terça-feira, 7 de maio de 2019

Família, reencarnação e despertamento

Uma existência só tem significado se a realidade (profunda) é constatada a cada momento. Uma vida sem dor é uma vida inerte porque deixa o ser atirado no lodaçal da inércia, longe do ritmo intenso. Afastado dos sentimentos que ousam ver a si mesmos e dos pensamentos que não temem romper barreiras para procurar novos territórios. Se colocar de lado quando os desafios titânicos surgem é se subtrair da tarefa de ascender (e se libertar). As pessoas preferem ficar nas garantias e confortos de uma vida limitada com prazeres e segurança relativa. A esteira evolutiva é uma pista na qual pouquíssimos se dispõem a percorrer. Por que? Porque o intervalo de tempo entre o árduo (e sofrido) trabalho e os frutos é muito grande. Os frutos residem na conquista interior. Numa nova percepção do universo, de Deus e de vida. Essa ascensão é silenciosa, ocorre no interior. Assim, aqueles que se lançam no desafio de transcender sua natureza se veem diante da incompreensão do mundo, que avalia e mede segundo métricas exteriores. Medidas que impressionam os sentidos e permitem à mente construir elucubrações a respeito dos objetos e sujeitos que observam à distância.

A união livre e espontânea deve começar
através dos afetos entre dois indivíduos.
Essas uniões podem ser de todos tipos.
Quem somos nós para julgar?
Todo acontecimento traz em si uma pista sobre a estrutura de pensamento predominante na humanidade atual. Uma ou mais. Isso significa que alguém que já se deu conta do princípio e do fim de tudo que existe passa a persistir em certos caminhos. Essas rotas tendem a isolar por se revelarem cada vez mais defasadas da forma mental predominante. Diferenciação é uma consequência da evolução - mas nem todo ser que destoa da média está na rota evolutiva. Esse tema já foi desenvolvido alhures e não pretendo retornar a ele - cabe ao leitor buscar os desenvolvimentos passados, na forma de diagramas e palavras, resíduos de um longo, lento e árduo processo de construção interior - cuja consequência final deve ser uma vida com um mínimo de significado.

Para nos acompanhar nesse processo (evolutivo), temos os espíritos mais adequados ao nosso despertar, que - diga-se de passagem - podem ser mais ou menos ignorantes, mais ou menos maléficos. Estaremos jungidos a eles por muito tempo no caso das famílias.

Ao adquirir certo grau de consciência, passamos a ter mais liberdade de escolha sobre o local e condições de reencarnação. No plano extra-físico o ser dispõe de maior liberdade. Os laços que o prendem à matéria estão mais afrouxados, permitindo maior discernimento. Isso possibilita a construção de um roteiro razoavelmente elaborado. Um roteiro que tende a ser esquecido por completo no retorno, e por muito tempo permanecerá obscuro. Porque todo renascimento é, na essência, uma repetição do processo de queda. Doloroso mas necessário para a evolução dos espíritos decaídos (todos nós).

A família é um conceito muito amplo e profundo que não pode ficar restrito a uma interpretação carnal, ancorada no sangue e definida pelo intelecto. Isso é admissível para uma humanidade limitada, em seus primeiros estágios civilizatórios - que beiram a barbaridade para aqueles que já atingiram desenvolvimentos subsequentes, eliminando várias mazelas que assolam nossa sociedade. Nisso uma passagem do Novo Testamento pode trazer pistas sobre o que é de fato uma família:

"Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: 'Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram'. 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?', perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe'. " 
Marcos 3:31-25

"Fazer a vontade de Deus" é aceitar toda criatura como irmã. É perceber a essência comum das criaturas, que irmana cada elemento do universo. Francisco (de Assis) já alertava para isso. Oitocentos anos depois, a Ecologia sistêmica pode difundir esse conceito de forma muito mais eficaz. Os últimos séculos trouxeram um ferramental teórico-tecnológico fantástico, além de uma série de experiências que começam a fazer pressão, sugerindo tendências e esboçando possibilidades.

As Ciências humanas, sofrendo um ataque sem precedentes nesse país, se colocam em evidência. O ódio desmensurado a alguém (ou a algo) denuncia uma grandeza daquele que sofre as críticas e perseguições feéricas. Há uma singeleza nas criaturas que, sem executar esforço algum, são capazes de despertar os ânimos de todos os espectros ideológicos. Os julgamentos abundam quando o mundo se vê diante de um ser que não pode ser compreendido com suas ferramentas e métodos.

Quem despertou sabe: renascendo (re)começa um trabalho
titânico de libertação (interior) do espírito. Mil distrações,
mil ameaças, tentarão abortar a missão daqueles que mais
operam pela superação.
Lidar com o desconhecido apavora o tipo médio - a imensa maioria das pessoas. Por esses motivos aqueles que sofrem acabam se irmanando: existe um ponto comum, muito sério, muito doloroso e de difícil manuseio, que mesmo sem oferecer nenhuma ameaça concreta ao modo de vida imperante, é um foco de possibilidade que tira o sono dos poderosos - e incomoda a inércia dos neutros. Esses neutros, sem o saberem, são ferramentas do diabo, que sabe muito bem gerenciar corpos, mentes e emoções de pessoas que tem por meta suprema se garantir e desfrutar de pequenos gozos. Não se trata de um julgamento, mas sim de uma constatação de vida.

Transcorro por tudo isso porque é a partir dessa comunhão de sofrimentos profundos e substanciais que os seres com maior estofo espiritual acabam evoluindo. Tiram proveito das chagas que são inseridas em seus teres para edificarem seu ser. Purificam-se e conscientizam-se. Assim, quando criaturas dessa espécie se encontram, elas geram uma irmandade com força que supera em muito a das famílias sanguíneas.

Sinto que o ser humano está prestes a passar por um processo de transformação muito profundo, em que os porquês deverão começar a ser mais investigados. Tudo aquilo que fazemos por instinto (subconsciente) será melhor compreendido. Assim, poderemos começar a conversar sobre isso, abertamente, sem medo, porque todos terão em suas mentes e corações que o objetivo de tocar as feridas é saná-las definitivamente - e não escondê-las permanentemente. O autor sofre muito por não poder se expressar sobre assuntos que ferem e assolam seus irmãos. O fato de não poder esgotar todas suas possibilidades no espaço público e por vias oficiais torna a tarefa de conscientização muito mais desafiadora, exigindo um constante aperfeiçoamento dos atuadores (capacidade de fala, de fazer barulho, de escrever, de elaborar cursos, vídeos, de agir e tomar posturas firmes, etc.). Numa sociedade ainda engatinhando, com sensibilidade atrofiada, pouco desenvolvida, atos singelos, atitudes inteligentes e trabalhos persistentes passam despercebidos. No momento, o único auxílio só pode vir do Alto - se é que a criatura o merece.

Os últimos acontecimentos vêm demonstrando que a força do imponderável continua atuando, arquitetando as condições para o inesperado se dar [2]. Assim, chancelam-se as dúvidas mais recentes.

Em meio a uma vida pública que exige esforços constantes, com interiorização de dores, o autor recarrega suas energias com aqueles que mais lhe compreendem, através de meios diversos. Filmes, música, conversas úteis, escrita, estudos, caminhadas e contemplação renovam as forças exauridas na arena dos interesses humanos, cheio de nebulosidades. O último filme assistido trata justamente da questão da família, na qual dois casais ficam sabendo que, após quase 20 anos, seus bebês foram trocados na maternidade [3]. Para deixar a situação mais delicada: uma família é palestina, a outra é judia. Esses tipos de filmes fazem a pessoa pensar sobre as questões da vida. Faz realmente diferença saber que seu filho natural foi criado por outro?

Passamos muito tempo com os outros e nenhum tempo conosco.
Conhecer-te a ti mesmo é, no fundo, conhecer o outro -
de verdade! Nós tememos a contemplação. Temos um misto de
medo e admiração ao nos depararmos com contempladores da vida.
Tudo fica óbvio quando as coisas são explicadas e as pessoas compreendem. Todos dizem: "Estava na cara!". No entanto, se "estava na cara", por que jamais ninguém suspeitou de algo, ou se manifestou, e se comportava de modo completamente não-condizente com essa afirmação subsequente ao fato? Nas próprias falas as pessoas denunciam sua inconsciência.

Desenvolvendo o pensamento e aflorando os sentimentos, o ser humano é levado a desdobrar tudo aquilo que nunca julgou existir dentro de si. Esse processo é multimilenar e cada vez mais necessário. Assim pode-se chegar a abordar o evolucionismo espiritualista - e deste, após um despertar profundo, inciar-se no monismo.

Vejamos o que Leon Denis nos diz sobre a reencarnação:

"A reencarnação realiza-se por aproximação graduada, por assimilação das moléculas materiais ao perispírito, o qual se reduz, se condensa, tornando-se progressivamente mais pesado, até que, por adjunção suficiente de matéria, constitui um invólucro carnal, um corpo humano.

O perispírito torna-se, portanto, um molde fluidico, elástico, que calca sua forma sobre a matéria. Daí dimanam as condições fisiológicas do renascimento. As qualidades ou defeitos do molde reaparecem no corpo físico, que não é, na maioria dos casos, senão imperfeita e grosseira cópia do perispírito." (grifos meus)

Depois da Morte, Cap. 41


Logo em seguida, descreve o quão lento é o processo de retomada de consciência:

"Desde que começa a assimilação molecular que deve produzir o corpo, o Espírito fica perturbado; um torpor, uma espécie de abatimento invadem-no aos poucos. Suas faculdades vão-se velando uma após outra, a memória desaparece, a consciência fica adormecida, e o Espírito como que é sepultado em opressiva crisálida.

Entrando na vida terrestre, a alma, durante um longo período, tem de preparar esse organismo novo, de adaptá-lo às funções necessárias. Somente depois de vinte ou trinta anos de esforços instintivos é que recupera o uso de suas faculdades, embora limitadas ainda pela ação da matéria; e, então, poderá prosseguir, com alguma segurança, a travessia perigosa da existência." (grifos meus)

É interessante perceber que de fato isso ocorre. Os filhos só começam a manifestar suas reais inclinações (de forma clara) a partir de certa idade. Uns demoram mais, outros menos. Mas a reconquista é longa. Semelhante a uma queda espacial (ou na carreira, ou na vida afetiva), é difícil ao ser recuperar o estado anterior, pré-queda. Isso torna a tarefa evolutiva neste mundo muito árdua - mas necessária! Soma-se a isso o fato de que a posição original dos espíritos não é muito inclinada ao progresso (nem graduado, muito menos vertiginoso), fazendo com que a vida adulta de 20, 30, 40 ou 50 anos seja um processo lentíssimo de aquisição de sabedoria.

Aqueles que estão mais adiantados, ao retomar consciência de seu ser e se familiarizar com seus planos (o roteiro desta vida), se lançam sem dúvidas ou temores na grande espiral da vida. Não hesitam. Ousam inteligentemente e avançam perpetuamente, sem cansaço definitivo. Às vezes precisam recompor as forças e se nutrir do solidão. Necessitam da contemplação da natureza. Coisas sem as quais é possível encontrar inspiração, ânimo e ideias. O estudo é integral.

Adquirir e interiorizar essa visão é renascer. É preciso acreditar. Porque, o mundo, não tendo explicações racionais (elas se contradizem) nem convincentes (o íntimo nunca é saciado), deve abrir as portas para o desconhecido. Assim persisto e insisto.

A potência transformadora vêm das massas, e se dá apenas quando pensamentos e sentimentos se fundem numa unidade sobre-humana.

Referências:
[1] https://www.bibliaon.com/irmaos_de_jesus/
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/12/um-salto-de-fe.html
[3] https://www.youtube.com/watch?v=EphQaJijCuY

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