Nossa sociedade está
tendo a possibilidade de observar um avanço tecnológico ímpar nas
técnicas de segurança. Técnicas que se superam a intervalos cada
vez menores. Ainda me impressiono ao ver como os sistemas de
filmagens, identificação, gravação e investigação se refinam em
ritmo – aparentemente – exponencial. Me interessa igualmente a
criatividade humana em criar métodos e sistemas que possibilitam
cegar esses mesmos sistemas, confundindo-os. Isso é natural nos
fenômenos humanos: uma superação de um lado pede por outra no lado
oposto.
Quem cria os sistemas
de segurança afirma estar primando pela segurança daqueles que o
adquirem; Quem supera-os vê nesse ato uma possibilidade (ou
necessidade) de superação. Ou melhor, a criação de um lado
estimula a criatividade de outro. O entrincheiramento de um pede o
desenvolvimento de armas de penetração de outro, e vice-versa.
“A melhor maneira
de não ser roubado é se tornar pobre.”
Jean Valjean. Ascensão por impulso divino. |
“A melhor defesa é
NÃO MERECER o golpe que estão lhe inflingindo.”
Essas são afirmações
de grande impacto e prontamente rejeitadas pelo racional humano
presente. Elas não se encaixam na lógica atual, na qual a melhor
defesa é se defender de todos os modos possíveis, desconfiar de
tudo e todos (ou quase) e conduzir a vida de forma a manter
aparências (físico) e status (social). Mas observemos um pouco mais
no fundo o significado profundo de tais afirmativas.
Nós vivemos
(presentemente) num universo relativo. No campo da matéria – como
Einstein teorizou e tecnólogos demonstraram – e nas relações
humanas, ou campo moral. Isso é um fato observável e
controlável. A própria natureza dessa condição nos impele a fazer
reflexões profundas acerca do que dizem. Caso contrário, tende-se a
cair em enganos e ilusões. Porque as afirmações sempre são vistas
de acordo com nossa vivência histórica, decisões (personalidade)
e meio social (ambiente). Portanto,
para não cair no erro da aceitação imediata e suas possíveis
consequências, deve-se extrair um significado global,
envolvendo outras visões, e
mais profundo,
percebendo as nuâncias.
Sensibilidade orientada para evolução.
É
possível, dentro de um certo grau, ser pobre materialmente E
conseguir satisfazer todas suas vontades orgânicas (alimento, saúde,
abrigo, vestimenta,...) e espirituais (afetividade, trabalho, estudo,
cultura,...). Esse comportamento depende do grau de dependência que
temos do mundo. Este atualmente nos bombardeia, – inconscientemente
e por automatismo – via propaganda e atos de inclusão/exclusão,
uma série de objetivos que devemos atingir. Nosso ser deve se
adequar a necessidades “que temos”. Necessidades que (por
coincidência?) se fundem com àquelas do que passamos a denominar
mercado.
"Segurança é o cara que trabalha pra fazer as pessoas se sentirem inseguras." Paulo Autran em "A Máquina" |
Ciclos
e ciclos se realizam até sua exaustão. No fim dele, desilusões. No
entanto, uma experiência adquirida, mesmo que através do erro e da
dor.
Uma
pessoa que tem a firme convicção
de estar agindo conscientemente jamais se sentirá ameaçada pelo
meio que a cerca. Expõe seu ponto de vista da forma mais clara que
suas capacidades e conhecimento o permitem e recebe as observações
de forma profunda, mesmo que o meio seja refratário às sua crenças
e visões. A única exceção ocorre quando a vida do próprio (ou de
terceiros) está em jogo. Nessa situação não se avança ou expõe
com o risco das concepções de mundo serem muito diversas e existir
um terrorismo psicológico-econômico-social (um se concatena ao
outro paralelamente) operando em camadas profundas e não-reveladas.
Quem
fala com sinceridade
tem a consciência tranquila porque nada tem a esconder – dos
outros ou de si mesmo. Isso evita o dispêndio (inútil) de energia
em algo que dispersa energias evolutivas.
A
partir dessas duas características (convicção sentida e
raciocinada / sinceridade) pode-se perceber que a melhor segurança
que podemos ter é conosco mesmo.
Isso
novamente pode parecer abstrato para muitos leitores. No entanto aqui
vai um caso vivido até suas últimas consequências por um colega.
A melhor maneira de salvar alguém é exercer o amor pleno. |
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Um
certo dia tentaram assaltar meu colega – que é pobre e frequenta
meios (bairro, ruas, trajetos) com maior chance de ocorrer tais tipos
de incidentes. Era de noite, escuro, e ele estava com uma amiga
voltando para casa.
Á
medida que andavam por uma rua mal iluminada, um vulto começa a se
aproximar. Nada de assutador, nada a temer, pensou meu amigo com a
mente leve como uma pluma.
Os
passos se tornam mais intensos. A proximidade era evidente. O
caminhar continua.
Num
dado momento o ser ultrapassa os dois e vira repentinamente, com uma
faca apontada diretamente para a face do homem.
“Me
passa o dinheiro!”
Era
um garoto. Um simples garoto que provavelmente aprendeu a se
comportar daquela forma para obter o que queria. Possivelmente por
falta de oportunidades e pela facilidade com que as pessoas valorizam
a astúcia – mesmo não admitindo abertamente. Possivelmente...
De
qualquer forma, a reação do homem foi olhar diretamente nos olhos
do garoto. Mas não apenas isso. Era um olhar tenro mas firme. Fixo
mas pacífico. Profundo e receptivo.
Um
silêncio se fez por uma fração de segundo. Centenas de pensamentos
deveriam estar correndo pela cabeça do garoto. Incessantemente. E
(igualmente) de sua colega, perplexa por não conceber o que se
passava na mente de seu colega.
Por
fim meu amigo disse ao rapaz,
“Desculpa.”
Continuava
a olhar com segurança. Ele não temia pela sua vida. Possivelmente
porque percebia que existe algo (um princípio, uma idéia, um
sentimento, uma continuidade no imponderável) muito mais importante
do que a conservação momentânea. Mais: ele não se sentia
realmente ameaçado e desejava o melhor para o garoto. Percebia que
ele era simplesmente vítima de uma conjuntura econômica e social
doente, que enquadra todos de acordo com regras antigas. Percebia que
ele jamais teve uma oportunidade introduzida de forma adequada à sua
realidade e experiências. Percebia, sentia – isso num átimo –
que talvez ele tivesse uma dívida com o universo. Uma dívida
contraída anteriormente. Uma dívida acumulada, que posssivelmente
veio a ser cobrada naquele momento, fazendo uso daquele garoto.
Nenhum ódio, muita compreensão.
O
garoto, perplexo, permaneceu parado. Nãoi conseguia conceber esse
modo de comportamento. Era além do seu concebível. E ao mesmo
tempo, não sentia agressividade do outro lado.
Por
fim, acabou abandonando a faca e indo embora.
O
que era instinto atávico evaporou.
Restou
uma semente de esperança.
A
compreensão de um lado gerou compaixão.
A
compaixão orientou e energizou integralmente o ser.
A
atuação foi receptiva.
O
resultado foi construtivo.
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Um
caso particular, podem dizer. Mas tão especial foi a forma de nosso
protagonista ao lidar com isso, que esse particular (visto pelo
leitor) dentro desse particular (de comportamento) torna o caso digno de uma realidade capaz de transformar o mundo. Sentimos semelhanças com o de Jean Valjean e o Padre
Myriel (Os Miseráveis).
Nos faz crer em outros caminhos e incitá o leitor profundo a adotar
uma outra concepção de vida
e justiça. Eis um
caso em que a crença no abstrato se manifestou de forma concreta.
O real está na abstração.
O ilusório está no concreto.
Um
líder (estadista, empresário, chefe,...) que precisa estar rodeado
de segurança, sente pouca segurança e portanto se vê inseguro por
mais que se rodeie de mecanismos de proteção. Seus atos estão
longe de ser um exemplo. Sua visão de vida é restrita e egoísta. É
prisoneiro de uma forma mental que não gera ascensão para si ou
seus subordinados, mas apenas uma falsa sensação de progresso.
Quanto menos seguranças nos rodeando por fora, mais segurança teremos por dentro.
Essa é a visão que ofereço a todos e todas - especialmente àqueles rodeados de seguranças que fogem constantemente da realidade.
Quanto menos seguranças nos rodeando por fora, mais segurança teremos por dentro.
Essa é a visão que ofereço a todos e todas - especialmente àqueles rodeados de seguranças que fogem constantemente da realidade.
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