segunda-feira, 19 de abril de 2021

O Pensamento Social de Cristo

"O advento da justiça social, que é a grande realização a que o século XX aspira, já se encontra no Evangelho anunciado e preparado em sua mais substancial forma."

Trecho de palestra realizada pelo Prof. Pietro Ubaldi no Brasil, 1951.

Fig.1: Desde que Cristo iniciou sua missão, ele sempre revelou a importância
de unir reforma íntima com justiça social - demonstrando que ambas são produtos 
de uma única causa: a evolução da consciência. 

O problema (da maioria) das pessoas religiosas, especialmente os ocidentais, é que seguir os ensinamentos da Igreja implica em negar - ou mesmo combater - aqueles que denunciam e promovem transformação no campo social, seja ela no campo dos costumes, do trabalho, da tributação, da lógica econômica, nas relações afetivas, da previdência, da saúde, da educação, entre tantas outras. Mas isso não é verdade.

Cristo sempre denunciou a hipocrisia dos fariseus. Falou contra a riqueza estéril, que gera desperdícios e desequilíbrios monstruosos, sem sentido. Quando solta a Parábola dos Talentos, se refere a fazer uso dos dons que possui em estado latente, tornando-os úteis. É claro: podemos ler a parábola com um olhar mais concreto, percebendo que não é pecado fazer o dinheiro render - desde que as vias de rendimento estejam em equilíbrio com o mundo real, e o excedente seja usado com uma finalidade elevada, como previdência, prover a prole, e etc. Sempre pensando no necessário, claro. 

Não é razoável divorciar religião de política. Mas no mindset das pessoas, aderir a uma forma de vida implica em ignorar ou fugir da outra. No campo mais profundo percebe-se que espiritualidade também não está unida às práticas sociais. E precisamos compreender qual é o escopo de cada um desses campos: não podemos igualar religião com espiritualidade nem política com justiça social - apesar delas estarem relacionadas entre si. 

Religião (R) está para práticas formais e estudos intelectuais no campo da Teologia.

Espiritualidade (E) está para transformação íntima do ser.

Política (P) está para práticas formais e seguras no campo da institucionalidade.

Justiça Social (JS) está para iniciativas sociais com intuito de melhorar as relações sociais.

Todas elas se relacionam de modo muito peculiar. Essa relação evolui com o tempo - se torna mais profunda - significativa, portanto. 

Vamos a elas:

A JS renova a P - a P alinha a JS.

A P socializa e fortalece a R - a R humaniza a P.

A R assimila a E - a E fecunda a R.

A E orienta a JS - a JS conduz a E.

Fig. 2: Caridade é bela, porém revela uma chaga profunda. Ela só será curada com a transformação do modo
de ser e de operar. Caridade é translação de recursos e de atenção - justiça social é transformação de valores e lógica.

Os fins sociais que Cristo deseja são idênticos aos de muitos grupos de esquerda radicais. Mas os meios e as justificações para isso são muito distintas. O objetivo é dar condição de vida digna para todos. Assim todos elementos de nossa civilização poderão dar seu maior rendimento - e desenvolver suas habilidades e inclinações. Por outro lado, para conseguir isso é imperativo adotar um método que não gere cisões ou cujos efeitos sejam de curto prazo - requerendo sempre remendos e energias para manter a configuração. 

"O método da luta não representa algo de novo e de resolutivo, mas, significa apenas um comum e antigo método de enriquecimento por substituição. Nada soluciona como sistema, porque se limita a colocar novas pessoas e outras classes sociais nas idênticas posições das anteriores."  P. Ubaldi

O profeta da Umbria afirma que

"é preciso renovar a organização das posições e não as pessoas que as ocupam".

Isso é um princípio sistêmico: focar nas interconexões (ou relações) entre os elementos e não nas posições dos mesmos. Porque mudar posições mantendo a estrutura de relações terá uma efetividade muito baixa. Mantendo estática a estrutura, os elementos, por mais que se movam em seus compartimentos, irão agir de acordo com a natureza e lógica da hierarquia a qual estão submetidos. 

É mister mudar o modo com o qual nos relacionamos com os outros. Isso implica em introduzir novos comportamentos, pouco a pouco, em nossas vidas. Perceber as mesmas coisas de modo diferente. Adquirir visão mais vasta. Assim seremos capazes de não nos desesperarmos no cotidiano porque veremos nas misérias do presente um preparo de futuro. 

A estrutura deve se plasmar. Precisamos para isso imprimir dinamismo nela. Como se faz isso? Nos relacionando diversamente! Com isso estaremos emitindo vibrações à lógica institucional, coletiva, dizendo: "não queremos mais desse modo, com essas regras, com esses valores. queremos muito melhor." 

Fig.3: Não basta pensar, ponderar e argumentar - é preciso sentir, sofrer e assimilar. 
Raciocinar é se defender a qualquer custo. Intuir é deixar se inspirar para transformar.

Não deseje ser bilionário - construa um mundo em que não tenha sentido acumular bilhões.

Não deseje estar na moda - construa um mundo em que a moda nada signifique.

Não deseje preservar coisas perecíveis - construa um mundo em que o desejo seja se imortalizar pelas vias do espírito.  

Não deseje viver na ilusão - construa um mundo de realização eterna!

A sociedade está desorientada - e a grande mídia a alimenta. Precisamos mais do que nunca aprender a pensar por conta própria. Adquirir personalidade forte. Nos abrir para o desconhecido e assim vencer velhos preconceitos. É tempo de criar valores e assimilar conceitos profundos. Sintonizar por ter se sensibilizado. 

Captar as ondas intangíveis do pensamento mais elevado é a maior riqueza de alguém. Ninguém pode roubar essa capacidade, pois é intrínseca ao ser que a conquistou. 

Alguém deseja saber por que as Revoluções não cumpriram seu papel até hoje?

"Uma solução estável e conclusiva não pode ser dada senão pela equidade, segundo um sistema de equilíbrios e não de novas usurpações, com que, visando vantagem pessoal, se acredita corrigir as velhas. Isso é egoísmo e não justiçaE quando não existe verdadeira justiça, as mesmas razões que hoje nos autorizam a nos substituirmos a outros no domínio e bem-estar, amanhã autorizarão a outros a se substituírem a nós, e assim sucessivamente.  Forma-se, então, a muito conhecida cadeia de ações e reações, que nunca tem fim. A equidade não deve existir, se se deseja uma solução somente na aparência, mas, também, em substância, não só na forma, mas também nas almas." P. Ubaldi

Por isso eu me repito sob várias formas: devemos sim mudar o mundo, mas essa mudança precisa partir de um conhecimento profundo da estrutura do Universo, da vida, da humanidade, da própria consciência. Deus é o Eixo Central, presente em tudo e todos, a todo momento, de todas formas, que está no seio do cosmos e (ao mesmo tempo) transcende-o. É princípio e meta; amor e força; graça e coragem; elegância e potência. 

Mudar nossas percepções >> mudar as relações >> mudar a estrutura >> mudar o sistema.

No passado as mudanças foram apenas de posições, com novas roupagens para os novos ocupantes do poder. Novos vocabulários, novas metas materiais. Velhos princípios, velhos fins. Assim, as mudanças ocorrem de forma lenta e dolorosa. Porque é preciso tentar todos os caminhos equivocados da horizontalidade mundana antes de restar o único caminho da verticalidade suprema.  

Se vemos para onde devemos ir desde o princípio, seguimos corretamente. Se não vemos, tateamos e caímos em armadilhas e buracos e sofremos. Até pegarmos o jeito da coisa. É o método da análise, da razão. Método lento. Método de superfície. Mas podemos voar - então, para quê nos arrastar ou andar?

"Cristo não diz aos pobres: “revoltaivo-vos”. Seu sistema é radicalmente diferente do usado pelo mundo. A este, que não sabe perceber senão através do claro-escuro vitória-derrota, faz compreender que Ele não enxerga no pobre um derrotado. Assim como não diz: “revoltai-vos”, igualmente não diz: “sofrei passivamente”. " P. Ubaldi

Não devemos nem nos revoltar nem sofrer passivamente. É imperativo sofrer ativamente.

O que seria isso? 

É aceitar a realidade mas utilizá-la para aprender. Elevar o grau de consciência. Extrair duma situação um grande conceito filosófico; uma teoria formidável; uma melodia sensacional; um ímpeto de coragem; um grau de maturidade superior. Transcender seu Eu presente para revelar seu Eu latente, mais potente. 

“Bem-aventurados vós, os pobres, porque o reino de Deus é vosso!”
“Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados!”
“Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir!”
“Mas, ai de vós, ó ricos, porque já tendes a vossa satisfação!”
“Ai de vós, que agora estais fartos, porque sofrereis fome!”
“Ai de vós, que agora rides, porque estareis em tristeza e chorareis!”   
Jesus Cristo

A culpa é uma desgraça muito pior do que a pobreza. Porque enquanto esta é sanável e temporária, a outra é uma marca que demandará tormentos imensos para ser eliminada. Fazer o mal a alguém é caminho certo para um sofrimento incomensurável. Ser pobre e explorado e abusado por outros é muito menos árduo. Não se concorda com isso porque vemos apenas os efeitos imediatos e de superfície. Mas a realidade é um oceano no qual acabamos de mergulhar um pouco.

A Física Quântica, a Relatividade Geral, as EQM's, a Teoria de Sistemas, a Psicologia de C. Jung,...São descobertas recentes que, se desenvolvidas ao grau máximo, trarão descobertas muito maiores do que aquelas do passado. Ubaldi começou a dar esse mergulho usando todas as novidades do século XX, casando-as com os mais queridos valores das Escrituras Sagradas. Cabe a nós continuarmos nesse mergulho. 

No próximo ensaio irei deixar disponível essa outra palestra do professor, revelando a essência do Cristo.

Falo muito de Ubaldi mas na verdade aponto para Cristo. Porque a obra de 24 volumes é um edifício majestoso que dá uma visão profundíssima do pensamento de Cristo. Inclusive, seu último volume se intitula justamente Cristo

A Obra é por Cristo, está em Cristo, objetiva levar-nos a Cristo. 

Cristo Cosmico e Divino: Julio Damasceno XIII Congresso Pietro ubaldi

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