domingo, 1 de setembro de 2019

Faíscas de luz

Quando estava cursando as disciplinas no meu doutorado, me lembro de que a maioria das avaliações eram atividades a serem feitas em casa e em grupo. Numa dessas disciplinas havia uma série de listas de exercícios a serem resolvidas. O conteúdo era denso, exigindo uma capacidade de abstração muito forte. Essa disciplina se chamava Otimização de Sistemas Dinâmicos I. Era necessária uma base matemática muito sólida e uma capacidade de pensamento abstrato razoável para conseguir fazer os exercícios. Mas através desse esforço era possível se familiarizar - e se encantar - com os fenômenos da natureza e com os grandes feitos da realização humana.

O sol é mais belo quando se põe. Nesse momento é possível
vê-lo em sua integridade. Seu brilho é menos ofuscante.
Por isso o pôr-do-sol é tão belo.
Alguns exercícios envolviam a demonstração de algumas regras matemáticas matriciais. Outros trabalhavam com possibilidades fantásticas como, por exemplo, a construção de um trem que usa apenas a energia advinda do campo gravitacional para acelerar/desacelerar, e assim deslocar pessoas. Esse era o casamento entre uma possibilidade de implementação no mundo econômico e a sofisticada formulação matemática de Euler-Lagrange. Quem desejar conhecer um pouco mais pode estudar o artigo que usei para trabalhar em cima do exercício [1]. É bem interessante do ponto de vista de exercitar teorias, métodos e ferramentas para se (tentar) viabilizar algo que poderia ser muito útil à civilização. 

Os problemas de demonstração eram mais abstratos. Exigiam uma certa destreza na operação de relações algébricas, matriciais e de cálculo. Às vezes, quanto mais óbvio, mais difícil (e intrigante) a demonstração. 

Aceitamos muitas leis e relações como certas e as aplicamos para resolver questões práticas da vida cotidiana - sejam elas relacionadas a tirar nota em provas e trabalhos, ou em construir sistemas. Mas quase nunca nos damos conta do porquê disso. Essas verdades são tidas como axiomáticas, isto é, incontestáveis. São evidentes por si mesmas. Aceitas de bom grado pelo senso comum. São questões  simultaneamente óbvias e misteriosas. Evidentes do ponto de vista de eficácia cirúrgica na aplicação - e desconhecidas no porquê de serem como são. É o caso da Lei da Entropia, que mensura essa grandeza, atribui unidade a ela, identifica características de processos a partir da mesma, entre outras coisas. Mas não sabemos à rigor o que ela é, ou melhor, significa.

Num desses exercícios me lembro de ser pedido para demonstrar, a partir de um conjuntos de igualdades, a Equação de Ricatti, um matemático veneziano (1676-1754):
Em que R(tf) = 0 é uma condição final - a matriz R deve ser nula no tempo final. Trata-se de uma equação diferencial, ou seja, que descreve um processo dinâmico, caracterizado pela variação no tempo. 

A partir de uma dada configuração de igualdades conhecida, deveríamos chegar à famosa equação. Aqui não nos interessa qual o significado de cada termo (as matrizes A, R, Q, B), mas sim o processo para se chegar à demonstração. 

Quando se trabalha com álgebra matricial é preciso atentar para certas regras. Nem tudo que vale no mundo algébrico é idêntico no mundo matricial. Algumas operações elementares são diferentes, seja em termos de complexidade ou mesmo em princípios. Isso demanda uma atenção redobrada e mais criatividade na hora da demonstração. As manipulações podem nos levar a um labirinto que vai ficando mais e mais complicado se não tivermos um senso de orientação durante o longo processo. Neste terreno o talento da mente pode ser insuficiente para se chegar à solução. Geralmente são necessárias várias muletas para chegar ao destino. Exemplos diversos, longas tentativas, métodos variados, etc. Às vezes, para não se perder no lodaçal de formalismo, é preciso ter uma mente que se renda à consciência cósmica, deixando por um tempo toda a fadiga de lado para que esse exaustivo trabalho intelectual seja digerido por outras forças.

Para chegarmos a uma solução verdadeiramente efetiva e
revolucionária precisamos entrar em estado de relaxamento.
Não se trata de inércia, mas sim de sintonia num plano mais
elevado.
Nessa época, quando chegava a algumas soluções, ficava impressionado por tê-las atingido. Quando estava com a resposta, tentava compreender o caminho trilhado. Mas algo se perdia. A tentativa de fazer uma retrospectiva, para compreender como cheguei à equação, se perdia num oceano de mistérios, em que certos passos era inexplicáveis - se encarados a a partir de uma mentalidade racional. Assim o passado deixa registrado passos gigantes encobertos por mistérios profundos. Passos decisivos, que atordoam a mente e encantam o espírito. Que atestam a existência de uma genialidade fora do comum, que suplanta o talento. Nesses momentos sentimos que "entramos no infinito", sem saber como. Sentimos que nos sintonizamos com a eternidade para fluir junto ao devenir fenomênico, vibrando com aquele que trouxe revelações na forma de linguagem, ciência, arte, pensamento ou atitude. 

Quando dominarmos a intuição, atingiremos o nível intuitivo. Saberemos obter a verdade via intuição controlada, como Pietro Ubaldi o fez em vida. Graças a isso o mundo agora possui cravado de forma concreta as revelações de Sua Voz, que nos trouxe A Grande Síntese. Que é uma síntese da solução dos problemas da Ciência e do Espírito. Uma definição profunda de todo o processo evolutivo, abarcando a gênese da matéria e da vida; o surgimento do psiquismo e sua função; a essência do direito e do estado; o biótipo do futuro; a organização econômica e a arte. Tudo é abordado nesse tratado da fenomenologia universal, trazendo as bases de orientação para uma humanidade que deseja sair do lodaçal em que se encontra. 

Não à toa o eminente espírito Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, denomina ela O Evangelho da Ciência:

"Quando todos os valores da civilização do Ocidente desfalecem numa decadência dolorosa, é justo que saudemos uma luz como esta, que se desprende da grande voz silenciosa de A GRANDE SÍNTESE. A palavra de Cristo projeta nesta hora Suas irradiações energéticas e suaves, movimentando todo um exército poderoso de mensageiros Seus, dentro da oficina da evolução universal. Aqui, fala a Sua Voz divina e doce, austera e compassiva. No aparelhamento destas teses, que muitas vezes transcendem o idealismo contemporâneo, há o reflexo soberano da sua magnanimidade, da sua misericórdia e da sua sabedoria. Todos os departamentos da atividade humana são lembrados na sua exposição de inconcebível maravilha! A GRANDE SÍNTESE é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo, em todos os institutos da evolução terrestre. Curvemo-nos diante da misericórdia do Mestre e agradeçamos de coração genuflexo a sua bondade. Acerquemo-nos deste altar da esperança e da sabedoria, onde a ciência e a fé se irmanam para Deus."

No caso do místico da Umbria, houve uma explosão de luz sem igual.

Hoje, nós temos minúsculas faíscas de luz, que impressionam o ambiente próximo. Mas com a evolução tenderemos a nos tornar cada vez mais aptos a transmitirmos verdadeiros pensamentos divinos, com explosão de formidáveis modos de vida. 

É preciso cada vez mais perceber a presença do infinito e do eterno em cada canto de nosso universo, seja ele físico, vital ou psíquico. É no recôndito do AS que reside o S. No além e no aquém, domina a Lei que tudo coordena. 

Referências:

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