É
tudo uma loucura. Não...não. Nem tudo. Algumas coisas se salvam
(algumas...). Esse texto - um grito desesperador - por exemplo. Ele
se salva. Ele é sincero. Ele tem um pouco - só um pouco - de
substância. Coisa que o mundo, em sua esmagadora maioria, não
demonstra. Mas alguns se safam da miséria da inércia. Sinfonias de
Tchaikovsky e Korsakov; obras de Dostoievski e John Fante e Pietro
Ubaldi e Huberto Rohden; pensadores como Sócrates; cientistas,
artistas, santos e místicos. E por aí vai. Até as pessoas simples.
Desde que sejam introspectivas. A qualidade de todos esses supera a
quantidade que impera e se impõe no mundo. Quantidade esta que dita
as normas e define o que é ou não bom. Quantidade que julga,
condenando ou glorificando o futuro e o passado a partir de seu ponto
de vista relativo. Quantidade que diante do anormal classifica-o
sempre como um defeito, e jamais uma possibilidade.
Quer
admitamos ou não, tudo orbita em torno do dinheiro em nosso mundo.
Tudo, direta ou indiretamente, que fazemos na vida leva em
consideração o que será de nós em termos de fluxo monetário. É
o carro-chefe que aciona as engrenagens da materialidade. Questões
como: Quanto dinheiro irá cair em minha conta? Quantos anos poderei
viver com minha aposentadoria? Quanto conforto estou perdendo fazendo
essa escolha? entre outras, são feitas a cada momento.
Mas
o dinheiro não é problema em si. Ele é um meio de troca eficaz. O
problema está por trás dele. O
problema está em ter colocado toda a vida em função dele,
obrigando as pessoas a escolherem suas carreiras, projetos,
profissões, maridos, esposas, amigos, cidades e tudo mais em função
dele. O problema está
num instinto atávico em valorizar apenas o que a média da mente
humana consegue conceber como justo e certo e belo. O problema está
no peso descomunal dado ao $. Assim como descomunal são as
conseqüências dessa mentalidade.
Relâmpagos e trovões. Refugiar-se dos perigos externos. Enquanto estamos imersos em profundos pensamentos, criando incessantemente, para o mundo inclusive, este dá golpes. |
Mas
tudo bem. As pessoas se acostumam. Ou pelo menos se conformam. Não
conseguem conceber algo a mais. Outra vida, outros métodos, outra
forma de sentir e se relacionar... É muito difícil avançar no
terreno das idéias. O espírito sempre foi o maior desafio.
Maior porque mais imponderável, mais exigente. Mas as recompensas
são de uma beatitude tão excelsa que suplantam todo passado de
dores e sacrifícios. É a retribuição mais poderosa de um caminho
calcado na sinceridade e vontade. Não é um dos inúmeros caminhos.
É O caminho. O Caminho porque é o único movido pela substância,
pela boa intenção, pelo desejo de expansão interior.
A
tentativa de expor e humilhar quem faz diferente por sentir esse algo
a mais não resolve e sim agrava o problema. Um problema que está
mais num agressor numericamente em vantagem do que num agredido em
minoria. Se este ainda resistir aos assaltos contínuos da vida, - às
críticas, incompreensões, desconsiderações - após árdua luta e
dores apocalípticas, sairá mais convicto. O mundo tentou dobrá-lo
mas não conseguiu. Falhou porque não se esforçou em compreender
uma realidade além de sua ilusão tida como realidade. E o mundo,
com todo seu poder e seu dinheiro e seus corpos esculturais e suas
propriedades e suas certezas - que se desmancham ao longo das décadas
e séculos que nem um castelo de areia - e seus cargos e seus
prazeres...este mundo entra em colapso psicológico-nervoso quando se
defronta com esse ser sincero e convicto de suas atitudes. Ele o vê
e não sabe lidar com ele. Alguns querem puni-lo mas não conseguem
porque ele nada fez contra a lei. Ou melhor, fez, como todos fazem,
em menor ou maior grau, porque todos fazem algo contra, mas escondem
muito bem. Mas o problema é que esse tipo faz uma transgressão com
diferentes finalidades. E as pessoas sentem estar diante de um
fenômeno que não se encaixa em seu mosaico de possibilidades. Nó
na cabeça. Temem enfrentá-lo, temem acusá-lo, temem confrontá-lo.
Simplesmente afastam. No seu egoísmo temem ser revelados juntos com
aquele que desejam desnudar.
Tudo
está bem para o tipo médio, exceto sua mente e espírito. Logo,
tudo está mal. A forma só sustenta uma imagem saudável graças
a constantes gastos de energia e tempo em mascarar sua decadência.
Recorre-se a confortos e consumo excessivo e barulhos. Mas só se
ilude e se gasta, e no fim do túnel chega-se à triste realidade.
Desta vez mais triste e desoladora. Uma espiral de perdição.
Quantos
seres, prestes a despertarem para uma nova realidade, deixam a luta
de trabalho interior ao menor sinal de reação do mundo externo.
Quantas desistências diante da menor dificuldade! É a
necessidade de ser aceito pela horizontalidade que inibe a construção
de uma trajetória na verticalidade ascensional interior. Um
caminho que, após superada as etapas iniciais, dá novas visões e
novas possibilidades ao ser que ousou ir além. E essa superação,
vista de fora (pelos outros) é tão fantástica quanto
incompreensível. Muitos veêm e passam a crer - nem que um mínimo -
nos milagres. A utopia passa a ser algo existente. E ver no mundo
real um ser que atingiu tamanha harmonia com o Universo consola. Sem
o saber, milhares de almas estão se preparando para se
metamorfosear. Inconscientemente.
Louco?
Gênio? Santo? Perigoso? Subversivo? Rebelde? Uma ferramenta para
promover ascensões, eu diria. Uma vida inteira servindo uma
finalidade tão divina que o ser percebe sua função no cosmo e se
adequa à Lei. Segue seu Eu divino. Se apóia no imponderável.
Conhece as causas profundas. Vive o fenômeno. Percebe os pequenos
milagres que se operam a todo momento. E agradece. Infinitamente.
Esse
ser se lança em trajetórias aparentemente loucas e sem sentido. Ele
não planeja nem imagina a miríade de empecilhos futuros. Apenas
sente um ímpeto. Uma força aparentemente descontrolada, sem
lógica, mas com efeitos que se revelam cada vez mais sapientes com o
decorrer dos anos. Um ser que sabe o que quer. Sente se arrastar
numa correnteza. Não pensa. Ou melhor, pensa sim. Mas em outros
termos. O seu sentimento sincero está além de qualquer explicação
lógica. E é apenas com esse sentimento que o ser se lança na
vastidão do desconhecido. Ninguém o ajudará exceto aquela força
interior que lhe martelava a todo momento antes de se lançar.
A
objetividade permite que reine um estado de aparente calma no mundo.
Apenas se apoiando na realidade exterior, reconhecida e sentida pela
quantidade, podem-se estabelecer regras sólidas que consigam manter
uma (aparente) ordem. Ordem exterior. Mas e quanto àqueles seres
introspectivos, voltados para si? Seres que dão maior peso à
subjetividade, reconhecendo a sua e aceitando as outras, mas devendo
se adequar às regras que satisfazem apenas as aparências? Que meios
de viver plenamente esses tipos tem à disposição?
O
mundo diz respeitar as diferenças. No entanto ele mesmo padroniza
normas de conduta, julgando que elas representem o máximo de
civilidade. As diferenças são respeitadas até o limite em que
estas não ameacem a ordem vigente. Uma ordem estática, que ainda
não se transformou numa ordem dinâmica. Inflexibilidade. Graças a
isso a tarefa de progredir ainda é um martírio. Graças a isso
muitas mentes do futuro ainda sofrem e morrem para apenas depois as
sementes plantadas frutificarem. Deve-se avançar dolorosamente e
lentamente. Sozinho. Quem vê mais consegue ousar mais.
Tudo
é proporcional à maturação interior atingida. É uma bênção na
descoberta; uma condenação na vivência; e (finalmente) uma
libertação quando se sabe equilibrar ambos os mundos.
Abstração?
Quanto
mais se sofre, quanto mais se observa, quanto mais se compreende,
mais se percebe quão simples é a Lei de Deus. Tão simples que é
vista como complexa em nosso mundo – que vê tudo de forma
emborcada. Um mundo onde o simples é complexo e o complexo é
simples. Um mundo na infância.
Para
continuar a evolução devemos começar a desenvolver a intuição e
realizar sínteses. Essas visões apoiarão a ciência, dando a
orientação que lhe falta. Assim também a ética será renovada, se
tornando apta a guiar o novo ser humano em formação.
E
– por mais incrível que pareça – esse novo método não apenas
será capaz de conceber além, mas tornar o aprendizado e a produção
do presente muito mais suave e efetivo.
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