João 12:8
Fig.1: Jesus fala àqueles sedentos por algo completamente novo. Aí se inicia o processo de ascensão moral
da coletividade - que nos levará do conhecimento fragmentário ao conhecimento integral.
Quando lemos algo não estamos compreendendo esse algo. Aquele que proferiu as palavras tinha uma determinada visão, que sustentou a ideia transmitida por palavras (uma forma de símbolo). Quando se transmite algo entre pessoas sempre há um processo de degradação do pensamento: passa-se do pensamento puro (Absoluto, aspecto da Verdade) ao modelo mental (aspecto psíquico Relativo desse Absoluto); depois, passa-se ao modelo simbólico, que pode ser um texto, um desenho (artístico ou técnico), uma equação diferencial ou algébrica, um fluxograma ou coisas do tipo - que podem ser colocadas no papel. Esse modelo (simbólico) é visto, ouvido, percebido pelas partes, que interpretam de acordo com:
- sua visão de mundo;
- sua memória;
- seus interesses e valores;
- seu conhecimento da linguagem objetiva (simbólica).
Temos um processo de degradação (involução = concretização) e outro de reconstrução (evolução = abstração). Do subjetivo universal ao subjetivo individual; e deste ao objetivo. Desse grande reservatório as subjetividades colhem a informação e estabelecem uma relação com outros. O processo é universal. Mas sempre haverá problemas de interpretação - justamente devido a esse rebaixamento da ideia original, que a deforma. Aliada a essa distorção, há ainda uma segunda (distorção), que ocorre quando um entre capta a mensagem e realiza sua interpretação e julgamento.
O único modo de mitigar os equívocos de comunicação é elevarmos a maneira de comunicar. Não possuímos uma gramática comum, capaz de estabelecer uma base universal. E digo: nunca teremos. Porque essa gramática sempre é um formalismo exterior, da linguagem, dos símbolos, que pode estabelecer mil critérios e regras, e ainda assim não gerar o entendimento entre seres e grupos. Trata-se de um problema localizado em outras regiões.
Sua Voz pode nos dar uma orientação:
"A isto podeis chamar de monismo. Atentai mais aos conceitos que às palavras. Por vezes a ciência acreditou ter descoberto e criado um conceito novo, só porque inventou uma palavra. E o conceito é este: como do politeísmo passastes ao monoteísmo, isto é, à fé num só Deus (mas sempre antropomórfico, pois realiza uma criação fora de si), agora passais ao monismo, isto é, ao conceito de um Deus que é a criação. Lede mais, antes de julgar. Farei que lampeje em vossas mentes um Deus ainda maior que tudo o que pudestes conceber. Do politeísmo ao monoteísmo e ao monismo, dilata-se vossa concepção de Divindade. Este tratado, pois, é o hino de Sua glória"
AGS, Cap. VI (grifos meus)
O conceito é algo interior, profundo, geral, poderoso, que não pode ser distorcido em seu campo original. Já a palavra, por mais sintética, potente e elegante que seja, sempre estará sujeita a ser usada para satisfazer o ego. Não à toa Sua Voz já dá o aviso inicial ('Atentai mais aos conceitos do que às palavras').
Inventar uma palavra não é criar um conceito. Porque a palavra, concreta apesar de simbólica, apenas expressa o conceito, abstrato e super-mental. Jogos de combinações verbais não trazem algo novo, mas apenas novas maneiras de representar algo; novos modos de exprimir sentimentos. Mas jamais há criação real do espírito.
Fig.2: Filtrar as verdades relativas; coordená-las para se fundirem, formando a Verdade Absoluta.
Agora podemos começar o tema proposto: pobres sempre teremos.
Três palavras simples. Uma afirmação. Literalmente significa que sempre haverão pessoas pobres ao nosso redor. Mas...quem é pobre?...Eu? Você? O outro? Quais os padrões que estabelecemos para classificar?
Logo podemos começar nos perguntando: (1) o que é 'pobre'?; (2) o que significa 'sempre'?; (3) o que seria 'ter' esses 'pobres'?
(1) Pobre de espírito é alguém humilde (por mais bens e renda que possua, ou por menos disso que possua). Há também pobreza intelectual; há falta sentimento; existe falta de cultura; falta de vontade em usar os talentos latentes; relações superficiais; e por aí vai. Todas essas coisas são pobreza, em diversos níveis e graus. E há também aquela pobreza que seria ter baixo grau de consciência - que lhe prende mais ou menos aos fenômenos da vida.
Dominamos uma dimensão assim que ascendemos à dimensão superior. Nos libertamos de uma forma mental assim que expandimos nossa consciência. E quanto mais se sobre nessa escada de Jacó, menos pobres nos tornamos.
(2) Sempre está relacionado à dimensão tempo. Significa que haverá algo nos acompanhando a todo momento (no caso do tema aqui tratado): os pobres. Já vimos em (1) que há as mais variadas interpretações de 'pobre' - logo, como a multiplicidade de imagens é incomensurável, é claro que sempre haverá 'um conjunto de pobres' no universo à nossa volta. Tudo é relativo.
Mas não devemos nos esquecer que um tempo incomensurável é finito. É algo que se vence por completo quando se supera a dimensão espaço e tempo. E assim vive-se na eternidade. Logo, o sempre é algo do AS - enquanto que no S esse termo deixa de ter sentido, pois vive-se um eterno presente.
(3) Ter é possuir algo. Mas tudo que se possui pode ser perdido. Porque não faz parte de sua essência - isto é, não é conquista do espírito que fica impressa na substância do ser.
O que seria 'ter' os 'pobres'? Seria ter eles ao nosso lado, existindo? Ter gente passando mal, na miséria, sem condições de se alimentar, se limpar, se aquecer, se abrigar, se relacionar...sem condições de existir? Seriam pessoas indesejadas, que 'sempre' estarão incomodando aqueles que apenas querem se divertir, e, por causa disso, apoiam inconscientemente um sistema bárbaro que torna invisível os menos favorecidos? Ou seja: deveríamos nos conformar em ter à nossa volta seres humanos (e outras formas de vida) privados das necessidades mais básicas da vida? Sem dignidade, inexistentes aos nossos sentidos e sentimentos? Afirmar tal coisa não reflete a natureza de Cristo.
O fenômeno de exclusão atinge seu ápice em nosso mundo, com as Olimpíadas em Tóquio [2]. Percebe-se que a lógica que impera lá é idêntica em todo canto do mundo. Há o mesmo comportamento do sistema em todos locais que albergam grandes eventos artísticos, desportivos, políticos e acadêmicos. Não é uma chaga de um povo, uma cultura, um local: é um defeito de nossa civilização.
Outro texto revela a necessidade de mudarmos nossa forma mental [3]. É a única maneira de sobrevivermos como civilização. É o único modo de criarmos a base para avançarmos além na evolução. Porque até o momento podemos dizer, no máximo, que formamos esboços incompletos de uma civilização futura do terceiro milênio. Esboços incompletos do qual pouquíssimos se beneficiam - e às custas dos outros.
A responsabilidade é de todos. Os débitos são hierarquizados segundo uma justiça perfeita, que é a Justiça Divina.
Cada gesto, texto, ideia, olhar, ato, atitude, palavra...cada coisa conta. É somente com esse pensamento que sermos capazes de transformar o mundo à nossa volta. Devemos ter em mente que mudar o sistema é mudar a nós mesmos (gênese do fenômeno), que irá transbordar num modo de atuar completamente revigorado, incrível. Formar-se-ão verdadeiras fraternidades, que estarão sintonizadas com princípios superiores. Estes guiarão dos modos mais sutis. E darão força inesgotável nos momentos mais críticos.
A luta de nossos tempos é pela compreensão que levará à unificação.
Vamos orquestrar a sinfonia sistêmica mais gloriosa do mundo!
Fig.3: Os músicos do mundo já dominam sua arte e seu instrumento.
Resta a vontade deles se coordenarem sob a regência do Grande Maestro.
Compreenda quem o puder...
Referências:
[1] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese
[2] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58009203
[3] https://aninjusticemag.com/its-time-for-epoch-b-4cf95c2e7d19
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