Os momentos são de grande tensão. A conjuntura mundial demanda esforços incessantes. Poucos compreendem a gravidade dos acontecimentos presentes. Muitos ignoram previsões sérias, de mentes compenetradas e responsáveis*. Isso leva a uma vida de indiferença perante o planeta, as espécies e a própria sociedade. Muitas famílias estão divididas. As mais abastadas, num certo nível de conforto, não manifestam a mesma natureza involuída do que aquelas que não possuem recursos mínimos nem cor e culturas adequadas. Mas trata-se apenas de condições exteriores.
O tipo humano, em sua grande maioria, é o mesmo, e se em uns estratos não se vê violência física-verbal é porque estes podem aliviar suas miséria repassando para o andar de baixo, até se chegar à base onde, num desespero crescente, onde não há oportunidades mas abundam vícios, - alimentados pelos altos estratos - se trava uma guerra de desentendimentos e violência.
Os modelos econômicos diferem apenas em superfície: c
apitalismo e socialismo podem ser analisados sob um prisma transformista. A partir daí, num estudo de dinamicidade, podemos fazer definições mais precisas e portanto maduras.
Não se trata de sistemas, e sim de uma batalha titânica entre formas mentais presentes nos seres humanos.
Podemos simplificar sem perder o cerne da questão ao vincularmos capitalismo com produção e socialismo com distribuição. Dessa forma, a partir desse ponto, irei resumir o problema material humano - em sua superfície - ao binômio fundamental
Produção-Distribuição (PD).
Quando abordei a questão da gravidade das políticas da Educação a serem alteradas em nosso país**, comentei brevemente sobre os tópicos que seriam levantados. São estes:
1) Tributação
2) Sistema político
3) Modelo econômico
Os três se relacionam Portanto um influencia outro, ora com mais intensidade, ora com menos. E vice-versa.
Trata-se de um sistema de três elementos com comportamento híbrido (ativo-passivo), no qual cada um desempenha um papel cujo objetivo final e supremo é gerar ordem e harmonia sem necessidade de força externa.
A tributação se relaciona ao Estado. É seu papel
coletar recursos (1)
e
administrá-los (2) de forma adequada. Vê-se que isso depende de interesses humanos, e portanto do sistema político vigente. Esse sistema político opera segundo uma lógica econômica basilar (paradigma), aceita por ampla maioria, - consciente ou inconscientemente - que deve ser satisfeita para manter seu funcionamento. Com essa concatenação começa-se a sentir a ligação entre essas três grandes questões de nossos tempos - e país.
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A Lei que engloba todas as outras,
coordenando-as perfeitamente.
Por que temos tanta dificuldade
em aceitar algo assim? |
Podemos dizer que (usualmente) pessoas que visam distribuição se preocupam com a questão de alterar o sistema de tributação em função dessa distribuição; ao passo que aqueles que visam produção querem mantê-lo ou permitir uma maior concentração por parte daqueles que "produzem". Aí começa a grande questão.
O sistema político puramente representativo já demonstrou estar em franca decadência***, na qual existe uma crise aguda de representatividade, em meio da qual os governantes eleitos não são capazes de implementar políticas públicas por estarem imersos numa estrutura na qual o poder financeiro dita e desfaz as regras do jogo de acordo com interesses escusos e difusos. Isso indica que o Estado, nesse contexto, operando segundo uma lógica que não é mais capaz de evitar a penetração de interesses privados, erode.
Essa erosão não deve ser confundida com a falência da função do Estado no desenvolvimento da humanidade, e sim observada como uma necessidade urgente de reforma estrutural. Essa reforma, ao contrário do que a mídia propaga, deve partir da população - jamais dos ditos especialistas.
Os intelectuais que estão em sintonia com questões de base, populares, tanto de minorias quanto de maiorias, e que fazem esforço em difundir sua ideia numa linguagem simples e direta, podem ser aceitos como especialistas desvinculados do poder. Posso citar
Noam Chomsky como exemplo.
O sistema político é a base que a sociedade pode usar para influenciar (e alterar) o modelo econômico e seu sistema de tributação.
Mas voltando ao tema PD, posso dizer uma coisa: o mundo de hoje (2016) gera muito mais riqueza do que o mundo de 1916, que gerou muito mais do que o início da Revolução Industrial (lá em 1780). Vê-se uma curva exponencial de produção que extrapolou sua capacidade de manter o planeta em equilíbrio desde a década de 80 do século passado ****. Isso indica que estamos há 35 anos produzindo (e usando...forçosamente em muitos casos) recursos naturais. Alterar o ecossistema além de seus limites implica submeter o planeta (solo, água, minérios, florestas, atmosfera), com sua fauna e flora, a regimes não-naturais, que gerarão reações bruscas que seremos incapazes de administrar. Além disso, com a nossa psicologia de consumo, nosso nível de dependência acompanha uma curva que forçosamente deverá cair - por bem ou por mal.
Como nossa mentalidade está vinculada fortemente a essa curva, estamos diante de um iminente colapso material sem precedentes na história humana, da qual os únicos vencedores serão as utopias realizáveis mas não realizadas.
Chegando até aqui começa a ficar claro (para o Ser seto e sincero, pelo menos) para qual lado deve pender o foco do problema PD - que se tornou problema sério a partir da Revolução Industrial.
Não se trata de eliminar um em função de outro, e sim de manter um operando num nível adequado (produção), enquanto dá-se condições adequadas para que o outro possa se desenvolver saudavelmente (distribuição), sem grandes atritos.
É forçoso admitir que o nosso problema material foi, no fundo, resolvido há décadas [5*]. O que impediu sua solução de se efetivar permanentemente foi nossa
ganância. Esta apóia um sistema econômico que prega o crescimento ilimitado, defendendo-o com unhas e dentes, por mais que os fatos apontem para a falência da lógica (des)atual.
Para justificar a não-distribuição, muitos adeptos recorrem ao argumento da proliferação de vagabundos com assistência do Estado atuante; ou à necessidade do bolo crescer antes de distribuir. Mas este bolo, se continuar crescendo, levará a humanidade a uma escassez de recursos, pois o planeta é finito. Os combustíveis fósseis decaem a cada década ao passo que o consumo cresce segundo a lógica da competitividade. Alterar a matriz energética não nos garantirá um desvio do abismo. É mister mudar radicalmente a mentalidade hodierna, se não vivendo pelo menos apontando para o ideal franciscano.
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Volume escrito em Gubbio, 1950. Ubaldi
trata das grandes questões humanas, sem
se ater aos finitos relativos-transitórios. |
Por outro lado os vagabundos existem. No entanto eles não estão onde muitos creem estar.
Eles constituem a grande maioria da humanidade, que escapa ao trabalho de ascensão, mesmo que isso implique em rejeitar modos de vida e de pensar falidos, demonstrando seus defeitos, propondo alternativas e vivendo corajosamente de acordo com princípios de equilíbrio e diálogo - com o outro e com a natureza. Muito mais nocivo é um vagabundo que lucra U$ 20 milhões anualmente à custa do esforço de uma superestrutura corrompida pela sua própria lógica do que outro que recebe R$ 400 de auxílio mensal para sobreviver. Além disso,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU [6*], assinada por Democracias Ocidentais, deixa bem claro que é uma obrigação das entidades Estatais garantir, acima de tudo, direitos fundamentais para sua população, independente do que façam ou não façam. Propor uma lei supranacional que não se cumpre é motivo suficiente para vergonha. Condições existem, apesar da mídia não tratar esse tema de forma madura.
Resta às pessoas mergulharem a fundo nas suas dores para gerarem novas ideias e ganharem a força para enfrentar essa realidade lamacenta e difusa.
É claro que o ser humano deve trabalhar, mas os empregos devem ser compatíveis com as potencialidades humanas e não violar os direitos humanos. Além disso, num mundo em profunda transformação, cada vez mais desesperado por
ocupações construtivas - que são poucas, muito poucas - e gente disposta a criá-las, - se dado o devido tempo e condições financeiras -
faz-se necessário redefinir profundamente o conceito de "trabalho", e colocar no circuito econômico atividades vistas como inúteis.
Além disso, é importante - segundo a ONU - remover gradativamente do circuito monetário atividades relacionadas com saúde, medicamentos, educação, cultura, transporte, alimentação, higiene, habitação, saneamento e vestuário.
Isso não é criar privilégios, e sim garantir Direitos que muita gente no íntimo reconhece como essenciais (e plenamente implementáveis a partir da segunda metade do século XX).
Com isso aponto para um sistema político novo, com democracia representativa e direta se articulando; para um modelo econômico baseado em desenvolvimento humano com crescimento zero [7*]; e para uma sistema tributário que taxe grandes fortunas, caindo gradativamente até as pequenas fortunas - sem atingir com força classe média, muito menos os pobres.
A democracia 100% direta demandaria demasiado trabalho de todos com questões coletivas. Eu por exemplo não teria tempo de me dedicar minimamente ao meu blog, questões humanas e espirituais, à minha ginástica e assistir meus filmes e ouvir minhas músicas, além de me dedicar à família. Portanto é mister que haja participação popular, na qual a sociedade dê a palavra final em temas cruciais na área jurídica, legislativa e executiva, delegando atividades operacionais para políticos. Estes, por sua vez, devem ser conscientes de que são servidores do povo e do meio ambiente, e jamais de interesses privados. Para isso é necessário apoio da população e profundidade de reflexão. Não cair em jargões neoliberais será uma mentalidade a ser incorporada ao ser que pretende edificar uma nova civilização.
Crescer zero é possível desde que se estruture um sistema independente de crescimento físico. Porque a dinamicidade continuará no nível físico, mas irá apenas oscilar em torno de uma assintota saudável, na qual a pegada ecológica seja inferior à unidade [****]. Isso só será possível com uma profunda transformação na mentalidade hodierna, na qual o ser humano deve entrar em contato com sua essência e definir de forma substancial o que é necessário e o que é supérfluo.
Como todos temos Deus em nossa essência (imanência), as visões irão se unificar e tudo irá se moldar adequadamente. Quanto ao desenvolvimento humano, sabe-se estatisticamente que a partir de um patamar de renda o índice de felicidade começa a decair [8*], revelando que a questão do conforto material é assintótica - como eu sempre senti.
Finalmente, a questão da distribuição é complexa: economia regional, nacional e internacional se relacionam. A dívida histórica dos países (ditos) desenvolvidos para com sociedades que foram desestruturadas, exploradas e escravizadas é uma das causas profundas de pobreza no mundo. Essa dívida deve ser paga de uma forma ou outra.
Porque não se trata de um problema de gerações passadas, e sim de fluxos culturais que se propagaram por eras e se desenvolveram de acordo com uma lógica pouco disposta a se equilibrar, e sim em se satisfazer, tentando se desconectar do passado com discursos de fato consumado.
As coisas não são tão simples e
devemos englobar História e Possibilidades dentro do nosso Presente (Realidade), e trabalhando adequadamente com todos elementos, criar um Futuro melhor, que nada mais é do que a Utopia que anima as almas sinceras, retas e ardentes de hoje.
Observações e referências
* Noam Chomsky, Zygmunt Bauman, Viviane Mosé, Domenico De Masi, Thomas Piketty, Amit Goswami, Leonardo Boff [destaques para: P. Ubaldi & H. Rohden & T. Chardin]
** http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2016/05/anti-propostas-para-educacao.html
*** https://www.youtube.com/watch?v=NYI-PHukQ44
https://www.youtube.com/watch?v=um02I6Fkv2s
**** http://donellameadows.org/archives/a-synopsis-limits-to-growth-the-30-year-update/picture-4-2/
5* http://www.geocities.ws/luso_america/KeynesPO.pdf
6* http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2016/04/declaracao-universal-dos-direitos.html
7* https://pt.wikipedia.org/wiki/Serge_Latouche
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicholas_Georgescu-Roegen
8* http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2013/12/paises-com-maior-pib-capita-nao-sao-os-mais-felizes.html