O Sistema
é o volume que conclui a trilogia iniciada por A Grande
Sìntese e continuada em Deus
e Universo. Enquanto o primeiro
é uma síntese científico-filosófica que alça o leitor da ciência
material à realidade do espírito, usando os métodos e linguagem do
mundo, o segundo é uma síntese teológica, tratando diretamente dos
últimos problemas como o egocentrismo; a origem e fim do mal e da
dor; confirmações dessas afirmações em nosso mundo; imanência e
transcendência, entre outros.
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Eu
abro um parênteses para ressaltar que a leitura e
compreensão da Obra de Ubaldi exige muito mais maturação interior
do que erudição. É a busca
por significados profundos, ignorados pelo mundo, que dará ao leitor
uma curiosidade fora do comum em persistir na leitura. Página após
página. Capítulo após capítulo. Livro após livro. Falo isso
porque à primeira vista (ou leitura) as palavras de Ubaldi podem
parecer repetitivas, dando a falsa impressão de que o autor não
sabe ser conciso ou é desocupado, o que os fatos de sua vida
comprovam não ser verdade: Um professor secundário que deve se
dedicar ao ensino durante o dia todo para ganhar o soldo, cuidar da
manutenção da casa e compras (não tinha empregada) e, além disso,
enviar boa parte do ordenado para a família certamente não
dedicaria sua parca energia e escasso tempo livre restante para uma
atividade vazia de significado. Além disso, percebi que
não se trata de repetição, e sim de um martelar de idéias com
pequenas alterações a cada ciclo. Testar
o leitor realmente disposto a se adentrar nas grandes verdades.
Você
lê lê e lê...Vira as páginas e continua. Resolve mergulhar.
Deve-se entrar no íntimo das palavras, procurando substância na
forma. E para quem conseguiu realizar essa imersão começa a sentir
centelhas luminosas. É a Verdade. É glorioso! Começam a surgir
frases que sintetizam grandes problemas. Nada de novo. Apenas
assuntos que sempre foram debatidos mas nunca resolvidos. Alguns
filósofos, cientistas, teólogos e artistas chegaram a esboçar
soluções. Mas Ubaldi consegue fazer um equilíbrio magistral,
convencendo aquele leitor em busca de sua evolução – ou pelo
menos uma explicação para a vida. Como ele faz isso? Expondo pontos
de vistas dos mais diversos, se humilhando às vezes, para mostrar
que até aqueles que mais julgamos inúteis e ruins possuem sua
razão, e que esta muda com os erros e as dores. São preciosismos
escondidos numa nuvem densa de palavras. Nuvem que deve ser vista
como um todo e como uma finalidade. Deve-se saber diferenciar tudo
aquilo que parece igual. E encontrar semelhanças nos tópicos
aparentemente mais desconexos.
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O
mais interessante do livro O Sistema está
na seção de perguntas e respostas. São objeções bem calcadas
feitas à teoria exposta por Ubaldi, na qual ele não tem medo de
expor e responder.
Talvez
a questão mais intrigante seja relativa à impossibilidade da Queda,
porque a criação deveria ser perfeita.
Eis
em linhas gerais os questionamentos:
“Se
Deus criou todos nós a partir de Sua substância, e Dele só poderiam
surgir seres perfeitos, como foi possível a Queda?” [A]
“Além
disso, admitindo que houve o evento Queda, como Deus, onipotente,
onisciente e onipresente (como o próprio senhor afirma) foi capaz de
não prever isso, com os seres revoltosos realizando seu egoísmo
máximo? Não seria esta uma falha de seus três atributos?” [B]
As
questões são realmente intrigantes e confesso que antes de ler o
livro eu tinha dúvidas. Mas depois de ver a resposta cheguei à
conclusão: tinha em mãos um volume capaz de resolver os problemas
últimos. E a partir deles tudo, desde às questões mais globais e
abstratas às particularidades da vida cotidiana, é visto de forma
diversa. Tudo...
A
resposta é muito profunda e realmente esclarecedora. Me limito a
mostrar em linhas gerais (e bem resumidamente) a resposta.
[R.
A]
Deus,
na criação original – a espiritual, perfeita, absoluta, e não
aquela do nosso universo físico – era perfeito em termos
Absolutos. No entanto, quando ele, a partir de si mesmo – pois Deus
é TUDO – criou uma infinidade de individuações (nós!) a partir
de sua substância, estas eram igualmente perfeitas. Mas o
eram em relação à sua função e hierarquia no Sistema. E
mesmo com essa repartição infinita, Deus permanece em sua
transcendência, senhor Absoluto do Todo, ocupando lugar central.
Em
suma: a Deus(Criador) cabe a Perfeição Absoluta, aos
Espíritos (Criação) cabe a Perfeição relativa.
Sendo
perfeitos em relação à nossa função, existia a possibilidade de
queremos nos intrometer no campo de outros seres, nos ocupando de
algo para o qual não fomos designados.
[R.
B]
Essa
resposta é longa e demanda uma série de explicações.
Me
contento apenas em lançar a pergunta – com a resposta já embutida
em si – ao questionador:
Que
Deus é mais perfeito?
Aquele
que cria uma miríade de seres perfeitos e autômatos, que jamais
desobedecem, previsíveis e sem liberdade; ou Aquele que cria seres
perfeitos mas livres para escolher entre o egoísmo puro ou o
altruísmo?
Um
Deus que cria, dá liberdade para o ser de escolher (livre-arbítrio),
e, se este escolher errado (egoísmo), estará sujeito à Lei, que
levará à Queda e da mesma forma permitirá guiá-lo até a
Salvação, é a síntese máxima do Amor.
O
fato de termos caído não desfaz a onipotência de Deus. Ele
antecipou tudo, criando uma Lei Una que se manifesta uma
multiplicidade de formas em nosso universo relativo. Isso demonstra
Sua onisciência. Uma capacidade de antever todos movimentos da
criatura. E seu maior gesto de Amor está em ter descido conosco até
o Anti-Sistema (universo físico, caos, fragmentação), se mantendo
dentro de densa camada de matéria, em substância espiritual, em
cada criatura rebelde, garantindo a nossa salvação: onipresente.
Com a nossa revolta, que gerou a Queda, Deus se mantém no Sistema
(Paraíso, Céu, universo puramente espiritual, amor, harmonia, luz)
em sua transcendência E se torna imanente. É ela que garante nossa
salvação.
Ler
a teoria de Ubaldi sobre a criação não nega nenhuma alegoria de
qualquer religião. Ela apenas explica de forma global e profunda, no
plano conceptual. Sem antropomorfismos. Puro conceito, pura idéia,
puro espírito. Tampouco a ciência é capaz de provar o contrário,
pois todas suas análises e experimentos são pequenos tijolos na
grande pirâmide do conhecimento esboçada pelo místico da Umbria.
De forma clara e racional, para satisfazer a mente moderna. Á medida
que as descobertas científicas caminham, mais elas demonstram o que
antes negavam. Eis o poder da visão.
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