Os maiores ensinamentos são belos e poderosos. Parecem trazer em seu bojo a solução de todos problemas da existência. Sintetizam de forma magistral o que deve ser feito para que possamos nos libertar deste mundo, e assim vivermos uma vida de criação e suavidade, sem medos nem desejos. No entanto, praticar esses ensinamentos é extremamente difícil: requer uma disciplina fora do comum, uma fé real e uma perseverança contínua.
Disciplina porque demanda regularidade. Uma atitude que não se abala, não se deixa influenciar pelas circunstâncias. Fé porque se trata de sintonizar com algo além deste mundo (transcendência), que não pode ser visto, ouvido, tocado nem pode lhe auxiliar diretamente nos momentos mais dolorosos. E perseverança porque por muito tempo os resultados não serão percebidos (interiormente). Ou seja, é um projeto de longo prazo - como todas grandes empreitadas.
Fig.1: Não espere que venham até você, nem que vejam o que você vê, nem que se abram como você.
Quando se vê (de)mais, o ritmo é intenso e a criatividade ferve. Não há saída: deve-se criar o novo universo sozinho.
Árduo trabalho daqueles que se propõem se superar.
Viver é sofrer para quem almeja ascender. Quanto maior o ímpeto, maior a criatividade. Maior é a vontade de unificar. Maior é o esforço por alinhar grandes planos. Viver num intercâmbio de ideias, sentimentos, sistematizações, experimentações, buscas e esforços. É tensão que eleva - pois os seres em tal sintonia sabem transformá-la em conceitos novos, formas de vida, atitudes potentes.
Para passarmos para um próximo plano é essencial que vivamos até a exaustão o plano em que estamos. Isso significa esgotar todas as possibilidades; tentar todas alternativas; refletir sobre todos os atos; compreender as limitações comunicativas do próximo; sentir no âmago as ilusões. Porque é preciso viver a dor para assimilar os caminhos errados, limpando terreno para que reste apenas a visão do caminho certo - para mim, para você, para cada um. E assim, realizando uma purificação via experiências, nos tornamos seres mais ágeis e sagazes, com movimentos mais cirúrgicos, alcançando nossos objetivos com menos esforço.
A relação entre seres evolutivamente próximos é bidirecional. São trocas diferentes na forma e quantidades, porém equilibradas - isto é, iguais - em sua substância. Um busca o outro (e vice-versa). Um é claro com o outro (e vice-versa). Um diz exatamente o que pensa para o outro (e vice-versa). Ambos se propõem a viver juntos o ideal. Isso não significa construções concretas dispendiosas, mas geração de uma relação de inclusão e integração. A todo momento o cuidado. Aprender a dinâmica do outro. Conversar abertamente para esclarecer. Porém, a vontade deve partir de ambos.
Há momentos em que parece que estamos falando sozinhos. Enviamos ideias e não recebemos nenhuma resposta - nem sequer uma explicação de não haver essa reação. Pegamos uma ideia de alguém, trabalhamos ela, e mostramos outro aspecto - porém o outro não incorpora essa outra dimensão. Recebemos o sinal de que podemos contar com o outro para dividir ideias, evoluir conceitos, descobrir a natureza humana, mas na prática sente-se um distanciamento. E quando há um encontro, parece que nada ocorreu e quem deve se adaptar é aquele que está levando a sério a fala do outro.
Vivemos numa era em que todos se sentem confortáveis e com direito em não dar satisfação de nada. Não me refiro a uma satisfação obrigatória para o outro controlar você. E sim uma satisfação que retifique algo que a pessoa esteja fazendo que seja diametralmente oposto daquilo que ela diz almejar, que pratica...Uma satisfação que significa respeito ao outro.
O ser humano está encastelado num labirinto que o impede de correr. Correr no campo psíquico. No campo das atitudes, dos atos, da vivência. Correr para viver mais intensamente. Correr para passar pelas experiências que inexoravelmente virão - e é melhor tê-las com alguém sincero e em busca da verdade do que pelas circunstâncias da vida.
No entanto, a verdade é que não se pode ser sincero com alguém que não demonstra capacidade de conversar sobre questões de comportamento. A situação só tende a piorar. E assim, aquele que vê mais à fundo se vê obrigado a se comportar do mesmo modo do que aquele que não percebe as nuâncias das relações, com seus campos de comunicação, unificação e progressão. Deve-se portar tal qual o outro se comporta perante nós. Não por vingança, mas por ser a única linguagem que o outro compreende. Uma linguagem que coloca tudo às escondidas, em que deve-se assumir quem o outro é baseado em seus comportamentos. Mas o problema é que nossas visões de mundo são relativas e progressivas no tempo. Então é preciso conversar (muito). Estar disposto a escutar. A viver o próprio incômodo interior (e não fugir dele com artificialismos exteriores). Porém, tudo isso é muito difícil, e exige duas coisas: primeiro, condições de tempo, energia e mentais das pessoas envolvidas, que não devem estar se preocupando com questões terrenas; e segundo, vontade ardente em construir algo que possa abrir brecha para uma nova forma de vida - em todos os campos. Em suma: ambiente propício e vontade impetuosa e destemida. Sem esses pré-requisitos não é possível iniciar verdadeiras construções.
Fig.2: O medo limita - o desejo desorienta. Vivemos no ciclo medo-desejo, assim como nos viciamos no
carrossel satânico empregos alienantes-consumo conspícuo. Um alimenta o outro. Um reforça a necessidade
do outro. E assim aprende-se lentamente, com dor além do necessário. Por quê? Falta de consciência.
Ver à fundo é considerado perda de tempo em nossa sociedade. E assim sofre-se sem saber o porquê.
Há também o problema de interpretar uma vontade ardente em planejar com o desejo em executar imediatamente. E outro de não poder ser sério demais. No entanto é da seriedade que brotam os ambientes harmoniosos e reconfortantes. Ambientes capazes de albergar a tudo e a todos. Não uma seriedade fria e mórbida, mas uma seriedade intensa, flexível e evolutiva. E digo mais: é da seriedade que brota a sinceridade.
Este espaço virtual não teria chegado até esse ponto se essas duas condições não estivessem presentes na vida do autor. É preciso acreditar em algo e sentir-se envolvido naquilo que se faz - já sabendo que não haverão recompensas terrenas. Por isso é importante deixar registradas todos os sentimentos e impressões, indo à raíz das questões, para cada vez mais o ciclo evolutivo se reforçar e assim expandir-se cada vez mais, num movimento em espiral de amplitude cada vez mais vasta, movimentos mais elegantes e metas mais majestosas.
Vamos falar sobre essas características:
1) Amplitude crescente. Está relacionado com a capacidade de relacionar coisas à nossa volta, seja pessoas, grupos, crenças, éticas, religiões, correntes filosóficas, teorias científicas, tecnologias, movimentos e personagens históricos, afetos, expressões artísticas, linguagens. É conhecimento sobre as características das coisas e dos outros. Um saber que extrapola a racionalidade, ganhando caracteres intuitivos.
2) Movimentos elegantes. São modos de se encaminhar as coisas. Atitudes. Abordagens. Modos de estabelecer conexões (ritmo, momento, forma, intensidade, finalidade, etapas). São dinâmicas que se retroalimentam de modo a formar sinergia. Que inspiram os outros. E assim o encorajamento faz o medo minguar e os desejos arrefecerem, aumentando as probabilidades de contatos verdadeiramente úteis.
3) Metas majestosas. São objetivos para além deste mundo. Geralmente são de longo prazo, extrapolando uma vida e estando além dos sensores dos instrumentos de reconhecimento social. São (metas) belas para alguns, mas esses alguns jamais (ou raramente) dedicam tempo de sua vida, energia, recursos, conhecimento para atingi-las. No entanto são metas que, se perseguidas com perseverança e criatividade, trazem um conforto imenso para o ser que se dedicou de corpo e alma a ela.
Apesar de metas longínquas e abstratas, - que geram comportamentos inusitados, ousados e inteligentes - já foi possível ao autor perceber as recompensas do Alto quando se vive de forma séria e sincera, numa busca incessante e destemida, reconstruindo-se aos poucos a consciência perdida. Cada grande curva da história pessoal traz uma oportunidade de demonstrarmos nossa criatividade. Essas recompensas do Alto (=salvação, milagre) já foram registradas aqui em vários textos, trazendo implícito em suas palavras orquestradas o roteiro para se conseguir sair de situações que aparentemente serão o fim do ser que segue esses princípios. Trata-se da primeira manifestação do amor incondicional.
Vivemos num mundo de hiperconectividade que nos deixa absortos em telas. Nos sentimos tensos ao som de cliques. O celular soa e nos arrasta para um mundo de aparências. O que encontramos é uma miríade de mensagens, cada uma de um grupo ou pessoa, exigindo algo, fofocando algo, falando algo. Nada que inspire. Apenas obrigações (que afogam o espírito) e gozos (que afundam na matéria).
Não se espera mais algo porque não se acredita mais na capacidade do ser humano em alinhar fala com vontade com ação com essência. E assim vivemos numa era de perda de fé tremenda. E para sair desse labirinto que corrói até nada sobrar, é imperativo que as pessoas decidam reagir à miséria de suas vidas, se dispondo a viver momentos fantásticos, falar de assuntos inconcebíveis, reagir de modo inovador.
Fig.3: A vida exige uma visão clara. Somente com isso os projetos serão construídos de modo eficaz.
Somente assim teremos a perseverança necessária. Somente assim a criatividade irá brotar incessantemente,
como água pura sai da nascente. O fim de uma linha não é o fim da jornada.
Se alguém quer dar ao mundo algo que o mundo realmente necessita, não deve esperar por nada dele. Nem reconhecimento, nem paz, nem apoio, nem qualquer coisa que possa ajudar nessa super-construção. É uma empreitada que almeja metas simples (no falar) e titânicas (no viver).
Rohden falava em três fases da evolução humana:
Primeiro se é feliz inconscientemente.
Depois se torna infeliz conscientemente.
Finalmente se transforma num feliz conscientemente.
A imensa maioria da humanidade está na primeira etapa. Isso é perceptível com muita facilidade, ao percebermos o quão evasivo é o ser humano (e suas técnicas de fuga) diante das questões que devem ser enfrentadas para resolver toda miséria no mundo - econômica, social, política, de saúde, de saberes, afetiva, mental, etc. Ser feliz ao ter tantas coisas usadas para continuar num estado de ignorância, com indiferença às questões mais sublimes e aos métodos mais eficazes.
Outros (ainda poucos) estão na infelicidade, porém plenamente conscientes das coisas do mundo. Esse número tende a crescer vertiginosamente, gerando mais instabilidade nas estruturas sistêmicas - que se desgastam por não estar à altura dos desafios do ser. Esses estão buscando alcançar o degrau de equilíbrio: uma felicidade genuína, sustentável, sem aparências. Uma felicidade que não precisa se mostrar, aparentar. Uma felicidade humana que viabiliza o dinamismo evolutivo rumo à salvação - a felicidade do Sistema, muito bem descrita por Ubaldi.
Chegando no segundo nível sente-se tentado a retroceder para o primeiro. Pois à medida que se atravessa esse deserto de dores parece que a tendência é morrer. Não há estímulos. O ser se vê sozinho, desamparado, desolado com a falta de compreensão do próximo. Por isso a fé se torna elemento indispensável.
É preciso se apoiar cada vez mais na qualidade - e extirpar a dependência da quantidade. Até o limite do possível. Por isso 'nada esperar do mundo'. Não por ódio, mas por missão evolutiva. Para atingir o novo continente. O novo mundo. E atingindo-o, poder trabalhar de forma imensamente melhor, agora sem as reclamações, as agruras, os atritos internos (apenas externos, que haverão até a reabsorção total do AS pelo S).
Você, que está nessa busca, te digo (se já não o sabes): não devemos incomodar os outros. Ofereçamos e expliquemos apenas o mínimo, sem buscar o pleno engajamento do outro. Esperemos que os outros venham. Não mendiguemos atenção nem oportunidades. Apenas façamos o que podemos, da melhor forma. Criemos nossos projetos, nossos cursos, nossos escritos, nossas músicas, nossas invenções, nossas poesias, nossas teorias. Vivamos nossa forma de vida. Falemos de maneira mais inspirada, mais séria, mais certeira. Esqueçamos o mundo para nos dedicarmos à sua essência (descobri-la).
Isso não é apenas importante: é essencial.
Nosso desgaste deve ser pelo ideal - e não pela compreensão dos outros. É quem está mais perdido quem deve fazer o esforço para sair do labirinto da perdição. Quem vê mais e está fazendo (substancialmente) diferente só pode falar um pouco. É de fato um farol na rocha sólida que emite seus raios luminosos para o oceano repleto de embarcações. Navios, barcos e botes sem timoneiro. Muitos se digladiando por misérias...
Se soubessem o quão próximos estão da terra firme...
Nenhum comentário:
Postar um comentário