Já é
cada vez mais certo: o mundo sempre progride. Para melhor, claro. Por
mais difícil que seja aceitar isso, é verdade. Pelo menos eu tenho
essa percepção. E é muito simples de perceber isso. Mas nossa
visão deve ser cósmica para visualizar dessa forma
Há cem
mil anos nós (nossa espécie) era nômade. Vivia em cavernas e
caçava criaturas mais pesadas - ou não - para obter o necessário
para a subsistência. Além disso devia haver alguma contemplação
primitiva da natureza (como deitar à noite e olhar as estrelas
numerosas, que na época não eram ofuscadas pela excessiva
iluminação artificial), atividades sexuais (bem selvagens), e jogos
bem simples (como emitir sons, puxar cabelos e coisas do tipo...não
sei...não me formei em antropologia). A questão era a seguinte: a
vida era dura e crua. Mas era simples e não haviam milhares de
facilidades tecnológicas nem escrita nem coisas que hoje em dia
preenchem a vida de bilhões de pessoas (mesmo as mais pobres e
miseráveis).
Com o
passar dos anos (e séculos, e milênios) surgiram vários inventos
que facilitaram a vida das pessoas: desenvolvemos o primeiro tipo de
propulsão, que foi o cão, cuja importância para a locomoção em
regiões glaciais ou que sofreram a influência da era do gelo (como
naquele desenho com o esquilo) foi fundamental para a disseminação
do ser humano pelo globo. Depois veio a descoberta do fogo, que
facilitou a cocção dos alimentos, permitindo o desenvolvimento do
cérebro e servindo de proteção para os predadores e também
iluminando as cavernas, permitindo que ficasse tudo claro lá dentro
e os homens pré-históricos pudessem começar a pensar "poxa!
agora é claro aqui e eu não estou com sono e posso ver tudo e a
cara de meus colegas e posso fazer coisas diferentes". E assim
surgiram as pinturas, a primeira forma de arte manifestada pela nossa
espécie.
E veio a
domesticação dos outros animais, que permitiu o acúmulo de
alimento (porco), o leite (cabra) e a tração de grandes volumes
(boi).
Também
surgiu o arco-e-flecha, que possibilitou uma enorme economia de
energia e segurança. Pela primeira vez era possível obter o
alimento sem o risco de se expor. Era o refinamento da técnica de
caça.
A seguir
veio a agricultura, que foi uma das maiores mudanças de todos os
tempos. Com ela nossa espécie deixou de ser nômade, permitindo o
desenvolvendo uma vida sedentária. Não havia mais a necessidade de
correr atrás do alimento. Não estávamos mais sujeitos às mudanças
climáticas. Ou melhor, estávamos sim, mas já era possível nos
planejarmos, uma vez que as estações são cíclicas e era possível
prever as colheitas e estocar alimentos para períodos de aridez. Eis
a sacada! Planejamento. Com o planejamento se tornou possível
desenvolver outras atividades, tendo em vista ganhos de longo prazo.
Surgem
cidades e com elas escolas, governos, templos, etc. E tudo melhora.
No plano intelectual surgiram a Astronomia, a Matemática, a
Medicina, o Direito, a Filosofia, etc. Isso possibilitou o progresso
intelectual da humanidade, que criou diversas instituições e
sistemas ao longo dos séculos vindouros. No entanto, em termos
morais, houve pouco - quase nenhum - progresso.
Uma das
maiores mudanças que nossa espécie sofreu foi ocasionada pela
Revolução Industrial, no final do século XVIII. A partir dela, a
vida das pessoas começa a mudar radicalmente. Para pior, na grande
maioria dos casos. E aí forma-se o que a gente conhece como classe
operária.
Olhar além sempre. |
A
desculpa dos patrões para tamanha exploração - da energia, do
tempo e consequentemente da dignidade - era a seguinte: esse era um
bem para todos, pois os pobres - especialmente as crianças - com
tempo livre, poderiam facilmente se desviar do caminho reto da vida,
recorrendo à bebida, ao fumo, à prostituição e ao roubo. Claro!
Passando 14 horas por dia dentro da fábrica isso não iria ocorrer.
Mas...se a criança permanecesse ESTUDANDO, dentro da escola, por um
período semelhante, o resultado não seria o mesmo? Aliás, não
seria MUITO MELHOR estudar do que trabalhar, para que no futuro essas
crianças tivessem condições de trabalhar dignamente? É claro que
os patrões devem ter desviado desse assunto de alguma forma,
afirmando que a escola não movimenta a economia ou coisa do tipo. E
mesmo se naquela época isso fosse verdadeiro em parte, para os
tempos de hoje isso se aplica cada vez menos - e segundo diversos
especialistas, tenderá a acabar por completo.
A
verdade é que por muitos anos (décadas, e agora séculos) ecoou
essa desculpa. E agora, em pleno século XXI, muita gente continua
acreditando que deixar as pessoas com mais tempo livre acarretaria em
vagabundagem. Isso não condiz com muitos casos que eu conheço.
Porque houve uma democratização não apenas dos recursos, mas
também da informação. E - por incrível que pareça - as pessoas
estão mais inclinadas para o conhecimento. É um fenômeno mais
difundido. Já se vêem pessoas tendo conversas que consideram
prazerosas mas que (ao mesmo tempo) trazem junto um profundo senso
investigativo. É impressionante. E gente cada vez mais inclinada a
ocupar seu tempo livre de forma extremamente útil - ouso dizer que
de forma infinitamente mais produtiva do que muitos fazem dentro de
caixas de concreto ou sob as intempéries.
O que
alguém classifica como barbárie, realidade ou utopia é função de
diversas variáveis. Se trata de algo relativo.
O que é
considerado nefasto atualmente era prática comum há alguns séculos
(queimar hereges, por exemplo). O que é considerado utópico hoje
amanhã pode ser considerado normal. E na mesma época, vemos no
globo diversos povos com posturas diferentes sobre as mesmas
questões. Mas devemos ter cuidado em classificá-los num grau
evolutivo.
Eu
acredito que não é possível classificar um povo, um grupo, uma
nação, e mesmo um indivíduo de forma absoluta. Aliás, se nem um
indivíduo pode ser enquadrado numa categoria absoluta de bom ou mal,
- pois todos somos compostos por uma miríade de vetores que
representam virtudes a serem desenvolvidas, cujas magnitudes são
diferentes e variáveis, e que estão (muito) longe de atingir a
intensidade máxima - muito menos podemos classificar um povo de bom
ou mal. É claro que existem povos com uma forte inclinação para
tendências boas ou más. Mas nessa análise estamos considerando um
ou outro aspecto específico. Portanto devemos ter uma visão
completa daquilo que estamos avaliando para não corrermos o risco de
cairmos em contradições catastróficas.
Podemos
analisar a humanidade como um grande organismo vivo, composto por
diversas células (pessoas), cada uma com uma função específica
(profissões). Esse organismo vivo opera sobre o planeta,
transformando-o em prol do benefício coletivo (pelo menos
teoricamente). Sob essa ótica é evidente que, para o organismo
funcionar bem como um todo, cada célula deve trabalhar em prol de um
objetivo comum. Não quero dizer com isso que devemos nos submeter a
um regime autoritário (corporativo ou estatal), e sim que existe um
grande princípio que todos devem seguir - pelo seu próprio bem.
Hoje e futuramente. Esse princípio já começa a ser compreendido
por alguns seres, e parece que veio para ficar.
Sendo
cada célula especializada em uma função, e sendo todas funções
imprescindíveis para a saúde do organismo, chega-se à conclusão
de que se um grupo de células com funcionalidade comum está em
risco, todas outras devem agir para ajudá-la. Caso contrário o
organismo morre, arrastando para seu leito todas as células - todas.
Da mesma
forma, se uma parte do organismo opera de forma mais eficiente, é
sensato que outras partes comecem a se inspirar e reproduzir o
exemplo.
A
humanidade, em busca de um suposto progresso, tentou estancar todas
tentativas de melhoria na qualidade de vida. Isolando, classificando
e propagandeando negativamente. Ao mesmo tempo, todas ações
sedutoras, mas cheias de vícios, foram reproduzidas e colocadas num
pedestal de exemplos a serem seguidos. E o resultado desse
comportamento é o que se vê nos jornais - sensacionalistas em sua
maioria- nos programas de televisão, nos relacionamentos fundados na
matéria, e etc.
Enquanto
a humanidade não RECONHECER seu atraso. Enquanto a humanidade não
reconhecer e COMPREENDER as causas de seus problemas mais
desesperadores, a trilha do Progresso estará limitada para o
coletivo, e dificultada para as poucas almas iluminadas - ou em busca
de iluminação.
Não há
mais motivo para tanto sofrimento.
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