É
tranquilizante e revelador se dar conta de que existiram seres que
passaram por este planeta e causaram um abalo profundo na sociedade
em que estavam inseridos. Um abalo ofensivo para os que estavam perto
do fenômeno em sua gênese, e não souberam reconhecer a
transformação que estava se dando no ser que a causou; admirável
para os perdidos, que já tentaram todas alternativas para chegar à
felicidade (e não conseguiram), mas não estão dispostos a seguir o
exemplo; e reveladora para aqueles que, ainda perdidos, já vinham
descobrindo e experimentando em escala reduzida os métodos do autor.
O
livro História de um Homem já alerta nas primeiras páginas: o
relato será realista, descrevendo o árduo caminho seguido pelo
autor antes de começar seu verdadeiro trabalho. Uma tarefa de
informar o mundo, fazendo uso de todo conhecimento de todos os
campos, o seu estado atual, as suas possibilidades e o seu destino.
Uma síntese nunca antes feita, integradora e reveladora, partindo
dos métodos e ferramentas deste mundo para se atingir uma visão
ímpar dos fenômenos do Universo micro e macro; espiritual e
material, e assim alçar os seres e induzi-los a uma elevação.
Naturalmente, seus primeiros anos já prenunciavam o seu destino: uma
infância e adolescência em que o sentimento de deslocamento se
tornava mais evidente à medida que os anos passavam; e uma juventude
calcada pela busca do sentido de sua vida e do porquê das pessoas
tanto pregarem e exigirem o Evangelho dos outros, mas não o
praticarem nem sequer no menor grau. Isso levou o autor a fazer uso
da escola e universidade como instrumentos dessa busca incessante por
respostas. Daí todas áreas do conhecimento foram varridas e
assimiladas, sem no entanto fornecerem uma resposta convincente e
definitiva. Deus estava além disso.
Ubaldi. Fase de sentir e se descobrir. |
Enquanto
o mundo colocava à frente o problema econômico como prioridade, o
protagonista, após a universidade, priorizou a busca pelo
conhecimento. Era esse o início da caminhada que o aproximaria da
verdade universal. Mas o saber do mundo continuava não sábio. Após
estudar e compreender a fundo a religião, a filosofia e a ciência,
e de observar o mundo nos detalhes mais íntimos, concluiu que ele
nada sabia. E pior: os sábios igualmente nada sabiam...
Interrogou
calmamente os cientistas, que diagnosticavam e davam respostas
baseados em suas especializações. Estas consideravam o tangível
apenas. Buscou a fé da época. As afirmações, inicialmente
convincentes, se depreciavam à medida que os padres revelavam a
contradição entre a sua postura e vontades e aquelas pregadas
convincentemente. E grande parte dos filósofos, com toda sua
potencialidade, eram comummente vítimas de elucubrações acadêmicas
que visavam mais enaltecer o próprio ego do que clarear as relações
e unir as almas. Eis que, após tentar aplicar o método do mundo
para atingir fins mais elevados, o autor percebeu que estava sozinho
em sua busca. A batalha estava prestes a começar.
Com
o passar dos anos o protagonista iniciou a implementação de um
plano diretor, reservado após todos os métodos do mundo dito normal
se provarem ineficientes. Para levar à frente esse plano era sabido
que não seria possível se despojar das riquezas de súbito, sem
causar abalos fortes e repressão impiedosa de tudo e de todos. Assim
iniciou-se um processo de transferência de bens e riquezas, que
colimou em sua completa expulsão do seio familiar e nenhuma herança.
A partir daí ele viveria e sustentaria sua família com seu próprio
trabalho. Pela primeira vez surge um homem com família, e portanto
responsabilidades além de seu corpo, mente e espírito, com
potencial de Santo.
À
primeira vista os familiares mais distantes e o meio aristocrático
viram sua atitude como uma tentativa de se passar por santo e ganhar
vantagens futuras. Mas o tempo mostrou que mo caminho iniciado era o
caminho de fato, sem mentiras ou aparências. Era o primeiro passo
para aplicar o Evangelho na íntegra. De colocá-lo à prova usando
sua existência. Era um passo que requereria uma personalidade
fortíssima, um organismo sadio e uma crença profunda e íntima numa
lei diretora acima de qualquer lei humana.
Ubaldi. Fase madura. |
Desprezo,
maledicências, julgamentos, expulsão, rejeição e toda sorte de
posturas visando aniquilar o ser que nascia foram adotadas pelos
familiares, pelos colegas e pela sociedade que o rodeava. Uma
atitude justa do ponto de vista do plano evolutivo contemporâneo,
dificilmente questionável pelas pessoas. A sucessão de eventos só
piorava a situação do protagonista. Pela sua personalidade
espiritual, as rejeições e ataques psicológicos constantes o
abalavam, pois espíritos intuitivos levavam em alta conta a
fraternidade. Mas o sentimento interior era mais forte do que
qualquer ataque externo.
“História
de um Homem” revela um Ubaldi amadurecido pela dor. Um idealista
que se remodelou espiritual e psiquicamente após entrar em choque
com um mundo contraditório. Um mundo que foge da travessia das
fronteiras espirituais – cada vez mais tangíveis – e condena
aqueles que tentam o feito e se esforçam em passar suas valiosas
vivências.
Como
Ubaldi diz, trata-se, de certa forma, da história de todos nós, já
que um dia passaremos pelo mesmo processo, ganhando as mesmas
percepções e desejando a mesma evolução. A única – e mais
profunda – diferença é que ele foi pioneiro, se mutilando no
mundo da matéria (conscientemente e inteligentemente) para ganhar em
espírito e assim adentrar na fenda luminosa irradiadora de luz que é
a causa e destino de cada ser vivo. Cada um a seu modo. Cada um a seu
tempo.
Ninguém
foi tão longe quanto Ubaldi em desmistificar os mistérios do todo
universal e aproximar todas as verdades relativas que hoje se
digladiam. Verdades que se fundirão numa única e absoluta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário