Difícil é tomarmos uma decisão por profunda e livre convicção que esteja em desacordo com o que se convencionou estabelecer como correto e progressista. Ir contra o pensamento predominante, difundido pelo poder político e econômico, seja na esfera privada ou pública.
Os verdadeiros agentes da evolução foram mártires. Cristo, Sócrates, Giordano Bruno, Sacco e Vanzetti, Hipátia, Sophie Scholl...
Sócrates. Antecipação do porvir (Cristo). Cedeu a vida na defesa da evolução. Seguiu a consciência, se armando da qualidade da reflexão para enfrentar a quantidade da repetição. |
Ir no ritmo do meio é fácil.
Antecipar modos de conceber tudo é árduo, muito árduo. Uma tarefa ingrata.
O que falhou no passado pode funcionar no futuro.
A concepção se dilata á medida que nos sensibilizamos.
O conceito de trabalho é ainda superficial e infantil. É um conceito preso a tempo, espaço e aparências.
Trabalhei grande parte da minha vida. Isto é, passei por maturações apocalípticas internas. Um registro ininterrupto de experiências. Procurei um sentido para o comportamento humano e o modo como as coisas se organizam. Tentei compreender e me adaptar à lógica do mundo. Por muitos anos, de diversas formas. Mas vi contradição nela. Ou melhor, percebi uma negação da evolução. A longo prazo. E nisso me desiludi. E com isso passei a viver de meu modo, com poucas possibilidades externas, mas descobrindo cada vez mais tesouros internos.
À parte de constatação iniciou-se uma de aplicação. Ela é vasta, dinâmica e exige altas doses de energia e paciência em lidar consigo mesmo e com o mundo. Essa aplicação vem em ciclos pelo que estou registrando. E a gênese de cada um é precedido por um período de intensa dor.
Decepção, desilusão, caos calmo, tranquilização, reflexão e uma nova fase.
Inicia-se a condensação de novas possibilidades. Potencialidades latentes dão seus primeiros ímpetos. Possibilidades na mente. Livros são relidos, filmes revistos, músicas ouvidas e sentidas de forma mais profunda. Novas assimilações, novas preparações.
E assim nasceu essa corrente de pensamentos que despejo neste blog. Já são 18 meses de atividade incessante. Trabalho profundo, conceptual, conduzido pelo sentimento. Um sentimento orientado que enfrenta a razão do presente. Vejo como a razão do futuro - até que me convençam do contrário.
Assim também conheci uma série de pessoas interessantes, que se tornaram grandes amizades.
Assim iniciei um aprendizado musical que, mesmo incipiente, já pode ser considerado um despertar de vontade num campo da arte.
Assim aprendi francês nas férias de verão, sem necessidade de estímulos externos. Apenas pelo interesse em me expressar de modo diferente. Apenas para passar o tempo de forma (que julgava) construtiva e alegre.
Assim me lancei em abismos profundos, munido apenas de uma vontade infinita. Uma vontade que vem andando de mãos dadas amorosamente com uma incessante convicção de melhorar. Uma vontade que ajudou a me guiar nos momentos mais desorientadores, permitindo a construção de uma ideia, uma linha de raciocínio, e uma sábia e ponderada condução dos atos. Uma vontade férrea responsável por superações no campo do saber, do buscar, do crer, do comunicar. Uma vontade tão consoladora que me deu sentido num dos períodos mais tensos de minha vida. Assim nasceu meu trabalho de mestrado.
Assim, inconscientemente, comecei uma série de diálogos apocalíticos que resultaram no milagre de causar aproximação ao invés de rejeição. Uma corrente de idéias se confrontando. Um estado de alta empolgação e energia cujo produto é - a meu ver - uma sensação de leveza. Um descarregar de sinceridade que mudou o conceito que algumas pessoas tinham de mim. Ousadia férrea e sinceridade. Acidentalmente descobri potencialidades latentes.
E assim creio que continuarei. Uma cadeia de ciclos ascensionais que dilatarão cada vez mais a consciência, me conduzindo a um maior estado de calma e independência.
Quando superarmos essa concepção com o florescimento de qualidades psíquicas mais elaboradas, veremos que a riqueza imaterial é muito mais valiosa do que aquilo que cultuamos e buscamos; que a liberdade está muito além do que imaginamos ser; de que a dor que incomoda é para ser dialogada e não esmagada; de que os problemas de nossa vida são, em grande parte, causados por nós mesmos, que agimos em descompasso com nosso discurso.
Fazemos tudo dentro dos limites de nossas possibilidades. É natural.
Podemos concordar com aqueles à frente, mas não apoiá-los abertamente por razões óbvias.
Mas não taxá-los de loucos e (ao invés) refletirmos antes de tomarmos uma decisão (e atitude) que está de acordo com a lógica presente de nosso mundo - cuja concepção é limitada em sua média - já é um bom começo.
Vale a pena pensar nisso...
Filmografia recomendada:
https://www.youtube.com/watch?v=XM5A4ETW_Io [Sophie Scholl]
https://www.youtube.com/watch?v=j5m6AkQNvu4 [O Amante da Rainha]
https://www.youtube.com/watch?v=psHwm0a30UU [Festa em Família]
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