Muito se
tem comentado a respeito da proteção social oferecida pelos
Estados. Há críticos e defensores de políticas assistencialistas.
E de certa forma ambos tem razão em seus pontos de vista. No
entanto, o extremismo gerado pelos lados – pelo que tenho visto na
mídia, o lado do contra é mais feroz do que o lado a favor. mas
isso é a "opinião" da mídia – não tem auxiliado muito
na convergência dessa temática.
Enquanto
os críticos do assistencialismo defendem que você deve ensinar a
pescar ao invés de dar o peixe, os defensores dizem que você deve
dar o peixe para que depois o assistido saiba pescar. E existem os
defensores que acabam se concentrando mais no “dar” e esquecem no
“aprender”, mas creio que se trata de um número reduzido de
pessoas. Mas é em cima desse grupo reduzido que a propaganda
anti-assistencialista se apóia para destacar os (possíveis) efeitos
negativos da mesma.
Em
linhas gerais, o que deve-se ter em mente é que não se trata de uma
coisa OU outra (dar OU ensinar). Trata-se de uma coisa E outra (dar E
ensinar). São atitudes que devem trabalhar em conjunto, com uma
precedendo a outra.
Explico
melhor.
É fato
que todo ser humano deve aprender a obter recursos através de suas
próprias habilidades e aptidões. No entanto é interessante nos
lembrarmos dos bebês para compreendermos a delicadeza do tema.
Uma
criança (da espécie humana) precisa de uma série de cuidados antes
de poder andar e tomar decisões por conta própria. Isto é, o bebê
irá necessitar de um forte assistencialismo (dos pais ou tios ou
avós,..de alguém) de saúde, alimentação, abrigo, vestimenta,
educação, afetividade, entre outros itens, para que futuramente
possa ser capaz de executar atividades úteis para ela mesma e para a
sociedade. Sem esse assistencialismo inicial – que dura vários
anos – o pequeno ser corre risco de morrer ou se desenvolver em
desacordo com as expectativas dos cuidadores.
Estendendo
esse assistencialismo para o mundo, observamos que ele é necessário
da mesma forma. Por que? Simplesmente porque nosso sistema arcaico,
centrado no lucro, consumo e trabalho alienado gera uma desigualdade
de condições tão funesta que existe uma miríade de seres em todas
idades que não tem condições mínimas de melhorar sua condição
presente. Não possuem escolaridade nem saúde, e sua etnia, crença
ou cultura tornam sua empregabilidade menor, quer os empresários
admitam isso ou não. Os exemplos são numerosos e podem ser
encontrados nas ruas de qualquer cidade.
Não é
possível que uma pessoa faminta, sem moradia fixa, nem saúde, com
família para cuidar e problemas dessa natureza possa executar um
trabalho. Sua mente estará preocupada com problemas de sua
realidade. Mesmo porque os empregadores, que poderiam fazer isso,
dificilmente o farão (o norte de uma empresa é o lucro, não a
fraternidade). E muitos daqueles dispostos a fazer esse "favor"
tiram proveito dessa situação de vulnerabilidade do indivíduo,
submetendo-o a exploração. Em suma, uma neo-escravidão.
É
portanto imprescindível que pessoas em condições desfavoráveis
sejam assistidas por uma entidade que (teoricamente) representa e
trabalha pelo povo: o Estado. O intuito, claro, é que esse programa
seja bem conduzido de modo a tornar a pessoa financeiramente
independente e com um nascente senso crítico a médio e longo prazo.
E nesse aspecto o Bolsa Família foi um passo importante [1], [2].
Segundo
um estudo publicado na revista CartaCapital (não me lembro a edição,
mas sei que foi do ano passado), para cada R$ 1,00 do PIB investido
gerou-se, alguns anos de pois, R$ 1,44 de retorno. Os números são a
comprovação de que tal política - ao contrário do que as classes
abastadas acostumadas a serem servidas querem propagar - aumenta a
produtividade do país, com 44% de retorno. Apesar de não ser a
solução de todos problemas, é um componente fundamental da mesma.
Quanto
às críticas - aparentemente sensatas e ferozes - contra o Estado de
Bem-estar, faço um convite à reflexão em relação a alguns
pontos:
- Se o assistencialismo é ruim, porque todos países europeus que o adotaram como prioridade tem uma qualidade de vida alta, com seu povo desfrutando de renda alta, produtividade e muitas horas livres e opções de lazer? (pelo menos antes de vários governos adentrarem nessa onda neoliberal ditada pelo lucro...). E por que países ditos desenvolvidos que não adotaram essa política tem indicadores sociais baixos entre boa parte da população (como EUA, por exemplo).
- Segundo estudos, 99,5% dos pesquisados [3] não deixaram de trabalhar, e muitos crianças passaram a ir para a escola, pois a família percebeu que isso é importante. Quanto àqueles que se recusaram ao trabalho, trata-se de pessoas que adquiriram consciência e não querem mais se submeter a um trabalho degradante (escravo). Isso é, a meu ver, um progresso. A recusa a ser explorado jamais deve ser vista como ato de vagabundagem, e sim como o despertar da consciência - e convenhamos...para quem se acostumou a usufruir de mão-de-obra barata, é muito difícil aceitar a libertação mental de seus servos assalariados.
É óbvio
que uma pessoa que passa a ter consciência de que sua realidade
passada era miserável e alvo de lucro de grupos corporativos
nefastos vai se recusar a "trabalhar" para tal sistema. Ela
demandará um trabalho DIGNO, que pague um salário compatível com
sua dedicação, e com possibilidades de crescimento - se uma
pesquisa aprofundada for feita nesse campo, como Bertrand Russell,
Noam Chomsky, Domenico De Masi e etc fazem, eu garanto que poucas são
as empresas no mundo atual dispostas e interessadas em dar essa
possibilidade a seus funcionários...
Devemos
ter em mente de que os problemas de violência somente cessarão
definitivamente, em todos os campos, a partir do momento que
começarmos a construir uma sociedade FRATERNA. E SAPIENTE.
Antes de
tudo precisamos compreender a fundo a realidade de todos e nos abrir
para a TRANSFORMAÇÃO, nos despojando de instintos de exploração e
percebendo do "fraco", no "incapaz", no "pobre",
um ser como nós, que simplesmente vive outra realidade. Uma
realidade mais árdua em vários aspectos.
Essa frase contêm a essência do artigo. |
É
difícil? É. Muito. Mas esse me parece ser o único caminho. Aquele
que ataca as causas. Um caminho sensato, a meu ver.
Referências
[1]
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/bolsa-familia-nao-desestimulou-procura-por-emprego-diz-estudo
[2]
http://www.cartacapital.com.br/economia/por-que-o-bolsa-familia-e-importante-1636.html
[3]
http://www.viomundo.com.br/politica/recordar-e-viver-rebatendo-as-criticas-ao-bolsa-familia.html
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