto este nem sequer entende aquele.
Mas como eu já disse: uma desordem relativa é melhor do que uma ordem falsa travestida de divina [1]. A partir de certo ponto é melhor admitir que precisamos andar para frente. E às vezes (quase sempre) o caminho para melhorar não é aquele imaginado pela maioria. E quase nunca aquele propagandeado pelo poder...
"Faça aos outros o que gostaria que fizessem a ti."
Essa frase é atribuída a Jesus, o Cristo, e a um chinês tão sábio quanto chamado Lao Tsé. Ela é tão profunda e ampla que nosso intelecto jamais será capaz de assimilá-la. Mas nós seremos...
Para assimilar os ilogismos do espíritos devemos viver a mais profunda realidade. Ler e estudar é bom, mas a partir de certo ponto muitos se darão conta de que o essencial aplicado resolve todas as misérias, e buscar gananciosamente erudição para "nos melhorarmos" é o verdadeiro motivo de estarmos nos sentindo estagnados - politicamente, economicamente, socialmente, psicologicamente...
Devemos "perder o tempo" sentindo nosso Eu, porque "o tempo que você perde não é tempo perdido" disse Bertrand Russell. Esse inglês, apesar de nunca ter vislumbrado o próximo nível de consciência humano (intuitivo-sintético), pelo que sinto contribuiu - inconscientemente - para levar a mente racional-analítica às portas do mundo intuitivo-sintético. Lendo "A Conquista da Felicidade" [2] me convenci disso.
O tempo e o espaço inexistem de fato para o místico, para o santo, e para os gênios esclarecidos. Por isso eles conseguiram chegar a um grau de sensibilidade nervosa que assegura paz interior.
O nosso pesadelo com o "ter pouco" é para eles uma bênção.
O nosso pesadelo de "não pegar mulher (ou homem)" é para eles um fato sem importância.
O nosso pesadelo de morrer crucificado por apoiar um "ideal insano" é para eles natural.
Visão emborcada a nossa.
"Por que não a deles???", alguém pode perguntar.
Lao-Tsé. Viveu no oriente, por volta de 600 a.C. Lao-Tsé significa "jovem mestre", "adolescente maduro". E de fato o nome casou perfeitamente com a vida conduzida pelo sábio. |
Existe muito trabalho a ser feito para esses seres. Muito mesmo. E não se trata do trabalho como o conhecemos. Trabalho escravizante, preso no tempo e no espaço. Trabalho engessado em rituais que desgastam e iludem. Trabalho tanto mais remunerado quanto mais engessado. Não! O trabalho dos místicos, dos santos e dos gênios da arte ou ciência é conceitual. Trabalho vivido, contínuo, prazeroso. Trabalho que faz o ser esquecer do mundo externo e se voltar para o interno. E - vejam só! - nessa aparentemente egoísta empreitada, eles brindam a humanidade com conceitos e modos de vida e teorias e obras de arte que elevam. E nós, seres ainda pouco evoluídos, assimilamos suas verdades cósmicas. E depois vamos lentamente nos apoiando nelas, criando nossas pequeninas idéias e invenções.
O Santo realiza o máximo de si e dá o máximo ao mundo.
E nada recebe do mundo.
Mas tudo recebeu do Céu...
Mas comecei o texto querendo falar de independência. E de fato falei sobre ela.
Para sermos livres do mundo temos de nos libertar de nós mesmos. Do nosso ser analítico. Para que nosso Ser sintético possa se manifestar.
P.S.: Uma curiosidade: Lao quer dizer "jovem mestre" ou "adolescente maduro". E de fato, após ler uma obra de Rohden sobre o Mestre chinês, o nome caiu como uma luva no Ser que a vestiu durante sua estadia. =)
Referências
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/entre-duas-hierarquias-um-unico-caminho.html
[2] http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=9864
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