A vida é muito curta. As existências terrenas, incontáveis, são tantas para cada indivíduo que se perdem na estrada do tempo que passou - e se projetam no tempo que virá. E toda condição atual que um indivíduo vive foi forjada através de seus próprios atos. Atos executados baseados em comportamentos que se apoiavam numa forma mental. Essa forma mental nasce na consciência, em seu íntimo, e se baseia numa visão, num sentimento, próprio do espírito. Algo consolidado através das experiências da vida. Então, é apenas vivendo profundamente, sentindo e compreendendo, que será possível caminharmos na única dimensão que interessa: para o Alto. Não um 'alto' espacial, mas algo diferente. Uma ascensão evolutiva, rumo ao infinito, ao eterno e ao Absoluto...
O cinema é, para mim, um meio muito interessante de auxiliar no processo de despertar. Essa relação (eu e a sétima arte) se iniciou há mais de vinte anos. Minha personalidade muito diferenciada não conseguia encontrar no mundo compreensão por parte das pessoas, e para suprir essa solidão terrena me senti impelido a mergulhar na vastidão da imagem e do som.
Filme após filme, fui ganhando a capacidade de filtrar as mensagens. À medida que os anos passavam e meu ser amadurecia, me orientava melhor e buscava por coisas mais substanciais: obras com maior impacto, cheia de significados; de riqueza de detalhes de uma época; que esmiuçavam personagens desconhecidos pelo publico (mas vitais para o progresso humano); que extraíam o melhor de mim através de uma trilha sonora profunda e viva, aliada a um roteiro que expressava um princípio superior. Roteiro: alma de um filme. Música: forma mais elevada de arte, capaz de tocar a alma...
O cinema tem a vantagem de combinar várias formas de representação e tecnologias. Ele permite a produção em série de conteúdo vazio, mas ao mesmo tempo viabiliza a difusão global de obras que ecoam pela eternidade.
Ontem assisti um filme turco chamado 'Milagres do Amor'. É baseado numa história real. A história de um homem chamado Aziz. Um homem que nasceu com uma deficiência: seu corpo tinha uma forte paralisia muscular, de modo que seus movimentos eram restritos e sua fala, quase inexistente. Homem que, por desígnios do destino, acabou se casando com uma bela e boa moça de sua aldeia, Mizgin.
Esse destino pareceu cruelíssimo à bela jovem, que poderia ter uma vida mais plena com uma pessoa saudável. E isso é o que o espectador sente nas cenas iniciais. O choque é forte e o sentimento de injustiça é grande.
Aziz vivia numa pequena aldeia da Turquia da década de 50. Ele teve contato com um professor - homem muito bom - que fundou uma escola nessa vila. Esse professor, desde o início, este ao seu lado, ajudando o rapaz deficiente a levar sua vida limitada - mas nunca limitante.
Quando o casal se muda para uma vila maior, começamos a ver a vida do casal inserido numa comunidade (como todas) que não compreende o significado dos acontecimentos e a situação dos outros. Há preconceito, crianças que caçoam da lentidão de Aziz, colegas de Mizgin desincentivam a situação da moça - segundo eles uma coitada. Para muitos, o jovem com paralisia muscular que andava torta e lentamente, que não podia movimentar seus membros superiores quase nada, que não conseguia esboçar um sentimento ou pensamento plenamente através da fala, que não expressava facialmente em sua plenitude o sentimento profundo que ele tinha por certas pessoas...essas pessoas não viam o ser que residia dentro do corpo, dentro da forma. Mas Mizgn, com o passar dos anos, foi percebendo com clareza crescente qual era sua função naquele contexto (aparentemente) infeliz.
Naquela nova moradia o nosso protagonista encontra bons amigos. Um grupo de pessoas sem preconceitos que se dedica a ajudá-lo. Tudo isso movido pela bondade daquele professor, que devido ao seu magnetismo interior, consegue, sem esforço algum, passar as vibrações de seu íntimo, tornando seus amigos amigos de Aziz. Pessoas dispostas a se dedicar em ajudá-lo a vencer essa doença aparentemente incurável.
Observamos uma trajetória de dez anos, indo do início da década de 60 até 1972. Partimos de um casal muito unido que, apesar disso, sofre preconceitos do mundo. Um casal com destino definitivamente selado. Destino sem perspectivas. Sem mudanças substanciais. E terminamos com duas revelações: milagres existem (1) e devemos cumprir todos os requisitos para eles se materializarem (2).
O amor de Mizgin evolui exponencialmente - graças à junção de sua vida jungida com a vida de Aziz. E isso, juntamente com outros fatores, repercute em efeitos.
Uma dedicação que se inicia na forma de piedade, transforma-se numa dedicação por perceber uma missão em sua vida e finaliza por se tornar um verdadeiro amor. Um amor que se expressa na gratidão de sempre ter estado ao lado de Aziz. Um amor que evolui progressivamente, ao lado da dedicação férrea e da bondade inesgotável de um homem que jamais deixou de ser bom - apesar de tudo.
Existe um fenômeno de realimentação no plano moral que possui em seu íntimo uma dinâmica muito peculiar. Uma orquestração muito bem feita, orgânica e composta por uma miríade de pequenos gestos, acontecimentos, reações e reflexões; composta por expressões sinceras e perseverança inabalável.
As etapas de progressão do sentimento perante aquele incapaz se manifestam em fases: protege-se o deficiente por obrigação; depois, por senso moral (mesmo sem a vontade); mais acima, protege-se por senso de missão; e indo além, não mais se protege o deficiente, mas ajuda-se o ser preso num corpo desbaratado a cumprir seu destino. Passamos a jungir nosso sentido de vida com o sentido de vida daquele que sempre apoiamos. Inicialmente sem saber exatamente o porquê - e finalmente compreendendo tudo.
Os milagres existem. Mas é preciso cumprir todos os requisitos para sua efetivação. Ou, em outras palavras, é imperativo acionar as alavancas do Alto para que as comportas do Céu atuem no plano material.
No filme "Milagres do Amor" observamos a evolução da sociedade de um vilarejo turco. A comunidade, seus hábitos, seus costumes, suas ocupações. Pessoas simples, como nós. O cinema tem papel de destaque, pois um dos homens, amigo do professor e de Aziz, é dono de um estabelecimento e através de seu cinema muitas experiências ocorrem.
Há várias referências a filmes clássicos que marcaram a época. E ao formidável e astro Kirk Douglas, na época em seu auge (o grande Spartacus para as pessoas da vila). E Aziz, ao entrar em contato com essa arte, se encanta e passa a aprender com o dono, seu amigo, a técnica e a arte de exibir películas para as pessoas. Lembra-nos um pouco o belíssimo Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore. De fato, em ambos os filmes, chorei de emoção.
E assim, através de belíssimas produções, observo de modo cada vez mais profundo como a Lei de Deus opera - e como grandes almas contribuem para expressar seu funcionamento, através de histórias tão reais quanto belas.
Para quem deseja conhecer a origem dos milagres, é preciso assistir a esse filme.
Para saber mais: http://www.mundoespirita.com.br/?materia=mucize-milagre
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