“Os
escritores são engenheiros da alma”. Uma fala proferida no filme A
Vida dos Outros, que assisti pela enésima vez hoje. Bela frase. Pra
mim pelo menos, já que sou engenheiro e gosto de escrever.
É
incrível como um filme...um simples filme, é capaz de mexer com
suas emoções de tal modo que lágrimas vertem pelos olhos à medida
que os personagens vão vivendo e reagindo e (alguns) se
transformando. E é essa capacidade (transformar) aquela que mais
encanta no filme.
“As
pessoas não mudam”, diz um político para um artista.
A
arte expressa vontades e desejos e sentimentos que dificilmente somos
capazes de expressar quando estamos na rua, na escola ou no trabalho.
Não temos coragem. Nunca temos vontade no momento. E o momento da
vontade nunca chega. Nunca...
Mas
as pessoas mudam, eu digo. Elas mudam sim. E isso acontece quando se
começa a ESCUTAR e COMPREENDER os ignorados e excluídos. Nossa
visão muda. Nossos filtros se readequam e passam a deixar muita
preciosidade passar pelos nossos ouvidos. Essa mudança interna –
sua, minha, de todos nós – é lenta. Tão lenta que até hoje a
ciência ainda ignora os mistérios que causam as mudanças mais
influentes no ser humano.
A
superfície é fácil de ser trabalhada. As camadas mais profundas
exigem mais empenho, tempo, criatividade e – sobretudo – Amor. Só
os exploradores da alma amadurecidos serão capazes de levar uma vida
investigando esse caminho. Em tudo e todos. Todo dia.
Gerd Wiesler. Um homem bom. |
Que
belo filme esse “A Vida dos Outros”!
Cada
plano, cada cena...Tudo é meticulosamente planejado de modo a
extrair e expressar o máximo de humanidade e sentimento. Dos
personagens e do público. A trilha sonora se une aos sentimentos e
desejos dos personagens formando uma harmonia quase sobre-humana. É
um filme que aponta para a divindade sem citá-la. Secretamente. Mas
o mais comovente é a crença – uma quase sapiência – na
capacidade de transformação do ser humano.
Gerd
Wiesler (ou HGW XX/7) é apresentado logo de início. Frio, metódico,
inteligente e racional. Um ser humano (aparentemente) sem sentimentos
e infalível. Sua voz monocórdica e precisa nos lembra um perfeito
robô. No entanto, essa visão acaba sendo abalada no decorrer da
projeção.
O
trabalho de vigilância de um dos capitães mais brilhantes da Stasi
(a polícia secreta alemã pré-queda do Muro de Berlim) acaba por
ser um VERDADEIRO trabalho. No sentido evolutivo. Desperta-se uma
consciência. Amplia-se sua visão do mundo e da sociedade. De
repente a arte invade sua vida. Uma vida sedenta por mais, mas sempre
impedida de se elevar por causa de uma falsa percepção de um ideal
e de um mundo desejoso de se expressar.
Dizem
que A Vida dos Outros é um conto de fadas, pois nunca houve um caso
(registrado) de agente da Stasi que fez o papel de anjo da guarda de
um cidadão “subversivo”. Talvez...A questão não é essa. O
ponto é o seguinte: esse “conto-de-fadas” virou filme. E filmes
são reais porque despertam emoções – que são reais...e
INTENSAS. Emoções expressam desejos. As pessoas saem da sala (de
casa, do quarto,...) se sentindo melhor. O mundo tem alguma
esperança. Porque o ser humano...aquele ser visto como o menos
humano, o mais robótico, o mais frio...se transformou. De uma forma
magistral. Poética!
Mas
a evolução é lenta, como já disse Pietro Ubaldi. Demoramos
décadas, séculos, vidas, às vezes para sanarmos um ou outro
defeito. Pequeno! E somos cheios deles.
Mas
a salvação existe. Pode ainda não ser provada, mas filmes como A
Vida dos Outros são um atestado do ardente desejo humano por
melhorar. É uma obra que expressa a capacidade de evolver. Mesmo
sendo ainda fantasia, já alegra.
Antes
de fazermos, precisamos sonhar.
Antes
de concretizarmos, precisamos agir.
Antes
de agir, devemos conceber.
Para
conceber, precisamos nos voltar para nós mesmos e travar uma guerra.
E
com isso, após longas batalhas, teremos paz dentro.
E
naturalmente, paz fora.
Essa
é a sensação qu tive ao (re)ver A Vida dos Outros hoje.
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