Um dos
maiores problemas de nossa sociedade são as crescentes crises de
depressão e solidão, cada vez mais presentes no cotidiano. Todo
indivíduo, se não passa por algo do tipo, sem dúvida já passou.
Se não passou, provavelmente passará. Se vier a não passar, sem
dúvida deve conhecer um familiar ou amigo ou colega ou cliente que
tem ou já teve um problema desse tipo. Tudo isso apesar de toda
riqueza e tecnologia e globalização - que muitos achavam que
aproximaria os seres humanos.
Vivemos
numa Era na qual estamos cada vez mais interconectados e -
paradoxalmente e aparentemente - solitários. Quantas pessoas
rodeadas de "amigos" não alegam sofrer de solidão? Gente
solitária em meio a uma multidão. Gente completamente desintegrada
em meios que se dizem integradores.
Parmênides, que garantiu a boa governança de sua cidade natal, Eleia, que se deixou influenciar pelos seus pensamentos. |
Os
grandes centros urbanos estão se privatizando cada vez mais. Mesmo
com uma onda de insatisfação, que clama por mais espaços públicos,
mais tempo livre e menos dependência do capital, ainda se percebe a
falta de iniciativa corporativa e governamental para atender as
demandas de uma nova humanidade, que deseja nascer e se manifestar.
Todo
discurso de integração na maioria das vezes não passa de algo
vazio e sem sentido na prática. Parece que cada vez mais gente adere
à fórmula de valorizar a forma e deixar o conteúdo em segundo
plano. E me parece que os problemas não estão sendo resolvidos.
Apenas encobertos. Problemas que desejamos resolver, mas nos
desviamos pra valer. Então, eu penso, deve haver alguma coisa errada
com tudo isso.
Nesse
ponto eu me relembro dos estoicos*, que possuem uma filosofia de vida
que diz: “Não coloque expectativas em nada e serás feliz."
Faz sentido. Porque ao longo da vida, se formos relembrando os
momentos e percebendo os detalhes de nossas amizades e relações e
todos tipos de contatos, nos damos conta de que, talvez, a maior
causa da maioria de nossos momentos de raiva e infelicidade emanam
dessa expectativa - ou excesso dela - em relação a algo ou alguém.
Pode ser um curso, uma faculdade, uma profissão, uma moça (ou
moço), um amigo, um produto, etc. E não podemos mudar todas essas
pessoas e cursos e objetos para satisfazer nossas expectativas. Logo,
segundo os estoicismo, a melhor alternativa é deixarmos de lados
todas expectativas.
Quando
digo que o melhor é deixar as expectativas do lado, não quero dizer
que devemos fazer as coisas sem ânimo. Nem que nossas amizades devem
ter menos vida. Simplesmente devemos encarar todas as coisas como um
algo a mais. E nos concentrarmos no presente. Nossa mente fica menos
perturbada. Nos concentramos melhor em nossas atividades. Tudo flui.
Isso é se tornar indiferente a tudo que é externo ao ser (a nós).
Devemos nos adaptar à lei natural das coisas, nos encaixando
harmoniosamente nesse todo que exite.
Marco Aurélio (121 d.C - 180 d.C), o Imperador-Filósofo de Roma. Seguia a escola estoica. |
De certa
forma o pensamento estoico tem muitos pontos em comuns com o
raciocínio de Pietro Ubaldi. Adaptar-se à sua realidade. A única
diferença reside da crença deste de que existe uma inteligência
suprema que sabe tudo e estabeleceu essas leis, enquanto aqueles
creem não haver necessariamente essa inteligência. Ou seja, as
coisas são simplesmente como são, e devemos nos adaptar da melhor
forma a elas.
A
filosofia de vida estoica demora para ser compreendida. E um pouco
mais para ser implementada. Porque se trata de algo difícil. Algo
que prego o não apego ao materialismo e mesmo aos sentimentos que
possam dte deixar deprimido. Isso é difícil (não se apegar a
nada).
Desde a
nossa mais tenra infância nos habituamos - ou melhor, somos
habituados - a desejarmos bens e possuir influência sobre pessoas,
tendo-as sob nosso campo de controle. A apresentarmos ambição.
Somos orientados para o TER. Ao passo que o SER é pouco enfatizado.
E a conseqüência floresce ao longo dos anos.
Não ter
expectativas em relação a muitas coisas tira uma bigorna enorme de
nossas cabeças. Nos vemos preparados para qualquer imprevisto.
Aliás, não haverá nenhum tipo de imprevisto. E isso permite que
façamos nossas atividades em paz. Podemos concentrar nossas energias
em uma coisa só. Não gastamos essa energia com preocupações,
planos ou desejos de vingança.
Eu até
acredito que muitas coisas que não acontecem em nossas vidas - e nós
achamos que deveriam acontecer - podem ser uma oportunidade de
crescimento interior. É duro ouvir isso quando muitas coisas parecem
conspirar contra nós. Mas se você observar bem e com calma, verá
que é verdade [adote a visão cósmica].
A vida
das pessoas à sua volta não é tão maravilhosa quanto você ou eu
imaginamos. Lembre-se que só vemos a casca das pessoas. E
vice-versa. É o único que (a grande maioria) quer mostrar. E em
público as pessoas gostam de manter uma certa aparência, por pior
que seu jardim interior esteja. Por medo, na maioria das vezes. Mas
se pararmos uns dias para sentar, constatar o movimento das pessoas
num café, num restaurante, numa rua, num parque, num ônibus,....se
pararmos para refletir, observando nuanças e gestos, será possível
começar a ver o horror que existe na alma de muitos seres. Através
de seus rostos e olhares e gestos. Se a boca não fala o corpo dará
conta de mostrar a realidade. E se existe aparência de felicidade
posso garantir que ela é efêmera. E a partir daí você se sente
menos louco. E mais humano.
Não
esperar nada pode ser a fórmula para solucionar os grandes males
contemporâneos do ser humano (mas sempre tenha planos!).
Viver o
presente ao invés de viver para o futuro.
Viver o
presente ao invés de reviver o passado.
Viver o
presente para viver.
Não se
trata de não traçar metas. Nem de ignorar as lições da História.
Se trata de dar o devido lugar aos acontecimentos e se concentrar no
presente para que o passado se construa e traga memórias cada vez
mais doces e gloriosas e o futuro seja sempre a morada de nossas
utopias - que devem sempre se renovar. Porque esse é o objetivo da
vida.
Nem nos
meus textos coloco expectativas. Eu estaria matando-os se fizesse
isso. Transformando os pobres coitados em algo que eles podem não
ser.
Ser
capaz de se adequar à realidade é um dos principais fatores para se
atingir a felicidade, a meu ver. E isso inclui não depositar
expectativas em nada externo, exceto sua própria pessoa. Logo,
passamos a ter controle sobre nossa percepção do mundo e
consequentemente sobre nosso estado emocional.
Estou
tentando começar a praticar isso.
Pode
render bons frutos futuramente...
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