terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MENSAGEM DE ANO-NOVO

Pare de fazer tudo. Pare de pensar nos compromissos do presente e nas preocupações com o futuro. Escuta com calma. Se teus olhos pousaram sobre estas palavras, há alguma finalidade nisso. Mesmo que imperceptível.

Um ano finda. As promessas e expectativas inundam as mentes. Os sentimentos são expressos mais por conveniência do que por convicção. Existe uma teia de convivências dependentes calcadas em interesses. Esses interesses ofuscam a nossa centelha: uma chama sufocada pelo abismo que criamos entre o melhor de nós e o que manifestamos no presente.

Estamos rodeados de gente e sozinhos ao mesmo tempo. Onde estão as pessoas?, muitos se perguntam no íntimo mas jamais se manifestam a respeito. Queremos algo ardentemente hoje, mas amanhã, ao adquirir o objeto de desejo, nos entediamos. O valor de ontem é o peso de hoje.

A diversão dura pouco e exige muito. O tédio está sempre presente e não necessita de chamadas: está sempre pronto para invadir nossas mentes. Como a água inunda um navio em curso de afundar.

Mathias Lefebvre, "The Piano Man".
Fuga da realidade aparente do consumo para
mergulhar numa realidade mais substancial.
"Food, shelter and love" são as suas necessidades.
Primeiros ensaios para nos tornarmos santos
e místicos. Primeiros de muitos para quem inicia.
Primeiro de muitos que haverão de iniciar.
O esforço é buscado por poucos. Eu deveria buscá-lo mais. Muito mais. Mas às vezes não sabemos como encontrá-lo. E depois vem a dor, que pode significar consequência de nossos erros ou sinal de ascensão. De uma forma ou de outra, dor. Manifestada em forma de tédio, desilusão, desespero ou ódio.

O que importa acima de tudo é aquilo que na hora decisiva menos nos esforçamos para manter ou obter. Mesmo que ao nosso alcance, rejeitado. Mesmo sendo oferecido gratuitamente por forças imponderáveis. Oportunidades perdidas.

Mas como saber se estamos no caminho certo ou errado?

Os momentos importantes devem ser medidos pela sua intensidade, que é infinitamente grande, e não pela sua duração, que é uma fração infinitesimal de nossa vida. Mas nos acostumamos a mensurar tudo pelo tempo e pelas aparências. Queremos nos iludir por desconhecermos a realidade sutil que permeia e dirige tudo. Uma realidade descohecida por ser imponderável. Um imponderável (ainda) ignorado por não ser sentido.

SENTIR → NOVA REALIDADE → NOVA POSTURA → LIBERTAÇÃO

Mas como podemos sentir de verdade se a realidade não permite? Como podemos parar e refletir, se o mundo, ao ouvir certas idéias e sentimentos, se afasta e nos prejudica, mesmo sem o querer? A resposta me parece óbvia, mas vivê-la constitui desafio titânico. Uma utopia.

Devemos perder nosso tempo nos estudando. Não nos fecharmos em conchas negando o mundo, e sim ouvirmos nossa consciência e esquecendo por uns instantes a arena terrestre. Reparem: o que precisamos para viver bem é pouco. No entanto até para ter esse pouco os desafios são homéricos. Food, Shelter and Love (Comida, Abrigo e Amor), segundo Mathias Lefebvre1. E realmente, se pudermos ter saúde e educação garantidas, nenhum problema deve sondar uma mente saudável.

Quão pouco custaria providenciar o mínimo para todos. Quão grande seriam os ganhos num mundo onde todos poderiam se dedicar minimamente para o autoconhecimento, e assim se preparar para se tornar produtivo em termos culturais, sociais e espirituais.

A cada dia que passa essa utopia é mais sentida e cobrada. Em várias formas. Em vários campos. Por várias ideologias. Pessoas querem oportunidades reais e não escravidão travestida de solução. Pessoas sentem quando são enganadas e cada vez menos aceitam o óbvio - que se torna cada vez mais obsoleto para a nova mentalidade em gestação.

Aì pode estar o futuro. Mas o futuro
só se concretiza se cultivarmos o
presente. Pesquisa: gastos iniciais com
ganhos enormes no futuro. Pesquisa: riscos.
A espiritualidade é como a pesquisa.
O amor é como a pesquisa.
O amor é espiritualidade.
A ambição é boa mas só o é se for orientada para planos mais elevados. Mais idéias, mais amizades, mais tentativas de arriscar, mais atividades simples, mais natureza, mais conversas profundas e sinceras. Menos imóveis, menos veículos, menos exageros, menos cultos (de todo tipo), menos fofocas, menos barulho, menos encastelamentos desnecessários, menos orgulho. É difícil.

Existe abundância para quem vê. Existem alegrias simples passíveis de serem aproveitadas ao máximo, mesmo para quem se dá conta da realidade desoladora de nosso mundo. Porque quanto mais se vê a triste natureza humana atual, mais se percebe a presença de uma Lei diretora guiando tudo e todos. Se internalizarmos essa Lei, convencendo-nos de sua existência, estudando-a através de observações ao longo dos anos, iremos ama-lá e (sobretudo) admirarmos infinitamente o Ser que a criou.

Se tudo fosse ao acaso é muito provável que nossa espécie tivesse chegado à extinção2. A vida possui uma finalidade tão vasta e elevada que nossa mente ainda é incapaz de percebê-la. Quando se fala em séculos para atingirmos um estado orgânico a nível global, o assombro é grande e a negação evidente. Nossa escala mental rejeita tais períodos por não crer na continuidade da consciência individual. Isso nada mais é do que uma espécie de egoísmo travestido de racionalidade pura. Não crer por não ver é uma falta de perspectiva. Para ver é preciso antes crer, assim como toda tecnologia só surgiu após a ciência se consolidar, e esta só conseguiu caminhar independente após o levantamento de muitas questões filosóficas. Percebam: queremos que o mundo mude antes de darmos nós mesmos os passos. Mas vejam só! Essa postura é idêntica àquela do “não crer por não ver”.

Eu me sinto rico nesse momento. Mas estou sozinho no quarto escrevendo. Poucas (mas valiosas!) amizades, nenhuma programação especial, um ano novo cheio de incertezas e um futuro ainda indefinido. Uma vontade de realização pessoal mas nenhuma idéia de como inicia-lá. Estudo, música, companhias boas, filmes interessantes, escrita e exercícios distraem.

O mundo ora dá esperanças, ora demonstra crueldade. Ele dá esperanças pelos motivos errados e demonstra crueldade sem fundamento. Cheguei à conclusão de que é volátil. Mas eu também faço parte do mundo! Então me vem à mente: quando estamos em reflexão profunda, sozinhos, nos conectamos com o imponderável e assim ganhamos energias para compreender melhor o mundo e dar o devido peso às suas superfluidades, e começamos a nos relacionar de forma mais suave com todos.

Nós deixamos de pensar por nós mesmos. Quando dizemos que sentimos isso ou pensamos assim garanto que grande parte disso se deve a um instinto atávico. É um automatismo bom para consolidar o grau de civilização adquirido. Mas um empecilho para nos lançarmos em novos ciclos ascensionais. Concordamos para não nos darmos ao trabalho de expor nossas idéias; Concordamos para não gerarmos atritos; Concordamos por termos vergonha de nossas idéias; Concordamos por egoísmo. Porque desejamos garantir uma posição árduamente conquistada. Mas dessa forma os avanços são lentíssimos. Mas a natureza dita a atitude, e ser incapaz de compactuar com aquela realidade sob os panos não é motivo de vergonha, e sim um ponto de apoio para ser usado a cada momento para impulsionar cada gesto, cada trabalho, cada palavra, cada postura numa árdua e titânica batalha contra a natureza material que nos bombardeia e nos seduz.

A liberdade não funciona se as pessoas são escravas de uma forma mental. E somente a própria pessoa poderá realizar esse trabalho de libertação mental. Os outros podem apenas – no melhor dos casos – ajudar. Cabe a mim e a ti o passo definitivo. Cada qual a seu modo, seguindo o seu caminho. Infinitas formas de se atingir a mesma finalidade: Evolução.

Notas
1http://www.mathiaspianoman.com/#!news/c13me

2http://www.monismo.com.br/coment1.html

domingo, 28 de dezembro de 2014

UM FILME FALADO

Li numa crítica de Sérgio domingues que "Um filme falado'' afirma a sabedoria das palavras. Num mundo cada vez mais governado pelas ações rápidas e práticas, o filme do Manoel de Oliveira pode parecer fora de moda e sem novidade alguma. Grande engano, grande engano...

Rosa Maria (Leonor Silveira) e sua filha Maria Joana (Filipa de Almeida) partem num cruzeiro marítimo, cujo ponto de partida é Lisboa. Rosa é professora de História e irá visitar seu marido que está a serviço na Índia. 

Desde o início do filme já é possível deduzir que os próximos minutos serão uma breve lição de História e civilização. As perguntas incessantes de Maria para sua mãe demonstram uma sede pelo conhecimento, algo que a maioria de nós parece perder quando nos tornamos adultos, variando criaturas preocupadas em excesso com praticidade e rendimento. A mãe vai explicando com paciência e amor cada monumento visto no caminho.

De início parece que o diretor quis imprimir uma visão eurocêntrica do mundo. Outro engano. Na verdade podemos observar que a história, paralelamente às explicações de mãe para filha, vai sofrendo uma ''abertura'' com o passar do tempo. Primeiro, uma idéia de saudosismo dos séculos em que Portugal dominava o mundo e explorava suas colônias a partir do envio de seus marinheiros para as novas terras; depois a idéia de que antes dos gregos não havia nenhum tipo de civilização que merecesse ser designada por esse termo; logo após o Egito, onde Rosa explica para a filha que as pirâmides custaram muitas vidas humanas para serem construídas.

A curiosidade da menina é o motor que mantêm a conversa, e junto com esta a verdade começa a aparecer, devagar, bem devagar, para ser digerida tanto pela menina quanto pelos espectadores.

O jantar é o momento de máxima expressão de toda a idéia que vinha sendo ''trabalhada'' entre a mulher e sua menina.

O capitão norte-americano (John Malkovitch) está sentado junto com três senhoras de diferentes nacionalidades, pessoas famosas. Uma italiana (Stefania Sandrelli), uma francesa (Catherine Deneuve) e uma grega (Irene Papas). Juntos conversam sobre a vida, os povos, os amores, frustrações, e visão de mundo. Cada um fala sua língua mas todos se entendem perfeitamente. E o papel de capitão não é dado por acaso a um norte-americano - basta relacionar dirigir o navio com controlar o mundo. No entanto, o ambiente é de diálogo e compreensão. A historiadora se junta a eles, convidada pelo capitão, que fala um pouco de português. Sua filha também.

O aparecimento de Rosa na mesa pode significar a inserção de Portugal no mundo atual. O clima de pluralidade continua, mas há uma falha de comunicação entre a grega e a portuguesa, pois esta fala todas línguas presentes exceto o grego enquanto aquela não compreende o português. Passa se a falar a linguagem comum a todos, o inglês. A fala fica mais pobre. Mas as idéias e questionamentos a respeito do estado atual das coisas não param de vir à tona.

"Um filme falado'' vai contra a massificação dos dias atuais. Ele questiona a falta de compreensão entre os povos. Sua forma é tão importante quanto seu conteúdo. Ambos andam de mãos dadas.

A cena final talvez seja um alerta para todos nós. Quem planta a bomba não é necessariamente quem o faz fisicamente, e sim os líderes mundiais que criam um terreno fértil para a proliferação do ódio e violência, impondo suas culturas e modo de vida mundo afora, sem desejo de dialogar, de falar...

Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=Y6dMwakX2H4

O JANTAR DOS MALAS

Existem comédias boas, que nos fazem rir sem precisar apelar, ou melhor, não forçam a barra. Existem comédias que, além de serem muito boas, são capazes de arrancar gargalhadas naturalmente de seus espectadores. Esse é o caso do filme "Le Dîner des Cons” (O Jantar dos Malas).

O diretor e roteirista Francis Veber se baseou em sua própria peça ao realizar o filme. Obviamente, apesar de uma excelente e original trama, era mister que os dois protagonistas da história fossem atores aptos a exercerem bem seus respectivos papéis. Mais – ou tão – importante quanto a história em si era dar vida aos personagens Pierre Brochant (Thierry Lhermitte) e François Pignon (o memorável Jacques Villeret). Não é a toa que quando assistimos o filme novamente continuamos a rir das situações em que cada um deles se mete. Isso é uma característica muito forte da sofisticada comédia francesa.

Bem, a situação é a seguinte: Pierre tem uma espécie de joguinho nada bondoso com seus amigos, que consiste em convidar uma pessoa o mais 'idiota' possível no trabalho para jantar. O vencedor deste jogo é aquele “esperto” capaz de encontrar o sujeito mais idiota. Ao conhecer o desastroso Sr. Pignon numa viagem de trem, Pierre já sente a vitória e prepara tudo.

François Pignon é um homem de fisionomia engraçada, atrapalhado, não sabe a hora de fazer comentários nem tem um trabalho muito sedutor – monta maquetes. Não bastasse isso ele já desembucha vários de seus infortúnios durante a breve viagem, relatando que havia sido abandonado pela sua mulher recentemente. "C'est merveilleux!'' pensa Pierre.

Mas o que se esperava ser um jantar de vitória se transforma num incômodo sem precedentes para Pierre. Nada dá certo. O jantar é cancelado e torna se difícil se livrar do Pignon que, sempre disposto a conversar e ajudar, não é capaz' de abandonar seu novo amigo. Este é polido e educado, uma pessoa de aparências, e não pode simplesmente expulsar o homem que havia acabado de convidar para sua casa, mesmo porque isso iria requerer uma explicação. O que era para ser uma diversão se transforma num pesadelo.

O forte do filme são os dois personagens. Lhermitte e Villeret conseguem deixar os espectadores cheios de curiosidade até o último minuto. Não se sabe como vai acabar aquela situação constrangedora.


Os diálogos entre ambos são de primeira, um humor muito sofisticado, mas nem por isso difícil de ser entendido. Basta saber sobre a vida. Pura diversão na forma mais agradável.

Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=LE3hC7Nfxpg

O DIA EM QUE A TERRA PAROU

O Dia em que a Terra Parou, de Robert Wise, pode ser considerado um marco do ponto de vista cinematográfico por consagrar o gênero `filme B` no imaginário dos espectadores. E também por tratar um tema de grande popularidade sob uma ótica diferente. A de que os extraterrestres chegam em nosso planeta para evitar a nossa autodestruição.

Filmado em 1951, durante plena Guerra Fria, com a já evidente corrida armamentista espalhando terror e preocupação pelo mundo, o filme de ficção científica pode – e deve – ser encarado como uma crítica às nossas instituições governamentais e modo de vida.

Klaatu (Michael Rennie) tem uma missão: alertar os perigos de um confronto entre as superpotências da Terra, as quais por sua vez podem vir a afetar os vizinhos extraterrestres. E isso seria intolerável para os outros habitantes do sistema solar, cujas civilizações aprenderam a evoluir por um caminho pacífico, sem guerras ou ganância desmedida.

A partir da chegada da nave de Klaatu em Washington toda a sociedade busca se manter informada sobre o evento. Tudo é um grande espetáculo para a população, exceto para o viajante, cujos objetivos são bem claros e honestos. Sua permanência temporária com uma tradicional família norte-americana revela ser muito elucidativa e faz o espectador refletir sobre o seu modo de vida. “Nós não fazemos guerras de onde eu venho” responde o extraterrestre para Bobby enquanto ambos visitam o pai - morto na 2a Guerra - do menino no cemitério. O garoto diz: “Poxa, sem guerras…Essa seria uma boa idéia.”

Inúmeras passagens transmitem a idéia do quão limitada a humanidade é em termos de compaixão e moral e eficiência (administrativa, tecnológica, jurídica,…). Há um assustador desnível entre o mundo que o garoto apreendeu ao longo de seus primeiros anos de vida e um outro mundo, real, possível e distante, sugerido por Klaatu.

Indiferentes à mensagem do extraterrestre, as autoridades se revelam mais preocupadas em encontrá-lo e prendê-lo no hospital do que em trocar conhecimentos. Sua inserção na sociedade é vista como perigosa. Uma atitude um tanto imatura e superficial para quem cuida das relações internacionais, economia, educação, segurança…

O fato de ser um filme de baixo orçamento não limita a qualidade da obra como um todo. Na época o interesse por OVNI’s era crescente, – um tema popular - e a melhor forma de fisgar o espectador era com um filme de forte roteiro usando extraterrestres como pano de fundo. O resultado é algo diferente de otros filmes do gênero produzidos antes. Um marco. E um dos poucos filmes que mostram os habitantes de outros mundos como criaturas pacíficas.

Um filme inteligente. E interessante. 
O que comprova que os filmes B não são necessariamente B em conteúdo.

Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=51JoEE_znyI

NUOVOMONDO

O cineasta italiano Emanuele Crialese já dá sinais de genialidade em seu campo de trabalho, apesar de possuir apenas dois filmes em seu currículo, incluindo o poético e memorável “Respiro”. Seu terceiro longa só reforça essa tese, e, a meu ver, coloca o novo diretor na categoria de verdadeiros cineastas do século XXI.

Novo Mundo” é um filme original e envolvente. Salvatore Mancuso (Vincenzo Amato) é um camponês que deseja partir para o continente americano em busca de uma vida melhor e menos sofrida. Na primeira cena nos deparamos com uma vasta paisagem. Silêncio. Apenas o vento e dois homens andando pelas colinas com pedras na boca. São eles Salvatore e seu filho mais velho em busca de um conselho divino, a confirmação do que já era desejado pelo pai da família.

O filme pode ser dividido em três atos: os preparativos para a viagem e o abandono do antigo lar; o percurso de navio junto às inúmeras famílias; e a chegada ao porto de Nova York, onde se dá o longo e burocrático processo de inspeção – o primeiro contato com o Novo Mundo.

Uma das cenas mais marcantes se dá com a partida do imenso transatlântico. De repente o filme fica mudo, sem qualquer som ou música. Vemos apenas uma grande massa de seres humanos se encarando, metade para um lado, metade para outro. À medida que o tempo passa esse enorme contingente começa a se dividir, vagarosamente. É a partida. Todos se encaram, mudos, perplexos. Não há alegria ou tristeza, apenas incertezas e expectativas quanto ao futuro.

A bordo da embarcação há uma inglesa, Lucy – ou “Luce”, segundo os italianos – cuja personalidade desperta uma curiosidade em Salvatore. Para entrar nos EUA moça precisa encontrar um marido, enquanto Salvatore é viúvo e sente a necessidade de uma mulher. O encontro entre os dois vem bem a calhar nesse ponto.

Apesar de ser um retrato fiel baseado nas cartas dos imigrantes da época, Crialese fez uso de passagens cômicas, muito engraçadas, como os sonhos de Salvatore, permeados de rios de leite e vegetais gigantescos – sua visão da América. A cena de sedução entre Lucy e o Sr. Mancuso no convés do navio talvez seja uma das mais memoráveis dos últimos tempos. Um balé visual de gestos e olhares ímpar.

A última parte pode ser considerada a mais crítica. São revelados os diversos procedimentos médicos e psicológicos pelos quais os viajantes devem passar. Num certo ponto, a avó da família Mancuso, indignada e cansada de tantos procedimentos, dispara uma crítica feroz contra o sistema de filtragem adotado pelos norte-americanos, colocando-os em seu devido lugar. Só esse confronto entre os dois mundos já vale o ingresso.

Cada passagem entre cenas é suave. O figurino é impecável e os atores estão pra lá de convincentes em seus papéis, com destaque para Charlotte Grainsbourg e Amato nos papéis principais. No filme, tudo parece ter sido escolhido à dedo pelo diretor, um verdadeiro trabalho artesanal. As duas horas de projeção passam num piscar de olhos, prova suficiente de que Crialese sem dúvida merece estar no rol dos grandes diretores dessa nova geração de cineastas.

Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=FiVUpK3SdHk

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

Existem momentos memoráveis de cinema num país, quando verdadeiras jóias são produzidas nas regiões mais áridas e inóspitas. "Cinema, Aspirina e Urubus" é uma dessas jóias do cinema brasileiro que consegue encontrar universalidade na região mais abandonada e seca do país: o sertão nordestino.

Dois homens, duas culturas, uma a antítese da outra pode-se dizer. O ano é 1942. Pronto! Está formada a faísca inicial que irá conduzir a história de Johann (Peter Ketnath) e Ranulpho (João Miguel) por vários quilômetros.

Johann é um alemão que decidiu que a guerra não lhe agradava e fugiu rumo ao Brasil, país que ainda se encontrava neutro. Ranulpho é um brasileiro, e também é um fugitivo. Ele quer escapar da seca que assola a região. O interesse em comum dos dois irá mantê-los numa viagem constante durante todo filme, passando de povoado em povoado para exibir filmes a pessoas que jamais haviam conhecido o cinema, a fim de vender um remédio "milagroso" (aspirina).

Ao mesmo tempo que o espectador vai se defrontando com a crua e sofrida realidade do povo daquela região abandonada pelos políticos, os protagonistas da história começam a desenvolver um forte laço de amizade, apesar de um desconhecer por completo o mundo do outro. O que de início parecia uma barreira cultural com o tempo vai se tornando uma curiosidade, um estímulo para incentivar o diálogo e a troca de idéias. O alemão deseja adentrar no sertão. Apesar da pobreza, para ele tudo aquilo é desconhecido, ou seja, interessante de ser vivido. O brasileiro, por outro lado, deseja ir para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades.

A luz é intensa em "Cinema, Aspirina e Urubus", reforçando o clima inóspito do sertão. Além disso deve-se destacar a forte atuação dos dois protagonistas da história, sem a qual o filme conseguiria ser tão singular e próximo do ser humano.

Esse é o longa de estréia do recifense Marcelo Gomes. Nada mal não?

Trailer: 
https://www.youtube.com/watch?v=iruX5aGznlI

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O SABER: ESQUECIDO, ENCOBERTO OU SITIADO?

Saiu na BBC: Os 85 mais ricos do mundo têm o mesmo patrimônio de metade da população – mundial1. "Este fenômeno global levou a uma situação na qual 1% das famílias do mundo são donas de quase metade (46%) da riqueza do mundo", afirmou o documento. Esse é o fato. Provindo de um órgão que opera no epicentro do mundo industrial-financeiro. Um fato reproduzido pelas mídias de vários países, de todas tendências possíveis. Consenso geral.

Sobre o fato pouco há o que se dizer. Portanto não perderei tempo em reproduzir estatísticas que só comprovam o que muitas pessoas vem sentindo nas últimas décadas – exclusivamente e especialmente as mais pobres. Agora, quanto às consequências de tal realidade, que tende a se intensificar, já começam a haver divergências. Quando passamos às causas, essas divergências começam a se tornar astronômicas, levando a diversas consequências e propostas de solucionar essa realidade.

Noam Chomsky. Estudo e trabalho pela humanidade. 86 anos.
50 lecionando no MIT. Atualmente se dedica 100 h por semana entre
palestras, entrevistas, artigos, livros, estudos e investigações.
Ainda em atividade. Sua ocupação assim exige.
Porque não é uma ocupação escravizante e ilusória. 
A Edição 197 da Revista CULT traz uma matéria muito esclarecedora sobre a situação2. O autor esmiúça filosoficamente a questão, se dirigindo ao sentimento sincero do leitor, e não apresentando dados e equações e teorias econômicas e referências de “sumidades” no assunto – pessoas bem abastadas, com voz na mídia, que fizeram as mais diversas previsões que se revelaram falsas. O artigo é uma visão que o mundo, em sua maioria, sem saber o porquê, julga irrealista e utópica. Porque “a realidade é assim”, e “basta ver como são as coisas”. Portanto, de nada adianta lutar contra algo que está na natureza humana. Eis o argumento aparentemente irrefutável lançado contra aqueles que ousam investigar e assumir uma posição que em sua forma pode se aparentar com o passado, mas que em sua substância, à medida que percebemos o transformismo e relativismo de nosso mundo, RESGATA as idéias do passado, OBSERVA o presente e VISLUMBRA possibilidades concretizáveis.

Em agosto publiquei um artigo intitulado “Dois Tipos de Utopia”3. Sua essência é justamente revelar às pessoas o emborcamento que o mundo faz em relação aos vocábulos “utopia” e “realidade”. Podemos definir uma idéia, conceito ou pessoa com essas palavras considerando o curto prazo e o longo prazo; as mudanças substanciais (duráveis) ou na forma (efêmeras); abrangendo grandes unidades coletivas ou um seleto grupo. É claro que a classificação de uma idéia, conceito, teoria, indivíduo ou grupo num campo implica na sua classificação inversa no outro. Lei de Equilíbrio (Pietro Ubaldi).

"Dois Tipos de Utopia": revisão de conceitos.
Vou exemplificar: quando alguém deseja se formar médico, deverá necessariamente se dedicar por vários anos. Mas isso é consequência de seu interesse na área. Quanto mais sincero for esse alguém, e mais consciente sua decisão, maior o grau de dedicação e (também) maiores as dificuldades. Tentará aplicar a medicina de uma forma que transcenda a atual, baseada unicamente no passado e considerando apenas o material. Vislumbrará possibilidades e as tentará, mesmo falhando. Porque ficar no plano atual e obter sucesso nele é muito mais cômodo do que perceber as dores cada vez mais incômodas no mesmo e se lançar (sinceramente e conscientemente) a novas descobertas, ousando e inovando. Pois bem, esse ser será considerado utópico pela maioria das pessoas, instituições, seus colegas, familiares, e até esposa (ou esposo). Mas quando um dia – e a História está repleta desses exemplos – alguém implementa uma idéia, comprova uma teoria e expande um conceito inaceitável há poucos anos, o mundo se alivia, se satisfaz e glorifica esse ser. Mas esse é apenas o último elo de uma cadeia que foi edificada com muito sangue, lágrimas, suor e trabalho. Um esforço tido como louco, radical, insensato e perigoso em suas origens. Logo o utopista de ontem se tornou o realista de hoje. E o realista de ontem se tornou uma nulidade que contribuiu com a inércia do mundo.

É claro que o progresso é obra de poucos seres4. Nem poderia não sê-lo. No entanto, o que me preocupa mais (e cada vez mais gente) é a pouca atenção que as pessoas dão a essas vozes insistentes, construtivas e incansáveis – Chomsky trabalha 100 horas semanais e lecionou no MIT por meio século, isto é, 50 anos. A taxa de conscientização deve superar a taxa de progresso científico-tecnológico para que a humanidade como um todo possa resolver os seus problemas, e consequentemente o de todas espécies e recursos deste planeta. Não adianta criar veículos mais eficientes, verticalizar cidades, propagandear ilusões, mercantilizar o pouco que resta ou imprimir na mente das pessoas de que “a natureza humana é assim” (sobre essa frase eu também já escrevi um artigo intitulado "Instinto, Razão e Intuição: As três inteligências e seu papel na Evolução", Junho, 2014). Isso não resolverá o problema. Problema que uma hora irá atingir até aqueles no topo da pirâmide política e econômica, por não terem mais quem enganar ou explorar. Aqueles que julgam que o sistema político-econômico atual é infalível e deve ter seus problemas resolvidos dentro dos seus paradigmas. É preciso mudar a mentalidade. Dois tipos de utopias.

Muitos alegam que tal disparidade de renda é natural. Que deveria ser visto como um estímulo para os pobres. “Eu posso ser um também, se trabalhar duro.” O problema é que muitos (quase todos) pobres trabalham mais do que duro durante vidas e gerações, e vivem e morrem da forma mais miserável. Seu esforço sustenta um mundo que não reconhece, em sua imensa maioria, essa realidade. Um em cada 40 milhões pode chegar a fazer parte do topo da pirâmide. Supõe-se que esse um “venceu” e se “esforçou”, e que os outros 39,9... milhões “fracassaram”. É sem dúvida uma resposta muito cômoda para quem opera egoisticamente. Ricos, pobres e classe média; Negros, brancos, asiáticos, indígenas; Homens e mulheres; Jovens, adultos e idosos; Feios e belos; Instruídos ou não. Um tipo biológico que busca driblar um problema cada vez mais ameaçador. Se o modo de agir – e a falta do sentir – persistir, chegará um dia em que o problema englobará tudo, cercando todos por todos os lados: esfera econômica, física, cultural, afetiva, social, laboral, na saúde,...e finalmente a humanidade deverá aceitar um colapso e recomeçar do zero (ou quase).

Quanto falta? 20 anos? 100 anos? 50 anos? Não sei. Não sou profeta nem desejo sê-lo (sou incapaz). Mas isso é bem visível. E antes do contra-argumento padrão de que essa é a “minha visão”, peço que observe a fundo a realidade. Nada mais. Mas quando digo a fundo, me refiro a uma observação cuidadosa ao longo dos anos, dos fenômenos e pessoas e meios imperceptíveis. Observe sua própria vida, percebendo o transformismo. O que era julgado ruim no momento se revelou o melhor para você. Pode ter certeza.

A humanidade tem um conjunto de axiomas5. Um dos mais famosos é aquele: “ a natureza humana é assim”, egoísta. Mas quando entramos com os santos, os místicos e gênios somos levados a admitir que o axioma deve englobar todos nós menos esses tipos de seres. E quem sabe o que acontecerá no futuro? A evolução do organismo humano chega ao ápice. Mas o próprio instinto nos diz que sempre tem mais. Cada década que se passa surgem pessoas que apontam numa direção: mente, espiritualidade, consciência, moral, síntese, intuição6. Qualidades imateriais. Independência do corpo para desenvolvimento. Necessidade momentânea do mesmo apenas para manifestação. Porque? Falta de sensibilização nervosa-psíquica, pré-requisito para o início do processo evolutivo que tende a atrofiar o orgânico e hipertrofiar a consciência.

Julgamos pelo economês e pelas experiências passadas, especificas de uma época e povo e ambiente. Esquecemos a investigação abrangente e honesta da filosofia transformadora e o sentimento sincero da fé construtiva. Sem esses elementos nossa ciência se perdeu em teorias e equações e inventos sem finalidades reais. Criamos ilusões para fugir das mesmas, e assim nos afundamos cada vez mais num lodo. Só um detalhe: o desgaste é cada vez maior, e nossa energia é limitada.

Nos entrincheiramos no egoísmo para nos garantir. Todos. E alguns estudam, sofrem e vivem repetidas vezes, e tentam de vez em quando sair e divulgar. Falam o “e se”. Explicam mais profundamente. Revelam ânimo e demonstram como é possível. Paciência infinita no diálogo. Tomam tiros. Balas carregadas de medo (do diferente, das possibilidades). Depois, com mais estudo, dor e vivência, o espírito se torna mais experiente e focado. Seletividade e calma. Calma e seletividade. A tristeza começa a ser mais pelo mundo que não vê seu estado calamitoso do que pela sua vida “mal-aproveitada”. Em pequeno grau. Ínfimo. Mas perceptível para alguns. Claro como água cristalina para Deus.

Não devemos aceitar idéias ou conceitos até esgotarmos nossa capacidade investigativa a fundo. E mesmo que no nível racional-lógico presente tudo se explica, vê-se que isso é falso – como o tempo comprova. O íntimo sempre clamará por mais. O sentimento é o eterno inimigo da ilusão. O conhecimento em excesso leva facilmente ao preconceito, da mesma forma que a beleza deslumbrante facilmente aprisiona e controla as atitudes da pessoa, no seu íntimo. Poucos são os pensadores e cientistas capazes de aliar intenções altruístas com suas ferramentas e métodos avançadíssimos.

Essa visão que apresento está nos antípodas do pensamento corrente. Mas o mesmo não posso afirmar em relação ao sentimento. Mesmo que este tenha pavor de se manifestar ou não saiba como.

O verdadeiro saber estará escondido, encoberto ou sitiado?

Se escondido, será pela nossa insensibilidade em ver a realidade mais íntima. Nossa e dos outros.
Se encoberto, será pelo nosso medo em lidar com essa realidade. Nossa e dos outros.
Se sitiado, será pela nossa falta de crença. Em nós e nos outros.

Evoluir dói.
Mas é o único caminho.

É O caminho.


Notas de rodapé
1http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140120_riqueza_relatorio_oxfam_fn
2http://revistacult.uol.com.br/home/category/edicoes/197/
3http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/08/dois-tipos-de-utopia.html
4Noam Chomsky, “o intelectual mais importante vivo” segundo o New York Times.
Ver os primeiros 7 minutos do vídeo https://www.youtube.com/watch?v=D2LNyZ6NNeE
5http://pt.wikipedia.org/wiki/Axioma
6Léon Denis, Amit Goswami, Pietro Ubaldi, Teilhard de Chardin.   

sábado, 13 de dezembro de 2014

A EDUCAÇÃO DO PORVIR

Considero sério e da mais alta importância o problema educacional do mundo. No Brasil particularmente. No mundo porque este, apesar de possuir seus exemplos, em linhas gerais demonstra estar andando a passos lentos para formar um sistema de ensino que busque criar o ambiente onde os jovens possam se descobrir. No Brasil por razões elementares.

Enquanto o mundo desenvolvido enfrenta problemas de ordem (digamos) elevada – como por exemplo integrar saberes e alunos, fugindo da dependência das forças do mercado, sedento por reproduzir um modo de vida que “não leve a economia ao colapso” – o nosso país ainda sofre com a falta de oportunidades iguais. Aqui quem cursa uma escola particular tende a ir para as melhores universidades (geralmente públicas); e quem frequenta escolas básicas públicas dificilmente tem a mesma oportunidade. Isso a meu ver ocorre por dois motivos:
  • ou ela deve começar a trabalhar o mais cedo possível para contribuir com a família, necessitada de recursos, cedendo suas horas e energias e inteligência ao mundo do trabalho pouco qualificado ou;
  • ela chega a fazer uma universidade, geralmente particular, na qual o aprendizado terá apenas a função de garantir um emprego melhor, com salário e condições menos indignas do que aquelas que teria caso não tomasse essa decisão. De qualquer forma, o aprendizado fica limitado, à mercê de uma economia segregada do mundo social, cultural, afetivo, artístico e espiritual.
O problema é complexo porque inter relacionado. Quem estuda numa faculdade particular, na maioria dos casos trabalha simultaneamente por férrea necessidade da vida e árido passado familiar. Além disso, a grande maioria do ensino superior privado [1] adota um modo de operação condizente com a sua essência: vender um serviço. Porque quando se abre algo, objetiva-se o lucro, obviamente. Logo, uma educação privada tende à mercantilização. E com isso o escopo passa a ser o ganho monetário, ficando a formação em segundo plano – se tanto. Mas uma necessidade alimenta um instinto: não se estuda por falta de oportunidade; com isso trabalha-se em empregos de execução; esses empregos movimentam a economia presente mas não garantem o futuro (sustentabilidade, inovação, possibilidades,...); essa economia investe em si mesma, com medo dos altos estudos, que vê como uma perda de tempo (astronomia, física, matemática, arqueologia, música,...) e/ou empecilho aos negócios (ciências sociais, história, jornalismo crítico, artes,...). Aliás, seus investimentos em – por exemplo – engenharia só vão até o ponto em que esta pode dar lucro e inovar dentro do escopo do mercado.

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997).
Patrono da educação brasileira. Agente promotor
do desenvolvimento mais substancial: a
formação das mentes.
Quando se fala em problemas urbanos como congestionamento ou poluição ou fontes renováveis ou tudo isso junto a indústria automobilística se apressa em apresentar “soluções”: novos sistemas em seus veículos. Veículos de menor consumo (para reduzir impactos ambientais), com eletrônica mais inteligente e mais confortáveis (para melhor enfrentarmos os congestionamentos). No entanto, esquece-se (ou ignora-se) que os gastos no desenvolvimento dessas “soluções” são restritos a uma população relativamente rica. Além do mais, o cerne da questão envolve mudança de modelo, e não reprodução de métodos do século passado.As cidades mais desenvolvidas comprovam: transporte público de qualidade e acessível; vias para ciclistas, patinadores, 'skatistas'; amplas calçadas; cidades projetadas de forma a facilitar deslocamentos a pé ou de bicicleta; parques e praças.

É a economia que deve servir à sociedade e não o contrário. Trata-se de dar o peso merecido a cada aspecto da vida.

Existe uma questão muito em voga hoje em dia que é a tecnicização da ciência. Isto é, uma cultura de utilitarismo total vem sendo difundida pela (grande e influente) mídia, que procura convencer a sociedade do seguinte: devemos colocar a ciência à serviço da tecnologia, que é a finalidade da vida. Ou seja, estuda-se disciplinas básicas para aplicação imediata, tornando cada vez mais insignificante o ato de saber o porquê de tal teorema ou idéia ou conceito ser importante; ou como este pode aplicar-se a outros fenômenos de outros ramos; ou de como saber como se dá o processo de desenvolvimento de uma idéia. Essa é a educação que muitos seres influentes dizem ser “do futuro”.

Não posso me associar a tal tipo de pensamento por diversos motivos.

O primeiro está na minha vivência. Durante meus anos de estudo pude me dar conta da limitação existente na especialização. C'est à dire [2]: cada docente tendia a ver sua disciplina como a mais essencial, às vezes cobrando do aluno conhecimentos especializados como se este estivesse realizando um estudo integral na área.

Foram mais de 70 disciplinas obrigatórias. Apenas uma extracurricular...

Exigir do aluno os fundamentos de ciências e de engenharia é bom. Mas saturar o mesmo com isso, por vezes repetindo assuntos ou se aprofundando além do necessário numa área pode levar o estudante ao cansaço, fazendo florescer nele um ardente desejo de terminar tudo o quanto antes e entrar no mercado de trabalho. Além do mais, dar a liberdade de cursar diferentes cursos pode ser a chave para fazer nascer – ou ressuscitar – a vontade de estudar algo específico de sua área. E muito mais.

Rubem Azevedo Alves (1933-2014).Psicanalista, educador,
teólogo e escritor brasileiro. Um dos fundadores da Teologia
da Libertação. 
Ao sair de um curso saturado de informação o estudante se vê diante de um mundo que o saturará de obrigações. A essência não muda. De certa forma, ele foi preparado para isso: fazer, não pensar; executar, não questionar. Desenvolver restritamente ao invés de amplamente. Viver restritamente...A mente pode ser ágil para dar respostas aos problemas práticos. Mas se verá diante de um abismo quando observa um mundo perdido que clama por soluções profundas. Sua resposta às sérias questões será pré-formatada, presa à forma mental de seu meio, sua história e seus instintos – difíceis de serem superados.

Transformação denota um passado de dores absorvidas. É a única mudança efetiva: aquela por livre convicção. Se no nível individual isso for realizado, caso após caso, dor após dor, com a fé apoiando cada passo, manifestar-se-à uma onda de conscientização que levará à transformação no plano coletivo. Eis como tornar a educação livre dos instintos atávicos que sondam a mente humana desde tempos imemoriais.

Educação é uma palavra de significado amplo. Ela exige um professor cuja vida seja minimamente reconhecida, com salários bons e horários condizentes, permitindo adequada preparação das aulas (que também ém trabalho diga-se de passagem). Exige um docente – uma vez cumpridos os critérios anteriores – preparado intelectualmente e sobretudo ciente do processo de troca de conhecimento. O mestre deve entrar no universo do aluno, decifrá-lo, compreendê-lo em sua plenitude, e saber lidar com as particularidades, elaborando formas de comunicação, exercícios, avaliações e abordagens criativas e adaptadas aos estudantes. Deve mostrar a fantástica relação entre os fenômenos e imprimir em cada afirmação uma crença profunda, sem a qual terá garantia de um mínimo de atenção. Deve ser controlado, amoroso e humilde, admitindo que às vezes podem surgir dúvidas cujas respostas desconhece, e reconhecer sua imperfeição, esquecendo de seus títulos e idade, e se lembrando que (assim como seus alunos) está numa escalada titânica e infinita rumo às supremas ascensões humanas.

O docente deve lidar com os jovens acreditando nas possibilidades. Deve ser um jardineiro que se vê diante de um mar de sementes com potencialidades latentes. Sementes a serem semeadas, regadas, cuidadas ao longo de meses, anos, décadas,...Sementes que se desenvolverão diversamente, às vezes desagradando as crenças do mestre. Mas desde que essa diferença esteja bem orientada para cumprir finalidades benéficas, todo estímulo deve ser dado. Eis o ponto!

O professor deve ver horizontes mais vastos e mostrar os desafios titânicos do mundo, na medida do possível, aos alunos. Deve falar da realidade e do ideal. Da necessidade de cumprir as ordens do primeiro e almejar o segundo. Porque a transformação da sociedade se traduz em uma palavra: evolução. E para isso, desconforto deve estar sempre presente. Um desconforto saudável, desejoso, atraente para a mente e o espírito. Um desconforto capaz de despertar as melhores qualidades do ser, disposto a dar seu tempo e energia para finalidades superiores. Finalidades que mesmo reconhecidas apenas na aparência pelo mundo, devem ser buscadas.

Olhar para si.
Escutar a si mesmo.
Refletir e sentir.

O resto virá por força da natureza.
Essa é a educação que o mundo precisa.

Desesperadamente.



Notas

[1] Exceções existem. No momento vem à minha cabeça a FGV, as PUCs, a FAAP e Mackenzie. Nesses casos, apesar de existir (e ter peso) a questão financeira, como é de se esperar, existe um histórico e uma imagem que permite e estimula a instituição primar pela qualidade de ensino.


[2] “Isto quer dizer”, em francês.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ANÁLISE DO VOLUME O SISTEMA (parte 2)

O Sistema é o volume que conclui a trilogia iniciada por A Grande Sìntese e continuada em Deus e Universo. Enquanto o primeiro é uma síntese científico-filosófica que alça o leitor da ciência material à realidade do espírito, usando os métodos e linguagem do mundo, o segundo é uma síntese teológica, tratando diretamente dos últimos problemas como o egocentrismo; a origem e fim do mal e da dor; confirmações dessas afirmações em nosso mundo; imanência e transcendência, entre outros.

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Eu abro um parênteses para ressaltar que a leitura e compreensão da Obra de Ubaldi exige muito mais maturação interior do que erudição. É a busca por significados profundos, ignorados pelo mundo, que dará ao leitor uma curiosidade fora do comum em persistir na leitura. Página após página. Capítulo após capítulo. Livro após livro. Falo isso porque à primeira vista (ou leitura) as palavras de Ubaldi podem parecer repetitivas, dando a falsa impressão de que o autor não sabe ser conciso ou é desocupado, o que os fatos de sua vida comprovam não ser verdade: Um professor secundário que deve se dedicar ao ensino durante o dia todo para ganhar o soldo, cuidar da manutenção da casa e compras (não tinha empregada) e, além disso, enviar boa parte do ordenado para a família certamente não dedicaria sua parca energia e escasso tempo livre restante para uma atividade vazia de significado. Além disso, percebi que não se trata de repetição, e sim de um martelar de idéias com pequenas alterações a cada ciclo. Testar o leitor realmente disposto a se adentrar nas grandes verdades.

Você lê lê e lê...Vira as páginas e continua. Resolve mergulhar. Deve-se entrar no íntimo das palavras, procurando substância na forma. E para quem conseguiu realizar essa imersão começa a sentir centelhas luminosas. É a Verdade. É glorioso! Começam a surgir frases que sintetizam grandes problemas. Nada de novo. Apenas assuntos que sempre foram debatidos mas nunca resolvidos. Alguns filósofos, cientistas, teólogos e artistas chegaram a esboçar soluções. Mas Ubaldi consegue fazer um equilíbrio magistral, convencendo aquele leitor em busca de sua evolução – ou pelo menos uma explicação para a vida. Como ele faz isso? Expondo pontos de vistas dos mais diversos, se humilhando às vezes, para mostrar que até aqueles que mais julgamos inúteis e ruins possuem sua razão, e que esta muda com os erros e as dores. São preciosismos escondidos numa nuvem densa de palavras. Nuvem que deve ser vista como um todo e como uma finalidade. Deve-se saber diferenciar tudo aquilo que parece igual. E encontrar semelhanças nos tópicos aparentemente mais desconexos.

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O mais interessante do livro O Sistema está na seção de perguntas e respostas. São objeções bem calcadas feitas à teoria exposta por Ubaldi, na qual ele não tem medo de expor e responder.

Talvez a questão mais intrigante seja relativa à impossibilidade da Queda, porque a criação deveria ser perfeita.

Eis em linhas gerais os questionamentos:

“Se Deus criou todos nós a partir de Sua substância, e Dele só poderiam surgir seres perfeitos, como foi possível a Queda?” [A]

“Além disso, admitindo que houve o evento Queda, como Deus, onipotente, onisciente e onipresente (como o próprio senhor afirma) foi capaz de não prever isso, com os seres revoltosos realizando seu egoísmo máximo? Não seria esta uma falha de seus três atributos?” [B]

As questões são realmente intrigantes e confesso que antes de ler o livro eu tinha dúvidas. Mas depois de ver a resposta cheguei à conclusão: tinha em mãos um volume capaz de resolver os problemas últimos. E a partir deles tudo, desde às questões mais globais e abstratas às particularidades da vida cotidiana, é visto de forma diversa. Tudo...

A resposta é muito profunda e realmente esclarecedora. Me limito a mostrar em linhas gerais (e bem resumidamente) a resposta.

[R. A]
Deus, na criação original – a espiritual, perfeita, absoluta, e não aquela do nosso universo físico – era perfeito em termos Absolutos. No entanto, quando ele, a partir de si mesmo – pois Deus é TUDO – criou uma infinidade de individuações (nós!) a partir de sua substância, estas eram igualmente perfeitas. Mas o eram em relação à sua função e hierarquia no Sistema. E mesmo com essa repartição infinita, Deus permanece em sua transcendência, senhor Absoluto do Todo, ocupando lugar central.

Em suma: a Deus(Criador) cabe a Perfeição Absoluta, aos Espíritos (Criação) cabe a Perfeição relativa.

Sendo perfeitos em relação à nossa função, existia a possibilidade de queremos nos intrometer no campo de outros seres, nos ocupando de algo para o qual não fomos designados.

[R. B]
Essa resposta é longa e demanda uma série de explicações.
Me contento apenas em lançar a pergunta – com a resposta já embutida em si – ao questionador:

Que Deus é mais perfeito?
Aquele que cria uma miríade de seres perfeitos e autômatos, que jamais desobedecem, previsíveis e sem liberdade; ou Aquele que cria seres perfeitos mas livres para escolher entre o egoísmo puro ou o altruísmo?

Um Deus que cria, dá liberdade para o ser de escolher (livre-arbítrio), e, se este escolher errado (egoísmo), estará sujeito à Lei, que levará à Queda e da mesma forma permitirá guiá-lo até a Salvação, é a síntese máxima do Amor.

O fato de termos caído não desfaz a onipotência de Deus. Ele antecipou tudo, criando uma Lei Una que se manifesta uma multiplicidade de formas em nosso universo relativo. Isso demonstra Sua onisciência. Uma capacidade de antever todos movimentos da criatura. E seu maior gesto de Amor está em ter descido conosco até o Anti-Sistema (universo físico, caos, fragmentação), se mantendo dentro de densa camada de matéria, em substância espiritual, em cada criatura rebelde, garantindo a nossa salvação: onipresente. Com a nossa revolta, que gerou a Queda, Deus se mantém no Sistema (Paraíso, Céu, universo puramente espiritual, amor, harmonia, luz) em sua transcendência E se torna imanente. É ela que garante nossa salvação.


Ler a teoria de Ubaldi sobre a criação não nega nenhuma alegoria de qualquer religião. Ela apenas explica de forma global e profunda, no plano conceptual. Sem antropomorfismos. Puro conceito, pura idéia, puro espírito. Tampouco a ciência é capaz de provar o contrário, pois todas suas análises e experimentos são pequenos tijolos na grande pirâmide do conhecimento esboçada pelo místico da Umbria. De forma clara e racional, para satisfazer a mente moderna. Á medida que as descobertas científicas caminham, mais elas demonstram o que antes negavam. Eis o poder da visão.


ANÁLISE DO VOLUME O SISTEMA (parte 1)

Não me sinto à altura de fazer comentários sobre um dos volumes mais reveladores escritos pela intuição de Ubaldi. Por mais que eu tente expressar o que essa nova concepção de criação significou para mim, as palavras serão insuficientes e demasiadamente diluídas. A beleza sublime que se edificava em minha mente no decorrer da leitura do livro O Sistema: Gênese e Estrutura do Universo, é indescritível. E insuperável. Tanto que começou a mudar efetivamente a minha forma de encarar a vida. Começou apenas. Porque sabemos que, por mais profunda a idéia transmitida e por mais receptivos que sejamos às altas concepções, a vivência só pode ser alterada infinitesimalmente.

Apenas os santos, gênios e místicos são capazes de viver em sua plenitude, como realidade, os idealismos sublimes que elevam nossa alma, trazendo conforto e esperança nos momentos mais obscuros e insólitos. Eles são antecipações biológicas. Seres fora de série que entraram em contato direto com o mais profundo significado da vida. E por isso pacíficos.

O Sistema: encapsula os volumes
A Grande Sìntese e Deus e Universo.
Muitos, por vaidade, tentam se tornar místicos. Mas diante da primeira dificuldade cedem. Porque julgam que se trate de uma moda. Mas o mundo já conhece esses truques e aprendeu a analisar rapidamente e desconfiar de qualquer gesto escandaloso. Mas os verdadeiros místicos superam todas as provas, usando as marteladas incessantes para se elevar, tornando sua visão mais vasta e suas capacidades mais afloradas. Esse foi o caso vivido pelo místico da Umbria, Pietro Ubaldi, durante toda sua vida missionária.

Os primeiros volumes da Obra não foram escritos pelo autor. O nível moral-espiritual de Grandes Mensagens atesta, assim como diversos analistas e periódicos da época que as avaliaram: aquelas mensagens não podem ter sido escritas por seres humanos. Tamanha a beleza da forma, tamanha a sublimidade do conteúdo. Trata-se de um conjunto de mensagens inspiradas, no qual o autor teve o papel de receptor consciente devido à sua alta sensibilidade às correntes de pensamento elevadas (noúres).

Em A Grande Sìntese “Sua Voz” utiliza sua ferramenta (o autor) para transcrever a jato um volume de 400 páginas. Em três verões – 1933, 1934, 1935 – o Professor ginasial, devendo cumprir seu dever de professor concursado, enviar parte do ordenado para a família, cuidar da casa, ainda se vê diante de um trabalho homérico: transcrever a síntese de todo pensamento científico e do espírito. Trata-se de uma obra que eleva a ciência até a realidade do espírito usando os métodos da ciência material. Uma ascensão do átomo ao psiquismo. Na matéria, da formação do Hidrogênio até ao elemento Urânio, na qual inicia-se a desagregação atômica e surge a energia. Inicialmente ondas de alta frequência (a gravidade) e com a degradação a radioatividade, a luz, o calor, a eletricidade, o som. Com a eletricidade, energia degradada, há uma fusão com os elementos atômicos mais leves, gerando a vida orgânica. Inicialmente molecular, depois celular e assim sucessivamente, formando organismos mais complexos até chegar ao ser humano. O psiquismo pode-se manifestar cada vez mais, possibilitando uma atuação cada vez mais plena do espírito no universo físico.

Chegando ao homem, inicia-se a expansão. A psicologia, os sistemas políticos, a distribuição de riqueza, a economia, a educação, a função do estado, a arte,..Todos são explicados em palavras cristalinas e diretas, satisfazendo tanto especialistas quanto leigos. Toda obra humana é tratada em sua essência e relacionada com as demais, formando uma rede cuja finalidade é cada vez mais evidente à medida que a leitura se aproxima do fim: atingir a unidade.

A Grande Síntese: Um poema científico, em que descobertas científicas são antecipadas (como a do espaço-curvo, apenas apresentada por Einstein em 1950) e tudo que existe é ordenado e o universo é visto em seu transformismo e possibilidades. Pessoas descrentes passaram a retomar sua fé; cientistas passaram a sentir a necessidade de uma nova orientação em suas pesquisas; e o crente sincero se beneficiou com uma visão e explicação capaz de colocá-lo num patamar de segurança interior contra críticas de qualquer cético.

A mecânica quântica vem confirmando isso.
Repito: para o leitor introspectivo, ciente da profundidade dos fenômenos da vida, a leitura da Grande Síntese trará uma sensação de esperança. Sentirá no fundo de sua alma que tal obra não foi escrita por um ser deste mundo, tamanha sua elevação. Todo esse blog é de uma pequenez tão insignificante e limitada comparado ao conteúdo e sublimidade das palavras de A Grande Sìntese, que sinto a obrigação de me humilhar constantemente ao escrever sobre um livro de beleza e inteligência inconcebíveis para minha limitada mente racional (se tanto). Aqui somente deposito impressões a titulo de explicar – e se possível interessar – almas já prontas em busca de uma explicação para os problemas mais fundamentais da existência.

Mas voltando ao livro O Sistema.

O leitor tem diante de si uma obra que explica através de uma lógica irrepreensível a formação de cada ser e nosso universo físico. É apresentada uma teoria da criação capaz de resolver várias (se não todas) contradições presentes nas diversas explicações sobre a criação do mundo e das almas. São apresentadas exemplificações diversas com a finalidade de transparecer a essência da obra. Do abstrato descemos ao mais concreto, e ainda mais, até um nível em que boa parte dos leitores – antes confusos – podem formar uma idéia clara na mente, partindo deste seu degrau para atingir os mais altos conceitos da criação dos espíritos. Pois a verdadeira criação é tão real quanto abstrata para nós, seres mergulhados num mundo relativo e em transformação. Ela está num plano imaterial, e portanto difícil de imaginar.


(continua)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

TEMPO, VONTADE E CORAGEM

Muita gente desejosa de se conhecer, 
Tempo
Pouco tempo para tal coisa ocorrer.
Muita gente pensando em ajudar o irmão,
Pouca vontade em estender a mão.
Muita gente olhando para o cume da montanha,
Pouca coragem para iniciar uma escalada estranha.

Muita gente desejosa, pensativa e contemplativa.
Pouco tempo, vontade e coragem.

O desejo surge com a falta de tempo (livre).
A vontade germina à medida que escalamos os degraus do conhecimento.
A coragem explode quando a contemplação acaricia a substância.

E assim o ser cumpre sua tarefa.
Primeiro para si, depois para os outros.

Da ascensão micro à macro, a Lei de Equilíbrio sempre está presente como elemento propulsor.

O vácuo da liberdade causado pela intormissão do autoritarismo desorientado faz brotar um desejo que se alimenta dentro do universo de escassez de tempo (livre).

Do desejo vem a vontade, que gera energia crescente, distribuindo-se em inúmeras possibilidades de fuga. Essas se ordenam e tomam forma, vriando pensamento dentro do universo de escassez de tempo (livre).

O pensamento sincero dilata a consciência.
Dor e expansão. 
Vontade

Explosão!
Tem-se uma visão.
Visão digna de contemplação.

Fecha-se o circuito.

O ser realizou seu dever,
Não há nada a temer.

A coragem aumenta,
A visão se incrementa.

Nenhuma certeza, muitos sentimentos.

O mundo assiste, petrificado.
Alguns torcem, outros ignoram. Ninguém se aproxima.

Um jogo de forças assimétrico.

O pequeno ser crê em sua sinceridade perseverante,
A imensa engrenagem conhece sua força triturante.

Sentimento incerto versus Crueldade certa.
A Grande Batalha!

Batalha TRAVADA por milhões que sentem o porvir.
Batalha SUPORTADA por milhões que constroem, consciente ou inconscientemente, o porvir.
Vitória ou derrota?

Coragem
Que mundo está por nascer?

Um mundo que exalta os instintos
OU
Um mundo que eleva a alma?

Um mundo desejoso de permanecer na zona de conforto
OU
Um mundo disposto a dialogar até o fim nas altas ondas da evolução?

Para
Vencer no GERAL e DEFINITIVO
é preciso
Fracassar no PARTICULAR e TEMPORÁRIO.

Lei de Equilíbrio...

É crer para ver.

Tempo, Vontade e Coragem