domingo, 1 de março de 2015

SEM DOR NÃO HÁ SALVAÇÃO

Creio que apenas um ser suficientemente maduro possa compreender essa frase tanto em sua plenitude universal quanto em sua profundidade abissal. Não há intelectualidade analítica capaz de desvenda-lá sem cair em alguma contradição. Os métodos do mundo – da imensa maioria – são impotentes diante de afirmações tão profundas e sublimes. Afirmações aparentemente loucas (a loucura contém a 'cura'...mas apenas a loucura supra-normal) e paradoxais ganham sentido quando vivenciadas. A intuição supera a razão. O espírito engloba a mente, mas não vice-versa.

Alguns professores que tive diziam – inconscientemente, através de inúmeras observações provavelmente – que o aprendizado era um processo doloroso. Isso assusta o aluno e dificulta o trabalho do mestre. No entanto, vemos que as maiores transformações ocorrem APENAS após um período de sacrifícios, renúncias e dores. Não apenas esses tormentos, mas igualmente saber lidar com eles de forma receptiva, é o meio de realizar o que grandes mestres denominam 'ascensões humanas'. E saber se dirigir a eles conscientemente quando estamos preparados interiormente.

Albert Schweitzer: 52 anos servindo o lado mais
pobre do mundo sem reconhecimento ou
meios adequados. E profundamente feliz.
Luz aos 21 anos. Início da ascensão aos 36.
Rico materialmente antes.
Rico espiritualmente depois.
Convido o leitor a observar os detalhes da vida de alguns expoentes da sabedoria cósmica como Sócrates, Mahatma Ghandhi, Albert Schweitzer, Pietro Ubaldi, Blaise Pascal, Francisco de Assis e Jesus. Observar-se-á que: 1) todos esses seres poderiam triunfar materialmente no mundo, e 2) igualmente, com suas capacidades, poderiam esses mesmos seres dominar mentalmente (intelecto) seus semelhantes, impondo sua forma mental a um mundo e ganhando honras e títulos com isso. Condições de vencer no físico e na mente. Mas eles preferiram renunciar a isso. Ou melhor, optaram por usar os bens, o físico, o sentimento e o intelecto apenas para servir o espírito.
Observe todos os fatos. A fundo.
Por que Jesus se deixou levar à cruz, com calma, serenidade, determinado?
Por que Sócrates discursou no seu julgamento com calma, firmeza e afirmou uma Verdade universal – vencendo todos ignorantes com suas limitações conceituais – bebendo cicuta sem grandes preocupações?
Por que Pietro Ubaldi, nascido em família rica, saudável, forte, com estudos, títulos e posses, deixou tudo para viver o Evangelho de forma integral, colocando em risco apenas sua vida e espírito? E mais: deixou TODA herança, tudo, e ainda, para não ser peso para sociedade, arranjou emprego, realizando a sua verdadeira missão (escrever a Obra de 24 volumes, um tratado filosófico-espiritual-científico sobre o Todo, realizando a Síntese do Saber), dos 41 aos 85 anos?
Por que o jovem Francisco, filho de família riquíssima, largou tudo para servir ao mundo – e com satisfação e alegria?
De longe, ao vermos todos empecilhos e superações, admiramos cada uma dessas figuras. De perto, pessoas invejosas se incomodavam. Geralmente pessoas não do povo, mas dos eruditos, com títulos e fama e saúde e planos egocêntricos. Pessoas contaminadas pelo intelecto que não encontraram a consciência.

A inteligência não é o máximo grau evolutivo.
Ela deve ser guiada por algo maior. E a humanidade, no seu íntimo, sente isso. Especialmente aqueles que tudo (deste mundo) conseguiram.
A consciência não pensa, mas sabe.
Ela é sábia e resolve as últimas questões, sem passar pelo laborioso processo mental-analítico. Ela intui e resolve. Ela é adquirida por vivência. Ela guiará o intelecto, colocando-o como servo.
A Consciência Absoluta está para o nosso Superconsciente.
O Intelecto está para o nosso Consciente.
Os instintos estão para nosso Subconsciente.

Cuidado: A consciência plena (absoluta) não é a nossa consciência humana! Esta é vista como ponto final pelo grosso “educado” do mundo, mas deve ser considerada como um intelecto-analítico. Um estágio sub-consciente em termos absolutos.

Sem Dor não há Salvação.

Mudar sem esforço é mudar permanentemente por fora OU mudar temporariamente por dentro.
De uma forma ou outra, não é mudar de fato.
Mudar com esforço é se transformar permanentemente por dentro.
Isso é mudar de fato, seja você um farrapo humano ou um bem de vida.
Mas quando a potência da vertical mística interior atinge o ápice, há transbordamento em forma de atuação ética. E com isso inicia-se o verdadeiro trabalho de ascensão coletiva. Eis a missão das personalidades citadas.
Mudar de fato profundamente transborda numa liberdade em servir.
Ser feliz no sofrimento ou ser infeliz no gozo?
Muitos afirmam veementemente serem felizes por dentro, e atuam com esforço tremendo para demonstrar isso, mas recorrem frequentemente a entorpecentes, relações superficiais, demandam elogios e acumulam bens e títulos e posses para mostrar e demonstrar ao mundo o seu sucesso e exemplo. Para se sentirem seguros. Nada mais, nada menos...
Afirmar e provar e mostrar não convence o íntimo de ninguém.
Por isso, quando alguém afirma algo (eu ou você ou outro), raras vezes devemos dar peso a isso.
Por isso, quando alguém demonstra algo (eu ou você ou outro), raras vezes devemos nos impressionar com isso.
Mas quando alguém simplesmente É, pouco afirmando e pouco fazendo, uma influência imponderável estará presente. Um Ser nesse grau de conscientização dificilmente recorre ao mundo externo para se manter seguro. Seu SER superou todos seus TERES e PARECERES, tornando estes servos daquele. Se faz, fá-lo de forma sólida e orientada. Se diz, diz de forma calma e convincente.
A dor não é buscada gratuitamente. Ela é encarada como deve ser: oportunidade no momento adequado para iniciarmos um processo de micro-ascensão (para nós, ainda pouco conscientes) ou macro-ascensão (para expoentes que buscam os infernos conscientemente).
Mas não se trata de salvar os outros.
Isso é consequência.
Trata-se de se auto-realizar após atingir o autoconhecimento.
Seria muito cômodo termos nossa Salvação garantida apenas com o sofrimento homérico de uns poucos seres.

A dor é individual. A Salvação é individual.
Mas podemos nos ajudar. Guiamos ou nos deixamos guiar.

Sem Dor não há Salvação.

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