Primeiro ponto:
A implementação de um ideal ocorre em etapas. Essas etapas são sucessivas e intercaladas por períodos de absorção, vivência parcial e assimilação. A escala de tempo dessas etapas, para fenômenos humanos-coletivos, são lentas e devem respeitar uma dinâmica. Admitindo ou não, é assim que funciona.
Devemos nos ater a uma coisa: experiências que ocorrem restritas a um povo, um local, e sob a influência dos vícios humanos, estão fadadas a findar. No entanto, é a partir daí que podemos extrair os erros das experiências passadas e nos atentar para o que ocorre no presente, de modo que saibamos realizar uma implementação mais eficaz e robusta, que englobe mais aspectos da vida e respeite características intrínsecas do ser humano - e da natureza!
Segundo ponto:
O idealismo não resolve instantaneamente os problemas do mundo - nem objetiva fazer isso. Ele é mais uma orientação do Além, cujo contato é possível estabelecer através de um profundo mergulho no nosso Eu divino.
A orientação expande o horizonte e aflora a sensibilidade para os problemas reais - isto é, aqueles que realmente são mazelas. Passa-se a ignorar o que muitos levam a sério - e observar o que é tido muitas vezes como vazio e sem finalidade.
Trata-se de operar com visão de longo prazo, sem deixar os aplausos e vaias do meio do caminho desviarem nossa construção (interna e externa).
Terceiro ponto:
O ser humano possui uma natureza. Mas (eu afirmo) ela não é fixa. Fosse assim nossos problemas jamais teriam solução. Porque de nada adianta criar sistemas se o nível da humanidade é o que é. Logo, é intuitivo perceber que existe a possibilidade de superação. Essa possibilidade é sentida a partir de um certo ponto da vida. Somente após um mergulho profundo em nossa dor, na dor dos outros, e na falência de nossos métodos intelectuais, é que estamos prontos para abraçar a nossa humildade com toda sinceridade.
Se nossos problemas fossem eternamente sem solução, de nada adiantaria continuar vivo, aqui, escrevendo, vivendo, trabalhando, constatando e aprendendo, em meio a grandes dores e pequenas alegrias. Logo, é necessário admitir a miséria de nossa mente para compreender fenômenos de ordem profunda. Chega-se à intuição. Esta começa a "puxar" a mente para níveis mais elevados, fazendo o ser arder de desespero e resistir. Sofrer por querer. Sofrer interiormente. Sofrer para expandir a consciência. Nada mais nada menos, pois trata-se de tudo.
Deus, sendo uma realidade viva que se manifesta na multiplicidade dos seres e fenômenos, é União e Harmonia. Se nosso mundo é segregado e caótico, nada mais lógico admitir que ele deve caminhar - por bem ou por mal - a uma meta. Isso se chama Telefinalismo.
Projetar o futuro da humanidade - e o seu futuro - tendo por base única e exclusivamente o passado, é um atestado de ignorância.
Sabe-se que a humanidade evolui. Lentamente. Dolorosamente. Até hoje inconscientemente. Pela dor. Isso é o que revela a História. É o que sente a Religião. É o que busca compreender a Filosofia e a Ciência. A cada etapa novas configurações. As mudanças são imperceptíveis. Mas estão lá. Elas apresentam novas possibilidades. Dizem algo que apenas os sensitivos captam - mas não sabem explicar. São manifestações do imponderável - através dos fenômenos naturais e das construções materiais e mentais humanas.
Tudo à nossa volta afirma que há unidade na profundidade - apesar da superfície mostrar uma diversidade sem fim.
Quarto ponto:
A vida não se resume a acumular matéria nem títulos nem conquistas de qualquer tipo. A vida é muito mais entrar em equilíbrio com o Universo - interior e, consequentemente, exterior. Tudo o resto vem de acréscimo. Para a matéria, o necessário dos bens e do saber. Para o espírito, o infinito das possibilidades e do amor.
Agora volto ao texto (e ao ponto!).
Não sou esquerdista (nem direitista). Sou um ser divinizável, como qualquer um, que busca se realizar ao máximo através de sua experiência humana finita, limitada e temporária. Finita no poder exercido, limitada pelos egoísmos, e temporária pela natureza da matéria.
Ontem assisti a um vídeo de um economista norte-americano chamado Joseph Stigliz*, que explica de forma clara e calma o que vem ocorrendo no âmbito econômico em nosso mundo. Meus pensamentos e reflexões vão de encontro às suas ideias, e isso indica algo.
Acabo de ler um texto do Ladislau Dowbor** que aponta para um divórcio muito mais doloroso do que a soma de todas separações homem-mulher que já houveram: o divórcio do Capitalismo com a Democracia.
Não vou me ater às explicações do porquê desse divórcio. Primeiro porque já venho demonstrando esse fenômeno ao longo de meus (quase) 250 ensaios, sob variados ângulos, e apontando para uma finalidade; e segundo porque o autor sabe melhor do que eu explicar certos detalhes. Eu realmente recomendo a leitura do texto, seguida de uma reflexão e - se construtivo - questionamento. Isso é tudo que posso fazer. Mas faço-o da melhor forma possível, sem egoísmo, pois trata-se de algo de interesse geral.
István Mészáros *** apresenta uma visão interessante. Mas novamente digo e repito: é preciso se despir dos preconceitos antes de assisti-lo. Porque ao contrário do que parece, não se trata de impor um finito - que ele aliás admite como tal e critica - a outro(s), e sim ver à fundo o que ocorre na civilização humana.
O mercado não é um mal em si. Basta que ele esteja sob controle da sociedade. Mas para isso a sociedade deve ser minimamente consciente. De nada adianta termos 1, 2 ou 5 conscientes e atuantes a cada 1.000. A massa crítica deve ser formada a título de superarmos o estágio evolutivo atual - que nada mais nos tem a oferecer a não ser desespero e depredação.
O socialismo é um sistema que não exclui mercado, liberdade individual e direito à propriedade. Ele apenas prima pelo equilíbrio de forças (economia, estado e sociedade). Enquanto no socialismo a lógica é o capital ser subordinado ao social; no capitalismo vigora o a lógica do social subordinado ao capital. É natural que a humanidade tenha se identificado no seu íntimo com o segundo - mesmo os esquerdistas fervorosos demonstraram ter mais em conta o seu finito do que os alheios na na hora das implementações específicas. Mas chegamos a um ponto em que a produção material é alta. Inclusive extrapola os limites ecológicos. E fala-se em escassez, necessidade de produzir, consumir, vender,...
O que realmente falta a nós é um despertar da consciência. A partir dela conseguiremos combater nosso egoísmo. Admitir nossa miséria humana vai doer - e muito! Passo muito mal ao perceber as limitações de minha natureza. Mas insisto em sempre me manter em contato com ela e compreender como são as coisas. Isso tem me transformado - mesmo que minimamente - ao longo dos últimos anos. É por meio da constatação e experiência que progredimos.
Falei sobre a transformação individual. Mas como fazer a coletiva? Não sei. Mas levando a primeira à frente começam a surgir explicações para a segunda, e assim podemos refletir muito em intensidade e atuar pouco, mas eficazmente.
O divórcio Capitalismo-Democracia é iminente. Já percebemos isso na crise de representatividade, cuja culpa não está encerrada no Estado, e sim na natureza humana. A relação sempre foi fundada em falsidade. Nos enganamos ao crer que um sistema econômico utilitário pudesse se acasalar com um sistema político vasto. Essas verdades começam a vir à tona.
A Revolução Industrial terá de ocupar sua posição importante mas subordinada.
A Revolução Francesa deverá se atualizar e observar que serve a uma finalidade.
E a Evolução Humana desencadeará o processo todo.
Cedo ou tarde teremos de lidar com questões que negligenciamos...
Referências e indicações
* https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Stiglitz
** http://outraspalavras.net/brasil/democracia-e-capitalismo-divorcio-definitivo/
*** https://pt.wikipedia.org/wiki/Istv%C3%A1n_M%C3%A9sz%C3%A1ros
Nenhum comentário:
Postar um comentário