É engraçado. A humanidade se pauta tão doentiamente pela quantidade que nada mais interessa a não ser a aparência (ou influência), as posses e a quantidade de pessoas que estão no mesmo nível de consciência que a pessoa e seu grupo. A essência da coisa (qualidade ou aproximação da verdade) é apenas artigo de uso para justificar um comportamento.
Jamais o ideal foi tão abusado de forma tão intensa e sofisticada na história humana. Jamais as pessoas criaram artifícios tão sofisticados para conseguir encobrir a realidade. Isso tudo tem a ver com o grau de tecnologia, o uso desmedido (e insustentável) da energia e a quantidade de informação que empurramos goela abaixo - e vomitamos aos outros.
Esse ano de 2022 foi uma ano de experiências profundas. Foi necessário fazer um mergulho profundo ( uma incursão ousada, um tour de force, uma intensificação do agir e um transbordamento de essência) para poder aqui constatar definitivamente que as pessoas estão, em sua imensa maioria, drogadas. Não leitor...não me refiro à dependência química. De modo algum. Fosse esse o problema a solução seria um tanto simples. O problema é que se trata de um fenômeno mais profundo.
As pessoas estão com overdose de (des)informação. Ou seja, uma informação fragmentada a tal ponto que possibilita um número incontável de rearranjos combinatórios. Soma-se a isso o fato das pessoas estarem perdendo completamente a orientação e o senso de unidade, temos uma reação de desintegração do ser. Assim monta-se a narrativa conforme a conveniência dos interesses locais, particulares, egoísticos. E isso se reforça buscando-se adeptos ao seu egoísmo. E com as fileiras engrossando, reproduz-se mais do mesmo. Em escalas, modos e ritmos diferentes. Mas a coisa é sempre a mesma: reforçar uma perspectiva montada conforme a satisfação do ego.
Passei o ano inteiro investindo minhas forças e criatividade ousada para fincar o estandarte do ideal no ambiente de trabalho. Por quê? Porque é preciso permear nossos atos de substância divina. Senão o choque das forças da vida (que já se anunciam) virão mais fortes. A dor será insuportável para muitos. A insensatez dominará cada vez mais. A transição irá ser traumática. Eu não desejo isso para nós. E portanto nada me restou nesse ano a não ser dar o melhor de mim.
Meu amigo...não se trata de impor um ponto de vista. Não...Não é questão de colocar mais uma bolinha num mar já saturado de bolinhas - como muitos viram em minhas propostas. É simplesmente questão de cumprir o seu dever e revelar aos outros que, se eles não fizerem o mesmo - cada um a seu modo - estaremos atrasando nossa evolução em séculos ou milênios. Porque o ponto aqui não é remover o bom que já temos, mas de ressignificar tudo através de um novo modo se ser.
Minha proposta foi a de inserção de um dinamismo criativo flexível até o ponto de conseguir tocar as qualidades da pessoa. De tratar as coisas de modo diverso. De procurar dar sentido a cada coisa. Como estava sozinho, o trabalho era (é) tremendo. Mas isso não me impediu.
Foram mostras de filmes fantásticos; aulas visuais, com vídeos, com música, interconectando domínios do saber e épocas e personagens. Aulas que revelavam o sentimento profundo que motivou grandes almas a fazerem grandes descobertas - ou tomarem atitude firme perante seus desafios. Foi um curso de extensão que está trazendo as revelações, através de exemplificações e concatenações com a ciência, a vida cotidiana, as artes, a filosofia e a religião. Foram incursões em todas áreas, pedindo por compra de livros, se abrindo para o diálogo, buscando expor temas em palestras e desenvolvendo temáticas a partir de brechas apresentadas.
O resultado foi um sucesso e um fracasso:
Quase tudo não teve efeito. As mostras morreram (ninguém se interessou pelos filmes); nas aulas pouquíssimos pegaram a essência da coisa; no trabalho todos fugiram e evitam conversar sobre o autor a não ser sobre as banalidades e burocracias cotidianas; e por aí vai.
Mas o fracasso não foi meu: foi da instituição e das pessoas.
O sucesso, por outro lado, foi meu.
Que absurdo! Como isso? Como se mede isso?
Podemos averiguar com uma visão mais profunda, pensando na eternidade, no conceito de dever cumprido (sem peso na consciência) e no que é de fato certo (=mais próximo da verdade, mais unificador) e errado (=mais distante da verdade, menos unificador).
Na minha vida - especialmente ao longo dos últimos dez anos - pude constatar algumas coisas interessantes.
Primeiro: pessoas que te (me) conhecem e dão todos sinais de terem achado interessantíssimo seus pensamentos e seu modo de ser (através de gestos, atitudes e etc.), após um tempo desaparecem de sua (minha) vida e não dão nenhuma explicação do porquê. Simplesmente somem.
Segundo: após ouvir muitas conversas percebi que todas elas revoluteiam em torno dos mesmos temas, sob várias máscaras, como fofocas (boatos ou novidades superficiais), resultados de coisas que todos falam ou estão acostumados a falar, e assuntos hiper-específicos de seu nicho (claro, desconectados de todo o resto).
Terceiro: ao captar um tema lançado por alguém e começar a desenvolvê-lo, pude perceber que a pessoa, ao contrário do que vinha demonstrando ao longo de seus discursos anteriores, não revela capacidade (ou coragem?) de adentrar no tema.
Esses pontos merecem ser analisados com calma e profundamente, pois creio que aí se encontra as causas de todas as misérias da humanidade como:
- Guerras
- Suicídios
- Aquecimento global
- Doenças e pandemias
- Emburrecimento generalizado
- Intolerância
- Fim do modo de vida materialista-consumista
- Corrosão das instituições
- Desagregação das famílias
- Desemprego
- Miséria (material, emocional, mental e espiritual)
- Entre outros...
No primeiro ponto muitos tentarão dizer que a pessoa tem obrigações a serem cumpridas. De fato, tem. Mas quem impôs aquele modo de vida repleto de afazeres que desesperam a todos (basta ver o semblante das pessoas nesses momentos 'alegres' para você compreender o que eu visualizo sempre) foi o próprio ser. Se trata de uma construção longa, de anos ou décadas (ou existências), na qual a pessoa foi se deixando levar pelas tendências ao invés de assimilá-las e confrontá-las com um sistema todo seu, próprio, que aponta para uma melhoria do estado das coisas - de libertação.
De modo que podemos dizer que toda desgraça que ocorre a alguém é merecida. E toda limitação que se lamenta foi construída pelo próprio ser, devido à sua inércia e falta de ousadia criativa.
Essas pessoas, ao fugirem e se refugiarem em suas ocupações ineficientes, em suas tecnologias viciantes e seus grupos numerosos e barulhentos, estão reforçando sua escravidão. E se enganam tentando ver na quantidade que de fato elas estão certas e o outro (sozinho e único em sua proposta) está equivocado. É uma questão de valorizar.
O mais evoluído dá mais valor à qualidade.
O menos evoluído dá mais valor à quantidade.
A partir de um ponto o ser passará a valorizar mais a qualidade do que a quantidade. E quando houver uma massa crítica de seres assim, aí o mundo começará a mudar de verdade, definitivamente. Será uma mudança na substância - e não nas aparências, como o foi até o momento.
Ponto dois.
Quando saio na rua, escutando as conversas dos outros, tenho sido dominado por um sentimento de nojo e desânimo. Não porque me vejo como superior, ou esteja com medo ou com ódio dos outros. Mas porque enxergo (agora de modo muito claro) as pessoas andarem em círculos e reforçarem formas mentais que viabilizam o isolamento, a agressão, a exploração e etc.
É sempre a mesma coisa: O modo de responder. As perguntas retóricas. O tom de voz e aqueles falsos sorrisos. A hipocrisia descarada. O esquecimento dos grandes eventos (interiores). A insensibilidade perante os grandes temas, os grandes projetos.
A distorção mental devido à incapacidade de discernir. Você começa perceber que todos nós estamos presos num jogo (=plano de vida) muito primário. Devemos ascender para evitar choques enormes. E ascender é se transformar. E isso requer ousar e mobilizar todo seu ser para exprimir sua criatividade.
O refúgio das pessoas sempre é a repetição. O reforço no grupo, na quantidade, no 'foi sempre assim', no 'quem tentou se deu mal' e etc. Ninguém percebe que os fracassos somados aumentam progressivamente a possibilidade de concretização do mundo ideal (ou mais próximo a ele). E que cada experiência dolorosa e frustrante (pelo menos num primeiro momento) lhe dá novos elementos para reforçar sua couraça psíquica e reforça a gravidade da situação, expondo os outros a algo que faz parte da natureza deles próprios. Assim cada vez que alguém deve lidar com você começará a fazê-lo de modo a não compartilhar das coisas do mundo (na maioria sem sentido). E como a imensa maioria só sabe compartilhar isso, não irá chegar até você - mas ao mesmo tempo será totalmente incapaz de entender o que exatamente tem tanto medo em você.
Por quê?
Porque no fundo a pessoa está com medo dela mesma. E ao lidar com alguém profundo, que é como um espelho da alma, sabe que não suportará esse nível de interação por muito tempo. Essa cena do épico Ben-Hur ilustra esse fenômeno de forma magistral:
Quando o centurião romano vai chicotear Jesus, ele se vê incapaz disso. O Cristo se revelou na forma de Jesus. A face do centurião se contorce de modo inexplicável diante da situação.
O que ocorreu? Isso é fantasioso? Ou trata-se de um dos fenômenos mais fantásticos do Universo?
Eu tendo a crer na segunda opção. Pois venho percebendo isso muito nas pessoas.
Terceiro ponto.
Ansiar pela verdade mas ser incapaz de vivê-la é a coisa mais comum no ser humano em seu estágio evolutivo atual.
Só somos capazes de abordar grandes temas de modo introdutório, superficial, cheio de roupagens. Tocamos e depois abandonamos. Tão logo tangenciamos algo que poderia ser o início de um processo de resgate; de redescoberta; de um início de solução definitiva; abandonamos. Parece que a luz é muito intensa para os olhos.
Visto tudo isso só posso concluir que de fato quem está isolado não é este viajor solitário, mas a imensa massa que vibra numa frequência limitada e imitadora, crendo estar correta simplesmente porque a maioria segue esse caminho.
De modo que posso concluir com segurança que quem está isolado é a imensa maioria da humanidade. São as massas. É um isolamento diferente daquele que costumamos perceber.
Porque vendo cem pessoas juntas e uma sozinha pensamos que a uma está isolada e deve se adaptar às cem. Mas se essa uma estiver alinhada com a Lei e estiver cumprindo o dever que as Forças da Vida exigem, ela estará no vórtice ascensional. E as massas, se insistirem na teimosia de se isolar (isolando apenas na aparência exterior aqueles que se abrem para o vórtice substancial), irão sofrer muito mais do que o necessário.
Desse modo concluo que esse ano de 2022 foi um sucesso para mim.
E que foi um fracasso para aqueles que poderiam ter se beneficiado desses projetos.
As pessoas reagem conforme seu grau de consciência, que reflete em sua (falta de) coragem e (ausência de) criatividade.
Chegará um momento em que haverá um alinhamento entre o isolamento substancial e o isolamento factual.
Nesse dia poderá ser dito que a humanidade está alinhada com a Lei de Deus.
É isso.