segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Compilação de visões (D6)

Atividade 1.2 – Fórum Avaliativo – A afetividade em sala de aula

No texto A afetividade em sala de aula: As condições de ensino e a mediação do professor, de Sérgio Leite e Elvira Tassoni (https://www.fe.unicamp.br/alle/textos/SASL-AAfetividadeemSaladeAula.pdf), os autores abordam a importância da dimensão afetiva na gestão da sala de aula. Segundo os autores, para Wallon, a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar e a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional.
Considerando as leituras e vídeos apresentados na Unidade, conte-nos:
  • Como você dá início aos trabalhos pedagógicos com uma nova turma?
  • Quais as estratégias que você utiliza para conhecer os novos alunos?
  • Você estabelece um contrato didático com eles?
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por LEONARDO LEITE OLIVA - segunda, 17 Jun 2019, 13:43
 
Bom dia Monica e turma.

Antes de tudo gostaria de confessar que a ementa dessa disciplina muito me interessou: primeiro porque eu venho (desesperadamente) buscando formas mais inteligentes de avaliar, visando que o aluno enxergue esses eventos (ex.: provas, debates, apresentações) ou projetos ao longo do curso (ex.: trabalhos em grupo, seminários) não como obrigações mas sim como  uma oportunidade evolutiva para despertar potencialidades – cada um tem um vetor com maior poder de desenvolvimento máximo. E segundo pelo simples fato de que o meu sucesso como professor irá depender da minha capacidade de me relacionar de forma harmônica com o corpo coletivo de alunos que se apresenta diante de mim – durante e após os cursos. Esse segundo aspecto é o mais desafiador, pois implica em vencer tendências que se encontram amalgamadas no subconsciente, cuja força é incomensurável. Assim é preciso usar técnicas novas (introduzidas em cursos, ou observando a experiência dos outros) e me destruir-reconstruir constantemente. Trata-se de um trabalho de psique profunda.

Vamos às questões.

1.       Como você dá início aos trabalhos pedagógicos com uma nova turma?
Meus métodos vêm mudando ao longo do tempo. Fundamentalmente essas mudanças se dão devido às experiências que tive com turmas passadas.
Atualmente, na primeira aula, eu falo sobre o método de avaliação, as datas críticas, o objetivo da disciplina e a importância da mesma dentro do curso. Entrego um papel contendo a ementa e todas as informações pertinentes a cada um. Apresento-me brevemente e peço a cada aluno para falar um pouco sobre sua trajetória e suas expectativas: nome, idade, se tem uma formação anterior, se exerce ou exerceu atividade remunerada, quais seus interesses/inclinações. Assim a turma já tem uma possibilidade de se conhecer melhor – e vencer o medo da fala. 

Nos últimos dois semestres, com as Engenharias e Técnicos concomitantes/subsequentes, faço uma breve apresentação sobre temas relacionados ao mundo do trabalho. Procuro contextualizar o que será aprendido. Geralmente envolvo assuntos com os quais já trabalhei – ou tenho certo domínio e interesse. Dentre os assuntos posso citar: conceito de simulação e validação; últimas novidades e implicações da automação e inteligência artificial; ambientes colaborativos; evolução do conceito de produção; etc. Estou pensando em fazer isso para o Técnico Integrado ao Ensino Médio no próximo ano. Nesse caso seria necessário usar linguagem e recursos mais chamativos, para conseguir não apenas impressionar os sentidos e desafiar a mente, mas fazer ver o objetivo supremo de cada relativo (disciplina, método, propriedade, ferramenta, etc.). Isso não é fácil.

2.       Quais as estratégias que você utiliza para conhecer os novos alunos?
Conforme citado anteriormente, uma breve apresentação de cada um já possibilita um primeiro contato. O desafio é desenvolver isso ao longo do curso. E – especialmente – depois que ele termina, quando muitos não me verão mais em sala de aula.

3.       Você estabelece um contrato didático com eles?
Quando exponho meu método de avaliação sempre explico o porquê de adotar determinadas políticas. Mas percebo que é difícil fazer algumas turmas respeitarem esse contrato ao longo do curso. 

Eu venho aplicando na média um índice de Comportamento Coletivo (10% da média geral) na tentativa de manter um maior controle sobre a turma – deixa-la livre dentro de certos limites, sem os quais não é possível trabalhar de modo eficiente. Algumas turmas precisam disso mais do que outras, mas acredito que essa estratégia pode tornar-se uma ferramenta muito útil para aumentar a eficiência do curso na sala de aula - e fora dela.

O conceito é simples: cada aluno terá 1/10 de sua média definida pelo comportamento da turma como um todo. Ou seja: ele não tem controle sobre esse décimo, que é 'definido' depende do coletivo do qual faz parte. Assim, se a turma estiver saindo do caminho acordado (ex.: falar durante avaliações, ruído excessivo, desrespeito entre colegas ou professor, barulho durante explicações, etc.) essa parcela será zero. A ideia é que o(s) aluno(s) interessado(s) – que não são poucos – sentindo-se prejudicado(s), comece(m) a auxiliar o professor para melhorar o clima da sala de aula. Trata-se fundamentalmente de uma transferência de responsabilidade para cada um, de modo a jungir 10% da média da turma através de um índice de comportamento. 

Sempre deixo muito claro como funciona essa parcela da média, qual o meu objetivo e a essência do conceito (cheguei a falar de Hannah Arendt e sobre a perversidade da neutralidade [1], que serve como “ferramenta do diabo”). “Para que o mal se manifeste basta que os bons não façam nada.”, disse uma vez Albert Einstein

Eu venho insistindo nesse método porque acredito que, uma vez compreendido no âmago pelo grupo de alunos realmente interessados, ele tende a dar certo. Como resultado a relação com a turma será muito melhor, com aulas muito mais fluídas e absorção de conceitos, além de todos terem um ponto na média garantido. 

Até o momento não senti que o efeito foi conforme desejado. Em parte porque (talvez) esse termômetro deva ficar visível de tempos em tempos, mostrando ao aluno, na sua nota (a cada semana ou mês) que ele estará perdendo se sua turma não estiver cooperando minimamente para o bem-estar do curso – ou ganhando com essa cooperação. 

A relação entre o fator (que vai de zero a um) e a nota individual de cada um irá determinar se ele está em perda ou não. A ideia é mobilizar aqueles que mais es esforçam e são respeitosos, tornando-os coparticipes do processo evolutivo na educação.
A meu ver um aluno (na verdade, qualquer ser humano) deve apresentar três características fundamentais:

a)       Ser esforçado e dinâmico naquilo que se propõe estudar e fazer;
b)       Respeitar as regras estabelecidas e tratar o outro com respeito;
c)       Ser um sujeito de transformação do meio, atuando na esfera pública destemidamente para melhorar as condições sistêmicas de aprendizado.

A consequência de (a) será o desdobramento de certas inteligências. As consequências de (b) será um melhor aproveitamento de (a), além de mostrar a seriedade do aluno para aqueles mais sensíveis, em busca de uma parceria (de ensino ou afetiva) mais coerente e construtiva. O item (c) estaria vinculado ao índice proposto, sendo que as consequências seriam a transformação do ambiente de sala de aula através de uma aliança inédita entre alunos e professores.

Eu costumo dizer que não basta ser bonzinho e inteligente – isso é condição necessária, mas não suficiente.
É preciso saber mergulhar num meio adverso e imprimir tom de transparência e ímpeto evolutivo ao mesmo.
Sinto que existem coisas que o professor dificilmente conseguirá fazer por conta própria - é necessário encontrar aliados.

Além dessa tática, venho tentando melhorar minha capacidade de discurso e fala. Devo ser mais sintético e firme no que acredito. Outro detalhe: já me dei conta de que sou uma pessoa muita mais séria do que engraçada. Não tenho em meu imo uma habilidade em saber fazer piadas ou me socializar (superficialmente). Experiências pretéritas se revelaram um tanto catastróficas e dessa forma sinto que a vida aponta para outros caminhos, com poucas referências. A mim me interessa seriedade, sinceridade e trabalho - em seu sentido mais lato. Por isso acredito que devo revelar quem sou - e da melhor forma – para a turma.
Meu grande sonho (digamos assim) é estabelecer um contato duradouro, tornando a sensibilidade psíquico-nervosa dos alunos mais pronunciada – chegando a superar sua capacidade de atuação (habilidades, comunicabilidade, etc.). Acredito que essa seja a chave para o progresso humano – em todas as frentes.

A mim me interessa muito mais a sensibilidade social do que a sociabilidade [2]. Não que esta última seja ruim, mas ela por si só pode nos conduzir a muitos problemas, que geram dores que reverberam na esteira da existência. É preciso antes ser sensível aos fenômenos, à vida e à psique, para poder se comunicar de forma efetiva.
Essa questão muito me desperta interesse. Gostaria de recomendar um vídeo que mostra a encarnação desse embate entre sensibilidade social e sociabilidade, na qual a primeira se revela uma construtora da verdadeira sociabilidade - enquanto que a última está focada em aparências agradáveis com objetivos desagregadores [3]. Trata-se de algo muito profundo que talvez seja interpretado de forma emborcada (mas afinal...a vida é um salto de fé [4]).

A sensibilidade, quando adquire voz e ímpeto, parece rude. Mas percebemos que na profundidade da visão intuitiva, a percepção das coisas se inverte, e o construtivo de superfície se revela destrutivo na essência - enquanto o destrutivo de superfície se revela construtivo na essência. Lembrando que a essência é eterna e etérea - ao passo que a forma é finita e ruidosa.

Enfim...meus contratos didáticos vêm melhorando com o tempo. Mas o que mais deve mudar em mim (creio) é a coragem de me afirmar. Sou forçado a ser o ideal que não teme dizer seu nome. Devo sobretudo adquirir a coragem de me expressar à altura do ímpeto evolutivo que faz minha alma ferver.
Isso é uma tarefa titânica. Muitas derrotas contadas e desprezos registrados. Mas pequenas glórias sentidas. De forma muito sutil, por gestos, olhares a atitudes. É nelas que devo me apoiar. Pois revelam o eterno e ilimitado universo do saber rumo à realização plena do ser.

Referências:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2016/04/a-perversidade-da-neutralidade_18.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/02/sensibilidade-social-versus.html
[3] https://www.youtube.com/watch?time_continue=5&v=kbvyzU0Ab-o&feature=emb_title
[4] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/12/um-salto-de-fe.html


por LEONARDO LEITE OLIVA - sexta, 21 Jun 2019, 14:19
 
Boa tarde X,
Belo vídeo. Princípios sistêmicos. Sinergia...quando o todo é maior do que a soma das partes...uma soma qualitativa (de relações, interconexões) - e não quantitativa (de elementos).   =)

Conforme você disse, a nossa natureza busca criar relações:
"É da natureza humana, a necessidade de criar relações, estabelecer elos, os quais o tempo todo estamos expostos."

Ao observar todos esses fatos, parece que estamos em busca de uma perfeição perdida. Que desejamos (re)construir uma coletividade harmônica. E a educação, sendo fundamental para a transmissão, assimilação e desenvolvimento do conhecimento, é a que mais pode imprimir força nas relações.

A educação é um fenômeno natural (instintivo) ao ser humano, como Pietro Ubaldi atesta em sua obra:

"A educação é, pois, um fenômeno instintivo, universal e automático de captação, por parte da psique sempre renascente, dos produtos da psique que, cansada, se retira da vida. É um fenômeno que abrange toda a produção espiritual de um povo, portanto não pode morrer e transmite-se por lei natural. A educação desejada, sistemática, digamos também artificial, não é senão um momento particular e reflexo deste tão vasto fenômeno de educação natural, que está na lei da vida e do qual todos, quer queiram quer não, consciente ou inconscientemente, docentes ou discípulos, tomam parte." 
O Problema da Educação (1939)
(grifos meus)

Cada aluno tem um potencial específico dentro de si. Ele pode ser visto como um músico de uma grande orquestra - cada um tem seu instrumento e seus métodos. O professor é o regente: ele coordena a orquestra como um todo e atende cada membro, orientando-o para que ele se torne o melhor de si. O objetivo é que haja harmonia. Sequenciamento, tempos, intensidades, tons, posicionamentos, repetições, etc. Todas essas coisas envolvem o outro. Não basta ser o melhor de si - é preciso coordenar-se com o grande organismo coletivo, melhorando-o e melhorando-se. 

Às vezes a orquestra está desafinada. Ótimos músicos sem motivação. Sem inspiração. Mas um indivíduo, com seu exemplo, pode mudar tudo, servindo de eixo condutor que magnetiza espiritualmente o corpo coletivo, atraindo-os para as altas ondulações do sentimento e da imaginação. Vemos aí um ser que assume o papel de catalisador. A cena abaixo, do filme "Le Concert" (O Concerto, 2009), de Radu Mihaileanu, revela esse fenômeno muito bem.


https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=hnaFuTtNXjE&feature=emb_title

por LEONARDO LEITE OLIVA - segunda, 24 Jun 2019, 09:51
 
Prezado X,

Sua ideia sobre os monitores de classe me parece muito interessante. Creio que seja uma maneira oficial de colocar alunos interessados em auxiliar os colegas e assim diminui os índice de evasão (conforme você constatou) e distração da turma:

"O que prático, que mais assemelha-se a sua prática é beneficiar alunos que possuam facilidade em um determinado componente curricular, de atuarem como "monitores de classe" - auxiliando os alunos que possuam maior dificuldade... Isso inclui atendimento e auxílio fora do espaço físico escolar. "

Queria saber: você faz um acordo com esses alunos oficialmente? Estou pensando em aplicar esse método no próximo semestre com uma turma.

Eu estou percebendo que a postura do professor em sala é muito importante. De certa forma precisamos possuir uma certa dose de ator: devemos ser nós mesmos, mas omitindo certas características da personalidade (mais profundas). E também escolhendo para quem revelar tópicos mais profundos, quando dizê-lo e de que forma. O ser humano tem sede em despertar a própria consciência e a dos outros - podendo ser a partir (ou através) de uma aula de informática, mecânica, desenho, simulação, etc. 

O vídeo com o Carlos Novaes é realmente muito ilustrativo. Revela um embate multimilenar que assume várias facetas. Um confronto que se dá em todos os meios e pode assumir várias formas (pessoas), que momentaneamente representam forças apontadas para a unificação ou desagregação. A questão é: para qual lado iremos ceder: para as forças da vida que clamam evolução em seu sentido mais lato, pela unificação e harmonização – ou pelas forças da morte que operam para desagregação, desinformação e superficialidade?
Isso é muito interessante e profundo...

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