“Muito se fala, pouco se faz.”
Eis uma das frases mais ouvidas ao longo de cinco mil anos de
Civilização quando alguém se dá conta do descompasso entre o
falar e o agir existente na nossa sociedade.
Não é minha proposta aqui enumerar
e condenar os inúmeros vícios humanos passados e atuais relacionado
ao discurso, mas procurar algumas das causas fundamentais que levam
uma pessoa a ter uma energia e vontade fervorosa para praticar esse
discurso, e um completo (ou quase) desinteresse em praticar atitudes,
das mais simples (o ato de dar “bom dia”, de tentar puxar assunto
com um estranho(a), por exemplo) às mais sólidas (aprender uma nova
língua, música, fazer uma faculdade, escrever um livro, elaborar
uma teoria,...).
Pela minha intuição, o
ESQUECIMENTO é um dos motivos mais proeminentes que conduzem as
pessoas a super-valorizarem o discurso, seu ou dos outros
(momentaneamente, claro), e não perceberem, ou sub-valorizarem, as
atitudes suas e de seus semelhantes – especialmente a destes
últimos. Por que? Porque esse ato de esquecer a médio e longo
prazo, facilmente, é um tipo de postura que vai desencorajando a
prática de qualquer ato que gere resultados a longo prazo. Isto é,
encarar afirmativas SÉRIAS como se fossem BRINCADEIRAS é um ato que
vai alimentando os “valores” dessa massa chamada humanidade, que
passa indiretamente a conduzir a forma de agir (ou não) das pessoas
individualmente. Como resultado, gera-se uma força de campo que
induz seres a levarem vidas orientadas pelo e para o discurso, e
praticarem atividades sempre iguais ou com uma pseudo-variação,
padronizada e anti-natural. Raros ainda são os casos de
independência completa no agir.
Esse ato de esquecimento sem dúvida
é importante e deve ser usado com liberdade. Nossa memória é
incapaz de armazenar todas as informações que recebemos no dia a
dia. Nem deve, já que MUITA coisa dita não acrescenta nada ,ou até
'desacrescenta'[*], na nossa vida. Mas esse não é o ponto aqui. A
questão central é: SERÁ que estamos FILTRANDO de maneira correta?
Pensando a longo prazo? Pensando de forma SISTÊMICA? Como de
fôssemos parte de um todo, inter-relacionados uns com os outros.
Será?
Estamos assim diante de um problema
de grande magnitude que é perceptível a um número reduzido de
seres (de sensibilidade desenvolvida e visão de futuro telescópica),
que são os que mais sofrem internamente ao se darem conta da triste
realidade – e mais ainda ao perceberem que nada ou pouco, a passos
muito lentos, está sendo feito para alterá-la efetivamente. Dessa
forma, devemos procurar nos atentar para essas insatisfações –
aparentemente banais para o tipo médio deste globo – e tentar
compreender o motivo delas. Pois a única forma de podermos julgar se
alguém está louco ou não é:
Primeiro,
Escutarmos o outro.
Segundo,
Compreendermos o que está sendo
dito pelo outro.
Terceiro,
Sentirmos essa realidade
“imaginada”, usando outros sensores e mais refinamento e mais
percepção cósmica.
Quarto,
Raciocinando, a partir da nova
sensibilidade, essa realidade, e buscando alterá-la.
Confesso que seguir esses quatro
passos requer tempo – às vezes uma vida inteira. No entanto, é a
única forma que vejo de tirar a Civilização da inércia
moral-espiritual que vem a caracterizando nos últimos séculos.
A História é prova farta e
concreta da subvalorização da prática e supervalorização do
discurso. Basta nos lembrarmos do célebre pintor Vincent Van Gogh,
que morreu paupérrimo, desprezado e rejeitado por uma moça que
amava, mas que hoje é citado despudoradamente e tem seus quadros
vendidos por milhões de dólares; ou Schubert, uma virtuose do
piano, brilhante compositor, que no entanto nunca teve um piano em
sua vida; ou Jimmy Carter, que apesar de uma vida menos trágica, foi
desprezado quando presidente por demonstrar razão e ter visão de
longo prazo em questões energéticas, de sustentabilidade, de
seguridade social, entre outras. Os exemplos são muitos. E no outro
extremo, líderes extremamente rudes no campo estatal e privado, ou
pseudo-cientistas e pseudo-artistas que, por terem habilidades em se
apropriar de ideias alheias e falar de forma agradável no momento
certo para as pessoas certas (de poder), puderam colher louros e
glória em vida, sem no entanto acrescentarem nada para a humanidade
por conta de seu próprio esforço.
Esse é o retrato de forma variada
mas substância repetida que traduz a humanidade. E creio que chegou
o momento de deixarmos de repetir velhas fórmulas que não mais se
adequam às REAIS NECESSIDADES do ser – prestes a nascer – do
Terceiro Milênio. Ser este que tende a ser cada ve mais comum em
nosso meio.
Com isso tudo eu, em minha infinita
teimosia (consciente, creio eu), sugiro ignorar o que não está de
acordo com os sentimentos e vontades mais profundos do seu ser. Ou
seja, INDEPENDENTEMENTE de companhia ou não, de garantia de
“amizades” ou não, de garantia de “sucesso” ou não, busque
praticar as atividades que você sempre desejou quando houver
oportunidade.
Não devemos criar barreiras que
impeçam nossa evolução para mantermos intacta nossa “boa imagem”
na sociedade ou no grupo ou na família ou na empresa ou etc. A única
imagem que devemos valorizar é a nossa perante a Eternidade.
* me pareceu legal esse neologismo
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