quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A máquina do tempo

O domínio de uma dimensão ocorre quando ela é superada. Estar acima em termos dimensionais significa atuar numa dimensão superior, dominando todas as precedentes. O centro de gravitação do comportamento da personalidade está num plano superior, que apenas usa o inferior para manifestar o trabalho criado e desenvolvido no campo do superconcebível.

Logos guia lúcifer. Isso significa que a intuição plenamente desenvolvida deve guiar a razão. É uma consciência profunda que vê além do espaço-tempo. A intuição se conecta intimamente com o infinito (ausência de espaço que atordoa), com o eterno (ausência de tempo que limita) e com o Absoluto (ausência de relatividade que confunde). Ou seja, quem opera na dimensão da intuição (superconsciência) não se perturba com nada; executa seu dever calmamente e muito produz; e sempre tem a certeza de seu futuro.

Fig.1: Pensar demanda tempo enquanto ele ainda está sintonizado com a forma energia
(que é a fase jungida à dimensão tempo). Quando não mais for assim, será instantâneo (intuição).

Estamos muito longe de conquistar esse nível de consciência. Mas no entanto as trombetas já soam alto. O ímpeto da História se faz presente. O século XX trouxe os fundamentos - este século trará os desenvolvimentos e vivências. É um processo lento mas persistente, que não irá parar, por mais que sejam interpostas barreiras. Porque a ignorância, presa ao curto prazo e à superfície dos fatos, não é capaz de impedir a sabedoria, que opera num plano superior, fazendo uso de uma dimensão profunda que domina a dimensão manifesta. 

A atuação do sábio é calma e profunda. Ele sabe o que interessa. Os efeitos dizem pouco, muito pouco, em suas partes. O que interessa é o conjunto. O resultado final. O que fica cravado no âmago do ser - o espírito. 

É em meio ao inferno de uma sociedade desorientada e desorganizada que surge a oportunidade para os maiores avanços no campo da dimensão profunda. Nada pode frear o desabrochar de uma ideia cujo tempo chegou. E as ferramentas que estão implementando essa grande ideia são persistentes e ousadas. São seres fora do comum, que não medem esforços para cumprir seu destino. Nada os desanima. Podem ser abalados dia ou outro; podem ser ameaçados, ignorados, ter problemas de saúde ou emocionais ou barreiras conceituais. Mas continuam. Se refazem em tempo curto e reorientam sua marcha, que se torna mais incisiva. Um caminhar elegante e sintético. Que fica cada vez menos preocupado é mais criativo.

A preocupação é um empecilho para a criatividade. E esta, uma vez acionada, diminui progressivamente a preocupação, de modo a eliminar o atrito que diminui a energia do movimento ascensional. Compreendamos que o paradigma atual visa diminuir o atrito da horizontalidade dos processos de bem-estar e divertimentos, mas não percebe as imensas resistências (atritos) de quem visa se movimentar na verticalidade evolutiva (maturação interior, do espírito).

Fantasia-se com o viajar no tempo fisicamente. Um deslocamento cronológico em qualquer direção e intensidade de coisas físicas. Mas como pode algo físico, preso aos limites do espaço-tempo, transitar livremente no próprio tecido que molda suas limitações?

Fig.2: Visto de 'dentro' para 'fora': nosso infinito possui limites. Ou, visto de 'fora' para 'dentro': o finito superior a nós é ilimitado. Deu nó na cabeça? Tudo bem. É normal...esse é o meu mundo. Que bebe dos iluminados...da Fonte Suprema

A verdadeira viagem no tempo se dá pela libertação das amarras de leis físicas. Através do domínio de outras leis. Leis superiores, do campo psíquico. Alinhando-se a elas completamente, obtemos a libertação da dimensão tempo. Perceba que é uma questão de evolução. E evolução aponta para o interior do ser - e não para sua aparência. Então pode-se dizer 'eu não tenho pressa'. Pode-se viver com tranquilidade, sem peso algum na consciência, sabendo que está a ser feito o melhor possível, da melhor forma. Pode-se dizer 'os prazos não me limitam' ou 'as aparências não me desorientam'. Liberdade que leva à salvação...

A verdade liberta. Mas...o que é a verdade

Uma palavra: Deus.

Viajar no espaço requer o uso do tempo - através do movimento.

Viajar no tempo requer o uso da consciência - através do pensamento.  

Percebamos: basta apenas pensar. Que nos leva a conceber, imaginar, recordar, planejar, representar, comparar, melhorar. É uma viagem no âmbito psíquico que melhora a vida e nos faz evoluir em todos os níveis - incluindo o físico. Mas é uma viagem. Realiza-se um movimento que não é espacial, mas conceptual. 

Agora podemos compreender melhor o significado da palavra movimento. Não se trata de um mero deslocamento espacial. Apenas o é do ponto de vista físico. Mas se formos observar outro plano, em que vigoram dimensões superiores, esse movimento assumirá outra forma. Será um movimento íntimo, de deslocamento de informação que leva à construção do conhecimento. E, num plano ainda mais alto (intuição), será um deslocamento de visão de mundo que leva à sabedoria.

Não se trata de uma quimera - mas de uma realidade a ser reconhecida e devidamente sistematizada pela ciência. E num próximo passo, uma realidade a ser absorvida pelas (novas) instituições, de um (novo) sistema pautado por outra lógica. Sistema forjado e consolidado por uma nova forma mental. Percebamos: é uma questão de expandir a consciência. Nada mais, nada menos.

Daqui para frente, a superação se dará por vias interiores...

Aula 04 - Teoria Unificada do Conhecimento Humano

 4ª (e última) aula do minicurso.

Tópicos: 

  • Teoria Unificada de Pietro Ubaldi (Parte II)
A Grande Equação da Substância.
Trajetória Típica dos Movimentos Fenomênicos.
Evolução das Dimensões.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O amor mais elevado gera o milagre

O maravilhoso filme Milagres do Amor (que vi recentemente) é a segunda parte de uma história que começa com o filme O Milagre. A beleza da história é tanta que me sinto impelido a escrever mais uma resenha - ainda mais elevada, inspirada, que transmita o sentimento que atingiu minha alma ao assistir o desenrolar dessa bela (e verídica) história.  

Fig.1: Um filme belíssimo, que retrata uma história verídica. A vontade, a perseverança e a coragem se revelam ingredientes fundamentais para a gênese da cura de uma deficiência. Através da postura do professor perante a situação, Aziz se direciona para a transformação.

Aqui o foco é na gênese da amizade entre o professor (Talat Bulut) e Aziz (Mert Turak). É o acontecimento que gera uma relação entre duas pessoas. Uma relação que molda uma aldeia. Que inicia um processo de transformação de um espírito que deseja expressar sua bondade da forma mais energética. Um espírito bom enclausurado num corpo deficiente, com restrições aos movimentos, à fala, aos gestos. Mas o olhar transmite a essência e o ímpeto se faz persistente. Esse é Aziz, o rapaz deficiente de 31 anos que é constantemente zombado pelas crianças de sua vila. 

As cenas iniciais mostram a belíssima cidade natal do professor. Suas filhas percorrem as ruas com seus sorvetes de casquinha. A paisagem é viva e está em harmonia com a animosidade da cidade. Uma cidade litorânea, banhada de sol e de vida. De caos criativo e vivo. 

As filhas adentram na casa e o professor está discutindo com sua esposa. Ele deve ir a uma vila do interior para lecionar. É uma tarefa que lhe foi designada. Como funcionário público, deve cumprir o dever para ter garantida sua aposentadoria e conforto. Sua esposa não gosta da ideia, fazendo com que o professor vá por conta até a vila. 

Sobre o professor, não se trata de um homem qualquer. Desde o começo percebemos seus traços peculiares. Sua determinação em cumprir seu dever. Sua vontade em realizar construções - sejam elas de uma escola ou de uma personalidade. 

Após uma longa viagem de ônibus, o professor chega ao ponto final - ainda longe de seu destino. A estrada só vai até aquele ponto, já dando ideia do grau de isolamento do local em que ele irá lecionar. E continua sua jornada a pé, vencendo espaços belos porém inóspitos. 

De montanha em montanha, vencendo o isolamento, o professor chega a uma vila distante. Um local belíssimo porém inóspito, sem eletricidade, sem serviços básicos, esquecido pelo governo. E sem... escola. Uma vila que lhe recebe com muito temor logo de cara. Pois não esperavam um professor naquele local. Mas que, logo após perceber quem é, acaba por albergá-lo.

Através do professor, o espectador passa a conhecer melhor a vila e seus habitantes. Pessoas simples que "dependem de Deus durante oito meses e do governo durante quatro meses". É o que o "chefe" da vila afirma para o professor quando o inverno se aproxima, cuja duração é de oito meses e deixa o local isolado completamente do mundo.

O professor tenta conversar com políticos da cidade, mas não encontra nenhuma preocupação (ou sensibilidade) das autoridades em edificar um local para que ele possa dar sua contribuição para a pequena vila. Ele está sozinho em sua vontade. Os habitantes do lugarejo, abandonados, são impotentes face às circunstâncias. O destino parece ser mais do mesmo - de sempre. E assim nada resta a não ser retornar à sua cidade.

Mas na iminência de voltar à sua morada, o professor toma uma decisão: irá construir a escola. Com o próprio dinheiro. Vai à cidade e telefona para sua esposa. Inventa uma história mirabolante e ao mesmo tempo convincente, dizendo que foi sequestrado e que precisa de duas mil liras turcas para que tenha sua vida preservada. A encenação é realmente intensa e cômica. Uma mentira necessária para conseguir fazer um gesto de bondade, pois sua esposa jamais aceitaria dar dinheiro da família para terceiros de um local remoto. Como eu disse, trata-se de uma criatura fora de série.

Mas há uma condição para ele ficar e construir a escola: as meninas poderem estudar também. Os "chefes" aceitam e a história conjunta do professor e os habitantes continua. E surpresas continuam vindo.

A construção recebe auxílio de bandidos - na verdade os leões da montanha, pessoas não violentas. Um grupo que, sem complicações ou aparente interesses, ajuda a construir aquela escola. E em pouco tempo está tudo feito. As aulas começam. E o corpo físico (escola, a construção), conjuntamente com o espírito (professor), dão novo sopro de vida à pequena comunidade. 

Aziz chama a atenção do professor ao longo do tempo. O que causa esse interesse por parte do mestre? A persistência do rapaz deficiente de 31 anos - sua curiosidade pelo novo, sua alegria pelas coisas simples do mundo e da vida - parecem exercer uma influência magnética sobre a personalidade do professor, que decide dar um passo além: admite Aziz em suas aulas, dedicando-se a ele. Ele o aceita. Acredita em seu potencial. Não mede esforços para fazer o que sente ser sua mais sincera vontade.

Fig.2: Uma relação genuína, profunda, desprovidas de interesses pessoais. 
Apenas na vontade de melhorar...ou evoluir.

Ao longo desse trajeto, a vida do professor causa influências no comportamento de Aziz. Este ganha confiança e passa a perceber que existe uma outra realidade possível. Por mais longínqua que seja ela, parece haver algo. Mas nem ele nem o professor imaginam qual será o resultado final de tantos princípios seguidos com tanta perseverança e desinteresse (=amor). 

As surpresas da vida podem causar um abalo muito profundo nas pessoas. E o modo como esse abalo é sentido muda tudo. Quem está ao seu lado, próximo a você, nos momentos mais críticos, pode ser a chave para a verdadeira transformação. A natureza da pessoa se revela pelas conexões que consegue atrair e pelos choques que lhe golpeiam. E assim, após um evento crítico e por forças do destino, Aziz acaba se casando com a mulher mais linda que jamais pisou na vila, Mizgin (Biran Damla Yilmaz).

Mizgin conhece o Alcoorão. Ela cozinha de tudo. É inteligente e dedicada. Bonita, muito bonita. Simpática. Uma mulher bondosa. O destino a une com Aziz, alguém deficiente porém diferente de todas pessoas por dentro. O pai de Mizgin, quando é advertido pelo pai de Aziz sobre a sua proposta ("meu filho é deficiente"), responde: "contanto que não seja deficiente do coração". E isso Aziz realmente não o é. Muito ao contrário, o que o espectador sente ao longo do filme é uma alma bondosa, que jamais faria o mal a qualquer criatura, e que se alegra pelas coisas simples da vida (=gratidão). Uma alma em busca da melhoria constante, apesar de todas barreiras e de toda concretude de sua deficiência física. Uma alma reage por outras vias, interiores. Que sofre uma maturação íntima para alimentar sua vontade e esforço externo.

Mizgin sofre junto com Aziz. Inicialmente, por não aceitar seu destino. Depois, por ver seu marido sofrer porque ela está sendo caçoada pelas mulheres da vila. Ele já se acostumou a ser caçoado e desacreditado como pessoa capaz. Mas não suporta nem admite ver alguém sofrer (especialmente sua esposa, tão boa e bela e inteligente) devido a situação. E assim ambos co-evoluem. Ela através da tristeza que se torna preocupação conjunta que vira dedicação que se plasma em aceitação que vira dedicação amorosa que finda num...milagre.

Ao contrário do que li numa resenha, o milagre vem de Deus sim (como tudo). Mas através de um esforço humano ímpar, com participação de um dedicado professor, uma esposa que evolui junto com seu marido, e choques da vida. Não é um milagre no sentido comum do termo (como as pessoas entendem), mas um milagre que se opera a todo momento. 

Um milagre que se constrói a cada instante (continuum da psique), em que cada olhar, gesto, atitude a ato tem um valor registrado na eternidade;

Um milagre que é sempre possível, mas cuja materialização depende da persistência, da lealdade, da vontade e do amor;

Um milagre que está a espera de ocorrer, mas que depende do estofo espiritual dos seres que o viabilizam;

Um milagre que não é um simples apertar de um botão, uma reza, um ritual ou uma demonstração de força, mas uma sintonização...um ato de fé que não se interessa nos resultados. Que busca incessantemente, apesar de todas barreiras. 

Um milagre que se atinge através da imersão no processo...na vivência sincera...na superação deste plano...

Um milagre que depende de uma co-participação: da Fonte (Deus) e do esforço da Criatura (nós). Um é fonte incessante de vida - o outro precisa despertar para se alinhar ao máximo com Sua vontade.

Esse é o verdadeiro milagre. E ele existe. 

O filme é baseado numa história real. 

Aziz vive e sua esposa também. E seus filhos e seus netos. E essa história, através da Arte que expressa o pensamento de Deus (Suprema bondade e inteligência), fica assim marcada na eternidade, pois a ela pertence.

Trailer do filme:

Trilha sonora do filme:

Links:

Pietro Ubaldi completando Carl Jung

Carl Gustav Jung foi um pioneiro na área de psicologia. Seu trabalho influenciou vários campos, como a antropologia, a filosofia e a teologia. Baseado em seu trabalho no hospital psiquiátrico, ele chegou a cinco conclusões importantes, como destacado pelo artigo da revista Galileu [1]:

1) Nenhum indivíduo é totalmente introvertido ou extrovertido;

2) Todas as pessoas carregam quatro funções cognitivas principais;

3) O ego é o centro do consciente humano;

4) Todo indivíduo assume uma “máscara” sobre o inconsciente coletivo;

5) “Mesmo uma vida feliz não pode existir sem um pouco de escuridão”.

Fig.1: A porta da iluminação se abre de dentro para fora - e não de fora para dentro.
Não há alo-realização, apenas auto-realização. 

Vamos comentar cada uma das conclusões à luz da obra ubaldiana: 

1) Não há absolutos no relativo - apenas o Absoluto coordenando os relativos

Ninguém é 100% um dos pólos. Inteiramente feio ou belo; supremamente inteligente ou não; falante ou quieto; teórico ou prático; etc. Podemos ter uma predominância de um pólo, mas jamais seremos um pólo apenas. Isso é evidente quando observamos a pessoa e compreendemos o aspecto trifásico de nosso Universo (matéria, energia e espírito). Não podemos separar um do outro. Todos estão presentes em tudo a todo momento - em diferentes proporções e modos, claro. 

Quando estamos teorizando já carregamos em si uma prática (o ato de estudar o conceito, compreendê-lo). E toda prática se apoia numa teoria, que pode ser feita de modo pensado e sujeito a correções (consciente) ou automático e certeiro  (subconsciente). O mesmo vale para todas outras habilidades que exercitamos. 

2) Quatro fatores constroem e definem a personalidade integral

A teoria sobre 'tipos' psicológicos de Jung demonstrou que as pessoas pensam, sentem e experimentam o mundo de maneiras muito distintas. E isso é evidente, pois segundo Pietro Ubaldi cada indivíduo foi influenciado pelo seu meio (geográfico, cultural e familiar), possui sua genética particular (de pai e mãe) e seu nível de consciência (espírito).

O famoso psiquiatra identificou quatro funções psicológicas fundamentais: sensação, pensamento, sentimento e intuição. E elas podem operar tanto através de introvertidos quanto extrovertidos (predominantemente, não totalmente, lembremos). E normalmente apenas uma dessas características é mais dominante - as demais funções são mantidas no inconsciente. Para Ubaldi o inconsciente se subdivide em subconsciente (funções já consolidadas, automatizadas nos instintos) e superconsciente (em estado de germe, em vias de desenvolvimento).

O que Jung chama de dominante é aquela que opera no consciente. Aqui podemos descrever em linhas gerais as quatro funções:

sensação indica a existência de algo.

pensamento estabelece o significado desse algo.

sentimento declara se esse algo nos convém, e se devemos aceitá-lo.

intuição é uma percepção inconsciente das coisas, indicando de 'onde' vieram e 'para onde' estão indo.

Novamente, as definições de Jung são muito consistentes, exceto pela 'intuição', que não está definida claramente - sendo necessário nos apoiarmos na visão de Ubaldi. 

Sensação está para os instintos (zona do subconsciente). Pensamento está para a razão (zona consciente). Sentimento está para a moral (zona do consciente). Intuição está para o desconhecido que engloba tudo conhecido e vai além (zona do superconsciente). Na verdade, ser consciente ou não depende do grau evolutivo da criatura: um ser evoluído pode ser consciente na intuição e inconsciente nas zonas inferiores - e um involuído pode ser consciente na zona da razão e inconsciente na zona da moral e além. 

Quando Jung fala que nascemos com uma herança psicológica e outra biológica, ele se refere a um aspecto individual, interior e progressivo (base espiritual, construção da personalidade via experiências); e outro coletivo, exterior e cíclico-oscilante (base material, através da genética de nossos antepassados). E ele diz que ambas são importantes para determinarmos traços de comportamento.

Ubaldi não apenas está em plena sintonia com o pensamento jungiano, como dá uma visão mais vasta sobre o mesmo, enquadrando todos esses conceitos numa fenomenologia universal. 

O inconsciente coletivo - para Jung - seria o centro do material psíquico, cujo conteúdo é compartilhado por pessoas de todas as épocas, locais e culturas. Logo, esse 'reino' seria algo imaterial, que está além do espaço-tempo. Ele vai se moldando e progredindo à medida que as criaturas que o impulsionam adquirem experiência e avançam evolutivamente. Os rishis chamam (esse inconsciente coletivo) de Akasha. A Ciência começa a abordá-lo, dando o nome de Campo Akáshico. Ervin Laszlo vem desenvolvendo um trabalho muito interessante em relação a isso.

Fig.2: Ervin Laszlo começa a preparar o terreno para uma nova ciência. 
Uma ciência do espírito. Ubaldi deu as diretrizes gerais, supremas. 
Mesmo sem conhecê-lo, grandes almas começam a trabalhar em
prol da divulgação dos princípios contidos na Obra...

3) O ego (eu individualista) é a referência do biótipo médio

O consciente humano do nível evolutivo atual está centrado no ego. Isto é, no interesse de nível individual. No melhor dos casos, um interesse familiar ou de classe social. Isso se traduz numa arquitetura sistêmica pautada em lógicas que viabilizem esquemas de interesse restrito - de curto prazo, com efeitos bem tangíveis e que estimulem o ego. Não à toa temos um algoritmo (político, econômico, social) que reflete a forma mental predominante. 

É preciso 'vencer na vida'. E gozar sempre que se está numa posição boa. Usar as condições para se refestelar nos prazeres e garantir o domínio futuro. Jamais promover o esclarecimento das pessoas. A não ser que isso seja apenas uma aparência para enaltecer a imagem própria e enganar aqueles simples (como as pombas). É assim que a sociedade funciona. Cada estrato social, cada cultura, cada época, se pautou por esse princípio. Nos últimos séculos ele se tornou mais sofisticado: adquirimos um verniz de civilidade, de cultura. Uma primeira aproximação do conhecimento - porém, conhecimento fragmentado.

O nível consciente é aquele que está em atividade, em construção. Que calcula, pensa, erra, refaz, melhora, percebe. Para Jung "o ego fornece direção às nossas vidas conscientes". Traduzindo: ele (nossos interesses restritos) serve de bússola para a nossa operação no nível consciente. 

Sob a ótica ubaldiana percebe-se que esse consciente está em movimento. Ele avança ao longo de experiências de várias existências. E o que muito foi trabalhado, é sedimentado no subconsciente. O que é inútil, não penetra no ser - o que é útil à vida, entra na consciência de profundidade e passa a operar de modo perfeito, automático. Assim o consciente perde 'espaço' na retaguarda. E querendo manter sua amplitude de atuação no espectro, só lhe resta avançar rumo ao que está (também) na profundidade do ser, porém no inconcebível. Um inconcebível cuja conquista garante o domínio no plano consciente. Todo esse dinamismo da personalidade humana é detalhado no volume Princípios de uma Nova Ética (figura abaixo).

Fig.3: Por que o ser humano se comporta de maneira aparentemente inexplicáveis?
Como orientar alguém? Qual a base para educarmos nossos filhos? Como descobrir a essência
de alguém (inclinações, traumas, habilidades e sonhos)? Esse volume explica, em linhas gerais,
tudo isso, fazendo a psicossíntese do ser.

4) Todo indivíduo assume uma persona (=máscara) perante o mundo que lhe é estranho

Esse mundo - na verdade todo o Universo, o AS - é um palco em que o ser não pode vivenciar integralmente sua natureza. Logo, não pode igualar sua essência com sua aparência. Aqui a vida é um jogo cujo sucesso depende do grau de sofisticação da mentira. As sinuosidades, as enganações, podem ser baseadas no medo (tamas), na ambição (rajas) ou na doação (sattva). São níveis diferentes com propósitos muito distintos. Mas o princípio é o mesmo: interesse. Não há desprendimento (das gunas), mas apenas evolução do nível de resultados almejado.

Para podermos atuar, devemos incorporar um papel. Mesmo que a gente sinta que é aquilo que vestimos, que pensamos, que gostamos, que fazemos, a verdade é que nosso Ser está muito além disso tudo. 

Com Ubaldi fica claro que essa natureza - que se manifesta de forma cada vez mais clara, potente, coesa e bela - interage com a forma manifesta (nossa persona) para que a forma exprima melhor o estado atual de consciência do ser. Esse processo é gradual. Irá ser função do meio, da tarefa que foi incumbida ao ser (por ele mesmo ou por forças superiores, a depender do nível evolutivo), dos pais e de seu espírito. 

5)  Uma vida plena necessita de trevas para ser verdadeiramente integral

Esse princípio jungiano se encaixa perfeitamente na Grande Equação da Substância. Como a substância se apresenta em três formas (matéria, energia, espírito) em nosso universo; e cada forma subdividia em outros níveis, e daí por diante, formando as individuações; e essas formas são contíguas, ou seja, estão sempre juntas em todo ser e local e momento; então é possível chegar à conclusão de que uma individuação saudável possui todas formas interagindo em equilíbrio. 


Fig.4: Para chegar ao ápice celestial, é preciso pegar impulso no abismo do inferno.

Dominar os meandros do inferno sem esquecer das maravilhas do céu é a arte e a ciência da vida humana. É Logos guiando Lúcifer. Ou seja, a intuição guiando o intelecto. A moral elevada pautando o uso do intelecto - e o intelecto afiado buscando construir um senso moral elevado. 

Além disso, há ainda a questão do dualismo que, para formar uma unidade, deve combinar de forma harmônica os opostos. Ou seja, não é eliminando um dos pólos que se obtém a unidade - mas desenvolvendo os extremos numa dança rítmica que sempre imprime impulsos para a verticalidade mística. Uma dança que oscila no plano físico e mental, mas cujo produto mais fino (quintessência) é a vetorização para o plano espiritual

Isso é monismo.

Referências:

[1] https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/02/6-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-carl-jung.html

[2] UBALDI, Pietro. Princípios de uma Nova Ética.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Parábola do Filho Pródigo, Evolucionismo e a Nova Cosmologia

Allan Kardec fez uma compilação brilhante sobre ensinamentos de um conjunto de espíritos de grau de consciência acima da média. Ele foi um codificador. Isto é, tomou conhecimento do fenômeno de manifestação de espíritos desencarnados, através de estudo minucioso e sério, e com esse conhecimento construiu uma obra de seis volumes estabelecendo a base da doutrina espírita. 

O livro-base é sem dúvida O Livro dos Espíritos (LE). Se trata de um volume com 1019 perguntas feitas pelo pedagogo francês, com respostas de um conjunto de espíritos desencarnados - e comentários pertinentes, esclarecendo ou tornando menos ambíguas algumas respostas. Nesse livros há vários ensinamentos importantes a respeito de diversos tópicos, dentre os quais podemos elencar os principais: Deus, criação, elementos do Universo, princípio vital, a natureza dos espíritos, pluralidade das existências e leis morais.

Vale aqui destacar que apesar de se tratar de uma obra fenomenal, com o esclarecimento de vários pontos e solução de diversos paradoxos das religiões criacionistas-monoteístas, em vários pontos são deixadas lacunas. Há várias passagens explicadas parcialmente ou com respostas do tipo "não o sabemos". Isso no entanto não diminuí a grandeza da obra de Kardec, mas aponta para o aspecto evolucionista da doutrina - que todo seguidor fiel deveria abraçar. 

Como o próprio Kardex afirma, deve-se sempre abraçar uma verdade maior, deixando de lado a verdade menos abrangente. Isso caracterizaria o aspecto evolucionista, dando ao espiritismo o status de espiritualismo evolucionista-monoteísta

O fato de eu classificar a doutrina como monoteísta significa que ela não afirma a plenos pulmões o monismo, isto é, um Deus que é o Criador e a Criação. Um Deus além das dimensões, nem grande nem pequeno, nem sujeito ao transformismo deste Universo (apesar de atuar nele incessantemente através de sua imanência benévola). 

Mas como Gilson Freire sabiamente aponta em seu trabalho, o espiritismo contém germes de um monismo. 

Há passagens no LE que revelam a abertura da doutrina para uma realidade mais vasta. Como se todo o trabalho elaborado pela alma iluminada de Kardec fosse uma preparação de terreno para algo profundo...muito profundo...

Fig.1: Ás vezes vivemos no melhor dos mundos e não percebemos isso. Porque nossa perfeição não é
igual à de Deus (caso contrário seriamos iguais a Ele, acabando com Sua Grandeza e Seu Domínio).
Possuímos a mesma natureza (substância divina) de Deus - mas não a mesma potência (conhecimento das coisas).

De 1850 a 1950 a humanidade (e também o planeta) passou por uma transformação profunda. Foram plantadas as bases de uma nova civilização através de progressos no campo da Ciência e da Espiritualidade. Grandes pensadores, cientistas e artistas surgem, inovando em seus campos. Paralelamente, surge muita coisa vazia, sem conteúdo, além de eventos catastróficos. Mas é em meio aos gritos e pontapés de um mundo barulhento e superficial que operam as almas que preparam o terreno para uma nova civilização, criando as bases conceituais, existenciais, organizacionais, científicas e filosóficas para o mundo dar um passo gigante rumo à libertação.

Foram cem anos de revoluções. Surge a Relatividade Geral e a Mecânica Quântica. Com elas forma-se uma teoria cosmogônica inteiramente nova: a do Big-Bang. Tudo isso é comprovado nas décadas seguintes à formulação de George Gamow. Adicionalmente, Watson e Crick descobrem o DNA, o mecanismo operacional da vida. A computação nasce através das contribuições de Turing e Von Neumann. Na psicologia, Freud e (especialmente) Jung lançam bases para a melhor compreensão da personalidade. 

Em meio a tantos progressos e tantas destruições, as doutrinas espiritualistas-evolucionista se enfraquecem. Pois se revelam incapazes de explicar várias novas descobertas satisfatoriamente. Os paradoxos que já eram percebidos pelos esclarecidos se tornam evidentes. Quem sente o infinito começa a ficar sedento por algo capaz de orientar em meio a tantas descobertas e tantos acontecimentos. São poucos...pouquíssimos. Mas necessitam de um alimento mais substancial.

Pietro Ubaldi desenvolveu sua obra na parte central do século XX: de 1931 a 1971. Foram produzidos 24 volumes que resolvem em grande parte os grandes problemas - não apenas da humanidade, mas de toda a fenomenologia universal. Esse marco inicial foi dado no Natal de 1931, quando o apóstolo de Cristo começa a receber as Grandes Mensagens. Mensagens sublimes que falam direto ao coração. E logo em seguida, para arrastar o mundo frio e cético da ciência e da objetividade, lança A Grande Síntese (AGS), volume monumental escrito nos verões de 1932 a 1935 em Colle Umberto, na Tenuta Santo Antônio. Estavam lançadas as bases de uma obra sem igual, que dá as diretrizes gerais para a solução dos problemas da espécie.

Em 1951, com o lançamento de Deus e Universo, fecha-se o ciclo explicado por Sua Voz em 1932 (AGS). Trata-se da Grande Equação da Substância em seu aspecto cíclico. Com isso fica explicado o fenômeno evolutivo (semiciclo gama >> beta >> alfa) e involutivo (alfa >> beta >> gama) de nosso Universo.

Agora podemos compreender melhor o papel de Kardec e Ubaldi na construção de um conhecimento pleno a respeito dos fenômenos. Não apenas seu transformismo profundo, mas sua gênese (fenomenogonia).

Fig.2: O trabalho de Ubaldi complementa o de Kardec. Enquanto este dá o pontapé inicial para a 
compreensão do Todo, o primeiro parte daí e constrói um edifício conceptual capaz de explicar 
os fenômenos mais díspares.

A Parábola do Filho Pródigo fica mais clara quando percebemos os dois semiciclos de nosso Universo. Com Ubaldi o Cristianismo revive num nível mais alto e a Ciência ganha significado divino - que encanta o ser humano comum, leigo. 

Fomos 'criados' simples e ignorantes (átomo) se considerarmos o ponto de partida este universo material. Mas somos 'criados' à imagem e semelhança de Deus (anjos) se considerarmos o Seu Reino (universo imaterial, além do espaço, do tempo e da relatividade). 

No Absoluto (Sistema = Reino de Deus = Céu) nada verdadeiramente nasce - nem morre. Pois tudo que nasce um dia morre. E o espírito é eterno e infinito, além de todas as escalas humanas e deste universo. Apenas no relativo (Anti-Sistema = Universo material = Terra) as coisas nascem e morrem: civilizações, ideias, teorias, criaturas, planetas, estrelas, galáxias, máquinas, relações.

Vamos entrar com um pouco da Nova Cosmologia para sustentar as afirmativas incisivas.

As três primeiras décadas do século passado consolidaram uma nova ciência. Essa ciência ainda está se desdobrando, com avanços apoiados nela. Ela construiu uma nova história do Universo. Um cosmos em transformação perpétua cuja criação coincide com a gênese do espaço e do tempo, da matéria e da energia. E - mais importante - muitos começam a perceber suas implicações filosóficas e teológicas dessa nova teoria.

A Teoria do Big-Bang se firma a partir da década de 1950. A partir dela muitos físicos teóricos tentam buscar a causa que deu início ao processo evolutivo do cosmos. No entanto, quanto mais se aproxima da singularidade (instante t=0), mais impotente se torna a nossa ciência. Um ponto infinitamente pequeno, de densidade infinita, em que a temperatura é inimaginável e nenhuma lei física aparentemente funciona. Ou seja, as próprias evidências atestam que as leis de nosso Universo tem seus limites. A partir de um ponto elas não são válidas. 

Quem 'criou' essas leis? Por quê?

Fig.3: Uma origem (das leis, do movimento e da forma), que inicia um transformismo, 
que aponta para um destino final. A origem é um mistério para a mente racional e seu produto 
mais elevado, a Ciência. O destino é assombroso para o nível de consciência atual, refém do
contexto, da forma e das aparências. Mas para quem vislumbra o infinito nas coisas, tudo está resolvido.

A Ciência não o sabe. Mas é aceito pela comunidade científica que a teoria possui uma solidez muito grande. Quem afirma é um astrofísico da USP, cujo podcast (curto, de 5 min.) pode ser ouvido aqui [1].

"A noção de que o Universo surgiu numa espécie de grande explosão, sendo originalmente muito quente e denso em algum tempo finito no passado e, desde então, tem se resfriado e continua em expansão atualmente é conhecida como big-bang. Mais do que uma simples ideia, a principal explicação para a origem de tudo que conhecemos é uma teoria muito bem fundamentada em evidências científicas e observação. Sabe-se inclusive, com uma margem mínima de erro, que a idade do Universo é de 13,9 bilhões de anos."
Fonte: [1] (grifos meus)

Observação: sendo o erro máximo dos cálculos de aproximadamente 1%, é razoável estarmos abertos a idades do Universo que variem entre 13,7 e 13,9 bilhões de anos.

O que (e quem) garante(m) essa solidez?

Penzias e Wilson. Eles fizeram observações que comprovam a teoria. O que foi feito por esses dois sujeitos foi, a partir das condições iniciais (teorizadas), captar o 'eco' da expansão inicial, conhecido como radiação cósmica de fundo em microondas

Fig.4: Mapa de 2013 da radiação cósmica de fundo deixada no Big Bang, 
tomada pela nave espacial Planck da ESA, capturou a luz mais antiga do universo. 
Esta informação ajuda os astrônomos a determinar a idade do universo [2].
Crédito: ESA e a colaboração da Planck.

No começo havia um caldo especial composto de quarks e elétrons. Posteriormente, nêutrons, prótons e elétrons - que não conseguiam formar átomos devido às condições de ambiente, com temperatura elevadíssima que impedia a formação da matéria. Até o instante t=1s, a nucleossíntese foi efetivada: a junção entre prótons e nêutrons, via força nuclear forte (com alcance de até 10E-13 metros). No entanto, durante muito tempo, a energia dos fótons (devido às altas temperaturas) impedia a união entre os núcleos e os elétrons. 

A expansão do espaço-tempo trouxe uma diminuição de temperatura, e consequentemente de energia associada aos fótons. Estes não foram mais capazes de impedir a junção de núcleo e elétrons (força eletromagnética). E assim nasce a matéria (t ~380 mil anos), sendo sua primeira forma o átomo de Hidrogênio. 

Essa sopa inicial não era visível, pois a luz não podia atuar dentro dela (os fótons estavam ocupados impedindo a relação entre núcleo e elétrons). Mas assim que a união formou os átomos (equilíbrio de cargas), os fótons, sem nada para 'fazer', ficaram livres para se espalhar pelos quatro cantos do universo.

Essa luz inicial (pós-brilho) é denominada de radiação cósmica de fundo em microondas, e foi prevista pela primeira vez por Ralph Alpher e um grupo de cientistas, em 1948. E foi encontrada por Arno Penzias e Robert Wilson, ambos da famosa Bell Telephone Labs, em Nova Jersey. Essa dupla estava construindo um receptor de rádio em 1964 e obtendo temperaturas superiores às esperadas segundo a NASA. Eles pensaram que a anomalia era devido a pombos e seus excrementos. Então fizeram uma limpeza geral em sua antena - inclusive matando pombos, pelo que parece. Mas o problema persistiu. Daí em diante ficou óbvio que se tratava de algo real, concreto. E que esses eram os registos da 'pré-história' do Universo.

A Radiação Cósmica de Fundo dá várias pistas aos astrônomos. Por exemplo, qual a composição do Universo. Os cosmólogos acreditam que a maioria da matéria e energia do cosmos não pode ser percebida através dos nossos instrumentos. Essa parcela despercebida é denominada matéria escura e energia escura (aprox. 95% de tudo que existe).

A expansão do espaço (=do Universo) se deu muito rapidamente no início - e continua até hoje, e continuará até o seu término. E essa expansão inicial se deu a velocidades maiores do que a da luz. Isso não viola o limite de velocidade de Einstein, pois esse limite está restrito a coisas dentro do universo (não ele em si).

O mais interessante é perceber que a gravitação - uma das quatro forças fundamentais - está intimamente relacionada à matéria, uma vez que é a primeira forma dinâmica (tipo de energia = onda) que surge no cosmos. As ondas gravitacionais, por estarem muito próximas da matéria em termos de origem, são muito difíceis de serem detectadas. Ela é o tipo de energia (gravífica) que serve de base para todas as outras - assim como o Hidrogênio o é para toda a série estequiogenética.

"Como o hidrogênio é o tipo do protozoário monocelular da química inorgânica e o carbono o da química orgânica, assim, a gravitação é a protoforça típica do universo dinâmico."
AGS, Cap. 38

E quando estamos lidando com a gravitação, precisamos compreendê-la no seu sentido mais vasto. Newton iniciou esse estudo. Einstein continuou. E Ubaldi, através de Sua Voz (AGS), forneceu seu significado substancial.

"A primeira gênese de β , a gravitação, aparece, portanto, como forma originária de energia, matriz da qual nascerão, como filhas, todas as outras formas, por meio de distinção e diferenciação no processo evolutivo. Particularizemos. Entendo aqui, como gravitação, não a pequena gravitação de Newton, caso particular ao vosso planeta; mas uma gravitação de sentido mais amplo, que resulta do equilíbrio das forças inversas de atração e repulsão, opostas e complementares (lei de dualidade, que veremos agora); uma gravitação filha direta do movimento, isto é, energia gravífica, filha da energia cinética." 
AGS, Cap. 38 (grifos meus)

Equilíbrio de forças que viabiliza a coesão da matéria e o movimento dos objetos. É a lei de dualidade (princípio universal). Ela é a expressão do movimento no plano energético. Por isso está intimamente relacionada com a dimensão 'tempo'.

Não iremos continuar essa história nem essas descrições. Elas são interessantíssimas se vistas sob o prisma monista. O importante aqui é perceber as relações entre os fenômenos. As derivações e diferenciações. O esquema geral do cosmos. De sua construção. Ou melhor...reconstrução.

Fig.5: Desenvolvimento do nosso Universo. Os períodos não estão em escala. 
Parte-se do caos, da ignorância, para se chegar à vida e com esta à manifestação de uma consciência
de alto grau. E daí, parte-se para a desmaterialização...(o fim?).
Mas será que somos filhos do caos e da matéria? Ou existe uma outra explicação? Uma outra teoria?

Com os fatos apresentados, é possível concluir que nosso Universo é movimento perpétuo. Sua origem está além das manifestações contidas em seu seio - por mais evoluídas que sejam essas manifestações. E ele caminha para seu fim (Lei da Entropia e Radioatividade). Mas ele, sendo manifestação, é apenas um aspecto momentâneo do Absoluto. Uma variação da eternidade. Em que criaturas mais ou menos evoluídas digladiam incessantemente. 

Para completar todos esses avanços da Ciência, mister se faz superar a própria Ciência, espiritualizando-a, conforme já foi dito algures [3]. E por isso a obra de Ubaldi é fundamental. Ela fornece um esquema geral que descreve, em linhas gerais, o íntimo do fenômeno evolutivo (A Grande Síntese) e a nossa origem e destino, causa de nossas dores (Deus e Universo + O Sistema).

Fig.6: Pode-se fugir das grandes questões. 
Mas se não buscarmos compreendê-las, elas sempre irão nos dominar...

A Parábola do Filho Pródigo é a síntese do processo da queda (big-crush), com a criação do caos (big-bang) e de toda a odisséia evolutiva (transformismo incessante), até o retorno ao Pai - cujo Reino não é deste mundo...

Cristo disse tudo de forma simples.

Para quem desejar se aprofundar, uma palestra do Maurício Crispim é esclarecedora:

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Do artificialismo agradável ao realismo inexorável

A humanidade vem seguindo uma trajetória que está se consumindo a uma velocidade vertiginosa. Essa trajetória teve por princípio um tiro (=impulso) inicial. Um ato de grande determinação. Ou melhor: um pensamento. Esse pensamento nada mais foi (e é) do que um paradigma. Um sistema de crenças e valores, apoiado na razão, na objetividade, na sofisticação argumentativa, na busca pelo bem-estar. Um sistema apoiado numa forma mental que se traduz no modo de funcionamento de nossas instituições. E que alimenta elas, justificando sua existência através de desejos alinhados com a razão de existir dessas instituições - que são órgãos de um sistema.

 
Fig. 1: Quanto maior a renda (e patrimônio), maior a contribuição para o aquecimento global.
Pior ainda é saber que o grosso desse consumo-emissão não se traduz em despertar de consciência que gere 
atitudes mais sistêmicas, sínteses mais profundas e atos mais humanos. 

O mundo possui vários regimes. No campo político, eles variam entre uma débil democracia e um corrosivo autoritarismo; no campo econômico, eles oscilam entre um raso coletivismo distributivo e um cruel individualismo produtivo; no campo filosófico, eles se expressam como uma reforma íntima calma que não se intromete no mundo exterior e uma atuação sistêmica que não enxerga o espírito interior que deveria animá-la; no campo científico ele se expressa entre um dualismo que admite dois termos fundamentais e em perpétuo combate e um pseudo monismo que vê a essência numa forma particular - e não em algo que transcende todas as formas. 

Sem dúvida são tempos de perdição. De desorientação. De velocidade. De desempenho financeiro, sexual, acadêmico, social. E de reconhecimentos imediatos. De curtidas e likes e gozos. Tudo isso em combos, de preferência - como os serviços e bens. 

Não há tempo para se pensar no tempo. Não há espaço para admitir novas perspectivas, à fundo, que possam transformar a personalidade. Não há vontade de parar para pensar (de verdade). E muito menos, é inexistente a necessidade de contemplar. Isso (contemplar) virou um desperdício completo. Uma atitude apenas útil para tirar algum proveito momentâneo. Algo distante, sem significado mais profundo. Algo abstrato...

Apesar disso, eu prefiro uma definição mais profunda. Ela nos dá uma ideia mais precisa sobre o ato de contemplar:

Então eu percebo os outros de modo muito diferente. Vejo (sem arrogância alguma) pessoas perdidas - ao menos em sua grande maioria. Sinto a desorientação dos indivíduos. Sinto que o grau de consciência das pessoas só pode expressar esse desespero - de incorporar um aspecto mais profundo da vida - através de reações brutas, dizeres com conteúdo substancial muito diluído. Me preocupo com o próximo. Mas, ao mesmo tempo, pouco posso fazer. Sabe...é uma questão de quantidade, apesar disso ser fundamentalmente ilusório. 

Estamos no Anti-Sistema. O universo é trifásico: possui matéria, energia e espírito (que algumas correntes chamam de mundo físico, mental e espiritual). E todas fases são contíguas. Isto é, coexistem a todo momento, em todo lugar, se relacionando de modo muito especial a depender da consciência individual. E, sendo trifásico, devemos conviver com todos elementos e trabalhar com eles. Eis o porquê da quantidade ser importante para que a qualidade aumente sua importância.

Parece um paradoxo, mas não o é. Basta observar à fundo. Não com a lógica do intelecto, mas com a potência penetrante da intuição, na qual o indivíduo se sente como fenômeno dentro do fenômeno. O cosmos olhando par si mesmo. A humanidade se vendo sob uma perspectiva cósmica. O indivíduo conhecendo sua essência e a causa do transformismo que o anima. 

Vamos falar um pouco sobre economia, tecnologia e ecologia (o tema deste ensaio).

Da Revolução Científica - como consequência esperada - brotou uma outra revolução, seu subproduto: a Revolução Industrial. Ela foi caracterizada pelo quê? Pela transformação de matéria bruta e formas de energia estocadas no planeta através de conhecimentos científicos. A meta foi aumentar a velocidade, diminuir distâncias, comunicar de modo claro, trocando grande quantidade de informações. Trazer mais conforto material. A busca pela eficiência. 

Mesmo feito de modo desordenado e desigual, foi possível levar a muitas pessoas benefícios antes inimagináveis. Na medicina (medicamentos, tratamentos, equipamentos, medicamentos, conhecimentos), no lar (eletrodomésticos, eletroeletrônicos), nas cidades (transportes, saneamento, comunicações), na administração (distribuição, mapeamento, priorização) e por aí vai. Até mesmo surge uma nova arte, o cinema - a sétima arte. E com ele novas possibilidades. Tudo se espalha rapidamente, mesmo que de modo heterogêneo e trazendo germes de futuros problemas.

O problema disso tudo foi o seguinte: os custos de produção sempre foram externalizados. 

O que é isso? (externalização de custos)

O blog do Roberto Moraes, engenheiro e professor titular do IFF, tem uma definição que julgo muito clara:

"Este é o nome pomposo que se dá a todos os gastos que um empreendedor teria para montar seu negócio, e por vias diversas, ele consegue passar a responsabilidade para a gestão pública que reforma vias, desapropria áreas, dá isenção ou descontos de tributos, forma profissionais, etc. Os investidores absorvem custos até a fase de licenciamento, com as chamadas compensações/mitigações ambientais e/ou sociais, para além disso, tudo será sempre muito difícil. O gestor público tem que saber disto, até para compreender e administrar o processo de regulação e de demandas que tendem a surgir cada vez mais de parte a parte. O blog está se referindo ao Açu, mas as referências servem para qualquer grande empreendimento."

Fonte: [3]  (grifos meus)

Isso permite camuflar o preço real de um produto / serviço. Não é preciso dizer que essa camuflagem agrada muito ao consumidor, cujo salário é cada vez mais achatado e o 'preço' de obtê-lo, mais humilhante e tenso. Desse modo o capitalismo encontrou um modo de conseguir se perpetuar, enfrentando pouca resistência por parte da sociedade (que o sustenta).

Chegamos ao ponto em que não é mais possível manter as aparências. Os preços começam a aumentar absurdamente e não há artificialismo que consiga disfarçar. Esse artigo de Umair Haque explica melhor o fenômeno da externalização que se torna internalização de custos [1].

Agora o que vamos observar é a inserção desses custos de produção - acumulados ao longo de décadas e décadas...desde os primórdios da Rev. Industrial - serem passados para nós, consumidores, povo deste planeta. Porque a turma que possui as megacorporações não está disposto a pagar a conta. 

Jeff, Elon, Bill e Cia. não estão interessados num mundo verdadeiramente harmônico e sustentável. Eles querem fugir para Marte ou uma estação espacial enquanto nós nos digladiamos até a morte. Eles estão mais presos à ilusão. Estão presos à forma mental. Ao gozo em sua forma mais sofisticada. E nós, ao nos mantermos inertes e 'focados' em nossas pequenas ocupações, fazemos papel de idiotas. Precisamos agir rapidamente. Cada um precisa aceitar a realidade. Caso contrário, a conta será cada vez mais amarga. Preços subindo como um foguete. E com isso, manter um padrão e vida minimo será um luxo para uma parcela diminuta da humanidade. Sabe...essas coisas como plano médico, medicamentos, transporte, comida decente, energia, água potável, banhos quentes, moradia decente e coisas do tipo. Coisas que todo ser humano teria direito e poderia ser fornecido por um sistema político-econômico minimamente justo. 

As pessoas não conseguem frear toda essa loucura porque elas não compreendem o que está acontecendo de fato. O fenômeno é um mistério para praticamente todos. Mas isso não é o pior. O mais trágico é que ninguém está disposto a mergulhar à fundo nas causas dos males atuais. Porque isso demanda esforço, trabalho duro não reconhecido e - em casos extremos - sacrifício. Essa é a desgraça da espécie humana nos tempos presentes. 

Fig. 2: Lei da causa-efeito. O abuso de um lado gera a privação do outro. E vice-versa. Uma dança 
de desequilíbrio dinâmico é de superfície. É a dança da humanidade, que se desgasta para caminhar 
a passos lentos na direção evolutiva. Uma dança de equilíbrio dinâmico é de profundidade. Ela se move 
de outro modo, adentrando no mistério das coisas, para assim realizar verdadeiros feitos. Feitos eternos e 
unificadores...

E qual é a solução então?

Dou uma dica através de afirmativas que mapeiam o fenômeno:

1) As instituições se enquadram numa lógica sistêmica (todas elas);

2) Elas podem aparentemente funcionar contra essa lógica, mas no fim estão movendo palitos na superfície. A grande coordenação reside na lógica sistêmica;

3) Essa lógica tem metas: consumo, distrações, acumulação, aparências, ganhos efêmeros, forma, gozos e crescimento ilimitado;

4) E essa lógica tem temores: conscientização, simplicidade, síntese, intuição, unificação, significação;

5) A lógica por si só parece ter vida própria. Ela é coordenada pela ideologia dominante. Ideologia que expressa o nível de consciência do grosso da humanidade;

6) A humanidade, em seu baixo grau de consciência, - resultado de um descompasso entre intelecto e moral - sustenta inconscientemente essa lógica sistêmica (cuja estrutura é o sistema em si), sem conseguir relacionar seus males quotidianos com o que gera eles;

7) A forma mental baixa combate o sistema que a gerou. Como estão no mesmo nível (forma mental, causa intangível, e sistema, efeito concreto), eles se retroalimentam. Resultado: revoltas incipientes, revoluções usadas pelos poderes a seu favor, mudanças muito lentas, criação de bodes expiatórios em todos os campos, desde a política até a religião até os ramos do saber. Enquanto isso o ritmo de degradação segue a passos largos. Vamos perdendo o que mais tem importância: relações profundas, trabalhos significativos, simplicidade, capacidade de discernir, capacidade de pensar, autonomia, controle sobre nossas vidas...

Vocês estão vendo o quadro? Essa é a gênese dos males atuais. Uma causa (um pouco mais) profunda. 

Nos acostumamos a um mundo estático, em que o nível atingido é considerado o ideal a ser perpetuado - a todo custo. A ideologia do consumo, do bem-estar e dos gozos discretos, porém intensos. A ideologia da argumentação que se potencia pautada nos interesses individuais. Isso é individualismo. Separatividade. Utilitarismo de superfície. 

Precisamos de uma ciência econômica que esteja à altura dos desafios de nossos tempos. Uma economia radical (que vá à raíz dos fenômenos), sendo capaz de coordenar o processo evolutivo no plano concreto para que o ser tenha possibilidade de realizar as criações eternas, no espírito. 

Umair Haque explica um pouco sobre essa economia radical (acione as legendas em português):

Precisamos de ideais para nos movermos. Ideais que gerem ideias. Ideias que coordenadas entre si formam um quadro claro, tornando a ação da coletividade coordenada. Isso será a evolução da revolução. 

Escutemos palavras de Sua Voz:

"Vossa ciência econômica acredita justificar-se – como se partisse de um originário princípio de justiça – afirmando, com sua premissa hedonística, a presença de um tipo abstrato de homo economicus, como se, na realidade, um aspecto pudesse ser isolado do outro e cada fenômeno não estivesse vinculado a todos os fenômenos na lei universal."

AGS, Cap. 92 (grifos meus)

A ciência econômica hodierna (presente) se baseia num tipo humano puramente interesseiro. Como se não houvesse nada a mais. Nenhum interesse que escapasse dos fenômenos de trocas de bens e serviços visando o bem estar.

"Vossas ciências sociais se baseiam confortavelmente em qualquer mentira cômoda. Melhor seria enfrentardes a verdade, dizendo que, quase sempre, o homem, não apenas como uma hipótese econômica mas também na realidade, é um perfeito hedonista, como consequência da aplicação da sua natureza egoísta no campo dos negócios; que o do ut des não é um equilíbrio de direitos, mas sim uma avaliação de forças para um mútuo estrangulamento"

AGS, Cap. 92 (grifos meus)

A economia do do ut des (dou para que eu pegue algo de ti) visa o interesse imediato puro. Não se trata de um princípio que vise o bem estar de todas as partes, mas sim de uma lógica que faça uma mensuração de forças e deixe o conflito de exploração mais ordenado, mais revestido de civilidade e mais eficiente em sua extração. 

Essa lógica já passou da data de validade. As evidências abundam. É só uma questão de ver....

Ainda não está claro?Annie Leonard explica um pouco melhor:


Não é uma questão de opinião: é uma questão de pensar. De ver com clareza. De perceber o quadro todo - e não apenas fragmentos desse imenso mosaico planetário.

A privação é uma consequência do nosso abuso. Não estamos em equilíbrio dinâmico com o meio nem conosco. Do desequilíbrio interno chegamos ao desequilíbrio com os semelhantes, que em seu conjunto não conseguem se inserir como agentes responsáveis no grande equilíbrio planetário

A criação da noosfera é um fenômeno de despertar de consciência coletiva. Ela é a esfera que conseguirá coordenar as outras esferas (biosfera e geosfera). Ela se forma com a consciência global aumentando. Unificação é o passo. Mas para unificar é precisa que cada um se oriente. Faça isso por conta própria. 

Quem está mais desperto pode apenas mostrar o caminho.

Cabe à própria pessoa, presa na escuridão da ignorância, despertar e trilhar o caminho...

Referências:

[1] https://eand.co/why-everything-is-suddenly-getting-more-expensive-and-why-it-wont-stop-cbf5a091f403

[2] https://eand.co/do-americans-know-what-a-massive-ripoff-american-life-really-is-8804aa6b65fa

[3] http://www.robertomoraes.com.br/2011/03/externalizacao-de-custos.html

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

O nascimento de uma ciência qualitativa

A Revolução Científica foi um marco na História recente. Iniciada por Galileu Galilei no século XVII, ela carregou consigo (e carrega até hoje) o método científico, predominantemente indutivo. Um método que se apoia nas quantidades, isto é, em coisas que podem ser mensuradas. Aí temos todo o mundo físico e os domínios que se apoiam nele, como o orgânico, o psíquico e o social. No entanto, à medida que subimos na escala de complexidade, percebemos que esse método vai perdendo força, se tornando uma mera aproximação (e muito ruim) do que se conhece por consciência.

Fig. 1: Não apenas a ciência, mas a religião também sofrerá uma mudança profunda. 
Quem se prende à forma verá nisso a morte de ambas. 
Quem navega na substância e vive o transformismo, verá o nascimento de uma nova civilização.

Para que a ciência moderna nascesse e pudesse dar todo seu rendimento, foi necessário estabelecer alguns pontos. O principal deles foi separar duas coisas: o domínio físico do domínio da consciência. De modo geral:

  • A ciência irá lidar com o mundo físico, composto de propriedades quantitativas
  • A consciência, composta de qualidades, irá ficar fora do domínio da ciência. 

Ou seja, tudo que não é mensurável está fora do âmbito da ciência. Esta só irá se preocupar com quantidades. O reino da qualidade não é objeto de estudo da ciência que nasce. E o próprio Galileu proferiu uma frase que marcou todo o desenvolvimento ulterior da ciência moderna:

"A matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo."

Galileu Galilei

E assim caminhou a ciência, trazendo inúmeros progressos à humanidade no campo do mundo concreto. E com esses sucessos as ciências físicas começaram a galgar degraus, buscando explicar como funcionavam os organismos vivos, as células, os órgãos, os tecidos e os subsistemas do corpo e o corpo como um todo. Mapeamos a botânica e observamos a biosfera. Formulamos teorias para a ciência térmica e eletromagnética. Adentramos no cérebro e buscamos relacionar a origem dos sentimentos e pensamentos - a criatividade - com os impulsos nervosos. Mas justamente aí começamos a falhar, patinando na periferia de um fenômeno que está além dos sentidos e da racionalidade e da objetividade. E assim o método científico começa a derreter em face àquilo que ele pretende desvendar: a natureza da consciência - e a matemática, sua linguagem aliada, se revela impotente, capaz apenas de esboçar aproximações, estabelecendo relações causais.

Isso não significa que a ciência materialista com seus métodos e linguagens não seja capaz de estabelecer aproximações do reino qualitativo. Mas ela por si só não é suficiente. E aí adentramos no que é denominado monismo neutro. O documentário abaixo pode dar uma introdução às questões relacionadas ao estudo da natureza da consciência. 

O monismo neutro afirma que o substrato de toda realidade não é composto nem por mente nem por matéria, mas sim por um terceiro elemento (situado no campo do superpsíquico) que pode ser abordado por abordagens baseadas na mente ou na matéria. Esse elemento desconhecido seria a substância (de Deus).

A teoria integrada da informação da consciência, de Giulio Tononi, propõe que a consciência está correlacionada com a informação integrada ao seu nível máximo, dando uma caracterização matemática à sua teoria. Mas meras correlações não constituem uma teoria da consciência. 

A questão aqui é estabelecer uma ponte entre essa informação integrada ao máximo grau e a manifestação da consciência. E a visão de Galileu não ajuda a avançarmos nesse ponto, já que ela separa ciência de consciência - isto é, uma forma de abordar com o fenômeno em si.

A ciência é hoje materialista. Segundo Ubaldi, amanhã será ciência do espírito. Não no sentido que geralmente nos vem à mente (adivinhações, dogmas, etc.), mas tendo por base de que é necessário transcender os métodos hodiernos através de uma pesquisa que parte do campo interior. Tendo por premissa que a própria ciência é um fenômeno contido no devenir universal, e ela também, para avançar, deve se transformar em algo inteiramente novo, se abrindo para a metamorfose. E para isso é preciso evoluir, ou seja, atingir uma maturação interior capaz de despertar a faculdade intuitiva no ser, e com isso desenvolver um método inteiramente novo - o método intuitivo. 

As correlações podem servir de base. Mas de nada adianta continuar estabelecendo (e reescrevendo) correlações ao infinito, se elas por si só não dão a respostas. No fundo elas são setas que apontam para outro 'lugar'. Setas que apontam para um infinito. 

Se a ciência for se tornar uma ciência do espírito (a ciência da nova civilização), ela deve transcender a ciência de Galileu. A ciência materialista deve se tornar espiritualista. Isso não significa negar todas as leis (descobertas), métodos (desenvolvidos) e ferramentas (usadas) da ciência materialista (séc. XVII a XX), mas a partir de tudo isso e dos paradoxos do nosso século, superar essa forma de ver o mundo, expandindo nossa percepção da realidade. E aí o sentimento, o pensamento sistêmico e a integração tem um papel central. 

Estamos diante de uma era de transformação profunda, cheia de possibilidades se soubermos perceber o que as forças da vida nos apresentam. Devemos avançar com nossa ciência de Galileu, mas desenvolver, sem temor, a ciência de Ubaldi. Um sistema integrado que coloca na vanguarda a ciência do espírito - e na retaguarda a ciência da matéria.

Existe um termo conhecido como panpsiquismo. Ele afirma que tudo que existe é permeado de consciência. Não no sentido tal qual conhecemos no nível humano. E sim no sentido de que tudo obedece a uma lei, em seu nível, e 'busca' cumprir sua função dentro do esquema de nosso Universo. Um cosmos decaído porém em evolução perpétua e incessante. Que segue uma trajetória característica ditada por uma espiral - os movimentos fenomênicos. 

O vídeo (curto) de Russel Brand dá uma ideia desse conceito. Ele explica um pouco sobre a entrevista que ele deu ao Prof. Philip Goff (especialista em panpsiquismo).

A consciência é a raíz de nossa identidade. Sua compreensão pode ser a solução de diversos problemas que afligem nossa sociedade. Essa revolução está em curso e irá não apenas mudar radicalmente nossa compreensão do Universo, mas desvendar nossa própria natureza.

Pietro Ubaldi fala abertamente e com muita propriedade a respeito dessa necessidade da ciência se transformar. Sua Voz, em A Grande Síntese, aponta para essa nova ciência, dizendo que a velha está saturada e não consegue caminhar mais sozinha. É imperativo que surja seu aspecto mais evoluído.

"Vossa ciência lançou-se num beco escuro, sem saída, onde vossa mente não tem amanhã. Que vos deu o último século? Máquinas como jamais o mundo as teve, mas que, no entanto, são apenas máquinas e que, em compensação, ressecaram vossa alma. Essa ciência passou como um furacão destruidor de toda a fé e vos impõe, com a máscara do ceticismo, um rosto sem alma."

AGS, Cap. 1 (grifos meus)

E, mais importante, a ciência sempre teve uma finalidade: tornar-nos melhores. Mesmo sem sabê-lo, essa foi sua função principal. As conquistas de superfície (bem-estar, vencer argumentos, conquistar) são apenas ilusórias que fazem criaturas involuídas se movimentarem em direção à Deus, evoluindo incessantemente através de experiências. 

"A ciência pela ciência não tem valor, vale apenas como meio de ascensão da vida. Vossa ciência tem um pecado original: dirigir-se apenas à conquista do bem-estar material. A verdadeira ciência deve ter como finalidade: tornar melhores os homens. Eis a nova estrada que precisa ser palmilhada. Essa é a minha ciência."

 AGS, Cap. 1 (grifos meus)

Por isso a revelação será redescoberta pela humanidade. Dessa vez a revelação virá através de profetas modernos, como Pietro Ubaldi e tantos outros que já atuam em nosso mundo. Profetas com uma compreensão mais clara, menos presos à forma e à letra. Profetas com astúcia bem usada, força de argumentação, cultura e intelecto, guiados por um senso moral muito sutil que lhes imprime uma trajetória fora do comum. Uma trajetória que revela um destino. Destino glorioso, em que o elemento se destaca e viabiliza a ascensão vertical, isto é, substancial, de nossa espécie. 

"O momento é crítico, mas é necessário avançar. Então – coisa incrível para a construção psicológica que o último século imprimiu em vós – nova verdade vos é comunicada por meios que desconheceis, para que possais descobrir o novo caminho."

AGS, Cap. 1 (grifos meus)

Fig. 2: Não é tempo de esperar. É hora de agir. Tudo que puder ser feito é válido. 
O esforço individual do ser irá atrair outros, que irão se irmanar e crescer, como um único organismo.
Organismo que se tornará a base de uma nova civilização. Civilização do espírito. 

Através de revelações que tocam o íntimo do nervo espiritual humano, a busca será iniciada. É apenas com algo fantástico, incrível, fora de série e inteligentemente ousado que iremos nos sentir estimulados a progredir em nossas vidas. 

Precisamos de um conceito profundo dito da maneira mais poética, científica e musical. Algo expresso através de uma vivência ímpar. Um ato de amor pelo que está para se revelar, para que assim as pessoas fiquem pasmas e façam um novo início - e não continuem a repetir antigos métodos de novos modos. 

Referências:

[1] https://blogs.scientificamerican.com/observations/galileos-big-mistake/

[2] https://medium.com/the-infinite-universe/science-may-not-be-true-dde5e437c303

[3] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese.