terça-feira, 27 de março de 2018

O Universo é determinístico ou estocástico?

Estocástico
"Em teoria probabilística, o padrão estocástico é aquele cujo estado é indeterminado, com origem em eventos aleatórios. Por exemplo, o lançar de dados resulta num processo estocástico, pois qualquer uma das 6 faces do dado tem iguais probabilidades de ficar para cima após o arremesso. Assim, qualquer sistema ou processo analisado usando a teoria probabilística é estocástico, ao menos em parte."
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Estoc%C3%A1stico]

Determinismo
"Determinismo (do verbo determinar, do latim determinare: a adição do prefixo de -"para fora" - e terminare - terminar, limitar, finalizar.[1]) é a teoria filosófica de que todo acontecimento (inclusive o mental) é explicado pela determinação, ou seja, por relações de causalidade."
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo]

Há tempos eu li um livro do Leonard Mlodinow intitulado "O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas". Há vários episódios interessantes que fogem ao senso comum. Um deles diz respeito a um programa no qual o apresentador dá a um convidado a opção de escolher uma de três portas (atrás de uma delas está o prêmio). Após a escolha o apresentador abre uma das portas que não contêm o prêmio (exceto a já escolhida) e pergunta ao convidado se ele deseja trocar de porta - sim ou não. A pergunta que o autor nos põe é: trocar ou não trocar irá mudar a probabilidade de chegar ao prêmio?

Diagrama polar dos movimentos fenomênicos.
A evolução é cíclica, oscilante e progressiva.
Uma espiral que inspira-expira, com aberturas
cada vez maiores, significando maior
despertamento do espírito.
À primeira vista parece que a revelação da porta vazia e a escolha por trocar ou não estão desconexas - pois é um prêmio que continua atrás da mesma porta. Mas o fato é que após o evento "informar" o protagonista possui um conhecimento que o eleva do plano do acaso, puramente probabilístico, dando-lhe uma certa dose de determinismo, gerando um contexto não mais 100% "governado" pela aleatoriedade, mas híbrido, com certa dose de determinismo.

Vejamos pormenorizadamente.

Quando eu escolho uma porta minha probabilidade é 1/3 de acertar (assumindo que não tenho um 6º sentido ou tenha combinado algo previamente com a equipe).

Minha escolha pode estar certa (Pc = 1/3) ou errada (Pe = 2/3).

Quando uma porta falsa é revelada eu tenho acesso a uma informação que não tinha anteriormente (algo me é revelado). Caso a escolha original seja certa, trocar de porta significa perda.  Caso a escolha original seja errada, trocar de porta significa acerto.

Mas a probabilidade da escolha ser certa é de 1/3, ao passo que a situação de erro tem 2/3. Logo, optar pela troca em duas das três situações possíveis será ganho - ao passo que permanecer o será em apenas uma situação. Ou seja: independente da sua escolha, trocar de porta após receber essa informação aumenta a probabilidade de acertar. Não significa que você irá acertar, mas terá mais chances.

Agora passemos para o plano da vida humana e do universo, com todas suas complexidades e elaborações. 

O que significa levar uma vida orientada? Significa estar na posse de um conhecimento que lhe dá a oportunidade de exercitar sua liberdade - conhecimento sem o qual o uso da liberdade não pode se dar. Isso é o que diferencia o ser humano das outras espécies: a possibilidade de capturar conceitos e elaborar ideias, dando-lhe possibilidades de superar o férreo determinismo da natureza infra-humana.

O caos do acaso está circunscrito na ordem do determinismo.
Isso se dá em várias camadas. A descoberta de novas leis
supera o acaso do passado. Depois, surgem novas dúvidas
(caos), que são os desafios que novos pioneiros devem
desvendar.
 Mas se emancipar das consequências árduas de um determinismo elementar através do uso do livre-arbítrio não significa que cesse o determinismo universal da Lei, que circunscreve tudo e todos, inclusive o próprio Universo, ínfima manifestação de um princípio superior. 

Quando a pessoa se vê na posse de uma informação ela é estimulada a fazer uso de sua razão para conseguir valer o que lhe foi passado. Essa informação deve se transformar em conhecimento, cuja função cabe ao psiquismo - a nível humano. Podemos ter o caso contrário, no qual a teoria é elaborada antes da situação prática brotar. Nesse caso deve-se relacionar a mesma com a situação, percebendo que ela explica o que é mais vantajoso. De qualquer forma deve-se estabelecer uma relação. Isso é uma característica exclusivamente humana. Os animais e vegetais apenas capturam as sensações do ambiente (sentidos), sem estabelecer uma rede de causa-efeito entre os fenômenos. Apesar disso executam suas funções magistralmente. O que nos leva a concluir que a natureza infra-humana já atingiu o seu estado de regime permanente, ao passo que nós humanos estamos numa travessia multimilenar. Nossa natureza está em transformação - daí a existência da consciência, terreno de liberdade e experimentações, de ousadias e sistematizações, do qual florescem os mais altos conceitos filosóficos, as grandes revelações, as profundas obras de arte e as grandes teorias. 

Por estarmos em processo de transformação sofremos. Sofremos porque não sabemos a finalidade última da vida (por que estamos aqui? por que nascemos e morremos? por que fazemos "loucuras"? por que...). Daí que advêm o sentido da evolução, em seu sentido lato. Já falei alhures sobre essa travessia unicamente humana pelos vales do intelecto [1]. Desenvolvi-a após uma visão clara e intensa, que me deixou em estado de êxtase [2]. Assim fiz uma sistematização do conceito, de modo a relacioná-lo com a vida cotidiana. 

Diagrama geral que revela a jornada multimilenar da
humanidade. O conceito foi sistematizado posteriormente
em outros ensaios. 
Uma vida, quanto mais orientada seja, terá mais possibilidades de ascensão. Isso não significa evitar dores, conquistar fama, dinheiro, prazeres e conforto, mas construir a personalidade, erguendo uma vertical a partir do plano humano, iniciando um processo de superação.

Da mesma forma que no jogo apresentado, muitas pessoas consideram a vida como acaso ou - no máximo - um híbrido acaso-determinismo, com pequena dose deste último. E recorrem, no máximo, às teorias da mente, probabilísticas e de outros ramos do saber, para conseguir optar pelo "melhor caminho". Mas quem possui intuição, com forte senso de orientação, sabe que o universo é regido por leis determinísticas superiores, que aceitam a desordem do acaso justamente por dominá-lo, sabendo que este trabalha a seu favor. É a lei dos grandes números que Sua Voz revela em A Grande Síntese.

A busca alucinada pelo saber se reduz quando se tem uma firme orientação universal. Busca-se o realmente necessário, compreendendo as limitações próprias, as limitações da mente humana, ou seja, da consciência racional-analítica. Aí inicia-se a conquista de uma nova consciência, universal, de processos simultâneos, intuitiva-sintética. A evolução continua de forma orientada, estreitando-se as sistematizações, enxugando a complexidade à medida que se assimilam as experiências. O subconsciente se renova através do intenso trabalho do consciente. A natureza humana melhora, e com isso nasce o Novo Ser Humano - o Super-Humano. Antes a nível individual, com pouquíssimos exemplares experimentando caminhos novos, inexplorados, refazendo conceitos antigos, reaplicando ideais abandonados. São os pioneiros. Os mártires. Aqueles que sangram por nós, anseiam pela ascensão. São os Santos, cuja revolta com a forma de vida atual é tão grande que explodem conceitos revolucionários, gerando novas formas de vida, que encantam pessoas através dos séculos e milênios. 

São inúmeras camadas: caos 1 - ordem 1 - caos 2 - ordem 2- caos 3 - ordem 3 -...Cada etapa exige uma superação. Um esforço titânico de superação da realidade. Cada descoberta e assimilação significa ganho de liberdade e consequente maturidade, que obedece leis superiores, enquadrando as leis humanas na Lei de Deus. 

As ferramentas do intelecto somente nos salvarão se forem submetidas a uma inteligência superior, capaz de orientar. Para isso é preciso cada vez mais saber selecionar (e não expandir) e usar (e não recusar ou abusar). Isso é o que a sabedoria da vida me mostrou através da dor - bendita sejas!

Os tambores soam com toda intensidade. O ódio advindo do medo se espalha. A ignorância reina. As bases da civilização erodem. É nesse momento que o inconsciente humano clama pela erupção de novas visões de mundo e vivências integrais, impulsionadas pelo calor da sinceridade e pelo ímpeto do saber ser. Hora decisiva no destino da humanidade. Momento seríssimo, no qual o menor esboço de desdém pela Lei significa a ruína do ser. 

Despertar é a nossa missão. Lancemo-nos nesse desafio monumental!

Referências:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo.html?m=0
[3] O Andar do bêbado. Leonardo Mlodinow. Ed. Jorge Zahar.

segunda-feira, 26 de março de 2018

A Consciência ignora a Grande Mídia

No dia em que o mundo for razoavelmente decente - e este dia chegará, nem que à custa de catástrofes apocalípticas - a maior profilaxia contra a doença da ignorância, que produz todos os tipos de miséria, será nos meios de comunicação, incluído aí canais de televisão aberta e fechada, rádio, jornais, revistas, folhetos, internet, anúncios, legislações direta ou indiretamente relacionadas e aplicação das leis. 

Enquanto os povos do mundo (e do país, num nível mais escrachado) estão se digladiando sobre questões superficiais, a plutocracia global continua imprimindo sua vontade através de seus agentes: os estados capturados, sua mídia de massa, seus bancos, sistema financeiro e suas correntes de pensamento difundidas em universidades e escolas. 

É triste constatar que quase sempre, quando se inicia uma conversa que poderia se tornar um processo de pesquisa racional e um irmanação de almas em busca de uma compreensão da verdade, unindo fragmentos, o desenvolvimento das falas iniciais não vão muito mais do que três palmos de profundidade no oceano da verdade. Os produtos são um reforço do desprezo por determinado grupo, partido, personagem, corrente de pensamento, religião, forma de ver o mundo, profissão, área do saber, ou qualquer outro relativo humano. Deseja-se expelir argumentos da forma mais apropriada a reforçar uma crença pessoal. Uma crença reforçada através da história do indivíduo e das correntes mentais que mais facilmente sintonizam com seus desejos. Amplia-se o que se deseja enxergar, tornando o aumento uma realidade; e diminui-se (ignorando, por exemplo, ou desmerecendo uma teoria com base em opiniões duvidosas) o que não se deseja enxergar, tornando a miniaturização um processo natural que não distorce. Dessa forma o ser humano reproduz, de forma pobre, o comportamento da grande máquina midiática que determina os rumos de nossa civilização. 

Noam Chomsky (1928). Não basta compreendê-lo. Devemos
identificar nossas misérias com seus conceitos, e após isso
desintoxicar nossa vida das mais diversas drogas - em seu
sentido mais amplo. 
Se alguém crê que o que está sendo dito é exagero aponto para um renomado ser humano, cuja perseverança e paixão pelos estudos ao longo de sessenta anos de carreira pública lhe renderam o título de "o maior intelectual da atualidade". Trata-se de Noam Chomsky

O que diz esse linguista, filósofo e ativista político norte-americano? Primeiro: os meios de comunicação (os grandes) confundem a população, ajudando no processo de fabricar o consentimento. O que seria isso exatamente?

Consentimento é aquela atitude que alguém tem em face a algo que lhe ocorre (bom ou não) ou é apresentado (como uma ideia). Se ela não questiona, não assume uma postura crítica, não busca meios de compreender os porquês daquilo nem o porquê do modo como lhe foi apresentado, essa pessoa está concordando (um voto) de que aquilo está "ok", e pode-se continuar com aquelas ações, sejam elas políticas de investimento, ideologia dominante, modo de interpretar leis, que tipos serão valorizados socialmente, entre muitas outras coisas. Ela está consentindo. Abaixando a cabeça e dizendo "certo. eu não vou fazer nada a respeito, deixarei essa visão de mundo se difundir, mesmo não concordando. mas minha vida é tão atribulada (alienação) e minha pressa em me aliviar das tensões (conspicuidade) é tão forte, que irei deixar por isso mesmo." E pensa - se é que podemos assim dizê-lo - ainda: "começar a destrinchar certos assuntos vai sujar minha imagem e me trará problemas. ficarei preso ao modo de comportamento da média para poder viver em paz." Esse indivíduo não é mau. Ou seja, não é culpado pelo mal que faz. Mas tem dívida imensa devido à sua neutralidade inerte que viabiliza a construção subterrânea do mal. Hannah Arendt explica (ver vídeo abaixo).


A mídia de massa coloca a imensa maioria das pessoas num estado de impotência tão monumental que as poucas reflexivas que restam são enquadradas pela imensa massa social cooptada pelos meios de comunicação dos (ou sob comando dos) plutocratas. E assim sobram os pouquíssimos que fazem frente ao absurdo que se tornou a sociedade humana, imersa no turbilhão de fluxos frenéticos de informação - mas ao mesmo tempo desinformada, com cada vez menos conhecimento e nenhuma sabedoria ou ânsia de adquiri-la.

A base do controle é a divisão. Se os 99% (digamos assim), que representam a classe média e o povo (incluindo os miseráveis), estão fracionados em diversos grupos, partidos, religiões, seitas, filosofias, classes, etc, jamais poderão fazer frente ao 1% que os controla, roubando-lhes o bem mais precioso que alguém pode ter: direitos humanos e liberdade. 

Enquanto a população se debruça sobre o julgamento de um personagem, ou discute novelas, ou discute eventos desconexos, ou repete dia após dia discursos, ou fofoca sobre o modo de um se vestir, amar, caminhar ou falar, ou procura remediação das dores (psíquicas e físicas) no consumo do supérfluo,...enquanto isso se der (e isso ocorre a todo momento, todo dia), nada irá mudar. Enquanto as pessoas estiverem se sintonizando com os grandes meios de comunicação, nenhum passo será dado em direção a um mundo melhor, com menos injustiça e mais eficiência. 

Para largar algo que te prende na ignorância antes deve-se perceber que aquilo está te escravizando. Isso é tomar consciência. Isso é difícil, e se dá em vários passos. Pequenos degraus. Pequenos mas imensos perto dos degraus paupérrimos da intelectualidade, alta cultura, potência física e sensações inebriantes que o mundo vê como avanços - mas que nada mais são do que ilusões que alimentam a ignorância humana. Debater em público, com amigos e colegas, as dez estratégias de manipulação das massas, terá muito mais efeito do que ficar na superfície dos ódios e esquemas (ver vídeo abaixo).

Raríssimas são as conversas nas quais é possível irmanar pensamentos e sentimentos. A fusão das almas envolve escutar, compreender, saber sofrer com seus conflitos interiores. Conflitos loucos para serem externalizados na forma de consumo vazio e fofocas áridas e distorções dolorosas. Não podemos permitir que isso aconteça. E isso está sob nosso controle! Precisamos usar as dores para construir algo melhor, com mais sentido, e assim brindar esse mundo que se chafurda na lama com algo diverso, resistente às críticas mais ferozes, aos ataques mais incisivos e que se torna cada vez mais claro - especialmente quando se tenta acobertar. Forjar um destino é a obra de arte mais bela deste universo.

É verdade que os avanços tem seu tempo. Por isso as construções devem ser no interior. Quando chegar o momento, a oportunidade de difundir será apresentada, bastando percebê-la e trabalhar para concretizar o que antes era utópico. Os maiores significados das vidas nascem assim. Coisas incríveis que, a depender do grau de maturação interior precedente, se tornam obras que ecoam pelos milênios. 

Dois mil anos de cristianismo não nos trouxeram a realização do Evangelho. Mas a possibilidade sempre está presente. Começam a surgir seres capazes de trabalhar em cima do trabalho de Cristo, aplicando, vivendo e modernizando (ex: Francisco de Assis e Ubaldi) princípios universais. Nessa grande corrente de almas concatenadas, auto-reforçantes, que começam a aparecer e imprimir ao mundo a sinfonia que grita o cântico da bela dor, vemos o preparo do mundo futuro. São raios de luz momentâneos que incitam as almas sedentas a buscarem melhor compreender os fins da vida. Dão coragem e inspiram. São eternos e imprimem um calor confortante, mesmo que neste mundo só restem escritos e relatos. Mas o princípio se propaga ao longo da linha da História, explodindo ora aqui ora acolá, em novas formas, mais elaboradas e adaptadas aos tempos modernos. Sentir esse transformismo nos liberta dos vícios dos meios de comunicação.

O tempo ruge. O ecossistema foi gravemente ofendido e a consciência do acontecimento tocou poucos corações. Talvez mais mentes tenham compreendido. Mas o número é pequeno. Portanto o trabalho se torna grande. 

Quem percebe e sente o absurdo da divisão humana deve encontrar o meio de espalhar a ideia. Deve se abrir ao diálogo profundo e aceitar os choques bem-intencionados, englobando verdades relativas e inserindo-as numa ordem harmônica maior, mais vasta, sem no entanto dar uma impressão de diminuição do outro - e sim uma sensação de despertar, que alivia. 

Somente dessa forma o Brasil e o mundo irá efetivamente progredir. De nada irá adiantar manter um sistema político inadequado às complexidades da vida moderna; de nada irá adiantar xingar e eliminar grupos, religiões, partidos e ideologias; de nada irá adiantar consumir e ignorar outros fragmentos da grande verdade; de nada irá adiantar se esquivar do processo evolutivo, que exige ousadia inteligente. 

Enquanto ocorre um desmonte não apenas de direitos, mas de conceitos de vida, em todo o mundo, com diversos graus de intensidade e frequência, estamos fazendo pseudo-batalhas, na superfície. E enquanto houver alguma ilusão ao qual possamos nos agarrar, temo que assim o será.

Desse ponto de vista devo concordar que "Sem Dor não há Salvação". Pois é a querida irmã dor aquela que mais nos recorda de que há algo profundamente anormal ocorrendo na sociedade.

Começar a perceber que a grande mídia é muito mais poderosa e nociva do que os governos - que são meras marionetes dos plutocratas, que controlam os meios de comunicação - é o primeiro grande passo. 

Daremos o passo ou rumaremos à degradação da vida em suas mais variadas formas?

Referência:
[1]https://medium.com/@caityjohnstone/mass-media-propaganda-is-the-only-thing-keeping-us-from-rising-like-lions-454c0b7df2c

Vídeos:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=tTBWfkE7BXU
[2] https://www.youtube.com/watch?v=34LGPIXvU5M

domingo, 25 de março de 2018

Do Humano ao Super-Humano

A vida só não entra em débito com a Lei se ela é preenchida de sentido. As forças da vida não estão interessadas na reprodução indefinida de valores caducos que se recusam a ceder espaço para valores mais elevados, que não negam mas antes assimilam e englobam sistemas de crenças e valores em estágio de estagnação. Esse princípio vale para a natureza infra-humana, a natureza humana e a ultra-humana. 

Mais de dez anos de estudos, constatação contínua e sofrimento me levaram a perceber o determinismo dos pensamentos, sentimentos e atos humanos, dando-me uma percepção substancial dos fenômenos. Grupos e seres passam a ser desnudados por uma olhar em profundidade, que capta o porquê e o como dos comportamentos. Vejo os mesmos automatismos em mim. E por esse motivo comecei a (naturalmente) reduzi-los, percebendo que eles nada mais são do que um comportamento manifestado na vida exterior vindo das profundezas do subconsciente. 

Figura 1. Ver o mundo com nova perspectiva,
mais potente. Seres com maior sensibilidade
e que saibam trabalhar com ela. Despertar dos
sentidos do espírito....
Quando se percebe o íntimo do comportamento humano a pessoa se dá conta de que toda sua vida pretérita foi conduzida de modo não-orientado. Atitudes e ações tomadas sem reflexão. Emoções que explodem por necessidade de alívio de tensão, através de vias exteriores, convencionais, aumentando a desordem exterior. O consumo conspícuo e o trabalho alienado acabam servindo para um suposto alívio, de modo que a lógica hodierna, com seu sistema, se alimente por duas vias, igualmente desintegradoras e desgastantes, pendendo para ineficiências cada vez maiores. Assim a espécie humana (não) resolve seus problemas mais substanciais. 

Os diálogos, os debates, os mergulhos nos porquês das coisas, as exposições íntimas e sinceras de visões de mundo cessam logo que o coletivo sente-se que o caminho enveredado pode ameaçar algum interesse do grupo, mesmo que se saiba que a evolução através da renovação é movimento inexorável, que se dará por bem (conscientização) ou por mal (atuação da Lei). Recua-se ante o desconhecido, o mistério, para se prender na convencionalidade dos costumes, território seguro na qual tudo está garantido - exceto a evolução substancial, a visão de mundo diversa, a conquista de um paradigma mais vasto. Ignorar é uma ferramenta usada pelo inconsciente humano, que se deixa em larga medida levar pelos instintos atávicos, presos na lei da fome (conservação individual) e do amor (conservação da espécie). E assim a terceira lei (da evolução) é deixada de lado, por ser considerado caminho árduo, impossível de se seguir. Vista como uma vivência de exceção, aplicável somente a santos e gênios, tendemos a esquecê-lá e para consolo admiramos aquelas raras exceções que tenham superado a natureza baixa. Quanto a nós, optamos por nos prendermos à convenções, vícios e perspectivas limitadas - nos mais variados graus. Mas cedo ou tarde todos deveremos enfrentar face a face as leis da vida, que clamam pela evolução. 

Figura 2. A conquista da consciência é a chave para o uso do
verdadeiro livre-arbítrio. Ela torna o ser obediente à Lei
de Deus, que irá ampará-lo independentemente do que as
(ainda) medíocres leis humanas possam fazer a ele. Eis o
fenômeno do milagre.
Quem percebe começa a seguir novo rumo. E logo se dá conta de que não se deve falar nada a respeito dessa nova realidade, e sim deixar que as pessoas percebam por conta própria - nem que para isso sejam necessárias dores homéricas e tempos incomensuráveis. Paciência é a última virtude a ser conquistada por quem vê o caminho. E que tarefa titânica! Ser capaz de compreender, de forma intuitiva, numa visão simultânea, as forças que agem inconscientemente, as relações entre as diversos grupos, instituições, pessoas, espécies, campos do saber, sentimentos, e permanecer calado em meio público, controlando os esboços faciais, a vontade de adentrar em assuntos e destrinchá-los, aprofundando e relacionando, em direção a uma unificação. Segurar uma represa de conceitos e sentimentos, prestes a explodir a qualquer momento, orientados para a finalidade de criações conceptuais, ideias práticas, atitudes inovadoras e energia vital. Aceitar as ineficiências humanas, que se perpetuam graças ao espírito letárgico de evitar quebrar a sociabilidade a qualquer custo, nem que isso signifique reduzir a sensibilidade social perante o semelhante distante (espacialmente) e a eficiência técnica que permitiria às instituições humanas funcionar de modo mais eficiente, gerando menos atrito e mais felicidade. Eis a lógica que impera no mundo.

Robert Happé aponta: vivemos num mundo dominado pelo medo. Vladimir Safatle reforça com outras palavras: o medo é o principal afeto que circula na sociedade e no corpo político. Este lança-o através da (grande) mídia na psique coletiva e gerencia-o em prol da manutenção do estado das coisas. No fundo não se deseja mudar nada a título de manter a controlabilidade do sistema-mundo - nem que isso signifique levar a espécie e todas formas de vida e sistema planetário a um estado de desgaste máximo, que por fim levará a um colapso da forma de vida atual tal qual a conhecemos. Assim, a civilização, apesar do despertar de grupos e seres mais conscientes, continua sendo ditada por interesses cegos. Estamos no Terranic (o Titanic-Terra), que inconscientes, poderosos ou não, afirmam ser inafundável, e portanto podemos deixar os motores acionados a todo valor, com as hélices girando com intensidade insana, rumo a um destino supostamente conhecido (felicidade), sem ver o iceberg imenso que pode estar a poucas milhas. Mas sobre essas questões poucas pessoas se interessam...

Figura 3. A entropia pode decrescer localmente, mas apenas
às custas de um aumento local em outra região do universo.
Um aumento que supera a sua redução, aumentando assim a
entropia universal. 
O problema-mor consiste no seguinte: nossa percepção de vida e de mundo, calcada no paradigma racional-analítico, se concentra nos elementos, elaborando-os muito bem, mas dando pouca, muito pouca, atenção às interconexões entre estes e grupos de elementos, em todos os níveis, do mineral ao vegetal ao animal ao humano e além. O paradigma sistêmico, que elabora sínteses e requer uma certa dose de intuição, vêm enquadrar a visão de mundo de Descartes-Bacon-Newton dentro da realidade atual, usando-a até certo ponto. Usando-a com orientação. E dando novas aplicações às teorias e ferramentas consolidadas. 

A Teoria da Relatividade significou uma revolução na Física. Mas acredito que seus efeitos mais impactantes somente agora começam a ser percebidos pelas pessoas comuns como eu ou você. Ela trouxe uma nova percepção de mundo, que influenciará profundamente as filosofias, as religiões e outras ciências, até ao ponto de sabermos sentir os acontecimentos de forma diversa. Relacionar dimensões tidas como absolutas revela que não é possível alterar algo isoladamente sem influenciar (de alguma forma) a outra. Sendo relacionadas elas se tornam relativas. Adicionando os conceitos esboçados em A Grande Síntese vê-se que essas dimensões não são apenas relativas entre si mas progressivas no tempo:

"Vosso conceito de um espaço e de um tempo absolutos, universais, sempre iguais a si mesmos, corresponde a uma orientação puramente metafísica, que, inconscientemente, matemáticos e físicos introduziram em suas equações. Esse ponto de partida, totalmente arbitrário, vos levou a conclusões erradas, colocando-vos diante de fenômenos que se transformam em enigmas, impondo-vos contradições sem saída; lançando-vos em conflitos insanáveis; cercando-vos de todos os lados com o mistério. Na realidade, somente encontrais, como vos disse, um tempo e um espaço relativos, cujo valor não ultrapassa o sistema a que dizem respeito. Porém há mais. Eles são apenas medidas de transição, em contínua transformação evolutiva.

Esforçai-vos em me acompanhar. Se vosso universo é finito como vórtice sideral, o sistema de universos e o sistema de sistemas de universos é infinito. Se o espaço é um infinito, então não pode ter limites em sua qualidade de espaço; portanto, se ele tem limites, não podeis encontrá-los na direção espacial, mas apenas na direção evolutiva. Deste conceito, ao qual já acenamos, chegamos agora à novíssima concepção: os únicos limites do espaço são hiperespaciais, estabelecidos no sentido do desenvolvimento da progressão evolutiva e exatamente pela dimensão contígua. Assim, se quiserdes um limite para o espaço, só o encontrareis nas dimensões que o sucedem e o precedem. Pormenorizemos ainda mais."
[A Grande Sìntese, Cap. XXXVI] 
(grifos meus)

A Lei da Entropia demonstra que o processo substancial de conversão de energia de alta utilidade para energia de baixa utilidade, em termos globais, é unidirecional, o que permite que relacionemos a grandeza entropia com a dimensão tempo. Independentemente da 1ª Lei (conservação de matéria-energia), ela nos diz que haverá uma degradação na forma como ela está, até chegar-se ao modo mais degradado (calor), que não poderá ser convertida mais, ou seja, sem aplicação para o desenvolvimento da vida tal qual a conhecemos. 

Outra consideração: se os cientistas consideram o espaço infinito, ele o é apenas em sua dimensão característica. O tempo é uma "evolução" do espaço. Da mesma forma que a linha é a 1ª dimensão na tríade espacial, o tempo é a 1ª dimensão na tríade conceptual. A consciência ou razão é análoga à superfície (2ª dimensão) no sistema espacial; e a super-consciência ou intuição tem seu análogo no volume (3ª dimensão), em que a matéria se manifesta. Dessa forma podemos esboçar a evolução das dimensões e concatená-las com a especificidade da 2ª Lei da Termodinâmica.

Tríade espacial:       Linha   ->   Superfície    ->  Volume
Tríade conceptual:  Tempo  ->  Consciência  ->  Superconsciência

A humanidade caminha para a conquista da 3ª dimensão conceptual, na qual a intuição (Logos) irá dominar por completo a natureza humana (mente e sentidos), tornando-a serva de um objetivo maior, que trará harmonia interior. O processo é lento mas inexorável. Tão certo quanto o nosso desespero inconsciente de superar a triste realidade do presente, em que muitos patinam na 1ª (fome) e 2ª (sexo) lei, ignorando a 3ª (evolução). Patinamos por não sabermos o caminho. Por estarmos presos ao medo, permitindo que a opinião da média nos contamine e que a grande mídia nos confunda incessantemente. Mas isso não deve se dar por muito mais tempo caso queiramos evitar um desmoronamento doloroso cuja dor resultante será inimaginável.

Complexidade se relaciona com entropia do seguinte modo: esta cresce continuamente, dando-nos um sentido para a dimensão tempo. Aquela aumenta até certo ponto, proporcionalmente à "geração" de energia degradada (menos utilizável), mas a partir de um patamar, com a continuidade do aumento de entropia, há diminuição na complexidade dos sistemas. Entropia é a quantidade de combinações de partículas menores para formar mesmas configurações macroscópicas - complexidade é o grau de dificuldade que temos para descrever / representar algo (modelar). Prossigamos partindo dessas definições a partir de uma escala cronológica macroscópica.

A ciência nos diz que o universo "nasce" num estado de baixa entropia e complexidade. À medida que entropia cresce ele se torna mais complexo (estágio atual). A tendência, com o resfriamento e afastamento das galáxias, é um retorno a um estado de simplicidade (baixa complexidade). Temos então duas curvas (Figura 4)

Figura 4. A entropia é um caminho unidirecional de expansão.
É inconsciente, mas viabiliza o caminho espiralóide da
complexidade, que cresce a cada ciclo de inspirar-expirar.
Devemos acompanhar a evolução de nossos sistemas
criando modelos mentais, simbólicos e físicos mais adequados
ao ritmo evolutivo aos quais estamos sujeitos.
A história humana (civilização) segue um curso semelhante à natureza (universo) infra-humano, em escala diversa, uma vez que o intelecto é uma tentativa de elaboração mais sofisticada dos fenômenos físicos do universo numa escala fisicamente minúscula, adequados ao misto de aspirações e interesses humanos. 

A complexidade da vida em sociedade só se tornou não gerenciável devido ao passo lento de evolução de nossa percepção sistêmica de tudo que está relacionado a nós (Sistema-Terra, Sistema-Vida, Sistemas da Humanidade). Minha ânsia, junto com a de outros, é a de mostrar a quem está com sede de conceitos mais potentes, mas ainda se refestelando num cotidiano de distrações e superfluidades "necessárias", uma visão mais abrangente do mundo, sem invocar um comboio de conceitos teóricos ou sistematizações que só levam ao aumento de vaidade cultural / intelectual. Como Russel Brand, grito da forma mais adaptada à minha natureza, ora aqui neste espaço virtual, ora criando cursos, ora tendo diálogos profundos com amigos, ora me deixando absorver pela música elevada de Ludovico Einaudi e Wim Mertens, ora trabalhando com meus instintos baixos, ora caminhando na natureza, ora lidando com uma turma desordeira. 

Observando as curvas entropia e complexidade (Figura 4) podemos sentir que os sistemas humanos (políticos, econômicos, cultura e todas relações com a ecologia) se encontram provavelmente numa época de pico, que para ser superada em direção a uma simplicidade mais elaborada do que aquela dos tempos passados, exigirá de nós um esforço super-humano, que demanda a gênese de um novo ser. Assim, e somente assim, uma Nova Humanidade irá ser concebida.

Esse é o grande parto que as leis da vida pedem a nós humanos. 

Links:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=yKbJ9leUNDE  -  Entropia e fluxo do tempo
[2] https://www.youtube.com/watch?v=3AMCcYnAsdQ  - Entropia e complexidade
[3] https://www.youtube.com/watch?v=MTFY0H4EZx4 - Origens da complecidade
[4] https://www.youtube.com/watch?v=sAMlGyaUz4M - Como a entropia alimenta a Terra
[5] https://www.youtube.com/watch?v=HxTnqKuNygE - Qual é o propósito da vida?

[6] https://www.youtube.com/watch?v=KIprTEhr9lE - Divenire (vir-a-ser)Ludovico Einaudi
[7] https://www.youtube.com/watch?v=Vod_abG2ZbQ - Birds for the Mind, Wim Mertens

[8] https://www.youtube.com/watch?v=8NaJdHZSPqM - Russel Brand esboçando verdades no mundo popular
[9] https://hypescience.com/consciencia-pode-ser-um-efeito-colateral-da-entropia-dizem-pesquisadores/

Filmes recomendados:
[1] Enigma - O Jogo da Imitação (2015)
[2] Irmão Sol, Irmã Lua (1972)
[3] V de Vingança (2005)
[4] A Vida dos Outros (2007)
[5] Mindwalk (1990)
[6] A Mulher faz o Homem (1939)

quinta-feira, 22 de março de 2018

O Determinismo do Livre-Arbítrio Humano

O ser humano pende entre duas realidades, ora oscilando para uma, ora para outra, a depender do meio em que se encontre, de sua formação cultural ou de seu subconsciente (camadas de experiências de existências pretéritas).

Existem aqueles que creem no livre-arbítrio mas são incapazes de explicar o próprio comportamento instintivo - às vezes considerado consciente - que se executa repetidas vezes, de forma previsível, alegando que seus atos são livremente tomados. Outros, ao perceber a humanidade escravizada pelos seus instintos, creem ter descoberto a verdade absoluta ao afirmar que o ser humano é escravo de seus instintos, que na sofisticação do mundo moderno brotam na forma de desejos. Mas suas teorias não explicam o porquê dos gênios, dos santos e dos heróis que vem ao mundo e deixam um rastro profundo que abala conceitos e devasta velharias. Dessa forma observamos a personalidade cegamente crente na liberdade, e outra deficientemente certa no determinismo. Ambas captam fragmentos de uma realidade maior.

A vida faz tudo automaticamente, de modo perfeito. Seus
processos já se consolidaram, tornando-se instintos sábios.
O ser humano ainda está em construção: daí a sua
imperfeição. Transcender é a questão.
Sigmund Freud foi um dos primeiros a adentrar na psique humana de forma sistemática, explicando que o consciente humano é conduzido, em sua totalidade, pelo inconsciente. Inconsciente que, por ser mais basilar do que os produtos intelectuais e emocionais da mente, foi classificado como subconsciente. E ele nos brindou com um conceito realmente revelador, que as ciências humanas começam a trabalhar de forma mais utilitária nesse século. No entanto ele se equivocou num ponto: o subconsciente dita em larga medida a nossa vida - não na totalidade.

É normal que, estando situado num determinado nível evolutivo, a pessoa enxergue com clareza tudo que lhe é característico. Mas aquilo que ainda não foi vivenciado não pode ser considerado como uma realidade que influencia nossa vida. Estamos momentaneamente presos ao nosso grau de consciência, que estabelece as fronteiras de nossa percepção (sentidos) e compreensão (mente). Essa prisão é progressiva com a evolução, que aumenta a experiência do ser. Este, através da dor, tira conclusões que jamais poderia obter através da ciência e da cultura - apesar dessa dupla auxiliar no desenvolvimento interior se bem utilizada. 

O ser humano se resume a trabalho e a sexo segundo o psicanalista austríaco. São duas das três leis descritas por Ubaldi que a humanidade segue: da fome e do amor. E apesar das estatísticas comprovarem com toda sua maciça força de dados isso, existem exceções. Por quê?, pergunta o utópico. E eis que o homem moderno, situado no nível médio, responde reforçando a regra extraída das observações da série histórica e dos atos de seus semelhantes. Mas a dúvida persiste e intriga ainda alguns. Estes terão de buscar as respostas em outras regiões.

Jung, Ubaldi e Freud. Um ergueu os princípios, outro
ampliou-os e o místico usou-os para revelar algo
muito além do sensível e compreensível. 
À medida que a humanidade progride sofistica-se a 1º lei e parte-se para a 2ª. Com mais progresso sofistica-se esta última e continua-se a reforçar a primeira. Uma alimenta a outra num ciclo que cresce ferozmente. Cresce sem fim. Cresce e gera choques. Porque a ânsia pela expansão individual não tarda a secar as fontes que a satisfazem, e com isso começa a disputa pela atenção, pelas terras, pelos recursos, pela energia, pela supremacia ideológica e pelo bem-estar. Mas de um labirinto sem saída não se pode escapar a não ser erguendo uma linha vertical. Essa linha é a 3ª lei. A lei da evolução.

Raríssimos são os seres que dão prioridade máxima para a terceira lei. Evoluir às custas do conforto material, da segurança da propriedade, da estabilidade dos relacionamentos, das conexões sociais, é uma estrada permeada de dificuldades. Farpas e secas acompanham o viajante que opta por transcender a realidade presente, dominada pelos sentidos. Mas é nesse caminho que começa a verdadeira liberdade. A edificação do livre-arbítrio, que permite que se conduza a própria vida de forma mais orientada, evitando dores, - por vezes apocalípticas - é algo que exige do viajante uma perspectiva completamente diversa da vida. Não se mede mais benefícios imediatos, e sim de prazos longos, que extrapolam os limites estreitos da própria existência física. Constrói-se no imponderável, adquirindo experiências profundas que vão diretamente para o interior. Passa-se dos sentidos aos nervos, destes ao cérebro, desta à mente, e daí por diante adentra-se em regiões inacessíveis aos instrumentos de medição. A ciência se cala e os homens de puro coração de comovem. Este terreno é reservado aos pioneiros. Cristo, Paulo de Tarso, Ubaldi, Rohden, Pascal, Espinoza, Schweitzer, Chardin, Gandhi, São Francisco, São Vicente de Paula, Abade Pierre, Sócrates, e um seleto grupo. Muito além do imaginado pelo mais (espiritualmente) ambicioso dentre nós, seguidores das duas leis iniciais, pobres seres no início da jornada ascensional.

Á medida que a consciência se dilata, o
livre-arbítrio passa a ser conquista. Nossa
vida passa a ser mais orientada. Da força à
astúcia e desta à justiça.
Nosso livre-arbítrio existe e é determinado pelo grau de consciência adquirido. Quanto menos conscientes da realidade do mundo, menos liberdade temos. Agimos seguindo nossos instintos e julgamos ter liberdade de escolha. Liberdade de curtíssimo prazo, que logo traz efeitos determinísticos e desagradáveis. No íntimo somos apenas escravos de nosso subconsciente ao agirmos de forma a satisfazer interesses locais e imediatos. O porão em que as experiências multimilenares se consolidaram é quem dita nesse caso.

Ascender é difícil e ninguém opta por essa trajetória. Mas é a que traz glórias futuras, nem que estas estejam situadas em outras existências - e geralmente estão. Para iniciar e sustentar esse caminho é necessário ter perspectiva super-humana. Trata-se de uma intuição suficientemente forte, que chama o ser para regiões desconhecidas. Pede-se um salto de fé num abismo onde se vê a certeza da queda e do fim. Quando a fé vence o temor racional as possibilidades começam a brotar. 

Jung caminhou além de Freud, dando explicações mais coesas do ser humano. E Ubaldi incorporou ambos e foi (muito) além, apontando para o superconsciente: aquilo que nos permite a ascensão, capturando o que vem do Alto para trabalhar em nossa mente consciente, que começa a interpretar e compreender, e assim assimila conceitos muito mais potentes, que abraçam a triste realidade em que vivemos e supera-a. A partir daí a liberdade cresce e começa-se a perceber os próprios atos do cotidiano. Percebe-se os automatismos dos outros e (mais importante!) os seus próprios. Nos vemos desnudados diante de observações que rasgam as aparências e capturam o íntimo, encarando a essência. Nos envergonhamos de nós mesmos e clamamos pela superação. Agora que adquirimos a visão só resta a ascensão. Voltar atrás não é possível. Inicia-se a batalha interior.

Percepção profunda gera um aquietamento crescente. Espanta-se com a nova conquista. O mundo não compreende. Crê se tratar de um problema. Poderia ser, como a imensa maioria dos casos de silêncio, que acabam sendo consequência de ou medo, ou ódio ou arrogância. No nosso caso inexistem essas três causas. E quem percebe se vê diante do inexplicável...

Julgamos ser livres quando somos escravos dos sentidos e da mente. Quem é realmente livre obedece a princípios superiores, usando seus recursos - parcos ou abundantes - para evoluir. Paradoxal verdade que resolve todas as questões humanas. Dessa forma chegamos a algo que deve ser "lido" pelas vias interiores, do espírito, e não através da cultura e intelecto, que são letra morta. O determinismo seguido fielmente por Deus é infinitamente mais livre do que nossa liberdade determinística. Rohden rega sua obra com esses conceitos. São verdades capazes de resolver nossos últimos problemas, bastando para isso nos abrirmos para uma nova perspectiva.

Esses escritos são fragmentos de percepção adquiridos pelo autor após um período de dor interior. Apenas pela árdua experiência no mundo pode-se compreender como superá-lo.

E a ideia deve ser exposta assim que o ímpeto brotar. É de uma urgência tão grande que aponta para a natureza do fenômeno.

E assim convoca-se a humanidade para alçar voo intuitivo-sintético - pois o abismo se aproxima. Abismo que a mentalidade hodierna é incapaz de superar.

sábado, 17 de março de 2018

A Missão do Professor

O magistério foi algo que aconteceu subitamente para mim. Não foi planejado. Minha rota estava direcionada para outro destino, construído pelas circunstâncias adjacentes, as quais eu permitia que me conduzissem até certo ponto. 

Estava levando a vida que as forças do meio permitiam que eu levasse, com as regras propícias àquela trajetória. Os benefícios eram atraentes, mas ilusórios. Os malefícios eram numerosos e crescentes. Comecei a sentir o que significaria uma vida adulta completa restrita num espaço (escritório) que, além de fixo e engessado, estava estruturado para mitigar e inibir qualquer tentativa de transformação. Uma vida restrita num espaço e pobre de tempo, que me era tomado, dia após dia, hora após hora, em prol da lógica de obediência a um grupo que ansiava por servir seus bolsos e posições no campo do poder. Diziam que servíamos os clientes, mas no fundo estes eram igualmente poderosos que operavam na mesma base lógica. No fundo me dei conta que estava servindo essa lógica férrea e autoritária, sendo uma ferramenta à serviço de um punhado de acionistas. 

O mundo marcha com uma diretriz de lucro altamente vetorizada desde a década de 80. Época de intensificação do assalto à vida e ao planeta (Sistema-Vida, Sistema-Terra). Época cujos símbolos são Ronald Reagan e Margareth Thatcher, marionetes governamentais que serviram para iniciar um processo de desregulamentação nunca antes visto, em proporções planetárias. O mundo da produção  da economia focada nos seus indicadores já não estava numa trilha ecologicamente sensata, apesar de possuir regulação e um Estado de Bem-estar - ao menos em alguma porção do globo. Mas no momento em que poder-se-ia - por parte dos poderosos - iniciar uma adaptação saudável, com um modelo de inclusão e bem-estar mais adequado às transformações sócio-culturais, energéticas-ecológicas, tecnológicas, políticas e educacionais, decidiu-se lançar um grande engodo em forma de ideia salvadora. Um conceito capaz de tornar as massas humanas - conservadores e progressistas, jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres - em obedientes ferramentas de uma lógica pautada na liberdade total do indivíduo. Isso significava a exclusão gradativa de direitos recém-nascidos após a 2ª Guerra, que estavam já estabelecidos em alguns países [1], e que seriam aplicados em ocasiões e intensidades diferentes ao redor do mundo. 

A alma é integral. Harmoniza os
três aspectos humanos. Quem vive
com seu centro de gravidade na alma
vive de forma íntegra. É saudável
em todos aspectos.
A onda neoliberal não tinha nada de novo ou liberal, exceto a forma de se apresentar para o mundo. A implementação revelava o plano de construir uma ideologia não visível que pudesse manipular os atores visíveis, com seus defeitos e virtudes, em favor de seus planos. Quais eram esses planos? Podemos esboçar alguns deles observando atentamento os últimos 40 anos da história humana. 

Desde que meu pai se formou e começou a trabalhar, em 1978, ele viu uma degradação das condições da vida laboral (e de toda vida) como um todo. Isso não significa que ele tenha piorado de lá para cá em termos de experiência adquirida, posição ou ganhos, ou não tenha conquistado sua casa. Mas a arquitetura das coisas mudou profundamente. A solidez das décadas passou a ser a liquidez dos anos, que está se plasmando na vaporização dos meses. Se não para todos os profissionais de todas as carreiras, ao menos para uma boa parte - especialmente após a mutilação da legislação trabalhista, que não sofreu reforma alguma, e sim amputações denominadas como tais, sustentadas por impérios midiáticos interessados apenas no triunfo da lógica do lucro, na santificação da tecnologia (única salvadora dos males humanos) e nas relações cada vez mais superficiais e cômodas, longe de choques sinceros e profundos capazes de conectar e imbuir os atores sociais de ousadia inteligente [2].

Não digo as coisas gratuitamente, sem base de dados. Me apoio em dados apresentados por pessoas de alta qualificação, com experiência em programas de desenvolvimento humano, que ministram cursos à distância sobre desenvolvimento sustentável [3]. Esses profissionais revelam tendências um tanto indignantes e preocupantes, como um aumento dos preços de grãos fundamentais (milho, arroz, soja e feijão) a partir da década de 1990. Os motivos são de mercado. Suas consequências são um incomodo para as pessoas de classe média e pobres de países relativamente ricos ou de média renda - mas podem ser devastadoras para quem vive na pobreza. O que permite que isso aconteça é a inserção de elementos fundamentais à vida no circuito financeiro. O alimento não é mais um direito dos seres humanos, mas um número no mercado que deve retornar lucros a quem investe nele. O mesmo se dá com a saúde, a educação, a ciência e tecnologia, a segurança, o transporte, entre outros. 

A investida começa (de)formando as mentes. Para isso a (grande) mídia é o tentáculo do Sistema-Mercado. Televisão, rádio, internet, serviços telefônicos, propagandas visuais e mesmo as artes (ex: cinema) reproduzem uma mentalidade calcada no consumo conspícuo e no individualismo puro. Acrescento 'conspícuo' e 'puro' porque tanto o consumo quanto o individualismo são bons. São bons quando o ser humano utiliza-os para evoluir, isto é, despertar seu espírito, tornando-se mais consciente do ambiente circunjacente em que vive e das leis da vida. É o emborcamento para o uso egoísta que torna-os maléficos - antes para o outro, depois para a própria pessoa, que julga praticar o mal impunemente. Quando alguém é levado a seguir uma vida inconsciente essa inversão ocorre, e os meios de comunicação não apenas acionam como alimentam continuamente essa tendência, que leva à segregação cada vez maior.

Sentar-se ao lado e acompanhar, sofrer nas dificuldades
 é o aspecto da(o) professora(o) que imita o Deus
imanente. Tudo possui uma base mística. Basta ter
olhos para ver.
Num mundo sempre dominado por interesses, a exploração de ideias para atacar o outro e a anulação de diversidades para engessar a lei evolutiva é uma auto-sabotagem. A lógica hodierna potencializa essa auto-sabotagem. As espécies e o planeta estão sendo profundamente afetados pelas ações humanas. Leonardo Boff desenvolve ensaios, escreve livros e ministra palestras exaustivamente sobre isso. É filósofo e teólogo. Mas acima de tudo é consciente. Ecologia e espiritualidade (em seu sentido mais amplo) são os grandes desafios da humanidade, aos quais todas outras esferas devem se submeter com a mais sincera humildade: política, sistema econômico, arquitetura urbana (incluindo rede de transportes), ensino, pesquisa, saúde, agricultura, forma de consumo, comunicações, etc. 

Todos os elementos descritos aqui já faziam parte de meu ser quando estava em minha antiga trajetória. Meu modo de sentir e de pensar não encontravam espaço para se manifestar. O tempo de não-liberdade era tamanho que era impossível desenvolver minhas potencialidades latentes. Já tivera uma pequena experiência com ensino. Já me envolvera com pesquisa. Sentia o milagre da vida ao caminhar no parque, degustar um alimento leve ou ver o sorriso de uma criança. Gostava de ir além (nos conceitos e atitudes). Não por pressão vaidosa, e sim por imperativo íntimo da alma. Sentia uma voz interior mais forte do que a sensatez da mente. A voz me levou a seguir um caminho louco, sem garantias, árido de apoio e certo de reprovação. Mas o vazio era tanto que iniciei uma nova construção. É aí que comecei a forjar um novo destino - e dessa forma pudesse ser um servo verdadeiro, um servidor...da Lei de Deus.

O meu preparo intelectual não se destaca do da média daqueles que estão na carreira de magistério. Meu gosto por pesquisa ainda não construiu nada à altura do que espero erguer. O que estudei dos livros pode ter sido bastante - mas o que constatei da vida mostra que há mais mistérios a serem desnudados, mais vales a preencher, mais conceitos a unificar - e mais seres com quem sintonizar.

Volume que revela como se dá o
fenômeno. Compreende-se o porque
do ideal usar a força para se
manifestar no mundo.
O(a) professor(a) é instrutor superficialmente, pelo intelecto. Mas acima de tudo é educador, pela consciência. Esta última conduz o que é ensinado. A finalidade é despertar consciências capacitando as mentes com a teorias, métodos e ferramentas específicos, mas paralelamente mostrando de onde vieram, como podem ser aprofundadas (especialização) e conectadas (sínteses), e qual é a relação de tudo isso com o amor, a família, a marcha da humanidade e a evolução. Qual a finalidade de tudo isso se em nosso Universo não haja um princípio diretor que anime todas as coisas, imanente, que conduza o mundo rumo a algo transcendente?

O docente consciente conhece o fenômeno da Descida dos Ideais. É lei da vida e roteiro de ensino. Deve-se passar ao corpo discente de forma coletiva e particular o significado disso, falando para o corpo coletivo de forma mais concreta e prática, e para aqueles que desejam saber mais, de modo mais abstrato e profunda. 

O esforço deve vir de ambas as partes. O professor, do alto, deve estender as mãos para baixo, encurtando a distância entre mundos, para que hajam mais futuros colaboradores na auto-construção de pessoas melhores (e mundos melhores). E os alunos, de baixo, devem esticar os braços para cima, se esforçando para compreender o que há além do que já conhecem. Mas o alto e o baixo podem se aproximar ou até inverter, a depender do contexto e do aspecto que estamos considerando: afetividade, senso prático, capacidade intelectiva ou construções conceptuais. Isso se ramifica ainda nas diversas sub-áreas. Uma multiplicidade de relatividades que devem ser compreendidas, relacionadas, unificadas e potenciadas. 

O objetivo é realizar sínteses e levar outros a fazerem o mesmo, unificando almas e fundindo saberes.

Os artistas são engenheiros das almas - já disseram.
Os engenheiros são artistas da matéria - eu concluo.

Eis a síntese mais bela, que realiza o casamento que a mente racional divorciou. Como engenheiro devo perceber que todo projeto ou requisito ou modelagem e simulação é um bloco bruto que deve ser elaborado para fins mais elevados. O caminho pode despertar capacidades diversas, dar experiência que facilite a compreensão do outro e de temas antes inacessíveis e dolorosos. 

A ciência e a técnica também estão sujeitas à inspiração. Esse será o método do futuro para construirmos de forma sólida as bases para um mundo melhor. 

Ensinar é permitir que uma alma se conheça através do aprendizado de coisas do mundo. 

Essa tarefa exige mais do que inteligência, mais do que experiência, mais do que vontade e tempo, mais do que qualquer força adquirível ou disponível neste mundo. Ela exige conexão com uma fonte infinitamente poderosa, além do espaço-tempo...


Referências:
[1] O National Health Service (NHS) britânico é referência em saúde pública. Criado após o desastre humano e econômico da 2ª guerra mundial em 1945, ele representou uma nova conquista (e força) da humanidade, concretizada na Grã-Bretanha. Instituída por Clement Atlee, 1º ministro britânico, cuja vitória sobre Churchill indicou que o vencedor na guerra era um incapaz na paz - e o inábil na guerra um herói na paz. Sobre esse homem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Clement_Attlee

[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeffrey_Sachs. O curso sendo feito e os dados que uso para apoiar minha visão podem ser encontrados no curso The Age of Sustainable Development (https://pt.coursera.org/learn/sustainable-development).

Links:
[1] https://www.youtube.com/watch?v=unqe5k7vNBw
[2] https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY
[3] https://www.youtube.com/watch?v=_bKQXmvdr8o

quinta-feira, 15 de março de 2018

O Especialista Generalista

À medida que as dores aparecem em nossa vida começamos a alterar nossa atitude para com certas coisas. Aqueles que fazem pouco uso do discernimento irão enfrentar os choques costumeiros, - cedo ou tarde - reagindo superficialmente, com a psicologia média. Seguirão seu rumo tão insensibilizados quanto antes, apenas buscando com mais afinco um jeito astuto de se desviar de certas dores para que possam satisfazer suas vontades imediatas. Satisfação dos sentidos e poder é o que lhes interessa. Outros, tipos muito raros, irão reagir de forma completamente diversa. Externamente podem aparentar reagir igual à média. Mas interiormente elaboram processos psíquicos-emocionais intensos que alteram profundamente a natureza do ser. É a esses que as chances de ascensão são maiores.

Se aprofundar em algo de forma potente envolve escutar a
natureza, e assim conhecer a sua própria. 
Existe um ponto comum que unifica todos os seres humanos. Um ponto. Por si só o termo já é indício de convergência ou unificação. Vértice onde se encontram duas ou mais retas, caminhos, destinos, vontades, objetivos. Esse ômega é a síntese de todas as relatividades humanas, sub-humanas e super-humanas. É a "região" de paz eterna, além das dimensões 'tempo' e 'espaço'. É o que dá orientação suprema nos afazeres cotidianos e nos períodos pós-choques. Que vértice é esse? As religiões denominam esse fim "Deus" - cada qual com o nome mais apropriado à sua história e cultura. E outros domínios humanos fazem isso de forma implícita. A ciência o faz apontando para as suas fronteiras e suas premissas, mostrando quão apaixonante é o caminho da evolução do pensamento. A sociedade o faz através de seu princípio unificador, buscando sempre meios de se organizar de forma mais harmônica, mesmo que com interesses segregados, com seus sistemas políticos e econômicos. A filosofia o faz por meio das abstrações, arranhando os conceitos deixados pela ciência. Os casais o fazem através do amor, se colocando - conscientemente ou não - numa arena de provas cuja exigência-mor é aplicar os princípios do Evangelho. E assim toda humanidade cumpre de várias formas um impulso ascensional.

Dentro desse princípio de convergência podemos extrair um aspecto aparentemente contraditório: quanto mais vivenciamos uma realidade (ponto de vista), adquirindo conhecimento, experiência e vivência, maior a nossa sensibilidade em reparar pontos em comum com outras experiências diversas, conhecimentos distantes e vivências opostas. Isso não se dá para todos, mas poderia. Basta para isso que algumas cordas interiores estejam suficientemente afinadas para receberem certos tipos de vibração.

Um sentimento de interconexão entre tudo e todos sempre pairou sobre minha mente e coração. Busquei uma síntese através daqueles que tentaram fazê-lo. Encontrei espíritos fantásticos. Destes, um me chamou a atenção não apenas pela sua capacidade de sentir e vivenciar a vida de forma integralmente honesta e sincera, mas também - na mesma proporção - de erguer uma obra capaz de resolver os últimos problemas da existência: Pietro Ubaldi. Esse professor da Umbria, nascido em família riquíssima, trilhou um rumo que chocou o mundo, e este condenou-o. Mas com isso foi deixado para uma civilização futura uma seta orientadora de poder ainda hoje incompreendido - até para aqueles que estudam, sentem e admiram a obra do místico do século XX. Esboçou diretrizes gerais para uma futura humanidade. Essas diretrizes serão apenas esboços perante os gênios que o futuro nos trará, capazes de assimilar tudo e aprofundar cada vez mais essa síntese geral. Essa Grande Sìntese.

O título parece contraditório (Grande Síntese). Uma síntese geralmente é pequena, resumida, breve. No entanto não se trata de uma síntese de um tópico específico com finalidades limitadas no espaço-tempo. Trata-se de uma orientação universal de todo pensamento e sentimento humano, fundidos num único sistema, dando características poéticas à ciência, aspecto racional à crença e objetivo definido para a arte. Para fazer isso é mister ir além da especialização de domínios específicos - mas ao mesmo tempo não ficar simplesmente acumulando fatos e técnicas na vastidão da superfície. É preciso combinar harmonicamente essas duas características - generalidade e especificidade - para criar algo novo, que não é nem um nem outro, mas um elemento que é maior (em termos conceptuais) do que os precedentes.

Um ensaio muito interessante me chamou a atenção recentemente [1]. Ele trata de uma visão pessoal (porém universal) de que o futuro pertence aos polímatos. Trata-se de seres com um leque de conhecimento - talvez vivência - muito amplo, que se especializaram em um ou dois campos, e frequentemente trazem contribuições substanciais para a ciência, a arte, a administração, a técnica ou a filosofia. Aristóteles, Leonardo da Vinci, Galileo, John Von Neumann, Georgescu Roegen e Herbert Simon são alguns exemplares.  

Leonardo da Vinci. Inventor, pintor, cientista,
desenhista, anatomista, alquimista, entre
outros. Arte e Ciência andam juntas e conversam.
Vivem e até fazem amor em algumas
ocasiões.
É verdade que estamos diante de contribuições raras de um tipo singular, completamente raro neste mundo. Especialistas puros deram o grosso das contribuições em todos os campos. Mas ao mesmo tempo não podemos negar a magnificência desses seres que vem e vão, deixando um rastro diferenciado pela Terra, abalando conceitos e invocando sentimentos; abaulando normas rígidas e ardendo o gelo da frieza. 

Muitas das conquistas obtidas por polímatos não seriam concretizadas se não fossem abordadas de modo a invocar um repertório diverso. Um repertório de grande envergadura, mas ao mesmo tempo com as associações adequadas, no momento certo e da melhor forma.   

Num mundo em que a automação digital e mecânica vêm tirando lugar de vários - inclusive especialistas puros de certas áreas - sinto a necessidade de desenvolvermos essa capacidade de síntese sem deixarmos de nos especializar em um ou outro domínio. 

A mente humana começa a se especializar através da observação dos fenômenos. Com isso partimos de uma observação geral para os pormenores, optando por um caminho que revelará detalhes não-vistos. São ramos de uma árvore que se ramificam continuamente. Cada ramificação é uma sub-área, uma forma de vida diversa, uma experiência particular. O que polímatos percebem é que essa divisão de ramos segue um padrão comum. Existem aspectos específicos que podem ser reduzidos a um denominador comum. Um exemplo está na modelagem de sistemas físicos, com os Grafos de Ligação (GL).

GL's é uma notação surgida no final da década de 50, por um grupo de professores do MIT, que simplifica a representação de sistemas físicos. O que o Prof. Paynter (quem criou os GL's) percebeu é que as variáveis de diversos domínios físicos possuem características em comum. Logo, seria possível agrupar os conjuntos substancialmente semelhantes numa categoria única, facilitando tanto a representação quanto a simulação de sistemas físicos com alto grau de complexidade. Isso é, de certa forma, um primeiro esboço, a nível específico, de tentar uma unificação. Inicia-se dentro de um campo restrito e de forma conceptual. Futuramente a humanidade fará isso de forma cada vez mais abrangente e geral, interiorizando micro sínteses, elaborando um subconsciente mais elaborado, distanciado do primário, até atingir uma capacidade de síntese inimaginável. Incia-se com as concepções, e logo após a vivência é acionada.

Viver de forma mais sintética é perceber o cerne da questão e se ater ao que mais importa no momento. É operar de forma integrada, como Domenico De Masi aponta em seu conceito de Ócio Criativo, no qual uma pessoa pode estar trabalhando, estudando e se divertindo simultaneamente. Quem sente isso em vida sabe do que se trata, e comprova essa realidade aparentemente contraditória. 

De Masi nada mais está fazendo do que derrubar conceitos cada vez mais ultrapassados de uma mente puramente calcada na racionalidade. Uma mente que opera analiticamente, descartando aspectos afetivos, místicos e espirituais. Pascal já o afirmou: o coração tem razões que a própria razão desconhece. 

Quanto mais atacamos diversos ramos do saber, quanto mais experiências absorvemos e elaboramos, maior nossa potência de aprendizado. Assim essa expansão inicial serve como um preparo, um treino, uma maceração através da persistência, com desafios, que irá permitir à pessoa se especializar de forma mais rápida e eficiente quando decidir fazê-lo. Esse é o ponto fundamental que permite a contribuição numa especialidade a partir de uma cultura sintética. 

Domenico De Masi. Conceitos novos de trabalho.
Suas ideias apontam para a questão do pensamento
sistêmico - que leva à visão sistêmica, culminando
numa vivência plena, capaz de grandes sínteses.
Conforme apresentado no ensaio anterior [2] estamos adentrando numa era de percepção sistêmica, capaz de unir a especificidade da técnica com a profundidade do sentimento místico. Isso é a interconexão. 

Não à toa o mundo clama por amor e paz, mesmo que de forma equivocada mutias vezes. Estamos construindo algo que jamais existiu em nossas mentes e rarissimamente foi praticado. As únicas referências são pontos isolados, que julgamos inimitáveis. Os santos, os gênios, os heróis. 

Mas se tudo provêm de Deus e retorna para Deus, num sistema orgânico governado por uma Lei suprema, então está estabelecido que o futuro nos reserva as glórias de conquistas interiores capazes de gerar os avanços que o mundo tanto necessita.

Basta para isso o nosso esforço.

Em compreender, sofrer conscientemente e se abrir para o infinito do desconhecido - tornando-o conhecido.

Referências:

[1] https://medium.com/personal-growth/the-expert-generalist-why-the-future-belongs-to-polymaths-46b0e9edc7bc

[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2018/03/pensamento-sistemico-ponte-entre.html

...

quarta-feira, 7 de março de 2018

Pensamento Sistêmico - Ponte entre Técnica e Misticismo

No universo das ideias, permeadas de pensamento e sentimento, a transubstanciação das partes contraditórias em complementares caracteriza a fusão das almas. Esse fenômeno é esforço titânico de elaboração interior, no qual muda-se completamente a percepção dos eventos através da síntese conceptual que atinge diretamente os modelos mentais, numa visão arrebatadora. Atingir esse tipo de consciência é o primeiro passo para a evoluir. 

Figura 1.
O mundo será bom quando nossa natureza íntima for
minimamente próxima a deste homem.
A humanidade marcha rumo a um choque profundo que irá abalar seus conceitos mais queridos, tidos como sólidos e imutáveis, a fim de perceber uma realidade mais rica de significado, com eficiência nos processos e intensidade nas atividades. Esse caminhar progressivo rumo à barreira do som espiritual - um ponto no qual a prioridade da vida passa a ter uma prazo maior, com significado mais profundo, apontando para a extrapolação dos limites biofísicos da existência - vêm despertando, nos mais variados pontos, novas visões de ideias já apresentadas. É um esforço preliminar de unificação. Sínteses parciais nas ciências. Surgimento de novas doutrinas. Sínteses conceptuais supremas no campo do gênio do espírito, que sofre e luta incansavelmente para transmitir o sublime em palavras adequadas ao nosso tempo. 

Podemos dividir a História (humana) em três grandes fases - duas das quais já tiveram sua gênese e desenvolvimento:
  1. Fase místico-religiosa;
  2. Fase técnica-racional;
  3. Fase místico-unitária.
Vejamos pormenorizadamente cada uma delas para saber sobre a essência.

1. Fase místico-religiosa

Na Antiguidade e na Idade Média (4000 a.C. - 1500 d.C.) a civilização se desenvolveu prevalentemente seguindo um eixo religioso, no qual a revelação era a forma de se atingir o conhecimento de algo. Época dos Profetas bíblicos, dos Vedas com a Baghavad Gita, do Buda, do Tao Te Ching, do Evangelho, dos Santos, do Cristo. Na primeira parte desse vasto período humano o imaginário humano das massas era dominada pelo conceito politeísta da divindade. Ou seja, havia um grupo de deuses, antropomorficamente representáveis através de esculturas, e dotados de características humanas, com suas virtudes e vícios. A diferença consistia nos poderes de cada deus/deusa, sempre além de qualquer poder humano. Deus, para nossa espécie, estava fragmentado em seu conceito e humanizado em sua divindade. Esse rebaixamento era compatível com a forma mental humana média, incapaz de compreender algo além dos conceitos arraigados e praticados. 

Os hebreus introduziram o conceito de monoteísmo - apesar de já haver gigantes do espírito que tinham concepções muito superiores, como o faraó monista*. Um único Deus, ou seja, Deus de fato, unidade. Mas apresentado em seu aspecto de Lei férrea que castiga, capaz de endireitar pela força. Daí em diante inicia-se as revelações de Moisés, que escreve os primeiros cinco livro do Antigo Testamento. Até o século IV a.C. surgem uma série de profetas: Isaías, Daniel, Elias, Malaquias,...Discursos de força perfurante, mas vivências compatíveis com o ataque místico proferido, contra os poderes. Épocas fantásticas em termos de visões. 

Figura 2.
Caminhamos por montanhas, vales e rios,
enfrentando as intempéries interiores.
O pensamento racional dá seus primeiros sinais de vida. A filosofia desponta na Grécia Antiga, e com isso desdobra-se os primeiros rudimentos da Ciência. Começam a surgir e sistematizar-se campos como a geometria, a mecânica, a hidráulica, as ideias de política, de alma. Não são fundadores**, mas apenas percursores do que a Era Moderna resgatou após longo período de incubamento. 

No auge do Império Romano, que domina e coordena o mundo ocidental a seu modo, através da força do exército, das leis e dos valores politeístas, surge, numa remota província, um homem que transmite uma visão diversa da vida, capaz de emudecer os barulhentos, acalmar os raivosos, dobrar os fortes, confundir os pensadores e acalmar os sedentos por uma justiça maior. Tão luminosos eram esse conceitos que o próprio povo que, com seus profetas, previu sua chagada, não foi capaz de aceitá-lo, servindo como co-partícipe para sua eliminação. 

Cristo traz com sua vida os mais altos conceitos apresentados até então. Com vivência silenciosa, de preparo terreno de anos, ele se lança a sua missão. Em três anos de atividade pública, o Mestre e Médico, vestido na forma humana galileia, inunda o coração rumoroso do Império com conceitos que rasgam as concepções mais altas até então admitidas. Encanta os desesperados, dando-lhes um sentido; Choca os poderosos, preocupando seus instintos; Orienta os iniciados, que agora tem uma orientação suprema. Nasce o Evangelho, código de conduta da futura civilização. 

Nos últimos momentos de sua vida terrena Cristo passa pelas Dores e Glórias que só poderiam ser suas e daquele modo. O mundo não é capaz de suportar luz tão intensa por muito tempo. Era necessário eliminá-la em sua forma física para acalmar os ânimos. E eis que surgem seguidores sinceros, com ímpeto vulcânico, transmitindo Sua mensagem como um vendaval que varre as vestes dos ventríloquos, desnudando-os e irritando-os, o que leva uma horda de pessoas à crucificação e à morte no Coliseu. E assim foi por três séculos. E nenhuma violência impediu a expansão vertiginosa da onda nova. Onda monoteísta e amorosa.

No século IV o imperador Constantino resolve o problema: dá aos cristãos armas, poder e dinheiro. Funda-se a Igreja - e afunda-se a vivência. Pois a maneira mais eficaz de acabar com algo belo e unificador neste mundo não é coibir e reprimir, mas seduzir, tornando uma ideia suprema serva dos poderes do mundo. Cai o politeísmo e surge o monoteísmo pleno. Por um milênio o mundo seria dominado pela Igreja Católica. Pela força da mente. 

A Idade Média, apesar da inquisição e perseguições, revelou os reveladores. Santos e místicos explodiram nessa época. Agostinho, Francisco de Assis,Vicente de Paulo, Inácio de Loyola, Pascal ,...Gênios do sentimento que reavivaram o espírito original da mensagem de Cristo. O misticismo eclode e traz formas de vida sustentáveis, pacíficas e agregadoras - algo que nosso mundo desesperadamente necessita mas pobremente busca, preso num ritmo frenético de sensações e novidades vazias.  

Quando a revelação dá tudo que pode, nasce um novo vetor, que potenciará a mente num nível jamais visto. O racionalismo inicia sua trajetória ascensional. 

2. Fase técnica-racional 

Descartes, tido como o pai do racionalismo, é um marco que indica uma nova Era. Galilei, Newton,  Bacon, Locke e outros cientistas e pensadores dão continuidade à linha diretora, imprimindo teorias e conceitos novos, com base na razão. Penso, logo existo passa a ser o mote da civilização. Segue-se o Iluminismo, uma compilação de todo conhecimento científico; as revoluções políticas (francesa e norte-americana), que abrem as portas para uma democracia representativa e a liberdade a lógica mercantilista; e a revolução tecnológica (industrial), no fim do século XVIII, que dá ao ser humano uma potencialidade de produção sem precedentes. 

O século XIX e XX é pautado pela técnica, pela eficiência, pela produção em volume. O diagrama da Figura 3 mostra essa transição.

Figura 3. Evolução dos conceitos de produção.
O que se vê são três fases econômicas da humanidade. Na primeira (fase 1) o que era produzido por nossa espécie era dominado pela variável custo, proporcional ao volume (quantidade) produzido. Percebe-se a limitação, pois a produção era dependente da força muscular das partes. Era a época do artesanato, com suas limitações de quantidade mas vantagens da qualidade. Com a era industrial a mecanização e automação permite uma redução relativa dos custos vinculada à quantidade. Quanto mais se produz em volume, menor será o custo de produzir. Logo, o lucro tende a crescer, o que estimula uma produção maior, e ai por diante. Percebe-se a ilusão do conforto econômico que, sem considerar a ecologia, começa a assaltar a natureza (humana e não-humana) de forma cada vez mais intensa e discreta. Melhora-se o mundo de forma ineficiente, por vias de sofrimento desnecessário e extração irresponsável. O sistema-Terra e o sistema-Vida estão começando a cobrar a dívida contraída na forma de respostas fenomênicas. E assim a humanidade começa a despertar para um novo paradigma, que é o sistêmico.

Os paradigmas pré-industrial e industrial (em azul) já os conhecemos bem. O novo paradigma (rosa) é ainda pouco compreendido pelas autoridades e sociedade em geral. Pouco se pode agir em função dele nas corporações. Pouco se pode desenvolver seus conceitos nas rodas sociais. Muito se pode fazer constatando e pesquisando por conta própria. Eis o poder da verdadeira individualidade, isolamento criativo  em busca da compreensão mais profunda e vasta aliada à potenciação dos sentimentos. O isolamento sem egoísmo é aquele necessário ao indivíduo para despertar as potencialidades latentes dele e consequentemente transbordar seu meio com conceitos explosivos e vivência diversa, capazes de abalar o pensamento. A atitude encanta e atrai aqueles entediados dos experientes que vomitam conceitos já consolidados e em vias de caducidade. O ser humano está sedento pelo novo que não nega o velho mas superá-lo. Engloba conceitos e coordena-os de forma nova. 

No novo paradigma não se busca mais o volume (quantidade) na economia, e sim um balanço entre complexidade e custo. Ao remover o volume da equação central abrem-se as portas para a ecologia. Crescimento ilimitado num planeta finito não é compatível com o bom senso. Soma-se a isso a não-satisfação das ânsias humanas a partir de certo acúmulo de renda e bens e títulos. Francisco, o místico da Umbria, já sabia disso de forma intuitiva. Criar necessidades artificiais só amplia as possibilidades de sofrimento do ser humano, criando condições para conflitos e potencializando disputas. É um emborcamento da finalidade da vida. 

A fase 2 nos trouxe o ápice da técnica através do clímax da razão. O intelecto se desenvolveu ao ponto de forjar o homem moderno. Ele vê, desenvolve e aperfeiçoa os elementos de um sistema, seja este mecânico, elétrico, químico, térmico, biológico, econômico, político ou social. Mas vê com muita pobreza os relacionamento entre os mesmos - muito menos inter-sistemas. Essa questão de relação (interconexões) é majoritariamente do campo das ciências dos sistemas, cuja base é sistêmica (Tabela 1).

Tabela 1. Exemplos de sistemas e suas respectivas
características.
O que a Tabela 1 nos mostra são exemplos de três sistemas: um humano (escola), outro biológico (árvore) e um último tecnológico (satélite). Todos podem ser igualmente complexos, apesar do humano englobar o livre-arbítrio (superando a árvore e o satélite); e a árvore englobar o princípio vital, capaz de reverter temporariamente a lei da entropia, localmente (superando o satélite). 

Cada um dos sistemas possui elementos (facilmente visto pelo ser racional), interconexões (percebido por aqueles com mentalidade sistêmica) e propósito (sentido por aqueles com profundo senso místico). Logo, compreender sistemas implica em sentir e trabalhar nesses três domínios. A humanidade está entrando no segundo deles (2ª coluna) e aos poucos chegará à compreensão integral da filosofia da vida, com seu objetivo supremo: a evolução.  

 3. Fase místico-unitária

Não é possível descrever algo ainda latente. Pode-se apenas vislumbrar as potencialidades desejosas de serem realizadas. Esse é o árduo e sofrido trabalho dos super-humanos, seres biologicamente mais avançados em suas capacidades de sensibilidade que possuem vidas intercaladas por fases de contemplação interior e explosões conceptuais, gerando um ritmo harmônico que permite o deslocamento do centro de gravidade espiritual para cima. É o parto. A maiêutica socrática, que é dar luz às ideias. Não mais parir seres humanos, satisfazendo a lei do amor humano, mas gerar ideias revolucionárias, alçando a lei da evolução do super-humano. Nasce assim A Grande Síntese, as Epístolas de Paulo de Tarso, a Baghavad Gita e outras manifestações fantásticas. 
Figura 4. Atingir o cume da paixão e do pensamento.

A humanidade já assimilou as duas fases precedentes e se arrasta em sua última, apavorada pela primeira. É necessário resgatar as íntimas e belas intenções do passado e domar as ousadas sistematizações racionais do presente para forjar o raio da intuição do futuro. Isso só será conseguindo se colocarmos os pés no terceiro paradigma da mente (sistêmico), que é a ponte entre técnica e misticismo. Dessa forma poder-se-à resgatar o grandes ideais ecológicos e de justiça social do passado de forma a afirmá-los neste mundo, de forma convincente, sincera e amorosa.

Isso é o que o futuro nos reserva e nossas almas anseiam. Resta apenas os pioneiros dessa grande transição, que deverão sangrar e sofrer para dar luz a um movimento de renovação sem precedentes.

Isso é o que o íntimo me diz, martelando incessantemente minha alma, que deve responder à altura, vivendo e transmitindo os que ferve no espírito. 

Referências:
* http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/11/o-farao-monista.html
** os assírios, egípcios, chineses e indianos, com civilizações milenares, já tinham conhecimentos muito profundos de ciência, como a astronomia, a matemática, a medicina, a química, entre outras.