Zygmunt
Bauman [1] é um sociólogo polonês com uma visão muito clara do
mundo em que vivemos. Essa clareza foi revelada (a mim) quando ele
falou sobre um fenômeno que vem se pronunciando cada vez mais. Se
trata da inversão de valores em nossa sociedade.
É
evidente para qualquer pessoa de bom senso de que em nossa sociedade
existem elementos que devem ser públicos e outros que devem ser
privados (ou pessoais). Para avaliar o que deve ser uma coisa ou
outra basta fazer a si mesmo uma pergunta simples: trata-se de algo
singular, que só diz respeito a ti, ou a algo universal, cuja
apropriação tende a prejudicar outros?
Apesar
de simples, me parece que essa pergunta não vem sendo feita por nós
mesmos quando emitimos – ou omitimos – nossas opiniões a
respeito desse tema. E mesmo pelo modo com o qual atuamos na
sociedade.
A
primeira distorção – muito evidente – se encontram nos famosos
“reality shows”, na qual a vida privada de um grupo de pessoas
(de preferência jovens, com corpos que atendam os padrões de
beleza, com “sonhos” e com uma inteligência suficiente apenas
para não ameaçar o 'establishment') é exposta diariamente para
milhões. As cenas mais banais, que não dizem nada a respeito de
nossas vidas, são divulgadas e comentadas por milhões de pessoas.
Outra
distorção do tipo pode ser vista nas revistas que mostram milhares
de fotos de pessoas famosas e “bem sucedidas”, com seus filhos,
netos, amigos, amigas e etc, em seus iates e carros de luxo e
restaurantes de luxos e namoradas(os) com roupa e corpos da moda e
coisas do tipo (interessante que essas pessoas parecem não estudar
nem trabalhar...). E todos esses fatos importantes são despejados em
público. Gasta-se milhões na divulgação de algo que, ao invés de
elevar a humanidade como um todo, desperdiça recursos materiais e
energéticos (1), desperdiça tempo das pessoas que veem e divulgam
isso (2) e – mais lamentável – aprisiona a mente da grande
parcela das pessoas “sem sucesso”, colocando um norte que não
condiz com a sua real vontade (3). Muito menos com o progresso do
mundo.
E eis
um dos efeitos mais petrificantes: quando o que deveria ser privado
se torna público, me parece (não sei se há alguma correlação)
que o que deveria ser público começa a ser incorporado pelo mundo
privado. Exemplos abundam: criação de condomínios fechados via
anexação de áreas públicas; aumento do espaço (ruas, avenidas,
estacionamentos) dedicado a meios de transporte individual em
detrimento de calçadas, praças, parques e ciclovias; educação
básica e superior; saúde; espaços culturais (bibliotecas,
museus,...); apresentações musicais publicas; e muito mais. Isso
gera efeitos nefastos na sociedade, conforme irei explicar a seguir.
Quando
vemos o mundo privado (o mercado) mercantilizando bens universais e
de direito de todo ser humano [leiam a Declaração dos Direitos
Humanos segundo a ONU*], começa-se um processo de EXCLUSÃO SOCIAL.
E como esse próprio mundo, para ter seu sucesso (relativo e
restrito) acaba, por sua própria natureza insustentável, gerando um
grupo de pessoas sem condições de “pagar pelos seus direitos”
[vejam que paradoxo], ele comprova sua própria insustentabilidade e
incompatibilidade com os princípios morais estabelecidos há 2 mil
anos.
Em
troca a sociedade recebe inúmeros “benefícios” via meios de
comunicação: vida de astros, de celebridades, dicas de como ser,
como levar sua vida, como ser bem sucedido, como ser forte e rico e
etc. Forma sem conteúdo. Dicas vazias. Dicas que soterram e não
libertam. Dicas que aprisionam. Que induzem a pessoa a se tornar uma
peça do sistema vigente, fazendo-a atuar em benefício de uma
economia que é insustentável e anti-fraterna. E – ao mesmo tempo
– fazendo a pensar que está satisfazendo seus sonhos.
Agora
eu tenho uma notícia animadora: perceber todos esses fenômenos não
requer erudição nem um tijolo de títulos. Basta ter BOM SENSO e
VONTADE.
Conheço
pessoas cultas, estudadas, especilaistas e experientes, com muitos
recursos e tidas como bem sucedidas que, no entanto, são incapazes
de perceber as necessidades de mudança e a relação entre seres. Ao
mesmo tempo, já ouvi pessoas sem qualificação alguma e muito
ignoradas que ao se expressarem revelaram os traços da mais fina
SABEDORIA. Isso remete ao que Montaigne ** disse a respeito de
sabedoria: ela não está diretamente relacionada ao grau de estudo
atingido ***.
Através
de anos de observação eu pude constatar esses fatos. E apoiado nas
observações de pessoas como Z. Bauman, M. de Montaigne, B. Russell
e J.S. Mill pude comparar suas observações com esses fatos. E daí
concluí que a teoria descreve o que vem acontecendo.
A
descrição profunda, em sua substância, indo muito além das
aparências, foi feita por um conjunto de sábios que permeiam nossa
história recente. Mas ao mesmo tempo os meios de eliminar as mazelas
foram apresentados.
Minha
recomendação é a seguinte: se você se sente um pouco inquieto com
o rumo que alguns (ou muitos) acontecimentos vem tomando, vá à
biblioteca ou livraria ou internet e começe a ESTUDAR esses sábios.
É um medicamento muito bom que pode prevenir e remediar males. É
inclusive, na minha opinião, a base para a reforma planetária. E
após sua compreensão, recomenda-se a APLICAÇÃO dos ensinamentos.
Os
sábios, ao contrário dos poderosos, libertam sua mente.
A que
grupo daremos atenção daqui pra frente?
Fontes:
*
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm
**http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_de_Montaigne
***
Quando Montaigne disse que a sabedoria não se relaciona unicamente
com grau de estudo ele não estava excluindo o importante papel das
universidades na formação de pessoas, e sim dizendo que esta
instituição não irá necessariamente trazer sabedoria a uma
pessoa, pois esta pode ser encontrada de várias formas.
[1]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman
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