1) Nenhum indivíduo é totalmente introvertido ou extrovertido;2) Todas as pessoas carregam quatro funções cognitivas principais;3) O ego é o centro do consciente humano;4) Todo indivíduo assume uma “máscara” sobre o inconsciente coletivo;5) “Mesmo uma vida feliz não pode existir sem um pouco de escuridão”.
Vamos comentar cada uma das conclusões à luz da obra ubaldiana:
1) Não há absolutos no relativo - apenas o Absoluto coordenando os relativos
Ninguém é 100% um dos pólos. Inteiramente feio ou belo; supremamente inteligente ou não; falante ou quieto; teórico ou prático; etc. Podemos ter uma predominância de um pólo, mas jamais seremos um pólo apenas. Isso é evidente quando observamos a pessoa e compreendemos o aspecto trifásico de nosso Universo (matéria, energia e espírito). Não podemos separar um do outro. Todos estão presentes em tudo a todo momento - em diferentes proporções e modos, claro.
Quando estamos teorizando já carregamos em si uma prática (o ato de estudar o conceito, compreendê-lo). E toda prática se apoia numa teoria, que pode ser feita de modo pensado e sujeito a correções (consciente) ou automático e certeiro (subconsciente). O mesmo vale para todas outras habilidades que exercitamos.
2) Quatro fatores constroem e definem a personalidade integral
A teoria sobre 'tipos' psicológicos de Jung demonstrou que as pessoas pensam, sentem e experimentam o mundo de maneiras muito distintas. E isso é evidente, pois segundo Pietro Ubaldi cada indivíduo foi influenciado pelo seu meio (geográfico, cultural e familiar), possui sua genética particular (de pai e mãe) e seu nível de consciência (espírito).
O famoso psiquiatra identificou quatro funções psicológicas fundamentais: sensação, pensamento, sentimento e intuição. E elas podem operar tanto através de introvertidos quanto extrovertidos (predominantemente, não totalmente, lembremos). E normalmente apenas uma dessas características é mais dominante - as demais funções são mantidas no inconsciente. Para Ubaldi o inconsciente se subdivide em subconsciente (funções já consolidadas, automatizadas nos instintos) e superconsciente (em estado de germe, em vias de desenvolvimento).
O que Jung chama de dominante é aquela que opera no consciente. Aqui podemos descrever em linhas gerais as quatro funções:
A sensação indica a existência de algo.
O pensamento estabelece o significado desse algo.
O sentimento declara se esse algo nos convém, e se devemos aceitá-lo.
A intuição é uma percepção inconsciente das coisas, indicando de 'onde' vieram e 'para onde' estão indo.
Novamente, as definições de Jung são muito consistentes, exceto pela 'intuição', que não está definida claramente - sendo necessário nos apoiarmos na visão de Ubaldi.
Sensação está para os instintos (zona do subconsciente). Pensamento está para a razão (zona consciente). Sentimento está para a moral (zona do consciente). Intuição está para o desconhecido que engloba tudo conhecido e vai além (zona do superconsciente). Na verdade, ser consciente ou não depende do grau evolutivo da criatura: um ser evoluído pode ser consciente na intuição e inconsciente nas zonas inferiores - e um involuído pode ser consciente na zona da razão e inconsciente na zona da moral e além.
Quando Jung fala que nascemos com uma herança psicológica e outra biológica, ele se refere a um aspecto individual, interior e progressivo (base espiritual, construção da personalidade via experiências); e outro coletivo, exterior e cíclico-oscilante (base material, através da genética de nossos antepassados). E ele diz que ambas são importantes para determinarmos traços de comportamento.
Ubaldi não apenas está em plena sintonia com o pensamento jungiano, como dá uma visão mais vasta sobre o mesmo, enquadrando todos esses conceitos numa fenomenologia universal.
O inconsciente coletivo - para Jung - seria o centro do material psíquico, cujo conteúdo é compartilhado por pessoas de todas as épocas, locais e culturas. Logo, esse 'reino' seria algo imaterial, que está além do espaço-tempo. Ele vai se moldando e progredindo à medida que as criaturas que o impulsionam adquirem experiência e avançam evolutivamente. Os rishis chamam (esse inconsciente coletivo) de Akasha. A Ciência começa a abordá-lo, dando o nome de Campo Akáshico. Ervin Laszlo vem desenvolvendo um trabalho muito interessante em relação a isso.
3) O ego (eu individualista) é a referência do biótipo médio
O consciente humano do nível evolutivo atual está centrado no ego. Isto é, no interesse de nível individual. No melhor dos casos, um interesse familiar ou de classe social. Isso se traduz numa arquitetura sistêmica pautada em lógicas que viabilizem esquemas de interesse restrito - de curto prazo, com efeitos bem tangíveis e que estimulem o ego. Não à toa temos um algoritmo (político, econômico, social) que reflete a forma mental predominante.
É preciso 'vencer na vida'. E gozar sempre que se está numa posição boa. Usar as condições para se refestelar nos prazeres e garantir o domínio futuro. Jamais promover o esclarecimento das pessoas. A não ser que isso seja apenas uma aparência para enaltecer a imagem própria e enganar aqueles simples (como as pombas). É assim que a sociedade funciona. Cada estrato social, cada cultura, cada época, se pautou por esse princípio. Nos últimos séculos ele se tornou mais sofisticado: adquirimos um verniz de civilidade, de cultura. Uma primeira aproximação do conhecimento - porém, conhecimento fragmentado.
O nível consciente é aquele que está em atividade, em construção. Que calcula, pensa, erra, refaz, melhora, percebe. Para Jung "o ego fornece direção às nossas vidas conscientes". Traduzindo: ele (nossos interesses restritos) serve de bússola para a nossa operação no nível consciente.
Sob a ótica ubaldiana percebe-se que esse consciente está em movimento. Ele avança ao longo de experiências de várias existências. E o que muito foi trabalhado, é sedimentado no subconsciente. O que é inútil, não penetra no ser - o que é útil à vida, entra na consciência de profundidade e passa a operar de modo perfeito, automático. Assim o consciente perde 'espaço' na retaguarda. E querendo manter sua amplitude de atuação no espectro, só lhe resta avançar rumo ao que está (também) na profundidade do ser, porém no inconcebível. Um inconcebível cuja conquista garante o domínio no plano consciente. Todo esse dinamismo da personalidade humana é detalhado no volume Princípios de uma Nova Ética (figura abaixo).
4) Todo indivíduo assume uma persona (=máscara) perante o mundo que lhe é estranho
Esse mundo - na verdade todo o Universo, o AS - é um palco em que o ser não pode vivenciar integralmente sua natureza. Logo, não pode igualar sua essência com sua aparência. Aqui a vida é um jogo cujo sucesso depende do grau de sofisticação da mentira. As sinuosidades, as enganações, podem ser baseadas no medo (tamas), na ambição (rajas) ou na doação (sattva). São níveis diferentes com propósitos muito distintos. Mas o princípio é o mesmo: interesse. Não há desprendimento (das gunas), mas apenas evolução do nível de resultados almejado.
Para podermos atuar, devemos incorporar um papel. Mesmo que a gente sinta que é aquilo que vestimos, que pensamos, que gostamos, que fazemos, a verdade é que nosso Ser está muito além disso tudo.
Com Ubaldi fica claro que essa natureza - que se manifesta de forma cada vez mais clara, potente, coesa e bela - interage com a forma manifesta (nossa persona) para que a forma exprima melhor o estado atual de consciência do ser. Esse processo é gradual. Irá ser função do meio, da tarefa que foi incumbida ao ser (por ele mesmo ou por forças superiores, a depender do nível evolutivo), dos pais e de seu espírito.
5) Uma vida plena necessita de trevas para ser verdadeiramente integral
Esse princípio jungiano se encaixa perfeitamente na Grande Equação da Substância. Como a substância se apresenta em três formas (matéria, energia, espírito) em nosso universo; e cada forma subdividia em outros níveis, e daí por diante, formando as individuações; e essas formas são contíguas, ou seja, estão sempre juntas em todo ser e local e momento; então é possível chegar à conclusão de que uma individuação saudável possui todas formas interagindo em equilíbrio.
Fig.4: Para chegar ao ápice celestial, é preciso pegar impulso no abismo do inferno.
Dominar os meandros do inferno sem esquecer das maravilhas do céu é a arte e a ciência da vida humana. É Logos guiando Lúcifer. Ou seja, a intuição guiando o intelecto. A moral elevada pautando o uso do intelecto - e o intelecto afiado buscando construir um senso moral elevado.
Além disso, há ainda a questão do dualismo que, para formar uma unidade, deve combinar de forma harmônica os opostos. Ou seja, não é eliminando um dos pólos que se obtém a unidade - mas desenvolvendo os extremos numa dança rítmica que sempre imprime impulsos para a verticalidade mística. Uma dança que oscila no plano físico e mental, mas cujo produto mais fino (quintessência) é a vetorização para o plano espiritual.
Isso é monismo.
Referências:
[2] UBALDI, Pietro. Princípios de uma Nova Ética.
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