sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Um esboço de unificação

Sempre foi do desejo humano unificar corpos (sexo), almas (compreensão), teorias (conhecimento), sistemas (sinergia), ideias e sentimentos. Mas dentre todas essas unificações situadas no relativo, talvez estejamos esquecendo aquela que é a mais importante de todas - e que viabiliza de forma automática, precisa e direta todas as outras, numa orquestração magistral: a unificação com Deus. Trata-se da fenomenologia mística, bem descrita por Ubaldi em seu livro Ascese Mística (1939).

O primeiro passo para ganharmos uma melhor compreensão das manifestações do universo, isto é, seu funcionamento (como), sua razão de ser (seu porquê), sua origem e destino (objetivo) é através da aquisição da experiência com fenômenos e objetos adjacentes. Com pensamentos acessíveis à nossa capacidade cognitiva. Com conceitos acessíveis às nossas parcas capacidades intuitivas. Com dores compatíveis à nossa (in)sensibilidade. Esses experimentos no laboratório da vida duram centenas de milhares de anos, perpassando existências corporais, com muitos costumes e hábitos transportados através de ensinamentos e rituais por gerações e gerações. Cria-se um elo por tempo indeterminado. Eixos de manifestação cultural diversos, adaptados ao ambiente físico e social, e à constituição genética dos povos. 

Não é para o exterior. É para o interior.
Quando se é involuído o grosso do aprendizado se dá através da repetição. Buscamos inconscientemente experiências repetidas em substância - apesar de, muito comumente, diferenciadas na forma. É a necessidade de confirmação, até o esgotamento das possibilidades, de que aquele caminho não é o ideal e nada mais tem de útil. Em boa parte, o involuído se norteia pelo rebanho mais próximo (relacionado) a ele, adotando pesos e medidas semelhantes, com pequenos desvios, adaptados às suas particularidades que o diferenciam muito sutilmente dos outros. 

O(A) leitor(a) não deve se ofender com o uso do termo 'involuído'. O autor utiliza-o baseado na terminologia de Pietro Ubaldi. Não se trata de uma divisão de melhores ou piores. De uns com mais ou menos direitos. Trata-se de uma análise profunda de grau de consciência. Sendo a imensa maioria da humanidade constituída de pessoas cuja consciência é ainda pouco desperta, com um verniz de civilização, isto é, seguidora de uma ética baseada na coerção muito mais do que na convicção, é natural perceber que não evolvemos para um plano de vida mais civilizado.

O evoluído, ao contrário do que o senso comum pode apontar, está imbuído de deveres pesadíssimos e tarefas de cunho dificilmente digerível por um tipo médio. Ele veio para fracassar do ponto de vista das métricas do mundo. Apenas assim ele pode triunfar no reino que almeja, 'situado' no infinito e na eternidade. Um reino inacessível até mesmo conceptualmente à mentalidade hodierna. Algo difícil até de ser conversado. Eis a meta desse ser. 

Outro ponto importante é destacar fatos comuns na vida desse tipo (evoluído), como o não-reconhecimento e o desprezo por diversos grupos humanos. No máximo, se se tratar de um tipo não-agressivo, que evite confrontar as bases de operação desse mundo, essa criatura será deixada em paz. Aqueles bons mas fracos ficarão admirados, mas em segredo. Eles anseiam por um mundo melhor mas não possuem o estofo para realizá-lo, nem em germe, ainda, aqui neste lodaçal de interesses desordenados e conflitantes. Os indiferentes verão apenas mais um caso de anormalidade dentre os muitos que aprenderam a classificar, deixando de perceber as características subjacentes e o desenvolvimento íntimo de um fenômeno manifestado através de uma personalidade que arde e luta pela depuração. Os maus verão um potencial de uso, que poderá servir para realçar a imagem de grupos. Ou, se ameaçados, tentarão eliminar o ser através de suas infindáveis artimanhas. Mas qualquer que seja o tipo humano médio, é impossível ficar indiferente diante de uma criatura dessa natureza.

A humanidade, nesse início de śeculo XXI, está  adentrando numa fase de compreensão mais profunda. A miríade de conhecimentos e experiências acumulados nos últimos milênios, aliados ao amplo acesso (ainda que restrito a muitos) à informação, abre porta para um grupo de seres em busca de realidades diversas perscrutarem de modo mais eficaz as coisas. Assim as pessoas começam a conhecer mais à fundo o que grandes almas trouxeram a este mundo. E retomam as sementes lançadas - muitas delas com grande antecipação - pelos mestres da vida, senhores da evolução e desbravadores do mistério. 

Os verdadeiros gênios não eram apenas especialistas, mas verdadeiros visionários que percebiam o fio condutor que atravessa todos fenômenos [1]. Quem se especializa e estuda à fundo algo começa a perceber a importância de síntese - algo sem a qual seu próprio estudo não é capaz de avançar. Mas síntese não é sinônimo de simplificação:

Simplificar está para amputar um todo em partes, discretizando superficialmente. 

Sintetizar está em reunir o substancial de cada coisa num único sistema, seja fenômeno, indivíduo, ideia, e formar uma soma qualitativa das multiplicidades, criando um núcleo para ser usado de base em outro plano de trabalho - e vivência. 

Assim compreende-se que não se trata aqui de formar uma colcha de retalhos, com acúmulo infindável de facticidades, mas sim de criar valores através da criatividade.

O mundo está permeado de especialistas. Isso é bom até o ponto em que essas especialidades não afetam as outras - e a marcha evolutiva da humanidade. Caso esses especialistas não sejam capazes de perceber as conexões entre as coisas (em forma profunda), a humanidade começa a andar em sentido oposto à Lei de Deus. Rompe-se a trajetória típica dos movimentos fenomênicos (TTMF), e com isso começam a haver problemas dos mais diversos tipos, cujas causas são inacessíveis àqueles com a mentalidade de especialista.É imperativo haver ao menos, dentre aqueles que sabem muito de algo, um senso de unidade em sua mente e coração. Somente assim há chance de evoluir sem tanta dor.

Pode-se falar em unificação a partir do momento em que haja uma massa crítica consciente dessa necessidade (de unificação). E que, por lógica, tenha imbuída em sua personalidade a capacidade de abordar e assimilar áreas distintas do conhecimento, realizando relações e usando uma para reforçar outra. O mesmo vale para a capacidade de experimentar a vida de modos diferentes. Não é necessário viajar muito, mas sim perceber os fatos cotidianos de modos diferentes (ver com outros olhos, como dizem). 

A cosmologia só deve avançar na compreensão do universo quando for capaz de superar o plano de pensamento da qual nasceu. É preciso perceber que ir além não tem sentido espacial, mas evolutivo. Isso aponta para a superação das dimensões com as quais estamos acostumados a trabalhar. O vídeo abaixo dá uma ideia da pequenez de nossa galáxia, tanto em termos de massa, energia e volume, ao passo que revela que o tempo é algo que esconde um princípio mais profundo. 



Nossa galáxia (a Via Láctea) é um ponto num supercluster de galáxias (Laineakea). Um amontoado de galáxias (milhões e milhões) numa região do espaço. Mas quando o mapa do universo conhecido, com suas distâncias incomensuráveis, tornam a velocidade da luz equivalente a um jumento caminhando numa estrada de terra, a luz deixa de ser tão veloz, e o movimento se vê impotente para vencer barreiras. 

Matéria e energia não explicam tudo que ocorre. Muito menos o porquê. É preciso colocar um pé nos princípios e leis. 

Até o momento não há uma teoria quântica da gravidade [2]. Mas tudo indica que, diante da vastidão do espaço e do tempo, tanto materialmente quanto racionalmente inalcançáveis / incompreensíveis, somos impotentes. 

O vídeo abaixo nos leva a uma viagem para o futuro até ao ponto em que o vazio impera, o universo se iguala ao ponto, o tempo perde significado de fluir...


As limitações de deslocamento estão jungidas às restrições biofísicas da vida, da matéria, da energia e de suas leis. Esse conjunto impõe uma barreira intransponível em termos concretos. As leis que impossibilitam as viagens interestelares, com a troca de mercadorias e serviços, o intercâmbio de seres, a colonização e demais interações, apontam para a necessidade premente de iniciarmos de forma sistematizada (e séria) a investigação em outros níveis de consciência.

A superconsciência é a intuição nascente que já se revela em alguns tipos específicos. Ela ainda se dá de forma desordenada. Ubaldi consegui  obter algum progresso nesse terreno ao realizar uma maturação interior (purificação) ao longo de vinte anos. Esse período de aprendizado da vida, aliado a uma cultura de dar inveja a muitos e a um intelecto ágil e potente, conseguiu forjar um protótipo de mentalidade a ser cada vez mais comum nos séculos vindouros. Esse tipo de mentalidade é a única capaz de enfrentar com eficácia as barreiras que se impõem à mais moderna ciência. Aquela que se vê impotente diante da imaterialidade, da vastidão, das origens, das causas e dos objetivos das múltiplas leis que governam os fenômenos do cosmo.

Comecemos pela impossibilidade de colonização biofísica.

O tempo que levaria para realizar a transmissão de informação entre exoplanetas distintos é suficiente para que - nesse intervalo - nasçam e se extinguam civilizações. As ondas eletromagnéticas não são páreo para a incomensurabilidade do Universo. Urge perguntar: que tipo de progresso esperar do século XXI em diante?

Um livro, um princípio.
Devemos ter em mente o seguinte: cada vez mais, a capacidade de mergulhar nos conceitos é sinônimo de competência e independência. Compreender as questões de uma prova (o que é pedido, quais conhecimentos preciso mobilizar, como concatenar os passos de resolução, em que formato trabalhar, etc.), as formas de manifestação de alguém (gestos, olhares, condução da vida, tom de voz, ritmos e timbres, projetos de vida, inovações, etc.) e o desenrolar dos eventos históricos constitui muito mais inteligência do que assimilar infindáveis métodos e conteúdos e reproduzir respostas, de forma gradativa e dentro de certas condições de meio. Basta um sopro de pensamento intuitivo para derrubar todas as certezas...

A partir de um ponto todas as coisas do mundo não conseguem dar o suporte adequado para continuarmos nossa jornada. Nesse momento seria interessante olhar para o Alto, se humilhar e (assim) compreender a necessidade de melhorar nosso íntimo. Essa iniciação trará clareza sobre o verdadeiro significado do milagre, seu mecanismo de funcionamento e, acima de tudo, como devemos construir as condições para sua manifestação.

Em suma: o progresso se dará (pela primeira vez) para dentro. O livro Princípios de uma Nova Ética (de Ubaldi) traz iluminação sobre o tema.

Referências:
[1] RANA, Zat. The Expert Generalist: why the future belongs to the polymaths. Disponível em:  https://medium.com/@ztrana/the-expert-generalist-why-the-future-belongs-to-polymaths-46b0e9edc7bc
[2] CAGLE, Kurt. The end of space and time. https://medium.com/@kurtcagle/the-end-of-space-and-time-9ac6f156001c
[3] SIEGEL, Ethan. The Universe has a Speed Limit, And it Isn't the Speed of Light.  https://medium.com/starts-with-a-bang/the-universe-has-a-speed-limit-and-it-isnt-the-speed-of-light-543b7523b54f

2 comentários:

  1. Muito feliz em encontrar um blog como este. Muito obrigado Leonardo. Sou estudante de Ubaldi também. Tudo neste blog é maravilhoso! Parabéns! Com o tempo, vou ler e postar comentários.
    Abraços e Deus abençoe teu trabalho!
    Ao infinito e além!

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  2. Fico muito contente em saber que o blog esteja lhe ajudando Paulo. É uma jornada realmente incrível. E o melhor é estabelecer conexões com pessoas já sensibilizadas aos temas, como você.

    Fique à vontade para comentar os textos.

    Abraços fraternos.

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