quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O fim de todas as picadas

As pessoas costumam dizer 'é o fim da picada!' quando não acreditam no absurdo que veem diante de seus olhos. Existem vários 'fins de picada' que expressam o estado de ignorância do mundo. Muitos deles são julgamentos parciais, que expõem apenas uma opinião particular, relativa, e até egoísta. Mas há conclusões que realmente possuem plena razão de serem sintetizadas nessa frase: "é o fim da picada!". Se somarmos todas essas observações profundas, teremos um somatório de 'picadas' que sugam a vitalidade de um povo e levam este até um limiar do colapso.

Fig.1: O mundo se esfacela sem saber o que fazer. Nesse momento são chamados os gigantes do espírito para guiar. 
Mas é preciso que um mínimo se sintonize. 
Fig.: Bernard Quint.

A lógica sistêmica que impera atualmente (capitalismo) é produto da forma mental involuída que a sustenta (ignorância). Essa lógica tem nos servido razoavelmente bem para obtermos um desenvolvimento multidimensional - apesar de que esse desenvolvimento poderia ter ocorrido de forma um pouco menos brutal. Pelo menos até a década de 60 ou 70 do século XX.

A partir do ponto em que os limites planetários começam a ser ultrapassados, entra em ação, paralelamente, uma ideologia do sistema corrente denominada neoliberalismo. Ela representa a última ofensiva contra as relações do ser, maquiada na forma de progresso do indivíduo, que trará prazeres e reconhecimento (meta suprema de seres de baixa consciência). É tudo muito tentador, pois se trata de uma ideologia sofisticada que dificulta o trabalho daquele que tudo percebe intuitivamente. Percebe que esse barco chamado humanidade ruma sem timoneiro próprio, e com isso surge a necessidade do Grande Timoneiro (Deus), através de Sua Lei, atuar. Só que essa retificação, por vir do Alto, é muito mais efetiva e dolorosa - pois indica que aqueles que podiam fazer a coisa certa não o fizeram. Essa criatura que percebe intuitivamente se vê na obrigação de repassar a profunda realidade às pessoas - criaturas mergulhadas num mar de informações, sem orientação ou determinação, seres sugestionáveis pelos sentidos e confusos pela mente.

Vamos falar um pouco sobre o que ocorre em nosso mundo...

Ao longo das últimas décadas as pessoas foram naturalizando coisas artificiais. Para isso ocorrer houve um processo - em parte intencional, porém inconsciente também - de criação de necessidades artificiais. Para fazer isso, muito dinheiro foi despejado em propagandas e para comprar pessoas com certo poder, a título de que elas façam as coisas focando no consumo dessas 'necessidades'. 

O processo de concentração de patrimônio e renda nada mais é do que um reflexo de uma civilização doente que não sabe se organizar de forma a obter sinergia. Quando se observa a natureza com seus diferenciais (que por sua vez permitem o fluxo) trata-se de algo sustentável, isto é, que pode se perpetuar indefinidamente, e que beneficia a todos organismos da rede da vida, de vários modos distintos, direta ou indiretamente, em momentos distintos e por períodos diferentes.

Fig.2: Será que os 0,01% mais ricos produziram tanta coisa boa a ponto de ficarem tão ricos?
 E os 90% de baixo não fazem nada de útil para o funcionamento do mundo?
O pecado dos de cima é ter condições para mudar, mas ignorar - o dos de baixo é não se conscientizarem e unirem.

Uma pessoa que trabalhou em prol da sociedade, isto é, que realmente gerou algo de valor, possibilitando crescimento material (até certo ponto!), emocional (também até certo ponto) e intelectual (idem), deixa o caminho livre para os grandes homens e mulheres do pensamento e sentimento agirem. Esses seres realizam as grandes sínteses, criam as teorias unificadoras, harmonizam os pólos, vivem equilibrados num dinamismo intenso. São criadores de obras de arte profundamente expressivas, que tocam a alma e fazem chorar e amar; e forjadores de formas de vida mais intensas, que fazem vibrar e caminhar. Assim se constrói a uma pirâmide de trabalho correta, não-emborcada, que visa retificar os males de nosso mundo - e Universo...

Essa pessoa que trabalhou para a sociedade sem dúvida merece ter um rendimento bom e amealhar patrimônio para cuidar bem de sua família. O que seria 'bom', alguns perguntam? Digamos que seja o suficiente para a pessoa prover as necessidades (realmente) básicas para o presente e velhice: alimentação, moradia, cultura, saúde, educação, previdência, transporte, roupagem, higiene, energia, água e coisas do tipo. Cada uma dessas coisas deve ser de qualidade mas não luxuosa (a ponto de gerar carências para outros), ser acessível e possuir a preços razoáveis.

Para que seja possível essa 'qualidade não-luxuosa', essa acessibilidade e preços razoáveis, é imperativo que o sistema-mundo se organize em termos de prover serviços coletivos. Isso se traduz em organização centrada não no consumo, mas no desenvolvimento humano (o consumo vira um apêndice...cerca de 30 a 40% do PIB). As ramificações justificam o princípio: 
  • Transporte público de massa de várias modalidades;
  • Arquitetura urbana integrativa, com proximidade entre pessoas e locais de trabalho/lazer;
  • Cultura em todos pontos, em todas modalidades, no campo e na cidade;
  • Sistema tributário justo, que auxilia quem menos possui e ganha - e cobra de quem mais possui e ganha;
  • Sistema político híbrido, com caráter democrático e aristocrático fundidos em prol da evolução;
  • Sistema econômico desmonetizado, com diminuição da influência da renda sobre qualidade de vida;
  • Sistema educacional público, focado na integração do Ser, com um ensino unificador que integre religiões e filosofias - e que relacione dinamicamente saberes;
  • Sistema de saúde público, focado na prevenção e não na remediação de males biofísicos, psicofísicos, ou mesmo da alma;
  • Empregos com jornadas reduzidas e com significado, capazes de prover as necessidades de cada indivíduo;
  • Matriz energética sustentável, que cause o menor impacto, que vise eficiência;
  • Processos produtivos focados na durabilidade, na manutenção, na eficiência, na robustez e na funcionalidade;
  • Fim da propaganda consumista-sensualista, para não estimular baixos instintos;
  • Agricultura focada em orgânicos, na diversidade alimentar
  • Meios de comunicação controlados pelas comunidades e pelo Estado, a serviço do progresso e esclarecimento;
  • Estado focado nos princípios biológicos traçados pela 'A Grande Síntese';
  • Segurança pública integrada a equipes de psicólogos, assistentes sociais, pensadores e profissionais que visem mitigar efeitos e eliminar perigos em sua gênese.
Há mais, muito mais. Apenas esbocei alguns para as coisas ficarem um pouco mais claras. O que deve ficar cristalino para tudo e todos é que o nosso paradigma atual, centrado no consumo insano, na ostentação, no crescimento infinito, na repetição de esquemas arcaicos, não irá jamais querer estruturar o mundo para as diretrizes citadas acima. O alguém vê, na prática, uma grande corporação, governo, grupo de poder se preocupando em realmente criar estruturas que libertem o ser para que este dê seu maior rendimento?

Se até esse ponto (desse blog, desse ensaio e dessa civilização) o leitor não estiver convencido de que o que se afirma aqui e o que se vê ao redor são realidades seríssimas, não há outro meio de despertar a não ser através da dor. E essa dor virá através da Lei. E será realmente apocalíptico - isto é, revelador.

O importante é que eu estou fazendo o máximo possível, dentro de minhas parcas possibilidades, para esclarecer o caos em que nos metemos. Muitos outros fazem isso de forma magistral, trabalhando árduamente para o esclarecimento. A internet possibilitou que bilhões tenham voz, e que ela se propague pelos quatro cantos nas mais diversas formas. O problema é que há muita coisa muito incompleta aí. Visões restritas, egocêntricas e com muitos esquemas de desinformação. Seres desorientados, com má intenção, que usam das suas habilidades para destruir carreiras e confundir pessoas. Por isso é importante que o grau de consciência coletivo cresça: para que as pessoas saibam filtrar adequadamente e com isso se salvarem e ajudarem a salvar o mundo.

O capitalismo na forma atual é a materialização sistêmica de uma forma mental que se recusa a dar um passo adiante. Há uma retroalimentação (feedback) aí: mais se desenvolve/atua a lógica sistêmica, mais o indivíduo a segue; mais a pessoa se distrai, procurando fugir das dores, mais o sistema o domina. O binômio consumo conspícuo - emprego alienante representa também essa lógica circular que se reforça dinamicamente (e satanicamente, chegado a esse ponto): gozo para fugir do besteirol dos empregos sem sentido - empregos bestiais para se recuperar do cansaço de tanto gozo.

Reparem: emprego deve se tornar trabalho real (não é em sua imensa maioria); e tempo livre deve ser lazer que edifica, como leituras, atividades físicas, meditação, culinária, relações amorosas, música, dança, escrita, grupos de oração, estudos, passeios, etc. (não é usado para isso quase nunca).

De modo que o sistema atual representa o somatório de várias picadas que esgotam as possibilidades humanas. Mas providencialmente, com isso, acabam por deixar o ser cada vez mais enojado, enfastiado de seu modo de vida, que acaba por se ver forçado a caminhar cada vez mais para a grande verdade. Com isso ele se vê obrigado a admitir seu erro e culpa, adquirindo senso de responsabilidade. 

Devemos nos olhar no espelho que reflete a nossa alma. Ela está apodrecida por repetições ( necessárias apenas para quem não adquiriu um mínimo de maturidade). Podemos ser mais...muito mais...

Quando uma lógica deu todo seu rendimento, é momento de se passar para outra lógica.

'Qual lógica?', me perguntam os desesperados, super-ocupados à espera de soluções prontas e que irão gerar uma transição maravilhosa sem esforço, sem dor...Esses querem os milagres emborcados - pois não foram capazes de ver o milagre real se realizar a cada momento da criação e da evolução. Se ao menos isso fossem capazes de perceber...Mas para isso mister é abrir a alma para o infinito e eterno, para o absoluto.

As pessoas querem soluções prontas, e retrucam com um 'o que eu posso fazer?', ou 'o que você sugere?'. A esses eu digo: procure enxergar à fundo. As sugestões estão por toda parte, basta ter as antenas receptoras capaz de captar as grandes mensagens. Desenvolva-as! (pois apenas você pode fazer isso). 
Fig.3: O dualismo existe - isso não é o problema. O que deve ser feito é a fusão dos pólos num organismo unitário. 
Isso é monismo - e Pietro Ubaldi foi o que expressou o monismo da forma mais fantástica até hoje. 

De modo que o sistema atual representa o fim de todas as picadas. E com isso o grande organismo humanidade padece de males enormes. Busca soluções mas implementa (e vive) pseudo-soluções. 

É impressionante: as coisas mais fantásticas, que tratam dos princípios que podem ser aplicados a todos os ramos da vida e do conhecimento, quase nunca são priorizadas pelas pessoas. Quando isso ocorre, percebo a gênese de um milagre. Porque quando isso ocorre com quem já está sintonizado, isso dá uma força enorme, que não cessa nunca. E a partir daí há um envolvimento profundo com esse vórtice virtuoso, venerável, vívido e voluptuoso, que ventila verdades vibrantes e de valor. Verdades veladas e que vibram na vizinhança da alma vulcânica e vitalícia, em vertiginoso voo vertical.

Somos semelhantes a túmulos caiados: belos na casca, apodrecendo por dentro.

"Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque sois parecidos aos túmulos caiados: com bela aparência por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e toda espécie de imundície!"
Mateus 23:27

Os doutores da Lei são os intelectuais sem sentimento; os trabalhadores sem pensamento; os que consomem por consumir; os que socializam calculando retorno. É o método do mundo, que corre para a sua ruína. E quem deseja se salvar, faça o que sempre julgou impensável, loucura. Dê um salto de fé. Verdadeira fé, ciente da realidade e consequências neste mundo. Assim você verá o tão esperado milagre começar a atuar: primeiro em vossa vida, depois no mundo.

Quem fala já passou por isso - e escreveu sobre isso. 

Por isso tanto se persiste (no interior) e insiste (no exterior).

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