Eis que chegamos a uma das questões mais agudas da humanidade: a econômica.
Tudo indica que existe suficiente recursos em forma de tecnologia, conhecimento e memória para erradicarmos por completo problemas que nos assolam desde o nascimento de nossa espécie. Tecnologicamente porque, observando as Ciências Naturais, sentimos a aproximação de uma faixa delimitada e intransponível - ao menos pela forma mental hodierna. Um crescimento assintótico, cujos efeitos esperados (gerar equilíbrio, harmonia e bem-estar para nós) diminuem a cada ano, e portanto geram cada vez menos fascinação por parte de pessoas. Pelos mesmos motivos, a Tecnologia, cujo alicerce é a Ciência, apresenta-nos novidades cada vez mais irrelevantes em sua essência, com pesquisas cada vez mais voltadas para si. O único objetivo é gerar mais novidade para que as pessoas continuem fascinadas e portanto consumam os novos inventos sendo criados. Tudo isso ocorre em prol do crescimento econômico, cujas premissas são claras: "deve-se crescer indefinidamente, e de preferência cada vez mais, para que seja gerada riqueza e evitemos a pobreza". De fato, é isso o que ocorre: sem crescimento econômico não há desenvolvimento humano. E assim tangenciamos a questão econômica. Mas esse fato não está fechado em si, pois o mesmo só permanece real enquanto a mentalidade humana se mantêm servidora dessa lógica. Em suma: a forma mental humana está por trás do poder da lógica econômica "infalível".
A natureza humana é fixa ou superável?
Ao andarmos pelas ruas e mercados e feiras e shoppings e casas e apartamentos e escolas e locais de trabalho e etc, afirmaremos com uma firme certeza de que ela é fixa. Ou seja, sempre seremos assim, e portanto devemos lidar da melhor forma possível com nossa miséria humana, gerenciando-a individualmente e coletivamente.
Por outro lado, nos deparamos com seres de natureza peculiar e diversa que nos dizem algo diferente. Seja pelos livros, seja por melodias; seja por imagens, seja por vídeos; seja por palavras faladas, seja por palavras escritas; de uma forma ou de outra é comum o contato com aquilo que chamamos de irrealizável. É belo mas é exceção. Isso concluímos após ver esses casos singulares e observar o mundo e nossas vidas. Logo, trata-se de algo que não é para nós nem para o mundo - apenas, no máximo, para nossos sonhos e utopias.
Tecnologia: apêndice humano. Em tese deveria gerar bem-estar para a sociedade, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos. |
Mas a Utopia de ontem é a Realidade de hoje.
E a intuição diz que a Realidade de amanhã é a Utopia de hoje.
É, porque tudo é simultâneo para quem opera no Infinito, para o Infinito, com o Infinito.
Mesmo porque, caso contrário, estaríamos negando nossas próprias afirmações de melhoria incessante. Estaríamos nos reduzindo a vagabundos que se contentam com o estado presente da humanidade, com suas lógicas, sistemas, instituições e culturas, apenas reproduzindo mais do mesmo, com medo de ousar e esperança de consumir. Mas o medo de ousar se transforma em pavor de se transformar - porque dói - e a esperança de se consumir se transforma em ânsia de consumir - porque ilude docemente.
Mergulhando nessas questões nos tornamos inquietos e inquietantes. Nos cremos loucos e maus, a princípio. Mas a perseverança começa a pender o lado da balança cósmica a nosso favor, e com isso vem o estímulo do imponderável - para que compreendamos as mazelas do ponderável. Eis o início da jornada multimilenar pela superação, na qual muitos se consomem para ascenderem.
Com a inquietação nos familiarizamos um pouco mais com a Utopia. Vemos ela mais próxima, mais realizável, mais realista. Começamos a amá-la e observar o mundo com uma mentalidade dinâmica, abandonando a visão estática de tudo e de todos. Começamos a formar na mente uma nova mentalidade, que elaborará uma nova lógica, primeiro inconsciente, depois consciente. Todo esse esforço, todo esse trabalho, é feito subterraneamente, sem manifestações visíveis, no silêncio do Sagrado. É o que o mundo chama de "tempo perdido"...
O Pai que tudo vê, tudo reconhece, e portanto provê o pequeno filho com os meios, viabilizando os recursos necessários para seu trabalho. Esse filho se provou esforçado e iniciou a superação do mundo, apesar de todas dificuldades e vitupérios. Eis a Providência Divina abraçando a Previdência humana*.
Pois bem. Até o momento desenvolvi a cadeia partindo do problema da tecnologia. Com base nela realizei uma escavação, passando pela ciência, chegando na economia, e daí atingindo a mente humana com toda sua psicologia.
Tecnologia > Ciências naturais > Economia > Psicologia humana (atual)
Daí podemo partir para a questão humana, mais profunda, ou seja, que se avizinha mais das forças do imponderável, e assim mergulhar no conhecimento.
O nosso conhecimento é ímpar. Nunca antes na História chegamos a desenvolver tantas áreas do conhecimento. E até certo ponto relacioná-las e aplicá-las em diversos contextos. Jamais imaginamos que o mundo estaria interconectado pela internet, e que sistemas sofisticados pudessem operar com certa segurança e grande autonomia (robôs). Dificilmente aceitaríamos a utopia de produzir riqueza suficiente de tal modo que, se fôssemos dividi-lá igualmente entre os habitantes do planeta, cada um receberia uma soma capaz de lhe prover uma vida confortável**. Aumento de conhecimento teoricamente implica em melhoria de bem-estar geral. Essa afirmativa é verdadeira se restringirmos nossa análise no tempo e no espaço, considerando o período pós-guerra (1945-1975) na Europa Ocidental e América do Norte - e em alguma medida em outros países ocidentais, como América Latina. No entanto, trata-se dum hiato de 3 décadas que se iniciou tão rápido quanto acabou. Dessa forma não podemos nos basear nessa afirmativa, restrita a certos povos, certa época, delimitada por uma conjuntura global especial.
O conhecimento se relaciona ao intelecto luciférico. Assume-se que quando o ser humano adquire certa informação, e com ela crie teorias e ideias, algo a mais deva surgir para que ele (conhecimento) não seja aplicado e se reproduza sem orientação. Ou seja, é mister brotar um senso de ética paralelamente à expansão da inteligência humana. Essa ética nada mais é do que uma fenda - um meio - para uma nova "inteligência", cujo nome é intuição.
A ética desenvolvida culminará em novos focos. Com isso o centro de gravidade começa a se deslocar do conhecimento para outro local - ainda desconhecido. Esse local eu denomino de sabedoria.
Quem chega a um certo grau de sabedoria vê a questão da memória como algo crucial. Porque uma pessoa sem memória é refém do passado que ignora. Estará condenada a repetir os mesmos erros de maneiras diferentes. A memória deve ser no aspecto substancial, universal. A história sempre deve ser revista, pois ela é viva: à medida que o tempo passa a consciência individual e coletiva expande, e com isso novas interpretações para fatos velhos são gerados. O horizonte do tempo é usado de forma mais madura, seja você engenheiro, advogado, médico, fazendeiro, operário, estudante, dona de casa, cientista, estadista, comerciante, etc. Com isso nos tornamos menos reféns das emoções imediatas e mais racionais. Ao mesmo tempo, nos abrimos mais, tornando-nos humildes. Aí se inicia o contato com o místico-religioso. Não precisamos frequentar nenhuma igreja ou seita - basta admitirmos nossa finitude humana frente às maravilhas divinas manifestadas através da Natureza.
Compreendida a questão tecnológica, do conhecimento e da memória, estaremos aptos a iniciar um estudo de mais elevado grau na questão Produção-Distribuição, que tanta cisão tem gerado.
(continua)
Observações
*http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/10/a-providencia-divina-abracando.html
** Essa divisão é apenas para dar uma idéia das possibilidades. Não se trata de uma coisa a ser implementada à risca.
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