sábado, 11 de agosto de 2018

Incorporar o Ecossocialismo - ou Perecer como Civilização

Antes de iniciar o(a) leitor(a) deve ter em mente uma coisa: a proposta desse blog é unitária. O que isso significa? Basicamente o seguinte: a busca de uma verdade mais vasta (ainda desconhecida em todos seus detalhes), capaz de lidar com um maior número de contradições, é o foco de todos os desenvolvimentos expostos aqui. Deve-se abandonar uma ideia a partir do ponto em que ela é incapaz de explicar uma realidade "nova" - sentida de forma mais intensa à medida que a espécie evolui. Portanto aqueles que vem acompanhando a linha diretora de pensamento ao longo desses anos não deve se surpreender com as questões mais específicas da política, da economia, do direito, da psicologia e da ciência apresentadas aqui.

O fato é evidente: passamos por um dos momentos mais críticos de nossa história como espécie e civilização. Essa criticidade aponta para um florescer de possibilidades, que intensificam a criatividade e coragem de indivíduos; e ao mesmo tempo alerta sobre um perigo extremo de colapso da forma de vida tal qual a conhecemos. Vê-se portanto a característica da dualidade em seu aspecto de equilíbrio que permeia o nosso universo evolutivo.

Um conceito importante é a noção de transformismo, que já introduzi em linhas gerais num texto [1]. Ele é o produto da evolução. É assim que ideais traduzidos em ideias e implementados em programas concretos (invenções, políticas, ações individuais) sempre reconquistam o imaginário humano. Os ciclos históricos são conduzidos por uma lei universal que diz: "melhore isto!" Porque sem esse ímpeto que se encarna em determinados seres de tempos em tempos o destino das espécies e da humanidade estaria fadado ao caos. É aí que entra a lei da entropia.

Posso abandonar as palavras se isso significa que nos
alinhemos no conceito. A única coisa que interessa é
isso. Uma civilização consciente, com justiça social
e economia solar.
A 2ª Lei da Termodinâmica (entropia) afirma, em linhas gerais, que toda atividade humana ou infra-humana gera desordem global. Desordem em termos de estado de coesão molecular. Em termos técnicos, ela mensura o grau de irreversibilidade de um sistema. Isto é, trabalho (em termos físicos) pode ser 100% convertido em calor, que é energia térmica. Mas esta não pode ser convertida inteiramente em trabalho, seja ele mecânico, elétrico, hidráulico, ou de qualquer outro tipo. Percebe-se então que todos processos geram desorganização crescente, o que leva a uma diminuição da qualidade da energia (constante) no Universo. Trabalho gera calor mas este não pode ser revertido integralmente em trabalho. A balança vai pendendo sempre para o lado do calor, que é uma forma de energia degradada, e portanto esse fato coloca ponto final nas possibilidades do ciclo utilitário econômico hodierno - cuja premissa é se sustentar numa eterna conversão entre formas de energia.

É possível localmente ter uma variação negativa de entropia, ou seja, diminuí-la. Mas isso ocorre às custas de um aumento da mesma no meio externo - que suplanta essa diminuição local. É o caso dos seres vivos, que "vencem" a lei da entropia durante sua existência através de mecanismos como a homeostase.

"Homeostasia ou homeostase, a partir dos termos gregos homeo, "similar" ou "igual", e stasis, "estático", é a condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo[1]. É a propriedade de um sistema aberto, especialmente dos seres vivos, de regular o seu ambiente interno, de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados[2]."
Fonte: [2] (grifos meus)

Sistemas (criados por seres) humanos também podem ser vistos a partir desse princípio. A ciência desse campo é ainda mais incerta do que aquela que tenta compreender as espécies em nível orgânico. Mas ambos níveis de organização (orgânico e social), por serem sistemas abertos, necessitam regular seu ambiente interno através de múltiplos e complexos equilíbrios dinâmicos, que se transformam (lembrem-se do transformismo) com o tempo. A estabilidade não é absoluta. É relativa. Esse espaço, que permite experimentação (instabilidade), é a arena na qual os embates se darão, dando gênese a novas construções sociais. 

Tendo sido apresentados os conceitos universais, podemos entrar nas definições verbais:

"Capitalismo é um sistema econômico e uma ideologia baseada na propriedade privada dos meios de produção e sua operação com fins lucrativos.[1][2][3] As características centrais deste sistema incluem, além da propriedade privada, a acumulação de capital, o trabalho assalariado, a troca voluntária, um sistema de preços e mercados competitivos.[4][5] Em uma economia de mercado, a tomada de decisão e o investimento são determinados pelos proprietários dos fatores de produção nos mercados financeiros e de capitais, enquanto os preços e a distribuição de bens são principalmente determinados pela concorrência no mercado.[6][7]"
Fonte: [3] (grifos meus)

Podemos então destacar alguns pontos interessantes sobre o capitalismo:
  • Primeiro, trata-se de uma ideologia, como todas as outras (fascismo, comunismo, socialismo, behaviorismo, racionalismo, empirismo, estoicismo, etc);
  • Segundo, ele estabelece que a propriedade dos meios de produção deve ser privada. Isso não é a mesma coisa que afirmar que a propriedade dos bens de consumo deve ser privada (apesar de ser). Bens de consumo são pessoais. Meios de produção envolvem a coletividade e portanto controlá-los significa controlar a vida de terceiros, direta ou indiretamente;
  • Terceiro, os pilares do capitalismo concatenam trabalho a renda (sobrevivência), permitem o acúmulo de capital (sem restrições), possui uma lógica de precificação e os mercados devem se basear na competição. Veremos mais à frente o que esses fatores produzem e quais as limitações dos mesmos.

"Socialismo refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização econômica que advogam a administração e propriedade pública ou coletiva dos meios de produção e distribuição de bens, propondo-se a construir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método isonômico de compensação.[1] Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da esquerda política, relacionadas com as atuações do Estado de bem-estar social."
Fonte: [4] (grifos meus)

Podemos também destacar alguns pontos interessantes sobre o socialismo:
  • Primeiro, ele pode se referir a várias teorias de organização econômicas que, por mais diferentes que sejam em suas especificidades, se irmanam no que diz respeito à administração e propriedade pública dos meios de produção e distribuição de bens. Notem: a sociedade possui propriedade e administra meios de produção - e não bens pessoais;
  • Segundo, o objetivo de tal conjunto de teorias é promover a igualdade de oportunidades e meios para todos. Isso é a proposta fundamental (teórica). Notem: o capitalismo, em sua definição, não se propõe a isso, apesar de muitos defensores ferrenhos afirmarem que ele dá oportunidade a todos. Notem (dentro dessa nota): "dar oportunidade a todos" diferente de "dar oportunidades iguais a todos";
  • Terceiro, o meio de se chegar à igualdade de oportunidades prevê um método isonômico que compense os egoísmos que possam entrar em conflito. Os governos progressistas de coalizão no Brasil aplicaram esses princípios para conseguir implementar algumas políticas de realimentação negativa visando dar mais oportunidades aos desfavorecidos. No entanto o agente compensador (presidente e seu partido) não era quem dava a palavra final, mas antes procurava se ajustar às férreas restrições da elite - dona dos meios de comunicação de massa, dos bancos, das megaempresas, das terras, das cadeias de produção, das escolas, dos pensamentos, dos convênios, etc - para chegar a essa compensação. Creio eu que o socialismo parta do pressuposto que esse método isonômico deva ocorrer com um consenso popular sintetizado e implementado por um líder com poder efetivo. Isso nunca ocorreu - até o momento.
François Mitterand (1916-1996).
Vinte anos após sua morte, os franceses
 ainda sentem sua falta. Consideram-no
o último grande presidente francês.
Foi de fato o último grande estadista.
Gostaria de colocar mais dois ismos para completar:

Comunismo (do latim communis - comum, universal) é uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitáriasem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum dos meios de produção."[1][2][3] 
Fonte: [5] (grifos meus)

Sobre o comunismo: 
Trata-se de uma sociedade igualitária em termos de que não hajam classes sociais, e portanto diferenças de poder. E apátrida, porque não há fronteiras entre nações - que vem causando um drama terrível a milhões de refugiados. O comunismo, segundo Marx, é a forma de organização humana final, e deve se dar a partir do socialismo. Notem: no comunismo o Estado é inexistente - assim como as corporações, que geram diferença de classes brutais (...). 

"Fascismo é uma forma de radicalismo político autoritário nacionalista[1][2] que ganhou destaque no início do século XX na Europa e teve origem na Itália. Os fascistas procuravam unificar sua nação através de um Estado totalitário que promove a vigilância,[3] um estado forte, a mobilização em massa da comunidade nacional,[4][5] confiando em um partido de vanguarda para iniciar uma revolução e organizar a nação em princípios fascistas,[6] hostis a todas as vertentes do marxismo, desde o comunismo totalitário ao socialismo democrático."[7] 
Fonte: [6] (grifos meus)

O fascismo é autoritário. Ele busca unificar uma nação (não a humanidade) através do Estado - observe que o Estado é meio usado para determinado fim. Ele é hostis ao socialismo, comunismo e demais vertentes. Logo, associar fascismo a socialismo ou comunismo é erro crasso. Quem diz isso cai em equívoco desde o princípio, na etapa das definições.

A arquitetura dos centros comerciais (shoppings) reflete
o consumo-centrismo da sociedade. A mercadoria ocupa
prateleiras e é tratada como item de maior valor.
Os templos modernos são de consumo. Quase tudo de
inutilidades. Isso drena dinheiro, energia e recursos do ser
humano que suou e sangrou para conquistá-los.
Os ismos que apresentei já são velhos conhecidos. Vimos a implementação plena de um deles (capitalismo) desde fins do século XV, e que atualmente se encontra em seu clímax. Os outros três se deram dentro do domínio do primeiro, sendo que um (pela própria natureza) teve seu ciclo completo no século XX (fascismo), com os resultados que conhecemos; e os outros jamais foram aplicados de fato (socialismo e comunismo), sendo sua "implementação" ("socialismo real") restrita a uma nação, um povo, conduzido por um grupo (partido) que emergencialmente - por motivos em parte justificáveis e em parte injustificáveis - focou na produção, controle e militarização. 

"Mas o que é socialismo então?" alguém pode se perguntar. 

O meu último ensaio dá uma ideia do que pode vir a ser uma sociedade socialista [7]. A Europa Ocidental desenvolveu alguns conceitos de socialismo apresentados anteriormente [4] na forma de - por exemplo - o NHS (National Health Service[8] britânico, nascido em 1948 e pai de muitos cidadãos felizes.

O NHS britânico completa 70 anos. Criar um sistema de saúde
universal e de qualidade num país como o Brasil seria um
enorme passo rumo a uma sociedade fraterna. A boa notícia
é que temos todas as condições. Só falta a vontade. Vontade
vem da consciência...
Quem deseja saber mais sobre a grandeza do NHS e a importância do SUS, recomendo o artigo de Outraspalavras:

https://outraspalavras.net/outrasaude/2018/02/19/dois-sistemas-duas-crises/

Convido o(a) leitor(a) a relacionar os sistemas tributários, de regulação, de saúde, de educação, de pensões e etc. de alguns países com os conceitos apresentados. 

Observação: Isso não significa de modo algum que a Europa Ocidental seja um paraíso. É preciso lembrar que muito do desenvolvimento militar-econômico-tecnológico europeu (Séc. XVI-XIX) e posteriormente humano (Séc. XX) se deu graças à exploração dos continentes e imposição de cultura. Logo, vê-se a violência global para se construir ilhas de locais bons. Só esse tema ocuparia um texto inteiro.

Mas como entramos (desde o século XVIII) numa nova era geológica denominada Antropoceno*, é preciso colocar um novo vocábulo no nosso caldo de termos:

Ecossocialismosocialismo verde ou ecologia socialista é uma ideologia em que se fundem elementos do marxismo, do socialismo ou do socialismo libertário com a política verde, a ecologia e alter-globalização.
Os ecossocialistas em geral acreditam que a expansão do sistema capitalista é a causa da exclusão social, da pobreza, da guerra e da degradação ambiental através da globalização e do imperialismo, sob a supervisão de estados e estruturas transnacionais repressivos.[1]
Os ecossocialistas defendem o desmantelamento do capitalismo, advogando a propriedade coletiva dos meios de produção por produtores livremente associados e a restauração dos commons.[1]
Fonte: [9] (grifos meus)

Em suma, coloca-se o ecossistema no centro de tudo - seguido pela espécie humana. A engrenagem econômica viria por último, pois foi a última a surgir e a a mais distante das questões fundamentais da vida. Sabrina Fernandes do Tese Onze explica melhor:



Os modelos econômicos não levam em consideração o meio ambiente, a cultura, a diversidade humana, entre outras variáveis. Eles buscam apenas "resolver os problemas" do homem a partir de ferramentas específicas de cálculo, com modelos simplificados. 

Eu acredito que chegado neste ponto é possível perceber o que de fato representa a perpetuação do modelo capitalista na mente humana - e sua manutenção sistêmica. Mas há maior necessidade de esclarecimento, então vamos começar respondendo a perguntas típicas:

1ª. Todas experiências para construir uma sociedade melhor foram catastróficas. Por quê insistir ao invés de melhorar esse sistema?

Resposta: Porque o próprio capitalismo parte do pressuposto de acumulação. Ele coloca o lucro como fundamento do progresso, afirmando que tendo lucro todo o resto de resolve. Não vejo isso ocorrer. Inclusive o lucro parece gerar uma ânsia de mais lucro. E para isso deve-se ir cortando  salários, programas sociais, formas de organização, investimentos em pesquisa pública (que revertam em melhoria da vida das pessoas), etc. As faculdades particulares são um ótimo exemplo. Vem reduzindo cursos, professores, tornando os contratos de trabalho mais precários, não possuem pesquisa, não possuem laboratórios suficientes (se possuem) e equipados, não tem extensão nem cultura nem nada que não se traduza em lucro. Isso beneficia a quem de fato?

Uma ideia precisa fracassar várias vezes para ter sucesso. Sem isso ela jamais irá se consolidar no mundo. É a História da humanidade. A escravidão, o direito de voto das mulheres, a redução da jornada de trabalho, os direitos humanos, o trem, o avião, as sinfonias, as teorias científicas, o próprio capitalismo,...É preciso insistir. Porque o ideal socialista e comunista são latentes. Eles vão e voltam de tempos em tempos. Porque está dentro do ser humano. Está dentro do campo das possibilidades. Mesmo que ele ainda não saiba exatamente o que quer criar, sente que deve criar. É um ímpeto irrefreável. A cada passar de século, década e ano vemos novas pessoas fazendo cada vez melhor, com mais criatividade.
Na Alemanha o s sindicatos estão representados nos conselhos
de administração das empresas. Isso é tanto social quanto
capital - pois ter um trabalhador com direitos é ter um aliado
na produção. Nos EUA não é assim...

Há jovens que estão apontando para a evolução:

Sabrina Borges Fernandes - Tese Onze
Marcela Motta - Canal Púrpura
Devanil - Alimente o Cérebro

As ideias não morrem porque o mundo não progride com as antigas.

Melhorar o capitalismo ao máximo foi o que Lula fez. Ele mostrou os limites do paradigma - especificamente aplicado ao Brasil. E hoje percebemos que dentro dessa lógica não há para onde progredir - apenas retroceder... Guilherme Boulos aponta os defeitos e abre portas para uma nova forma de organização no país. Goste dele ou não, é difícil ser sincero consigo mesmo e negá-lo como vivência e propostas de governo.

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2ª. Se o socialismo é tão bom, por que toda tentativa de implementá-lo partiu de um governo autoritário?

Resposta: Existe um filósofo húngaro chamado István Meszáros [10] que explica o porquê disso. Basicamente temos experiências socialistas, cujo pilar nº1 é o internacionalismo, surgindo num mundo permeado de capitalismo global. E o velho, altamente consolidado (capitalismo), não irá aceitar o novo, jovem (socialismo), cheio de ideias mas desprovido do poder. Logo, para fixar algum ponto e aplicar alguns conceitos - mesmo que de forma pobre - deve recorrer a ditaduras. 

Cuba era um país com alto analfabetismo, muita pobreza e dominado comercialmente por interesses que não os do povo (e sim do governo dos EUA). Predominava a ditadura de Fulgencio Batista [11]. Depois veia a de Fidel Castro [12]. Autoritária, mas com várias diferenças. No entanto o mundo vê como ditadura o que a potência da época difunde como ditadura. O mundo ocidental engoliu uma narrativa incompleta e somente agora as pessoas estão começando a despertar para isso. Aos EUA não interessava esse novo governo, e por isso fizeram propaganda contra, sanções econômicas (que levaram a muita escassez após para o povo cubano após 1990) e ataques [13]. Essa atitude não é democrática, nem liberal nem humana. E foi adotada pelos EUA. Não apenas em Cuba, mas em todo mundo. E quando o grande ataca o pequeno que quer ter sua independência, o que resta a ele a não ser se cristalizar em forma de autoridade para poder sobreviver, de alguma forma deficiente, por ao menos um tempo?

No mundo, se apenas um grupo pequeno quiser adotar uma forma de vida mais coerente, para sobreviver terá de recorrer a alguma forma de força (métodos do mundo), sem a qual ele será prontamente esmagado e não poderá sequer iniciar a implementação de novas ideias.

Pode soar contraditório, mas é lógico. O bebê quando quer algo faz estardalhaço; a moça quando quer causar atenção (e ciúmes) do par sai com outros, fala com outros, não dá atenção ao moço; os trabalhadores que esperam que a empresa seja sincera e honesta ficam dominados e esmagados; o tímido que possui um oceano de conceitos mas não fala (em classe), não escreve (na internet), não se expõe à falha inicial (na vida), jamais irá crescer e influenciar o mundo.

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3ª.  Eu não acho certo alguém pagar por outro que não se esforçou. E alguns sustentarem outros que nada fazem. E quem teve uma boa ideia "perdê-la" em prol de um coletivo medíocre.

Resposta: Eu não apenas acho mas sei que é errado viver às custas do outro. A questão é: 1º, como a gente vê isso e; 2º, a forma como os regimes que se denominaram (mas não foram de fato) socialistas/comunistas fizeram a distribuição. Percebe-se que não foi democrática (justamente o princípio socialista) e visava reforçar a produção sem preocupações ambientais. Eu vejo as megacorporações e bancos - encabeçados pelas elites - viverem às custas de todas espécies e da sociedade. Como? Através do domínio dos governos do mundo, permeados de "doações" para campanhas e acordos de interesses candidatos-empresas; através de sistemas tributários que extraem o necessário dos pobres, tributam de forma simplória, com poucas faixas, a renda, e não encostam nos super-ricos. Viver de juros deixa rico e quem o faz não produziu nada - nem material nem intelectual. E drena do sistema-mundo e sistema-vida, forçando-os a sempre gerar mais (lixo = produtos inúteis) para acompanhar as diretrizes da Bolsa de Valores.

No ecossocialismo não se trata de desvalorizar quem produz coisas positivas, de utilidade, sustentáveis, que estejam em harmonia com as leis da vida. Trata-se de impedir a construção de narrativas pobres, que simplifiquem a complexidade do mundo, reduzindo-se justamente a questões que levam a brigas, desentendimentos e conflitos entre a imensa maioria que perde com o sistema atual. Trata-se de 

Roubo de ideias é o que as grandes corporações mais fazem em nosso mundo. Internamente e intra-corporações. Já pude ver isso de perto quando trabalhei numa, na qual um funcionário, trabalhando em conjunto com outro, criou um código para automação de um processo, no qual sua contribuição intelectual, energética, e de tempo fora quase 100% - ao passo que seu "colega" quase nada fez, exceto copiar e mostrar aos outros que ele participou na gênese da criança, numa colaboração 50%-50% (ele era muito chegado na chefia). E os dois receberam o mesmo prêmio...Isso é praxe neste mundo. E esse sistema estimula essas atitudes - porque todos estão muito ansiosos em comprar e consumir e ostentar e satisfazer o ego. 

Quem acha casos como esses raros que atire a primeira pedra...

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Caso restem dúvidas o Canal Púrpura pode ajudar:


Na vida é muito mais fácil estar enquadrado no número, tendo atitudes e atos que estejam sintonizados com a quantidade, do que se distanciar dele por um anseio de satisfação de dúvidas interiores. Essa é a psicologia do humano atual, com sua mentalidade racional que serve de forma sutil os instintos. Quem detêm o poder sabe disso e controla as massas - os 99% que perdem com a forma de organização atual - baseado nesse princípio.

A mídia não conta mentira. Ela apresenta fatos de acordo com seus interesses de construção de narrativas. Ela não aponta o dedo. Constrói narrativas, que vão ganhando a participação de sujeitos simples (nós), destituídos de poder real, e sugerindo ao espectador. Este começa a construir ideias baseadas na repetição, no "profissionalismo" dos especialistas que apresentam resultados de pesquisas e falam de modo eloquente e preciso. Se aliarmos a isso o modo como tudo é estruturado teremos explicação para quase tudo.

A intermitência crescente dos empregos, a ascensão do custo de vida relativo aos bens essenciais a mesma. Umair Haque aponta para o cerne da questão:

"Yet in America, the prices of all the basics of a good life — “eudaimonia” — have risen by hundreds or thousands of percent. Perhaps you think I exaggerate. Very, well, let’s review the evidence. Healthcare has risen by two thousand percent. The price of education has gone up by 1000%Food, 300%Rent and house prices, 400%Childcare, 500%. Those are all conservative estimate, too, from what I reckon. You can add to that list as you see fit.
Fonte: [14] (grifos meus)

As referências das percentagens se encontram na própria página. Ele mostra que os preços de saúde, educação, creche, aluguéis e imóveis e comida subiram muito mais do que os ganhos salariais médios. Isso é resultado de um domínio crescente da mentalidade do financismo sobre as corporações, que cooptam os governos e tornam o Estado seu braço direito, desregulando juridicamente tudo que possa restringir a lógica do mercado. O que deveria ser direito humano passa a ser cotado na bolsa de valores. Inflação de bens essenciais à vida sobem muito mais do que a imensa maioria dos salários. As pessoas ficam endividadas e sua rotina as impede de se organizar. A mente das pessoas pode até negar os efeitos, mas são incapazes de mergulhar às causas. Não percebem que sofreram uma lavagem cerebral e que foi construída uma falsa narrativa sobre o que é e significa de fato "Estado de bem-estar social", "socialismo", "direitos trabalhistas", "saúde universal", "tributação", "previdência", "assistência social", "direito à educação" e etc. Não sabem que de nada adianta ter carrões (relativamente) baratos, combustível barato, poucos impostos em alguns setores, estrelas de Hollywood, alimentos de plástico e gordurosos, TVs enormes de tela plana e celulares com mil e uma funções, forças armadas enormes (e custosas) se o essencial à vida lhes é negado porque não há salário que acompanhe a ânsia de lucro do mercado privado. Isso é o capitalismo que se recusa a dar lugar a um socialismo que deveria se conduzir por um senso ecológico.

A ecologia está acima do socialismo.
O socialismo está acima do capitalismo.
O capitalismo é útil, mas apenas como servo.

A Terra é mãe a ser respeitada.
O irmão é para ser tratado de forma fraterna, pois ele e nós somos um.
A ferramenta (capital) deve ser usada para viabilizar o desenvolvimento (irmão), respeitando a mãe (Terra), que tudo provê.

Chomsky fala sobre o termo "socialismo":


Chegamos ao âmago.

O socialismo não nega o capitalismo - apenas insere um eixo diretor diverso, que põe o ser humano como centro. O ecossocialismo enquadra o social ao ambiental, colocando o homem à serviço de si mesmo sem esbarrar nos limites planetários.

No ecossocialismo pode (e deve!) existir capital, propriedade privada, tecnologia, paz, liberdade, democracia profunda e mercados. Mas ao lucro não é permitido atropelar direitos humanos, princípios e colocar em risco a saúde do humano e do planeta, com todas suas espécies.

Não deu certo até o momento porque o ser humano é refém de uma doença crônica chamada confortite. 

Tudo deve ter conforto para o homem moderno.
Ter um carro popular simples não é confortável. Deve-se ter um automóvel com custo 3 vezes maior, cujo IPVA aumenta na mesma proporção, cujo consumo de combustível seja maior, e reparo, e seguro e etc.

Comprar no mercado é ruim. Deseja-se comer no restaurante frequentemente.
Deseja-se viajar muito e para longe - sem às vezes aproveitar nada da cultura local.
Deseja-se livrar de tudo aquilo que apresenta o mínimo defeito por ser mais cômodo.
Deseja-se ter amizades mais fluídas, que possam ser "deletadas" sem esforço.
Deseja-se ter conversas mais "agradáveis", evitando ao máximo temas que exijam reflexão e auto-crítica.
Deseja-se relacionamentos curtos, no qual predomina-se a troca de egoísmos específicos.
Deseja-se ir ao shopping e se deixar levar pelas compras e cheiros artificiais, pelas vitrines com belezas superficiais e ambiente com comportamentos centrados na ideologia do consumo (em grande parte) conspícuo.
Não tem fim.

Luiz Marques concatena ecologia com instituições e economia, numa brilhante entrevista com Celso Loducca (confira abaixo). É uma entrevista que vale mais do que muitos cursos.



Construir um mundo melhor exige um ser humano novo. O misticismo da reforma íntima é essencial para alastrar o princípio genético da justiça social em nossas estruturas de poder.

Precisamos abandonar a briga superficial por palavras e nos guiar a partir do conceito. Isso é o que sinto. E é o que afirma Sua Voz em A Grande Síntese, desde os primeiros capítulos.

Muitas vezes as discordâncias se dão por palavras. Eu tentei definir o que entendo por socialismo, fascismo, capitalismo e outros ismos. Mas o cerne da questão é edificar uma mentalidade capaz de demandar um novo sistema político e econômico que salve a espécie humana. E extraia o melhor de cada um, sem deixar ninguém na inércia da inatividade degenerativa ou na idiotice da atividade alienada.

Meu ímpeto não é convencer ninguém. Viso expor meus conceitos e um sonho íntimo - que sinto ser o sonho de muitos. Se falo de uma forma, outro pode falar de outra. Mas que haja reflexão, troca de ideias e mergulho na vivência - ao invés de afastamentos e astúcia para buscar o melhor argumento.

Para o consciente a maior segurança é a liberdade - pois ele sabe usá-la.


Referências:

[1]https://www.google.com.br/search?ei=A_9uW_GtF8KLwgSr0Z-oDQ&q=conceito+de+transformismo+blog+do+leo&oq=conceito+de+transformismo+blog+do+leo&gs_l=psy-ab.3..0i71k1l8.21707.21707.0.22058.0.0.0.0.0.0.0.0..0.0....0...1c.1.64.psy-ab..0.0.0....0.UzxwtFKpTUw
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Homeostase
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo
[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunismo
[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo
[7] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/08/aglutinacao-na-retaguarda.html
[8] https://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7o_Nacional_de_Sa%C3%BAde_(Reino_Unido)
[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecossocialismo
[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/Istv%C3%A1n_M%C3%A9sz%C3%A1ros
[11] https://pt.wikipedia.org/wiki/Fulgencio_Batista
[12] https://pt.wikipedia.org/wiki/Fidel_Castro
[13] https://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%A3o_da_Ba%C3%ADa_dos_Porcos
[14]https://eand.co/if-you-think-socialisms-unaffordable-you-don-t-understand-capitalism-c8c53b30a4e3

Antropoceno (ou Antropocénico em português europeu) é um termo usado por alguns cientistas para descrever o período mais recente na história do Planeta Terra. Ainda não há data de início precisa e oficialmente apontada, mas muitos consideram que começa no final do Século XVIII, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima da Terra e no funcionamento dos seus ecossistemas.

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