sexta-feira, 5 de março de 2021

Curvas evolutivas

Podemos classificar os choques entre indivíduos em dois tipos: 

a) Aqueles por motivos de egoísmos (disputa de interesses de mesmo nível)

b) Aqueles por motivos de vibração (formas mentais distintas que não sintonizam)

O primeiro (a) já é bem conhecido delas pessoas. Podemos chamá-los de disputa de egos. E fazendo observações detalhadas encontraremos argumentos para favorecer um lado ou outro. Irá depender da época, do contexto, da perspectiva, do prazo, da escala, do grupo que julga. É algo relativo. 

O segundo (b) é ainda incompreendido pelas pessoas. Ele pode estar associado ao primeiro quando o indivíduo que está numa outra faixa de vibração procura materializar suas ideias, tornando-as influentes em nosso mundo - valorizado e sentido. Aí vê-se o fenômeno de acoplamento entre um ideal e a realidade. Esse acoplamento gera problemas: o Eu humano afeta o Eu divino, tornando o trabalho mais complicado. Mas essa associação é não apenas possível, mas desejável. E, em momentos muito críticos da História, necessária.

 Fig. 1: Barreiras: belas de longe, difíceis de perto. 
Fonte: Rachel Claire (Pexels)

Faremos uma avaliação relacionando a tensão psíquica sofrida por um indivíduo e o nível de sabedoria do mesmo. A sistematização que se segue surgiu de uma visão do autor. Visão que surgiu após muitas dificuldades, insatisfações e incompreensão. Procurou-se transformar toda essa alta tensão psíquico-nervosa em algo de útil, buscando compreender mais à fundo o mecanismo de funcionamento dos comportamentos (automatismos, relações e discursos). 

A curva de Gauss é conhecida daqueles que estudaram engenharia ou ciências. Ela também é conhecida como distribuição normal (ver Figura 1). Irei fazer uso dessa curva porque creio que ela é um modelo que dê uma boa ideia do fenômeno da psique individual. 

Estamos avaliando aqui a tensão psíquica da personalidade em função do conhecimento do ser - em seu sentido mais lato, de sabedoria ou intuição. Por tensão da psique entendo o nível de inquietação substancial perante as limitações da vida. Limitações que inviabilizam a materialização de princípios pautados pelo ideal. É energia não canalizada, em busca de seu desgaste - que pode ser positivo (evolução) ou negativo (involução) - ou melhor, consumo. Pois na vida tudo se consome. A questão é como isso é feito. E o conhecimento se refere a algo substancial, mais lato, envolvendo capacidades intelectivas, conceptuais, e afetivas, do sentimento, culminando na unificação, expressão máxima do amor, amor divino - não humano. 

O que é esperado, à medida que o conhecimento do ser progride, é um estado de inquietação cada vez maior. Vê-se como as coisas são, e então o ser se lança impetuosamente ao labor cotidiano - duríssimo e brutal no passado, árduo e astuto no presente, alegre e eficiente no futuro. Mas isso não se dá de forma linear, conforme já pressenti quando elaborei o ensaio de sistematização da dinâmica evolutiva [1]. O que ocorre é uma ascensão exponencial que chega a um máximo (clímax), o grau de tensão que o biotipo comporta em sua constituição físico, dinâmica e psíquica, e que após isso passa-se a um decréscimo dessa tensão, com gradual aumento de conhecimento do ser. A partir daí descarrega-se o nervosismo (indignação com as condições da vida segundo sua percepção relativa) de modo cada vez mais certeiro, canalizando a energia vital, a criatividade, o saber e diversas inteligências de modo construtivo, de modo a construir o aspecto espiritual em detrimento das amarraras materiais. 


Fig. 2: Curva de distribuição normal.

Podemos dividir em cinco fases essa "superação do morro". Essa curva é idêntica àquela que esbocei em ensaio anterior [2]

I) Preparação

    fase suave que deve ser usada para o impulso próprio

II) Intensificação

    fase desafiadora que deixará descolado do resto. Ímpetos evolutivos diferentes de ser para ser. A evolução é mais árdua (i.e., mais esforço para se conseguir menos)

III) Progresso natural 

    fase em que forças do S passam a atuar a favor da criatura. AS foi superado. Fim do drama crescente. Evolução rápida.

IV) Estabilização no alto

      superação do conflito entre forças do S e AS dentro do indivíduo. Consolidação do novo patamar evolutivo.

Essas quatro fases estão divididas conforme a Figura 2.

Fig. 3: Curva com fases.

O processo é semelhante a passar por uma montanha. Superar um grande obstáculo que jaz em seu caminho evolutivo. Caminho que se desenvolve na esteira do tempo (eixo horizontal). Esse empecilho irá demandar um esforço além do normal. Quanto maior esse esforço (altura do morro, dimensão vertical), mais será demandado do ser: tempo, energia, vontade, criatividade, esforço, etc. O tempo se subjetivo se dilata quando o ser passa por um momento de sua vida que exige mais do que o normal. São as mortes, os abandonos, as rejeições, as demissões, as expectativas não atendidas, a perda de patrimônio, status, as humilhações públicas, o fracasso, entre outros incontáveis dramas humanos. Quando estamos atravessando esses momentos - que podem ser de segundos, numa conversa, ou de anos, em relação a uma situação - parece que cada instante se arrasta. Portanto, não devemos ler o gráfico tal qual é no quesito tempo quando se inicia a "passagem pelo morro": é mister adotar uma escala proporcional ao drama. Falo aqui do ponto de vista subjetivo.

O que constatei foi o seguinte: assim que esse início for percebido (e vejam que nem sempre é fácil se dar conta desses processos, pois estamos num mundo acostumado a ignorar qualquer desafio que se apresente), precisamos mobilizar nossa psique para atravessar o momento. O ser deve se munir de recursos emocionais, mentais, materiais, comunicativos, espirituais. É a fase de sentir a grande tensão que se avizinha. Recuo é vergonha, exceto no caso de uma reflexão mais profunda sobre o que ocorre. Mas o fato é que, em momentos críticos, os desafios não apenas surgem com ímpeto feérico, como impedem o recuo. Por tal motivo é sempre bom estar pronto para os choques evolutivos que a vida nos apresenta. Tem-se um crescimento exponencial.

Na fase seguinte (II) a chega-se a um clímax em termos de aumento de tensão. O nervosismo preenche todas as fibras do ser. Ocupa todos instantes; demanda toda energia e fé; exige paciência descomunal; provoca nos momentos mais inesperados, gerando um suspense hitchcockiano. O esforço para progredir é maior. Dói mais do que na etapa precedente. No entanto, se está mais próximo ao cume. As forças do mundo - incluindo aquelas no seio do ser, íntimas, manifestadas em seus instintos mais baixos - lançam todas suas ofensivas. Mas apesar de continuar o aumento dessa sobrecarga, ela aumenta cada vez menos com o persistir do ser - não com o passar do tempo, pois o indivíduo pode desistir. 

Quando o ápice da tensão chega, acaba a fase de intensificação. A parir daí, continuar é natural. Eis a fase subsequente, de progresso natural (III). Percebam: o esforço ainda é exigido, e o nível de tensão é alto. Mas ela passa a ser plenamente administrada pela criatura. Essa capacidade de saber lidar com esses "incômodos" da vida (que passam a ser vistos como detalhes cada vez mais irrelevantes) tem uma relação profunda com a capacidade de enxergar a realidade em seu âmago. 

No momento em que se percebe a futilidade de diversas rotinas, rituais, objetos, relações e objetivos (perceba: diversas, não todas...), as "tropas" de energia e criatividade e emoções podem ser canalizadas para outros "locais". A isso damos o nome de priorização. Eis a chave que apenas quem atingiu uma sabedoria acima da média sabe usar. 

Finalmente o regime de desafio é superado. A lição foi incorporada ao ser. Mais um ciclo finda. Uma vivência foi completamente assimilada.  

Referências:

[1] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html?m=1

[2] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/10/ponto-decisivo.html

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