Fomos criados no seio do Absoluto. Nos manifestamos nas paragens intrépidas do relativo. Lá é belo e sublime. Aqui é arenoso e áspero; Lá não há forma; aqui há apenas forma (e culto à forma). Mas lá não é um local - é um estado de alinhamento completo na ordem universal. Não é uma intensificação das virtudes humanas, mas sim uma superação de todas elas. Na Baghavad Gita isso é indicado como a superação das três gunas (tamas, rajas e sattva).
Por quê? Por quê aqui é assim e 'lá' é inconcebivelmente agradável? Por quê fomos 'arremessados' para um campo de tantas lutas, tantas dores, permeadas com decepções contínuas que levam a desvairadas atitudes e atos amargos? A causa só pode estar 'dentro' de nós. Pois o Criador, sendo Absolutamente Perfeito, não se equivoca nem deseja o mal da Criatura - Seus Filhos.
A partir do abstrato se constrói o concreto. Mas as impressões recebidas através da concretude da realidade sensória e intelectiva influenciam a abstração sintética do espírito. O grau de depuração deste irá determinar o quão eficaz serão os atos da pessoa na construção de sua trajetória de vida. Quanto mais se vê o fenômeno em sua essência - ou seja, o princípio diretor que o anima, dirigindo sua trajetória - mais clareza no agir diante dos desafios da vida e no receber as coisas da vida.
Nós, como criaturas ejetadas do plano Divino (por escolha própria), emitimos luz. Quando digo que emanamos 'luz' me refiro à luz imaterial, que Huberto Rohden diferencia daquela conhecida pela física moderna. Essa luz está relacionada à consciência, dimensão característica do Espírito que, no estado puro, não está sujeito ao conjunto de constrições abjetas da nossa bolha enclausurante de espaço-tempo.
A consciência não pode ser ponderada ou mensurada. Ela é intuição, ou (nas palavras de Ubaldi) consciência volumétrica. Logo, ela não é capturável pelos nossos instrumentos sensórios, aptos a registrar movimentos fenomênicos no plano do espaço-tempo, palco de um bailado espiralado de matéria e energia. Ela coordena os processos de nosso pensamento racional, estabelecendo diretrizes para que possamos vagarosamente absorver a essência da realidade manifesta.
"Ninguém se torna explicitamente o que não é implicitamente."
Huberto Rohden
Tudo já está contido em nosso imo. O futuro está no presente em estado latente - assim como o presente é uma realização de um estado passado palpitante de sonhos. Não há nada a ser descoberto em essência. Apenas redescoberto. E com isso, galgando degraus íngremes, em meio a uma atmosfera densa com elementos inertes, vamos ascendendo em nossa compreensão da Verdade. É uma navegação na qual, inebriados de sensações ilusórias e desgastantes, e cerceados de tormentas existenciais, nos conduzimos para ilhas de conhecimento. De modo cada vez mais claro, consciente e, consequentemente, elegante e suave.
A consciência está relacionada à imobilidade. Não no sentido de um não agir, mas de uma atuação sem desgaste. Fala-se pouco para dizer muito. A quantidade está coordenada à qualidade. Esta, por estar em sintonia com a ferramenta, paira sobre ela e permite um intercâmbio. Pode ser dito que os atos da criatura estão preenchidos de Espírito Santo. Ou, em outras palavras, apoiados na Lei de Deus, que amorosamente, em Sua Imanência, coordena magistralmente toda a evolução do Universo, sem que saibamos dessa sinfonia cósmica a se desfraldar diante de nossos olhos, desde as coisas mais simples até as grandiloquências climáticas e geopolíticas globais.
Tudo que vibra é mensurável pelos nossos intrumentos e está ao alcance de nosso cognoscível. Mas o que não vibra é intrínseco, e jamais poderá ser acessado por um instrumento (mente) feito de vibrações - por mais sutis que sejam. A única maneira de saborear o Infinito, de vivenciar o Eterno e de sentir o Absoluto é superar as assombrosas e incomensuráveis dimensões espaciais, as extenuantes esteiras do tempo e as surradas análises baseadas na relatividade.
"Assim diz o Senhor: Vós sois deuses e filhos do Altíssimo."
Salmos 82
Filho de sapo é sapinho. Filho de cachorro é cachorrinho. Filho de gato é gatinho. Filho de Deus e deusinho. Co-criadores da realidade manifesta e em co-evolução com cada ser do Universo. É uma tarefa imensa, plena de responsabilidades.
Cada ato preenchido de Espírito Santo traz como efeito perceptível (a consciências suficientemente elevadas) o que denominamos por milagre. Todo dia pode ser um dia de realizações milagrosas se tivermos a coragem (de avançar nos impulsionando) e a ciência (de integrar nos relacionando). É difícil e não é - ao mesmo tempo. Tarefa simples e complexa - pois complexo não é o oposto de simplicidade.
Tudo que é ricamente elaborado, cheio de possibilidades, capaz de muito errar - porque sempre sabe se levantar, de modo cada vez mais belo e imponente - e amar, vai assumindo formas de ser cada vez mais simples. Meu amigo, minha amiga...é uma questão de síntese. Que envolve filtrar o essencial e assim ordenar (hierarquizar) as coisas, desde as mais importantes (Espírito) até as menos importantes (matéria).
"Aquele que ama a sua vida, a perderá; entretanto, aquele que odeia sua vida neste mundo, a preservará para a vida eterna."
João 12:25
Quando damos tudo de nós por um ideal, sem nada esperar, e há poucos que compreendem esse esforço titânico, podemos estar seguros de que não há nada a temer. E se houverem resistências e tentativas de sabotarem nossos planos, a nossa segurança deve aumentar - pois estamos na raíz de todos os problemas, buscando a Solução Definitiva.
Há pessoas espalhadas pelo globo trabalhando arduamente e criativamente para essa Solução Definitiva. Cada um a seu modo, no seu ritmo. Devemos nos tornar uma massa crítica cada vez mais enriquecida pela diversidade, coerente em seus atos e orientada para a unidade.
E com isso gostaria de deixar um vídeo inspirador para você, meu amigo, que sempre se viu constrangido pelas forças do mundo. Não temas. Faça da sua vida interior algo que transborde pelas fronteiras de seus finitos, expressando o Absoluto através de seus canais humanos. Canais criativos alimentados pela Fonte.
Somos deuses...
Brilhante texto!
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