segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Compilação de visões (D1)

A título de difusão deixarei aqui uma série de excertos desenvolvidos ao longo de um ano e meio no curso de Pós-graduação de Pedagogia para Nível médio profissionalizante.

O intuito é difundir democraticamente, para todos, a visão do pensamento monista - com nuanças da personalidade do autor, claro - às pessoas, estabelecendo uma conexão mais profunda entre o ensino, a aprendizagem e o monismo ubaldiano. 

As contribuições aqui apresentadas serão organizadas numa série de textos, ordenadas por títulos (disciplinas), com algumas adaptações. Trata-se de ideias e visões de mundo colocadas pelo autor nos fóruns das oito disciplinas cursadas ao longo (do 2º semestre) de 2018 e (todo ano) de 2019.

Por motivos de privacidade, infelizmente não poderei expor aqui os comentários de outros participantes, relacionados em muitos aspectos àqueles postados por mim. No entanto os textos dão uma boa ideia de qual o assunto tratado. Também omiti os nomes das pessoas (com um X, Y , etc.) para mantê-las anônimas.

Minha intenção é difundir ideias restritas ao âmbito acadêmico. Creio que os leitores perceberão facilmente que muitos dos escritos a seguir estão em sintonia com todos os pensamentos colocados neste espaço virtual. A diferença reside no esforço de torná-lo um pouco mais relacionado à esfera pedagógica.

Antes de deixar público meus comentários, deixo (abaixo) as diretrizes do fórum:

Atividade 2.2 - Fórum Avaliativo – Parte 1 (Disciplina 1)

Olá, cursista!
Neste fórum iremos analisar e debater alguns parágrafos extraídos do texto Educação Profissional: a formação da mão de obra e o papel do professor na sociedade moderna”, de Cristina Cimarelli Caballero Rubega.  Leia-os atentamente, pois eles serão norteadores de nossa conversa!

“A quarta revolução industrial, também denominada Revolução 4.0, traz consigo uma tendência à automatização total das fábricas. A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, possíveis graças à internet e à computação na nuvem. O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma "fábrica inteligente": a Indústria 4.0. O princípio básico é que as empresas poderão criar redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas.”
.............
“As tecnologias 4.0 também serão as causadores da parte mais controversa da quarta revolução: ela pode acabar com cinco milhões de vagas de trabalho nos 15 países mais industrializados do mundo.”
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“A formação de professores para a Educação Profissional tem como desafios para a próxima década a necessidade do conhecimento das características regionais; dos recursos naturais; da sustentabilidade; do surgimento de novas áreas produtivas em substituição à indústria de base e, principalmente, quais as profissões necessárias para os próximos 05 e 10 anos. O desafio será oferecer aos futuros profissionais, entrantes no mercado de trabalho, uma educação de qualidade que os prepare para a gestão da própria formação continuada, dentro dos princípios de inovação e competitividade par um desenvolvimento sustentável.”

Nos parágrafos acima, a autora coloca dados da realidade atual, no que se refere à evolução tecnológica mundial, mudança nos conceitos tradicionais de emprego e alguns desafios a serem enfrentados durante a formação de professores para a Educação Profissional. Após refletir sobre os itens colocados por ela, e de acordo com sua vivência e os conhecimentos adquiridos, escreva outros desafios que os professores de educação profissional poderão enfrentar nos próximos 5 a 10 anos.

Além de citar outros desafios, responda:

Você considera esses desafios que citou diferentes dos que você já enfrenta durante sua prática pedagógica? Justifique sua resposta.
Não se esqueça de acessar o fórum com frequência para poder dar continuidade na conversa com seus colegas sobre o tema!

por LEONARDO LEITE OLIVA - terça, 4 Set 2018, 09:02
X, eu também pergunto aos meus botões como estará o mundo do trabalho dentro de dez ou vinte anos - especialmente como será para quem ensina, como eu. Também sou formado em mecânica. Mas acredito que não se trata exatamente de adquirir múltiplos conhecimentos em áreas muito diferenciadas - apesar disso ser uma possível consequência para quem tenha uma percepção mais profunda. Na verdade me parece que o ponto é adquirir uma capacidade de síntese e uma percepção diversa da realidade. É importante que cada especialista tenha uma visão sistêmica da realidade e saiba encaixar sua disciplina na hierarquia do todo. Perceber o fio condutor que irmana todos os saberes (ou muitos deles) e estabelecer analogias e relações. Com isso as tendências ficam mais visíveis.

A meu ver o futuro pertence àqueles que tendem a ser polímatos(*) especialistas. Pode parecer contraditório, mas ao observarmos a história veremos que esta nos brindou com gênios que deram contribuições significativas em sua especialidade (descobriram leis, princípios, inventaram máquinas, etc) e tinham conhecimentos de múltiplas disciplinas, como Leonardo da Vinci, Blaise Pascal e Von Neumann. Eles viam o princípio comum dos múltiplos fenômenos - e a partir daí ficava mais fácil desenvolver-se em sua especialidade, indo à fundo em suas descobertas ou inventos.

Esse artigo dá uma ideia da ideia que quero passar:
https://medium.com/@ztrana/the-expert-generalist-why-the-future-belongs-to-polymaths-46b0e9edc7bc 

Eu acredito que os docentes de educação profissional tem o desafio (e ousadia) de mostrar aos alunos essas transformações que estão ocorrendo e - ao mesmo tempo - estimulá-los a refletir sobre isso. Criar cursos de extensão que tangenciem essas questões e ativem o senso crítico (ainda latente) nos alunos pode ser uma contribuição para torná-los mais orientados em suas carreiras e vidas. Outra alternativa possível é dar um histórico da disciplina/área que iremos lecionar. Por exemplo, nas minhas aulas iniciais de Desenho Técnico eu sempre mostro por que e como surgiu o desenho (como um todo e técnico), e qual o contexto sócio-econômico-tecnológico que viabilizou seu uso. Todas essas coisas são soluções que podem ser adotadas em curto prazo.

Jamais podemos nos esquecer de que o ser humano é íntegro. Ou seja, somos entes físicos (matéria), orgânicos (vida) e psíquicos (pensamento). Da mesma forma, os sistemas dos quais somos integrantes (biosfera, atmosfera, litosfera,...) e que criamos (econômicos, tecnológicos, políticos, educacionais,...) se relacionam. E isso é tanto mais visível quanto mais cada um deles se desenvolve, tornando o conjunto mais complexo. 

* Aquele que estudou ou tem conhecimento sobre muitos assuntos.


por LEONARDO LEITE OLIVA - quarta, 5 Set 2018, 10:16
Bom dia a todos(as).
X, quando você diz que o profissional deverá "acessar saberes cujas fronteiras epistemológicas será de difícil discernimento", será que isso não significa que estamos caminhando para uma síntese do conhecimento humano?
Pelos artigos e notícias (várias fontes) que leio tenho a impressão de que a humanidade está numa era cujo foco deve ser mais sistêmico do que técnico. Isso não significa de modo algum abandonar ou desvalorizar este último, mas de enquadrá-lo em algo maior (ainda não devidamente sistematizado). para alinhar sua aplicação valiosa com as reais necessidades humanas (social) - e mantê-lo dentro dos limites planetários (ambiental). 
Eu concordo. Teremos que possuir capacidade de "mergulhar" a fundo em conceitos de forma a observarmos mais a fundo os porquês e as tendências. Não basta saber fatos - é preciso criar valores.


por LEONARDO LEITE OLIVA - quinta, 6 Set 2018, 17:59
X e Y, 
As questões levantadas e desdobradas por vocês são de fato muito interessantes - e cruciais. Acredito que devemos adequar os nossos sistemas humanos (econômicos e políticos) a toda essa ciência e tecnologia, que cresce exponencialmente. 

A consciência humana não está sendo capaz de acompanhar o desenvolvimento do intelecto humano, gerando um descompasso enorme entre ética e tecnologia. Entre fins e meios. Entre sistemas tecnológicos e sistemas humanos (economia/política). E isso acaba nos tornando servos da tecnologia. O ponto é usar o progresso tecnológico a nosso favor. Ser mestre de nossos métodos, ferramentas e teorias, usando-os a favor do desenvolvimento humano pleno e da preservação ambiental. 

Recentemente entrei em contato com as ideias (e ideal) de um projetista industrial, engenheiro social e inventor norte-americano (falecido recentemente) chamado Jacque Fresco. Suas ideias e projeto de civilização levou ao início do Projeto Vênus*, em 1970. Concordando ou não, ele dá um diagnóstico coerente e sincero da realidade humana dentro do paradigma atual - e propõe um rearranjo da organização humana, abraçando toda tecnologia e ciência existente para usá-lá a favor do verdadeiro desenvolvimento.

* Obs: Não faço parte do projeto. Apenas achei muito interessante a proposta.


por LEONARDO LEITE OLIVA - domingo, 9 Set 2018, 08:59
Bom dia a todos(as).
X, eu também vejo os docentes como transformadores de dados em conhecimento. Devemos buscar e usar as informações pertinentes para transformá-las em conhecimento, mostrando aos alunos, dentro do possível, como se dá esse processo, para que eles sejam igualmente capazes de fazê-lo. O objetivo é estimulá-los a exercitar a capacidade de reflexão e pensamento. E percebi que isso pode ser feito em qualquer disciplina. 

Mas além de gerar conhecimento, precisamos apontar para a sabedoria. Sempre deixar uma dúvida que cabe ao próprio aluno responder para si mesmo. Mostrar que a última solução não foi atingida - e que não somos nós que a possuímos em sentido absoluto.

Acredito também que deveríamos ser conduzidos não apenas pela economia, mas acima de tudo pelas questões humanas e ecológicas. Ou melhor: poderíamos pautar a educação pela economia se esta se alinhasse de forma harmônica com o desenvolvimento humano (cultura, diversidade, saúde, direitos humanos, acesso a bens básicos, lazer, etc) e o meio ambiente (do qual toda vida depende). Porque é o objetivo central da economia.

Num de seus numerosos artigos Donella Meadows (1941-2001) fala sobre meios intermediários e finais, e fins intermediários e finais da vida:

http://donellameadows.org/archives/harvesting-one-hundredfold-key-concepts-and-case-studies-in-environmental-education/

Através de um diagrama simples ela revela o que é cada um e como eles se relacionam, demonstrando que existe algo além dos fins intermediários (saúde, cultura, transporte, educação, etc), que ~são justamente os fins últimos da vida (felicidade, iluminação, paz). Entre os meios intermediários (minérios, energia, diversidade genética, etc) e meios finais (capital, trabalho, , energia e materiais processados), o papel é da ciência e tecnologia; entre estes e os fins intermediários o papel passa a ser da política e da economia. E entre estes e os fins últimos o papel é da ética, da filosofia e da teologia (em seu sentido mais amplo, não partidário). O ponto é que as transformações tecnológicas devem ser usadas como "servas" de algo maior. E que cada grande ramo do saber tem seu papel e não deve subjugar o outro. 

No processo de elaboração que vai desde a matéria bruta até a realização humana, todos os saberes tem seu papel, enquadrados na hierarquia cósmica. E a educação lida com cada uma dessas etapas. Cabe a ela mostrar essa realidade.

Você levantou um ponto muito interessante João:
"Outro grande desafio é como avaliar de modo justo o desempenho de pessoas singulares e dotadas de dinâmicas mentais específicas frente a ementas tradicionais, por vezes, engessadas e desalinhadas com o momento."

De fato vez ou outra (rarissimamente) nos deparamos com pessoas fora da normalidade que nosso subconsciente tende a taxar de anormais. Mas nesse enquadramento tende-se a pensar o anormal como um subnormal - ou seja, alguém a ser retificado para a "normalidade", isto é, a média do pensamento/sentimento humano. Isso de fato pode ser verdade em muitos casos. Mas existem anormalidades para além do concebível: pode-se tratar de casos supernormais (como você bem aponta), que seriam exemplos para nós - verdadeiras "antecipações biológicas", no dizer de Pietro Ubaldi (1886-1972). Avaliar algo que (convenhamos) pode estar acima do nosso concebível se torna uma tarefa difícil, pois trata-se de uma inteligência que por vezes vai aquém de nossas premissas e além de nossas finalidades. 

Nós educadores(as) também precisamos acompanhar o ritmo evolutivo da vida. Por este ser vertiginoso, nossa tarefa é titânica. Não apenas um esforço incessante de atualização cultural e refinamento intelectual, mas igualmente uma sensibilização interior. Para nos conduzirmos diante do inesperado (os casos excepcionais), sabendo melhor lidar com eles. 

Nesse aspecto acho muito boa sua iniciativa:
"Tenho trabalhado no sentido de estimular aos alunos a participarem intensamente nos debates em sala de aula, bem como a realização de pesquisas para contrapor visões críticas sobre os temas abordados. No tocante a avaliação, procuro trabalhar com instrumentos múltiplos, enfatizando trabalhos autorais em grupo e participação em aula, além das tradicionais provas dissertativas."
Abraços.


por LEONARDO LEITE OLIVA - quinta, 20 Set 2018, 00:20
Boa noite a todos(as).

X, minha linha de pensamento (e sentimentos) também apontam para essas questões. Essa perspectiva global e profunda deve ser internalizada por todos - a começar por nós, educadores, responsáveis por adquirir, transmitir, trocar e elaborar conhecimentos a todo momento. 

Da mesma forma que não é possível negar a natureza do progresso tecnológico, é indispensável percebermos que a eficiência do mesmo só será eficaz e efetiva se os arranjos coletivos humanos conseguirem usá-lo do melhor modo possível, para todos. Deve haver eficiência político-econômica para que a eficiência científico-tecnológica não seja desperdiçada. Caso contrário gera-se ineficiência (desperdício) geral, que se traduz em guerras, conflitos, sanções, crises, desentendimentos, acidentes, pobreza, entre outros males. Isso a meu ver implica em sermos capazes de estabelecer uma base filosófica e moral em grau mínimo, aproximando o pensar do dizer - e o dizer do fazer. 

Como professor eu começo a perceber que o mais importante não é a capacidade argumentativa (apesar de importante), mas a intensidade com a qual o docente transmite um conceito, uma teoria, uma ideia ou uma técnica. E a busca incessante por um modelo mental mais condizente com a realidade. Ser capaz de desconstruir e reconstruir uma mentalidade é o dinamismo que tanto precisamos. Alguns alunos percebem isso e passam a ter mais gosto pelo ensino quando lhes são apresentadas visões mais amplas, que não negam as suas, mas englobam-as numa ordem maior, capaz de lidar harmonicamente com a complexidade do mundo contemporâneo. 

Já que tocamos em alguns temas que ganham relevância nos meios de ensino, queria deixar aqui uma entrevista com o Professor Luiz Marques, da Unicamp, no programa Quem Somos Nós?


Não trata diretamente de educação, mas os temas abordados deveriam ser pervasivos nas escolas, universidades, comunidades e mídia: história, meio ambiente e instituições. São 80 min de conversa  capaz de suscitar pensamentos, diálogos e atitudes - para nós, docentes, introduzirmos, cada qual a seu tempo e de sua forma, na escola. 

Fica a sugestão.

Atividade 5.2 - Fórum Avaliativo – Parte II (Disciplina 1)

As unidades pertencentes à Parte II são voltadas para o estudo sobre o jovem do século XXI e a importância de sua formação profissional. Essa geração, chamada de “millenium”, terá sua população com uma vida economicamente ativa muito além dos 60 anos de idade, portanto, devem pensar em sua vida no planeta dentro de uma perspectiva de altíssima evolução tecnológica e de um desenvolvimento sustentável.
O entendimento de desenvolvimento sustentável como sendo aquele fundamentado no tripé sociedadetecnologia e ambiente é o parâmetro que deve referenciar os objetivos da educação profissional. Mas, será que estamos caminhando na direção do progresso técnico, e de um crescimento econômico pelo uso de novas tecnologias, economizando matéria e energia, como pressupõem as diretrizes para um desenvolvimento sustentável? Segundo Henri Acselrad:
“...o que nos interessa é combater a desigualdade social e ambiental e, certamente, que as políticas em curso no mundo, nas últimas décadas, não só não deram conta disso como aprofundaram seus problemas...””
Após refletir sobre os conceitos acima, poste seu comentário sobre a seguinte questão:
Qual o papel do professor e da escola técnica nas questões ligadas à formação profissional do jovem do século XXI e à necessidade da criação de um futuro sustentável?
Acesse o fórum com frequência para poder dar continuidade na conversa sobre o tema com seus colegas


por LEONARDO LEITE OLIVA - segunda, 22 Out 2018, 14:37
Boa tarde a todos(as).

De fato, precisamos colocar em pauta um elenco de questões-mor. Cada uma dessas questões deve trazer de forma clara as relações (explícitas e implícitas) entre as principais vertentes da vida humana - sem as quais é impossível desenvolver as potencialidades presentes em cada criatura humana. A meu ver essas vertentes são: saúde (englobando questão do sistema de saúde, agricultura, nutrição, jornada de trabalho, urbanismo e cultura, entre outros); educação (sistema público e privado, propósito das escolas, currículo, relação com ciência e tecnologia, cultura e desenvolvimento); moradia (saneamento, rede elétrica, urbanismo); transporte (urbanismo, indústria, cultura); e meio-ambiente (biosfera, litosfera, atmosfera, agricultura, saúde). Cada uma se relaciona com outra, de modo que mexer localmente implica em efeitos de 1ª ou 2ª ordem em outras. Quem tem grande poder de decisão deve se lembrar disso.

O que estabelece a relação entre ciência e tecnologia (ciências "duras" e engenharias) e a aquisição dessas vertentes é justamente o sistema econômico e político. Enquanto a primeira transforma matéria bruta e uma forma de energia em produtos processados e energia para fins humanos, a segunda deve viabilizar que todos os seres humanos tenham acesso aos recursos. Para isso deve-se criar trabalhos socialmente cooperativos e individualmente evolutivos, de acordo com as particularidades de cada ser, além de um organismo coletivo (Estado) que possa manejar o capital para fins de investimento social (ex: saúde, segurança, educação, previdência) e de longo prazo (ex: pesquisa de ponta, infraestrutura). 

O funcionamento virtuoso do Estado depende da capilaridade da sociedade no mesmo, que deve controlá-lo e melhorá-lo através de mecanismos democráticos. Para controlar de forma eficaz, a democracia deve ser sempre aprofundada. É possível aumentar o peso da democracia direta, colocando - por exemplo - o povo para decidir questões centrais que estejam diretamente relacionadas com sua vida, através de referendos e plebiscitos [1].

É importante lembrar o que (muitos dos) grandes meios de comunicação omitem ou pouco expõem: quem gera a riqueza é a sociedade (trabalho), através do meio-ambiente (recursos essenciais)
As corporações tem a função de organizar a produção de bens e serviços, além de aglutinar os ganhos do trabalho, gerando capital, cuja função é, a meu ver:
(a) remunerar quem produz de forma apropriada, cumprindo a legislação; 
(b) investir em tecnologias mais sustentáveis que melhorem a qualidade de vida, em geral, e ofendam menos a natureza; 
(c) pagar tributos para que o Estado tenha meios de articular os programas estratégicos (ex: espacial, energia) e garantir o cumprimento das leis e viabilizar o progresso da sociedade. 
Em última instância poder-se-ia manter o restante para emergências futuras ou pagar os acionistas. Se estes vem em primeiro, coloca-se em risco o tripé remuneração-tributação-investimento.

Conforme Luiz Marques lembra em entrevista [2], o dilema contemporâneo é criar uma governança global capaz de controlar o sistema financeiro globalizado
Se um Estado razoavelmente democrático - isto é, que reproduza um comportamento minimamente em compasso com a vontade da sociedade que diz representar - inicie um projeto para a construção de uma (conforme a X disse): "perspectiva de desenvolvimento econômico articulada à perspectiva de desenvolvimento social e preservação ambiental", 
É necessário que o mercado esteja alinhado com esses interesses. 
Caso contrário ele irá realocar o capital para regiões que lhe sejam mais vantajosas. O único meio de contê-lo seria criar um organismo supra-nacional, que tenha o poder de controle efetivo. István Mészáros está de acordo com essa visão [3]. Inclusive afirma que o sistema capitalista "não sobreviveria uma semana sequer sem o envolvimento ativo do Estado" [idem]. Quanto ao dito cujo funcionar ou não do modo que a sociedade aspira, essa é outra questão - que não irei aprofundar aqui.

Com a avalanche de informações providenciadas pelas tecnologias, a questão central se torna filtrá-las e usá-las corretamente. Para isso deve-se valorizar as atividades individuais (não individualistas). Somente a reflexão poderá imprimir um senso de orientação no ser humano. A cultura hodierna parece desvalorizar indivíduos que se desconectem do meio. As explicações para "trazê-lo de volta" são: (a) ele está medo; (b) ou é arrogante; (c) ou tem ódio. Mas raramente se cogitou a possibilidade do indivíduo estar concentrado para compreender algo. Ou gerar uma nova ideia, linha de pensamento. 
A cultura das novidades (irrelevantes) intermitentes e rumorosas gera a superficialidade do pensamento e a insensibilidade dos afetos. 

Para se contrapor a isso - como o Márcio destacou muito bem - devemos resgatar a nossa capacidade de ir ao conceito das palavras para não ficarmos presos a disputas superficiais. 
"Em relação ao conceito de sustentabilidade, numa primeira consulta, o dicionário Aurélio explica o termo como “Qualidade de sustentável” prosseguimos na pesquisa, “sustentável: que se pode sustentar” e, por sustentar, entende “segurar por baixo, sustentar, resistir” mas também, “prover víveres ou munição, amparar, animar, proteger, estimular” (FERREIRA, 1986, p. 1635)." (Y)

Eu acredito que nosso tempo pede por indivíduos com uma ousadia inteligente [4]. Nós professores(as) estamos na linha de frente, porque a nossa atitude e discurso impacta as pessoas. Como a Aline bem lembrou:
"Para um futuro sustentável temos que ter profissionais que arrisquem, mergulhem no desconhecido, enfrentem equações convencionais de negócios em busca da sustentabilidade." (grifos meus)

Nos efeitos todos concordamos. 
Nas causas começamos a nos dividir. 

Trata-se (a meu ver) da crise da razão [5]. Ela não será resolvida meramente na base da argumentação (razão), mas com um quid que o intelecto ainda não é capaz de desvendar. Thomaz Wood Jr. aponta para esse dilema num artigo seu, quando afirma:
"Talvez seja, então, o caso de nos vermos menos como cientistas, permanentemente em busca do conhecimento e da verdade, e mais como advogados, usando o melhor de nossos recursos intelectuais para amealhar argumentos que tornem nosso discurso mais convincente. Então, teremos de abandonar a construção de uma utopia povoada por cidadãos cientistas e aceitar a inevitabilidade de uma utopia (ou será uma distopia?) de cidadãos advogados. Acredito, argumento, logo existo. " [6]

Precisamos ser críticos sem deixar de nos deixar conduzir por afetos elevados.

Somente a fusão da intuição sintética com a razão analítica poderá dar fim ao dualismo - que esboroa nossa capacidade de transformação.

Referências:
[1] https://www.politize.com.br/plebiscito-e-referendo-qual-a-diferenca/
[2] https://www.youtube.com/watch?v=P9opJcw2CtA
[3] https://www.youtube.com/watch?v=6Lh5ZSNo1Hc
[4] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html
[5] https://www.youtube.com/watch?v=-IFw8QbZl5k
[6] https://www.facebook.com/CartaCapital/posts/para-mercier-e-sperber-os-humanos-desenvolveram-a-raz%C3%A3o-como-uma-arma-para-vence/1465452000142876/


por LEONARDO LEITE OLIVA - quarta, 17 Out 2018, 20:54
X, acho muito bom você se sensibilizar com essas questões dentro do seu contexto e mostrar aos alunos um filme que não é praxe na área de propaganda e marketing. Parabéns!

Na minha concepção essa área de fato deve ter suas atividades limitadas pelas questões de sustentabilidade e ética. Pode-se propagandear um produto, um serviço ou modo de vida contanto que isso não cause efeitos deletérios (de 1ª ou 2ª ordem) para a vida humana, em seu sentido mais lato, como saúde, relações, exposição a riscos desnecessários, entre outros. E igualmente, que respeite todas as vertentes ambientais. 

Acredito que um "marketing avançado" seja aquele que faça um questionamento. Para isso as áreas da empresa devem estar integradas: os interesses devem ser os mesmos (produção, propaganda, distribuição,...). Ou seja, o foco é fornecer o produto mais eficiente (do ponto de vista de desenvolvimento, produção, operação,  manutenção e descarte), cuja confiabilidade e durabilidade sejam maximizadas - limitadas pelo custo final. E que o custo menor ao consumidor não se dê às custas de cortes em investimentos e mão-de-obra. É óbvio que para isso deve-se ter uma lógica econômica que preze - acima de tudo - o ser humano e respeite o meio ambiente. Isto é, colocar a ciência e tecnologia para trabalhar inteiramente a serviço da humanidade, buscando a eficiência e não a potência. 

O filme "História das Coisas" é de fato muito bom a título de iniciação no tema. Parabéns a vocês duas! (X, Y)

Gostaria de sugerir outro vídeo (mais informal porém dinâmico): 
Consumismo - Uma história mal contada. 

Acho especialmente interessante apresentá-lo em cursos de propaganda e marketing. Pois trata da questão psicológica, muito utilizada pela área para conseguir capturar o (futuro) consumidor através da inserção de imagens, sons, ritmos, frases, etc no subconsciente. É óbvio que isso entra em conflito com o modus operandi da área. Mas trata-se de se colocar a serviço dos bens mais precisos: o desenvolvimento pleno do indivíduo e o bem-estar relativo da sociedade - além do cuidado com a natureza. 

Deve-se buscar informar os outros - jamais induzir o consumo conspícuo. 
A competitividade não é perdida sendo-se honesto. Ela é realçada num plano mais sutil. Compete-se consigo mesmo, não com os outros, para cooperar com o a vida - jamais competir com ela. 

Mas creio que essas mudanças (no marketing) devem vir de fora, a partir de uma sociedade mais consciente, que seja capaz de balizar as vontades do mercado e colocá-las à serviço de interesses elevados: mais saúde, afetos, educação, cultura, segurança, relações saudáveis, tempo livre, ambientes de reflexão, possibilidades... Os meios podem incluir o lucro - mas jamais ele por si só. 

A conscientização de uma massa crítica deve gerar a pressão virtuosa, pacífica, que tomará as rédeas dos processos produtivos, domando-os e conquistando novos horizontes.

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