Pare de fazer tudo.
Pare de pensar nos compromissos do presente e nas preocupações com
o futuro. Escuta com calma. Se teus olhos pousaram sobre estas
palavras, há alguma finalidade nisso. Mesmo que imperceptível.
Um ano finda. As
promessas e expectativas inundam as mentes. Os sentimentos são
expressos mais por conveniência do que por convicção. Existe uma
teia de convivências dependentes calcadas em interesses. Esses
interesses ofuscam a nossa centelha: uma chama sufocada pelo abismo
que criamos entre o melhor de nós e o que manifestamos no presente.
Estamos rodeados de
gente e sozinhos ao mesmo tempo. Onde estão as pessoas?, muitos se
perguntam no íntimo mas jamais se manifestam a respeito. Queremos algo
ardentemente hoje, mas amanhã, ao adquirir o objeto de desejo, nos
entediamos. O valor de ontem é o peso de hoje.
A diversão dura pouco
e exige muito. O tédio está sempre presente e não necessita de
chamadas: está sempre pronto para invadir nossas mentes. Como a água
inunda um navio em curso de afundar.
O esforço é buscado
por poucos. Eu deveria buscá-lo mais. Muito mais. Mas às vezes não
sabemos como encontrá-lo. E depois vem a dor, que pode significar
consequência de nossos erros ou sinal de ascensão. De uma forma ou
de outra, dor. Manifestada em forma de tédio, desilusão, desespero
ou ódio.
O que importa acima de
tudo é aquilo que na hora decisiva menos nos esforçamos para manter
ou obter. Mesmo que ao nosso alcance, rejeitado. Mesmo sendo
oferecido gratuitamente por forças imponderáveis. Oportunidades
perdidas.
Mas como saber se
estamos no caminho certo ou errado?
Os momentos importantes
devem ser medidos pela sua intensidade, que é infinitamente grande,
e não pela sua duração, que é uma fração infinitesimal de nossa
vida. Mas nos acostumamos a mensurar tudo pelo tempo e pelas
aparências. Queremos nos iludir por desconhecermos a realidade sutil
que permeia e dirige tudo. Uma realidade descohecida por ser
imponderável. Um imponderável (ainda) ignorado por não ser
sentido.
SENTIR → NOVA
REALIDADE → NOVA POSTURA → LIBERTAÇÃO
Mas como podemos sentir
de verdade se a realidade não permite? Como podemos parar e
refletir, se o mundo, ao ouvir certas idéias e sentimentos, se
afasta e nos prejudica, mesmo sem o querer? A resposta me parece
óbvia, mas vivê-la constitui desafio titânico. Uma utopia.
Devemos perder nosso
tempo nos estudando. Não nos fecharmos em conchas negando o mundo, e
sim ouvirmos nossa consciência e esquecendo por uns instantes a
arena terrestre. Reparem: o que precisamos para viver bem é pouco.
No entanto até para ter esse pouco os desafios são homéricos.
Food, Shelter and Love (Comida, Abrigo e Amor), segundo
Mathias Lefebvre1.
E realmente, se pudermos ter saúde e educação garantidas, nenhum
problema deve sondar uma mente saudável.
Quão pouco custaria providenciar o mínimo para todos. Quão grande seriam os ganhos num mundo onde todos poderiam se dedicar minimamente para o autoconhecimento, e assim se preparar para se tornar produtivo em termos culturais, sociais e espirituais.
A cada dia que passa essa utopia é mais sentida e cobrada. Em várias formas. Em vários campos. Por várias ideologias. Pessoas querem oportunidades reais e não escravidão travestida de solução. Pessoas sentem quando são enganadas e cada vez menos aceitam o óbvio - que se torna cada vez mais obsoleto para a nova mentalidade em gestação.
Quão pouco custaria providenciar o mínimo para todos. Quão grande seriam os ganhos num mundo onde todos poderiam se dedicar minimamente para o autoconhecimento, e assim se preparar para se tornar produtivo em termos culturais, sociais e espirituais.
A cada dia que passa essa utopia é mais sentida e cobrada. Em várias formas. Em vários campos. Por várias ideologias. Pessoas querem oportunidades reais e não escravidão travestida de solução. Pessoas sentem quando são enganadas e cada vez menos aceitam o óbvio - que se torna cada vez mais obsoleto para a nova mentalidade em gestação.
Existe abundância para
quem vê. Existem alegrias simples passíveis de serem aproveitadas
ao máximo, mesmo para quem se dá conta da realidade desoladora de
nosso mundo. Porque quanto mais se vê a triste natureza humana
atual, mais se percebe a presença de uma Lei diretora guiando tudo e
todos. Se internalizarmos essa Lei, convencendo-nos de sua
existência, estudando-a através de observações ao longo dos anos,
iremos ama-lá e (sobretudo) admirarmos infinitamente o Ser que a
criou.
Se tudo fosse ao acaso
é muito provável que nossa espécie tivesse chegado à extinção2.
A vida possui uma finalidade tão vasta e elevada que nossa mente
ainda é incapaz de percebê-la. Quando se fala em séculos para
atingirmos um estado orgânico a nível global, o assombro é grande
e a negação evidente. Nossa escala mental rejeita tais períodos
por não crer na continuidade da consciência individual. Isso nada
mais é do que uma espécie de egoísmo travestido de racionalidade
pura. Não crer por não ver é uma falta de perspectiva. Para ver é
preciso antes crer, assim como toda tecnologia só surgiu após a
ciência se consolidar, e esta só conseguiu caminhar independente
após o levantamento de muitas questões filosóficas. Percebam:
queremos que o mundo mude antes de darmos nós mesmos os passos. Mas
vejam só! Essa postura é idêntica àquela do “não crer por não
ver”.
Eu
me sinto rico nesse momento. Mas estou sozinho no quarto escrevendo.
Poucas (mas valiosas!) amizades, nenhuma programação especial, um
ano novo cheio de incertezas e um futuro ainda indefinido. Uma
vontade de realização pessoal mas nenhuma idéia de como inicia-lá.
Estudo, música, companhias boas, filmes interessantes, escrita e exercícios
distraem.
O
mundo ora dá esperanças, ora demonstra crueldade. Ele dá
esperanças pelos motivos errados e demonstra crueldade sem
fundamento. Cheguei à conclusão de que é volátil. Mas eu também
faço parte do mundo! Então me vem à mente: quando
estamos em reflexão profunda, sozinhos, nos conectamos com o
imponderável e assim ganhamos energias para compreender melhor o
mundo e dar o devido peso às suas superfluidades, e começamos a nos
relacionar de forma mais suave com todos.
Nós
deixamos de pensar por nós mesmos. Quando dizemos que sentimos isso
ou pensamos assim garanto que grande parte disso se deve a um
instinto atávico. É um automatismo bom para consolidar o grau de
civilização adquirido. Mas um empecilho para nos lançarmos em
novos ciclos ascensionais. Concordamos para não nos darmos ao
trabalho de expor nossas idéias; Concordamos para não gerarmos
atritos; Concordamos por termos vergonha de nossas idéias;
Concordamos por egoísmo. Porque desejamos garantir uma posição
árduamente conquistada. Mas dessa forma os avanços são
lentíssimos. Mas a natureza dita a atitude, e ser incapaz de
compactuar com aquela realidade sob os panos não é motivo de
vergonha, e sim um ponto de apoio para ser usado a cada momento para
impulsionar cada gesto, cada trabalho, cada palavra, cada postura numa árdua e titânica batalha contra a natureza material que nos bombardeia e nos seduz.
A
liberdade não funciona se as pessoas são escravas de uma forma
mental. E somente a própria pessoa poderá realizar esse trabalho de
libertação mental. Os outros podem apenas – no melhor dos casos –
ajudar. Cabe a mim e a ti o passo definitivo. Cada qual a seu modo,
seguindo o seu caminho. Infinitas formas de se atingir a mesma
finalidade: Evolução.
Notas
1http://www.mathiaspianoman.com/#!news/c13me
2http://www.monismo.com.br/coment1.html
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