segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Compilação de visões (D7)

Atividade 2.2 – Fórum Avaliativo – Questões norteadoras do processo de elaboração, desenvolvimento e avaliação dos impactos do currículo da educação profissional

Algumas questões sobre currículo, lançadas no início do século passado, ainda são objeto de debate, tanto no meio acadêmico quanto nos meios político e econômico. Discuta com seus colegas as seguintes questões:
  1. Como conciliar as principais fontes do conhecimento a ser ensinado: o conhecimento acadêmico, as disciplinas científicas e os saberes profissionais do mundo ocupacional?
  2. O que deve estar no centro do ensino: os saberes “objetivos” do conhecimento organizado ou as percepções e as vivências subjetivas dos indivíduos?
  3. Afinal, qual deve ser a finalidade da educação: ajustar os indivíduos à sociedade, tal como ela se encontra, ou prepará-los para transformá-la?
  4. Como avaliar a eficácia do cumprimento curricular?
Reflita sobre essas questões e poste seus comentários em nosso fórum. Não se esqueça de acessar o fórum com frequência, para poder dar continuidade na conversa com seus colegas sobre o tema!


por LEONARDO LEITE OLIVA - quinta, 1 Ago 2019, 10:27
 
Bom dia a todos(as).

A educação tem um caráter duplo: ela deve simultaneamente adequar o indivíduo ao mundo presente e capacitá-lo a transformar esse mundo da forma mais harmônica possível, a partir de suas inclinações. Todos podem trabalhar em prol do progresso (em seu sentido mais pleno e puro). Mas cada um o fará a seu modo. Alguns como cientistas; outros como inventores; outros como oradores; outros como professores; outros como grandes estadistas; outros como pensadores; outros ainda como brilhante artistas; outros como aqueles que aliviam o sofrimento ; e por ai vai. A variedade de tipos é enorme.
O processo de aprendizagem deve colocar em pauta as seguintes perguntas:

1) Por que o mundo é como é?
2) Como ele funciona?
3) Quais são as micro e macro tendências? Como elas se relacionam?
4) Qual a nossa origem e o nosso destino?
5) Como se dá o processo evolutivo?

Em (1) devemos remontar às origens: a Física moderna nos explica sobre a gênese do espaço-tempo. A Biologia nos expõe à gênese da vida orgânica e seu desdobramento. A História revela a trajetória de nossa espécie, com o desenvolvimento do psiquismo num nível completamente novo, que se destaca violentamente daquele das outras espécies.

Em (2) temos os processos cognitivos. Relações de causa-efeito. Leis do mundo infra-humano e humano. Com a explicação dos mecanismos de funcionamento (leis, normas, costumes, etc.) passamos a compreender como foram elaborados e por que. Percebe-se que eles nascem, crescem, alteram-se e morrem, para dar lugar a outros mecanismos.

Em (3) podemos aproveitar para reconhecer padrões - formados conscientemente ou não. A partir de experiências pretéritas é possível imaginar desdobramentos futuros. Aí é imprescindível observar que o caos do muito pequeno pode se revelar uma grande ordem - se vista de um plano mais elevado. Isso é percebido na visão espacial, quando nos aproximamos muito de um belo quadro, que parece cheio de cores destoantes, mas que se revela belo quando visto em seu todo; ou quando só percebemos fragmentos de correntes de pensamento, que nos parecem sem sentido. 

Em (4) a educação tem a oportunidade de apresentar-se em sua essência: humilde e dinâmica. Deve esclarecer que nada pode ser negado completamente. Resta muito a ser desvendado pela mente e pelo coração. E até superar a própria forma mental, esboçando outras formas de realizar pesquisa dos fenômenos. Nisso a Física quântica já avançou: o observador deve estar na mesma faixa vibracional do fenômeno para compreendê-lo em sua plenitude. Uma fusão de alma individual com fenômeno, destruindo momentaneamente o ego enclausurante em prol de uma (re)descoberta. 

Re-descoberta? Por quê? 

A partir daí tem-se a oportunidade de discorrer sobre esse tema em termos metafísicos, relacionando religião, filosofia e ciência - o tripé do pensamento e sentimento que anima todo ser humano. 

Huberto Rohden deixa claro a função do educador:
"O educador é um “edutor”, alguém que “eduz” do seu educando o que nele dormita de melhor e mais puro. Educar não é injetar, impingir, mas sim eduzir e desenvolver o que já existe na alma do educando, assim como a luz solar desperta e desenvolve na semente a planta que nela existe potencialmente."

O educador desperta o que está em estado latente. Ele é catalisador. Quem deve atravessar a porta é o próprio aluno, sujeito do processo individual de realização universal. 

Conforme a X afirmou, o envolvimento do estudante com o processo evolutivo humano tende a torná-lo um sujeito de valor. 
"Se formos capazes de fazer nossos alunos se sentirem parte desse processo, estaremos aptos a tornar a educação um processo de transformação e não apenas de formação."

A partir do momento em que o aluno percebe o que ele é, diz: "Agora eu percebo que posso transformar o meu entorno!" E com isso ganha ímpeto, regenerando suas forças e orientando seus sentimentos. Inicia-se a pensar mais profundamente, abarcando horizontes de tempo mais vastos e implicações mais profundas.

por LEONARDO LEITE OLIVA - segunda, 5 Ago 2019, 13:28
 
Bom dia X. 
Muito interessante essas observações. 
Um ponto importante é de conhecermos o conjunto de alunos. Partir de suas subjetividades para saber em que sequência abordar os conteúdos; como apresentá-los (e em que ritmo); quais os tipos de relações a serem estabelecidas (entre saberes, entre o saber e a prática, entre casos reais e soluções envolvendo o conhecimento ensinado, etc.); como elaborar o currículo; entre outras questões.

Quanto ao vídeo, ele mostra alguns pontos interessantes que dificilmente nós - presos nos automatismos do dia-a-dia - paramos para refletir. Um deles é a felicidade como fonte do sucesso (e não o contrário). 

A felicidade é o estado de uma pessoa num dado momento da vida. O sucesso é a interpretação subjetiva do indivíduo de suas realizações. Mas essa interpretação é fortemente influenciada pelo sistema no qual vive e pela sociedade com a qual se relaciona (de alguma forma). Isso torna difícil trilhar um caminho claro, já que o "nosso" sucesso será uma mescla de visões de mundo que no íntimo não estão ressoando em nossa essência.
De forma simplificada podemos dizer que:

Felicidade está para ser.
Sucesso está para fazer.

O nosso fazer (obras concretas) deve ser um transbordamento do nosso ser (essência). É muito difícil construirmos (uma carreira, uma vida pessoal, de) sucesso sem um embasamento atitudinal que dê força e orientação às nossas ações. 

Podemos ainda encarar como fontes de cada um a maturação interior (conquista da felicidade) e a atuação social (ter sucesso), que visa superar uma forma de vida. 

A questão da gratidão é fascinante. Ela remonta da aurora da história, em que várias religiões e filosofias se debruçaram em cima da questão da felicidade. 
Acredito que esse tópico possa estar relacionado a questões profundas. Podemos perscrutar o terreno das religiões no quesito 'gratidão', que é um tipo de oração. Fundamentalmente existem três tipos de orações: 

a) para pedir; 
b) para agradecer;
c) para louvar.

Pedir está para o ato mais individualista, focado no curto prazo e portanto em interesses que não trarão uma satisfação substancial e efetiva. 

Agradecer, ou ser grato, revela um estado mais sublimado. Pois a pessoa observa sua vida, vendo à fundo o que ela possui e é, e percebe que conquistou uma série de características positivas e posição (que podem ser muito melhoradas). Sente-se uma paz inigualável quando esse sentimento de gratidão, às vezes executado em forma de reverenciamento íntimo, transmudando o olhar, a voz, o ânimo em executar as atividades banais do dia-a-dia, se manifesta.

Louvar seria uma transcendência da barreira da gratidão. Ser grato ainda implica em olhar para sua própria vida e ver num nível mais intangível, de longo prazo e com sensibilidade refinada, o que você possui que lhe seja realmente benéfico. Mas a partir do momento em que louvamos (as leis do universo, um princípio diretor universal, a unidade em cada diversidade, etc.), rasgamos as barreiras do ego para adentrar no princípio universal que irmana todos fenômenos e dá tom ao processo evolutivo, em todos os níveis (de complexidade) e escalas (espacial, temporal, consciencial, intuitiva,...). O ser não se identifica mais com o nome, título, memória ou história. Ele é o próprio fenômeno, o universo, o devenir incessante da forma. Sua vida pode estar destroçada sob todas as perspectivas, mas sua unidade com o Todo lhe dá uma tranquilidade. Torna-se misterioso e irresistível.  Um misto de temor e fascinação toma conta de quem observa de longe, numa distância espacial pequena - mas a anos-luz em termos conceptuais...

As três formas de interagirmos com o mundo (exterior e interior) são válidas. É preciso que cada um inicie no nível mais compatível com sua natureza. 
Se só se sabe pedir, que se peça com um mínimo de bom senso e apenas o necessário;

Se já se aprendeu a agradecer, agradeça as coisas realmente valorosas, que são imperecíveis e fulcro de novas virtudes;

Quando se atinge a habilidade de louvar, percebe-se que nada mais é importante - exceto estar conectado ao princípio universal. Logo, tudo é importante...Mas com um novo olhar. O modo de agir é discreto e profundo. Potente e orientado. Lento mas certo.

Atividade 6.2 – Fórum Avaliativo – Planejamento Docente

Como vimos no decorrer desta disciplina, “o planejamento é um processo e, como tal, é ativo e dinâmico, envolvendo operações mentais como analisar, prever, selecionar, definir, estruturar e organizar. Planejar, portanto, é refletir, é prever, é criar, é agir.” (HAIDT, 2000). 
Com base nos textos estudados nesta unidade e na sua experiência docente, discuta neste fórum sobre:
  1. A importância do planejamento didático no processo de ensino e aprendizagem.
  2. O desafio posto ao trabalho docente no planejamento e no desenvolvimento de projetos interdisciplinares.
Não se esqueça de acessar o fórum com frequência, para poder dar continuidade na conversa com seus colegas sobre o tema!


por LEONARDO LEITE OLIVA - segunda, 2 Set 2019, 11:42
 
O planejamento acompanha a humanidade desde a aurora da História. Trata-se de uma prática que visa garantir uma certa tranquilidade ao longo de períodos futuros baseado em planos feitos no passado e sendo implementados no presente. É construir, em linhas gerais, um roteiro (script) a ser seguido por todos os membros envolvidos, orientando de forma normativa um processo cujo produto final deve ser um sistema ou aprendizado. 

"considera-se o planejamento a previsão metódica de uma ação a ser desencadeada e a racionalização dos meios para atingir os fins." (AGASI, L.C.P., 2018) (grifos meus)

Prever envolve traçar possibilidades (acidentes, gargalos, conflitos, ou mesmo eventos benéficos inesperados). Assim, a capacidade de fazer projeções no tempo é de grande valia. A construção de modelos simples - e mesmo simulações - pode ajudar a definir o caminho a ser seguido. 
Racionalizar os meios significa sistematizá-los a fim de tornar o processo o mais automático possível, diminuindo a duração e frequência de atividades repetitivas. E estabelecendo uma linguagem comum que permita as pessoas se comunicarem com menos ambiguidade. 

Igualmente, o processo de reflexão é fundamental para o planejamento adequado. Segundo Saviani (1987, p.24), uma reflexão filosófica envolve três características:

• "radical" - o que significa buscar a raiz do problema;
• "rigorosa" - na medida em que faz uso do método científico;
• "de conjunto" - pois exige visão da totalidade na qual o fenômeno aparece. 

Trata-se portanto de ver em profundidade, nas causas, um determinado problema, cuja solução deve ser transformada em objetivo-mor efetivo, não-perecível à curto prazo e que não atropele nenhum princípio vital, humano e de equilíbrio do meio. 

O plano de ensino deve ser (re)avaliado constantemente, à medida que é executado e (re)elaborado. Logo, percebe-se a característica cíclica-ascensional-oscilatória desse objeto tão peculiar para o processo de ensino-aprendizagem.

Cíclica porque as atividades sempre são retomadas em sua essência;
Ascensional porque o objetivo é sempre melhorar o que se tem, causando menos desgaste e mais resultados, com integração cada vez maior de todos;
Oscilatória porque ninguém possui uma receita pronta. Todas tentativas trazem em germe a possibilidade de erro, e portanto pode-se terminar um ciclo num patamar igual ou mais rebaixado do que aquele do qual se partiu. Mas o acúmulo de erros potencializa a criatividade e a vontade, tornando cada vez maior a garantia de conquistas futuras, dando um tom ascensional ao processo- se observado a longo prazo.

Trata-se de fenômeno universal muito bem descrito pelo Prof. Pietro Ubaldi, que fala sobre a Lei da Complementariedade, cujos princípios podemos encontrar em sua Obra:

"O movimento que existe no universo não é jamais um deslocamento unilateral, efetivo e definitivo, mas é a metade de um ciclo que retorna ao ponto de partida, após haver cumprido determinado devenir, uma vibração de ida e volta, completa em sua contraparte inversa e complementar."
A Grande Síntese, Cap. 8

Ou seja: para vencer é preciso antes fracassar. Geralmente um número grande de vezes. É esse fracasso que forma o substrato da vitória. Um plano de ensino, para sobreviver e não ser descartado, deve estar em mutação constante, navegando na onda de transformismo ditada pelos afetos, novas técnicas, teorias, métodos e configurações sociais. Daí a necessidade de refletir:

"Segundo SAVIANI (1987, p. 23), "a palavra reflexão vem do verbo latino 'reflectire' que significa 'voltar atrás'. É, pois um (re)pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau." 
(AGASI, L.C.P., 2018)

Esse 'voltar atrás' dá o tom oscilatório do fenômeno.
Deve-se refazer os pontos falhos, mas jamais alterar aqueles já fortificados, que se tornaram consolidados como método. O que se consolida se torna clássico. Mas para melhorar é preciso ir além dos métodos consolidados. Criar o novo, fazer o inesperado, pode passar pela estrada segura dos conhecimentos clássicos - mas exige um quid a mais. Uma verdade ainda em estado fluídico. Não materializada. Incompreendida em sua generalidade. Sem contornos definidos e objeto de profundas perquirições.

Essas (e outras) questões devem ser apresentadas aos alunos antes de qualquer empreitada interdisciplinar.

por LEONARDO LEITE OLIVA - domingo, 8 Set 2019, 10:52
 
Bom dia a todos(as).
X, esse vídeo é realmente esclarecedor ao deixar definido de forma objetiva o significado da multi, inter e transdisciplinaridade. Muito interessante todos os temas tratados pelo vídeo e por ti. Sinto por vezes que desejamos apontar para regiões mais altas do pensamento, e acabamos por despejar questões interessantes, de profundidade oceânica, capazes de resolver dilemas do atual momento histórico.

Multidisciplinaridade - múltiplas disciplinas, mas compartimentadas.
Interdisciplinaridade - disciplinas múltiplas, que se relacionam em nível de superfície.
Transdisciplinaridade - disciplinas múltiplas, que se relacionam em profundidade.

Trata-se de uma progressão de consciência. Começamos, como civilização, desenvolvendo as múltiplas áreas do conhecimento para na sequência inciarmos ensaios de unificação. Essa unificação começa com relações à nível simples, em que a essência de cada departamento permanece intocada - mas seus efeitos e ferramentas e métodos podem ser imitados por outros campos.

Após a gênese dos princípios que iriam nortear todo o desenvolvimento do pensamento científico e filosófico (Séc. XVI em diante), na Grécia Antiga, começam a surgir mentes que aprofundam cada área do conhecimento. Nasce a Física, a Química, a Medicina, a Psicologia, a Sociologia, a Genética, a Economia, entre outras. A especialização é a palavra de ordem. Nos fascinamos com as descobertas que o método da especialização nos trouxe. Vencia por ora o pensamento materialista calcado na racionalidade pura. Análise e utilitarismo pareciam ser a última palavra e solução de todos problemas da existência humana. No entanto as contradições aparecem...

A primeira metade do século XX viu uma explosão na Física. Nasce a relatividade, a física quântica e a teoria da gênese do espaço-tempo (Big-Bang). Na Biologia descobre-se a estrutura do DNA e seu roteiro de coordenação. As experiências coletivas enriquecem a filosofia (ex.: Hannah Arendt) e demais departamentos humanos. Descobrimos que pouco (ou nada) sabemos. Nos vemos obrigados a retomar conceitos antigos sob um prisma diferente. Não há solução sem a fusão. Fusão de tudo e de todos. De teorias, de pessoas, de grupos, de estados nacionais, de formas de expressão, de almas...

Estamos diante de um fenômeno em que a evolução da sensibilidade humana é um reflexo da expansão da consciência. As gerações novas, tendo sedimentado todo o desenvolvimento multimilenar da espécie, e já com um pacote cultural sintético que resume - mesmo que de forma insuficiente e pobre - as grandes descobertas e métodos da ciência e do pensamento - conseguem sempre partir de um ponto mais alto. E com mais velocidade inicial. Isso se traduz num potencial de progressão maior.

Teilhard de Chardin (1881-1955) vislumbrou o advento da noosfera [1], uma esfera de pensamento (nous) que tende a se consolidar no planeta à medida que evoluímos em termos psíquicos. Trata-se de correntes de pensamento, cuja manifestação e consolidação a ciência ainda desconhece. Para criar essa esfera, me parece que iniciamos usando a tecnosfera como muleta. A internet seria um primeiro ensaio dessa construção humana, via tecnologias digitais e conhecimento da física moderna. Trata-se da construção de uma 'atmosfera' de pensamentos que permite a cada um 'capturar' um pensamento que paira no ar. Mas é preciso antes desenvolver a capacidade receptiva. Nesse campo a Física quântica poderá nos brindar com muitas descobertas interessantes aplicadas à questão de conexões humanas.

De fato, a humanidade começa a mudar seu comportamento devido a essa fusão de opiniões, sentimentos e ideias. Serio o aspecto de relação (inter), que tende a evoluir para ideias e sentimentos que se interpenetram (trans), criando uma verdadeira fusão de almas. Na fase inicial o fenômeno é caótico. Mas à medida que se adquire a dimensão do fenômeno, encaixando-o na fenomenologia universal, torna-se cada vez mais diretor do processo - ao invés de se ser arrastado por ele, à força. Desenvolvi uma breve visão do tema [2], relacionando-o com a Obra de Pietro Ubaldi (1886-1972).

Afirmo com segurança que essas descobertas no campo do pensamento acabarão desaguando no manancial dos grandes fenômenos místicos, abandonados há um bom tempo, e portanto ainda muito negados e mal interpretados pelo homem moderno, que abandonou métodos intuitivos por não ter maturação interior suficiente que possibilite a percepção dos resultados.

O advento da ciência moderna e do bem-estar afastou o ser humano de um fenômeno capaz de dar luz à questão da transdisciplinaridade. Atravessar e ser atravessado implica em deixar-se diluir no Todo. Implica fusão de almas. E para interpenetrar - na vida dos outros, nos fenômenos, na História - é preciso estar receptivo a algo maior que seu invólucro individual. Essa é uma descrição mais atualizada do fenômeno místico, brilhantemente descrito por Ubaldi, pois ele viveu-o:

"Para resolver o problema do conhecimento, é necessário atingir a universalidade do eu. Faz-se mister escancarar, mediante um ato de fé e de amor, mediante um senso de completa submissão, as portas da alma e projetar-se fora de si, para que o infinito nela penetre. Certamente, este é um comportamento novo na hodierna psicologia, contudo ele é necessário à consecução de resultados novos. Somente a identificação do eu com o fenômeno pode permitir a dilatação do primeiro até aos limites do segundo. Assim, quando o fenômeno se tornar o universo, a expansão do eu não terá limites, como não os tem a Divindade."
Ascese Mística, Cap. VI

Trata-se do maior fenômeno do universo, do qual agradeço profundamente a Ubaldi, que através desse resgate das questões mais intrigantes da humanidade - através de sua vivência e genialidade - me retirou de um lodaçal de pensamentos desconexos e sentimentos conflitantes.
Deixar que o infinito nos penetre significa nos abrirmos a novas experiências. Ter empatia é se fundir ao outro para perceber sua dor. Não é um fenômeno externo (simpatia), mas profundo.

As três (trans, inter e multi) disciplinaridades formam um organismo uno. Para haver relações (inter) entre algo e coisas, é necessário que hajam duas ou mais (multi). Para você penetrar no mistério de um fenômeno / personalidade (trans), é preciso antes sondar sua periferia. Como numa relação. Começamos por aproximações tímidas e seguras para, a partir do que se sabe com segurança, penetrarmos mais, desenvolvendo a relação. Uma relação que se torna cada vez mais íntima quanto mais unidade se sente em relação ao outro / ao fenômeno. Dessa forma podemos ver que transdisciplinaridade, interdisciplinaridade e multidisciplinaridade são uma só coisa, mas em níveis evolutivos diferentes (ver figura anexa), da mesma forma que espírito, energia e matéria são formas de manifestação diversas de uma mesma substância [4]. Em suma, o dualismo desse universo está contido num grande monismo, que o coordena magistralmente, guiando os sujeitos através de forças evolutivas. Forças que fatalmente irão nos levar a mais liberdade e felicidade.

Creio que a visão dos níveis de consciência do Prof. Ubaldi, através de uma palestra de Gilson Freire [5], pode dar luz a essa questão de mudança de paradigma.

Estamos rumo à uma unificação sem precedentes...

Referências:
[1] Noosfera. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfera >
[2] OLIVA, L.L. Da biosfera à noosfera. DIponsível em: <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/08/da-biosfera-noosfera_28.html>
[3] UBALDI, Pietro. Ascese Mística.
[4] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese.
[5] FREIRE, Gilson. XX Congresso Pietro Ubaldi: Rumo à Superconsciência.

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